
As consequências do fecho da Opel na região
O encerramento da Opel de Azambuja foi um processo difícil para a região. Na fábrica que hoje já não existe, trabalhavam à época mais de 1500 pessoas. Muitos casais com filhos e com uma vida estabilizada à volta da empresa.
Da empresa, para além do ordenado, conseguiram, segundo Jorge Almeida que à época representava o sindicado dos metalúrgicos, algumas benesses, inexistentes em outras empresas. Os trabalhadores da fábrica tinham duas mudas de roupa por semana. Tinham médico grátis na empresa, ao ponto de muitos dos trabalhadores só terem conhecido o seu médico de família, após terem saído da Opel.
Para além disso, os trabalhadores tinham ainda direito a descontos nas peças de origem e na aquisição de veículos da marca Opel. Estas foram também algumas das contrapartidas dadas aos funcionários desde o ano 2000. Outras foram sendo acrescentadas à medida que o pacote de reivindicações ia crescendo.
Com ordenados acima da média, percebe-se que muitos com formação específica para uma fábrica daquele tipo tivessem dificuldades em encontrar um emprego de acordo com as suas expectativas. Muitos optaram por esgotar o fundo de desemprego, que à época era de três anos para a maioria. Outros aproveitaram para abrir negócios próprios. Foi o caso de Paulo Vicente, antigo porta-voz da comissão de trabalhadores que abriu uma loja de informática, que não terá durado muito. Aliás, o Valor Local tentou chegar à fala com o representante dos trabalhadores, mas foi impossível.
Jorge Almeida, antigo sindicalista, diz ter tido alguma sorte. O operário mal saiu da Opel, conseguiu lugar como assessor do antigo vereador da CDU na Câmara de Alenquer, José Manuel Catarino. Posteriormente desempregado, viria a integrar uma empresa que presta serviços em outsourcing no Hospital de Santa Maria.
Também Armando Martins, chefe de secção de pintura, referiu não ter tido grandes dificuldades. Mal saíu, integrou um projeto em Espanha, depois passou por dois grupos de concessionários automóvel onde ainda se mantém.
José Eduardo Serra é atualmente empresário, mas antes continuou ligado à PPG. Esteve no estrangeiro, mas o apelo da família fê-lo regressar a Portugal. Foi também chefe de gabinete do antigo presidente da Câmara de Azambuja, Joaquim Ramos.
Mas a fábrica enquanto laborava também trouxe coisas menos boas aos funcionários. O aparecimento de doenças profissionais causou também algum mau estar. Foi o caso de José Carlos Santos, que contraiu uma tendinite. Ao Valor Local, o antigo funcionário da Opel salienta que a tendinite apareceu por volta do ano de 2005. Tal ficou a dever-se à repetição de movimentos na mesma posição. No caso de José Carlos Santos, a Opel alienou-se do seu caso: “A empresa não quis saber de nada, queria era o trabalho feito”. Para ter a situação resolvida, José Carlos Santos diz que se sentiu na necessidade de recorrer à Segurança Social “para depois acionar o processo de doenças profissionais”. Depois disto foi submetido a uma junta médica, tendo ficado com uma incapacidade de quatro por cento e com o valor de 70 euros mensais. Anos volvidos a situação agravou-se. A tendinite estendeu-se à mão; e dos dedos ao pulso, cotovelo, braço e ombro: “É só caruncho!” diz gracejando José Carlos Santos.
Investimentos e ajudas do Estado à Opel
Em 2003 e depois das comemorações dos 40 anos da presença da marca em Portugal, o governo liderado por Durão Barroso deu algumas ajudas para que a fábrica fosse mais competitiva. Dessas ajudas resultaram apoios de vários milhões de euros e que terão sido aplicados nas várias secções da empresa.
Com efeito a Opel de Azambuja era das fábricas que mais e melhor produzia. Os trabalhadores mostravam orgulho no emblema e isso ficou bem patente nas diversas atividades do centenário da empresa. Mas à medida que o ano de 2006 se foi aproximando e começava a ficar patente o encerramento da Opel, o governo já liderado por José Sócrates, fazia planos para reaver as verbas entregues à empresa. Ao todo estavam em causa cerca de 30 milhões de euros, que não seriam pagos, se a empresa fechasse depois de 2009 e não 2006, interrompendo a produção da Opel Combo.
A fábrica de Azambuja foi entretanto visitada pelos administradores da Alemanha. O objetivo era traçar um plano de compensações aos trabalhadores. Depois de várias reuniões, a empresa cedeu em algumas exigências, mas os operários tiveram de construir em seis meses cerca de 23 mil veículos. Número que acabou por ser ultrapassado e que culminou com o encerramento da empresa e o pagamento das indemnizações.
