A História de Graciete Moreira e do seu “Castelo”
Esteve nos trabalhos de escavação do Castro de Vila Nova de São Pedro
Sílvia Agostinho
23-05-2016 às 15:58 Desde sempre vizinha do Castro de Vila Nova de São Pedro, ou Castelo, como lhe costumam chamar os habitantes locais, Graciete Moreira foi uma das residentes na freguesia que esteve envolvida nos trabalhos de escavação arqueológica no local. O Castro que foi descoberto no século XX, tendo sido primeiramente investigado in loco por Hipólito Cabaço, em 1937, conheceu um período entre as décadas de 30 e 60 de trabalhos arqueológicos no terreno.
A habitante de Torre de Penalva participou em algumas dessas campanhas que tinham sempre lugar no verão, e que davam trabalho e algum dinheiro a ganhar à população local. Hoje com 73 anos, diz que gostava de ver o Castro de novo visitável, pois a vegetação que se apoderou do monumento nacional (desde 1971) impossibilita a sua devida apreciação. Os vestígios da edificação do Castro referem-se a 2600 anos A.C até 1300 A.C. O Castro de Vila Nova de São Pedro é um importante monumento pré-histórico estudado também internacionalmente ao longo dos anos, mas antes da sua descoberta, “o que existia era bosque”, recorda-se Graciete Moreira. “O senhor António Ferreira, do qual já mal me lembro, andava por ali a lavrar, até que encontrou umas coisas esquisitas, que guardou num saquinho – cacos e pontas de seta”, é desta forma que sempre ouviu contar a descoberta do importante achado arqueológico. Passado algum tempo, o antigo habitante foi levar as peças a Lisboa junto dos arqueólogos. Sucessivamente estiveram no Castro, os estudiosos Hipólito Cabaço, Eugénio Jalhay, o tenente-coronel Afonso do Paço, e Maria de Lurdes Artur. Graciete Moreira relembra particularmente a passagem de Jalhay, que era também padre, pelas escavações. “Faleceu em 1950, mas cheguei a ir com outros miúdos, (antes de entrar para a escola), ter com ele ao Castelo porque dizia-se que o padre oferecia santinhos”. Nessa altura, o Castro já estava totalmente descoberto, “apenas se andava por lá a esgravatar na terra a ver se se encontravam mais coisas”, recorda-se. Em 1962, a então jovem Graciete Moreira participou nas escavações. “Lembro-me do tenente-coronel Afonso do Paço me dizer: ‘ Vais aí para esse buraquinho, a ver se encontras umas coisas bonitas’”. Nesse dia “estive dentro de um buraco à sombra, porque estava muito calor, a cavar com um sachinho”. Entre os objetos que conseguiu encontrar ainda se recorda de “um grande chifre”. Contudo “acho que não era da época relativa à ocupação da fortificação, provavelmente teriam falecido ali já mais recentemente animais, até porque estavam sepultados da parte de fora das muralhas. Aproveitaram o muro, e fizeram o enterro”. Por outro lado, “o senhor tenente-coronel também não deu grande importância”. Nesses anos, vieram muitos investigadores estrangeiros, “inclusive uma senhora inglesa que queria aprender português e da qual as pessoas riam muito porque tinha muitas dificuldades com as palavras”. Os habitantes locais que colaboravam nas escavações estavam incumbidos no que respeita aos homens de escavarem; enquanto as mulheres iam revolvendo o solo à procura de objetos como pontas de seta, figuras de osso, cerâmicas diversas. Numas gamelas de madeira levavam-se os objetos para os crivos. “Ficavam sempre duas mulheres nos crivos, a escolher, a rever o que era importante, devidamente instruídas pelos senhores que estavam a tomar conta das escavações”. “Os arqueólogos tinham noção da importância daquilo que estava ali, mas as pessoas como eram analfabetas não possuíam tal entendimento. O que importava era o salário que iam recebendo por estarem ali”. Os vestígios arqueológicos do Castro podem ser hoje visitados no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa. O fortificado do Calcolítico Inicial que terá sido escolhido pelos povos que o habitaram pela abundância agrícola dos terrenos, está hoje coberto por um emaranhado de silvas e demais vegetação. Dificilmente acessível passa despercebido. Os projetos para a sua valorização turística permanecem na gaveta, apesar de os sucessivos executivos municipais terem deixado várias promessas. O Castro até esteve incluído no famigerado plano de compensações da Ota. O atual executivo também já deixou a promessa de sempre com a limpeza e a colocação de sinalética, com base num protocolo a efetuar com a associação