O Estado foi ressarcido mas a Câmara de Azambuja, que reclama ainda nos dias de hoje o pagamento de cerca de um milhão de euros, referentes à isenção de impostos municipais, como a derrama, ainda continua a navegar à vista. Isenção essa imposta pelo Estado e que a autarquia nunca pôde contestar. Na altura, é Joaquim Ramos, presidente da Câmara, terá contestado a situação. Luís de Sousa, que agora lidera o a autarquia de Azambuja, salienta que “a situação do município ficaria muito mais fácil se o Estado entregasse à Câmara a sua parte.” Todavia, o autarca que refere não estar disponível para abdicar desses valores, anunciou ao Valor Local, que a câmara depois de vários anos, avançou mesmo para tribunal, interpondo uma ação contra o Estado, com vista a receber perto de um milhões de euros, há muito devidos.
O encerramento da Opel de Azambuja foi um processo difícil para a região. Na fábrica que hoje já não existe, trabalhavam à época mais de 1500 pessoas. Muitos casais com filhos e com uma vida estabilizada à volta da empresa.
Da empresa, para além do ordenado, conseguiram, segundo Jorge Almeida que à época representava o sindicado dos metalúrgicos, algumas benesses, inexistentes em outras empresas. Os trabalhadores da fábrica tinham duas mudas de roupa por semana. Tinham médico grátis na empresa, ao ponto de muitos dos trabalhadores só terem conhecido o seu médico de família, após terem saído da Opel.
Para além disso, os trabalhadores tinham ainda direito a descontos nas peças de origem e na aquisição de veículos da marca Opel. Estas foram também algumas das contrapartidas dadas aos funcionários desde o ano 2000. Outras foram sendo acrescentadas à medida que o pacote de reivindicações ia crescendo.
Com ordenados acima da média, percebe-se que muitos com formação específica para uma fábrica daquele tipo tivessem dificuldades em encontrar um emprego de acordo com as suas expectativas. Muitos optaram por esgotar o fundo de desemprego, que à época era de três anos para a maioria. Outros aproveitaram para abrir negócios próprios. Foi o caso de Paulo Vicente, antigo porta-voz da comissão de trabalhadores que abriu uma loja de informática, que não terá durado muito. Aliás, o Valor Local tentou chegar à fala com o representante dos trabalhadores, mas foi impossível.
Jorge Almeida, antigo sindicalista, diz ter tido alguma sorte. O operário mal saiu da Opel, conseguiu lugar como assessor do antigo vereador da CDU na Câmara de Alenquer, José Manuel Catarino. Posteriormente desempregado, viria a integrar uma empresa que presta serviços em outsourcing no Hospital de Santa Maria.
Também Armando Martins, chefe de secção de pintura, referiu não ter tido grandes dificuldades. Mal saíu, integrou um projeto em Espanha, depois passou por dois grupos de concessionários automóvel onde ainda se mantém.
José Eduardo Serra é atualmente empresário, mas antes continuou ligado à PPG. Esteve no estrangeiro, mas o apelo da família fê-lo regressar a Portugal. Foi também chefe de gabinete do antigo presidente da Câmara de Azambuja, Joaquim Ramos.
Mas a fábrica enquanto laborava também trouxe coisas menos boas aos funcionários. O aparecimento de doenças profissionais causou também algum mau estar. Foi o caso de José Carlos Santos, que contraiu uma tendinite. Ao Valor Local, o antigo funcionário da Opel salienta que a tendinite apareceu por volta do ano de 2005. Tal ficou a dever-se à repetição de movimentos na mesma posição. No caso de José Carlos Santos, a Opel alienou-se do seu caso: “A empresa não quis saber de nada, queria era o trabalho feito”. Para ter a situação resolvida, José Carlos Santos diz que se sentiu na necessidade de recorrer à Segurança Social “para depois acionar o processo de doenças profissionais”. Depois disto foi submetido a uma junta médica, tendo ficado com uma incapacidade de quatro por cento e com o valor de 70 euros mensais. Anos volvidos a situação agravou-se. A tendinite estendeu-se à mão; e dos dedos ao pulso, cotovelo, braço e ombro: “É só caruncho!” diz gracejando José Carlos Santos.
Investimentos e ajudas do Estado à Opel
Em 2003 e depois das comemorações dos 40 anos da presença da marca em Portugal, o governo liderado por Durão Barroso deu algumas ajudas para que a fábrica fosse mais competitiva. Dessas ajudas resultaram apoios de vários milhões de euros e que terão sido aplicados nas várias secções da empresa.
Com efeito a Opel de Azambuja era das fábricas que mais e melhor produzia. Os trabalhadores mostravam orgulho no emblema e isso ficou bem patente nas diversas atividades do centenário da empresa. Mas à medida que o ano de 2006 se foi aproximando e começava a ficar patente o encerramento da Opel, o governo já liderado por José Sócrates, fazia planos para reaver as verbas entregues à empresa. Ao todo estavam em causa cerca de 30 milhões de euros, que não seriam pagos, se a empresa fechasse depois de 2009 e não 2006, interrompendo a produção da Opel Combo.
A fábrica de Azambuja foi entretanto visitada pelos administradores da Alemanha. O objetivo era traçar um plano de compensações aos trabalhadores. Depois de várias reuniões, a empresa cedeu em algumas exigências, mas os operários tiveram de construir em seis meses cerca de 23 mil veículos. Número que acabou por ser ultrapassado e que culminou com o encerramento da empresa e o pagamento das indemnizações.
O Estado foi ressarcido mas a Câmara de Azambuja, que reclama ainda nos dias de hoje o pagamento de cerca de um milhão de euros, referentes à isenção de impostos municipais, como a derrama, ainda continua a navegar à vista. Isenção essa imposta pelo Estado e que a autarquia nunca pôde contestar. Na altura, é Joaquim Ramos, presidente da Câmara, terá contestado a situação. Luís de Sousa, que agora lidera o a autarquia de Azambuja, salienta que “a situação do município ficaria muito mais fácil se o Estado entregasse à Câmara a sua parte.” Todavia, o autarca que refere não estar disponível para abdicar desses valores, anunciou ao Valor Local, que a câmara depois de vários anos, avançou mesmo para tribunal, interpondo uma ação contra o Estado, com vista a receber perto de um milhões de euros, há muito devidos.
“Nenhum concelho recupera de uma perda daquela dimensão”.
Para a ACISMA, Associação de Comércio Industria e Serviços do Município de Azambuja, o encerramento da Opel foi um duro golpe no economia local e regional. Segundo o porta-voz da associação, Daniel Claro, que representa as empresas e o comércio “a empresa era um símbolo a nível nacional e levava o nome de Azambuja (Opel Azambuja) bastante mais longe do que as próprias fronteiras nacionais” daí que o encerramento acabou por significar dificuldades “para a captação de investimentos ao nível industrial, num concelho que deles tanto necessitava” Todavia, segundo o responsável, “o aspecto mais relevante terá sido o das famílias afetadas pelo desemprego consequente, e do qual o concelho ainda hoje demonstra dificuldades de recuperação em termos qualitativos”.
Esta foi uma situação que afetou todo o comércio local. A ACISMA, fala num desemprego consequente, “as suas repercussões sociais levaram à criação de um clima de descrença no potencial económico concelhio com o agravamento das condições do comércio local de proximidade já na altura com sinais de queda” Para Daniel Claro, há outra leitura ”foi um verdadeiro marco na mudança de paradigma do modelo económico concelhio e porventura nacional traçando uma linha que acentuou a viragem da economia local para uma cada vez maior presença do sector de serviços, decorrente de Azambuja se ter tornado um corredor logístico de média dimensão”.
Para o responsável, “nenhum concelho recupera de uma perda daquela dimensão”. Daniel Claro refere que a autarquia, na altura, fez o esforço possível e a vinda da Sonae - pela dimensão e qualidade do investimento - tratou de atenuar alguns apectos negativos sem os eliminar “até porque do ponto de vista salarial e da organização laboral as diferenças são abissais”.
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Para a ACISMA, Associação de Comércio Industria e Serviços do Município de Azambuja, o encerramento da Opel foi um duro golpe no economia local e regional. Segundo o porta-voz da associação, Daniel Claro, que representa as empresas e o comércio “a empresa era um símbolo a nível nacional e levava o nome de Azambuja (Opel Azambuja) bastante mais longe do que as próprias fronteiras nacionais” daí que o encerramento acabou por significar dificuldades “para a captação de investimentos ao nível industrial, num concelho que deles tanto necessitava” Todavia, segundo o responsável, “o aspecto mais relevante terá sido o das famílias afetadas pelo desemprego consequente, e do qual o concelho ainda hoje demonstra dificuldades de recuperação em termos qualitativos”.
Esta foi uma situação que afetou todo o comércio local. A ACISMA, fala num desemprego consequente, “as suas repercussões sociais levaram à criação de um clima de descrença no potencial económico concelhio com o agravamento das condições do comércio local de proximidade já na altura com sinais de queda” Para Daniel Claro, há outra leitura ”foi um verdadeiro marco na mudança de paradigma do modelo económico concelhio e porventura nacional traçando uma linha que acentuou a viragem da economia local para uma cada vez maior presença do sector de serviços, decorrente de Azambuja se ter tornado um corredor logístico de média dimensão”.
Para o responsável, “nenhum concelho recupera de uma perda daquela dimensão”. Daniel Claro refere que a autarquia, na altura, fez o esforço possível e a vinda da Sonae - pela dimensão e qualidade do investimento - tratou de atenuar alguns apectos negativos sem os eliminar “até porque do ponto de vista salarial e da organização laboral as diferenças são abissais”.
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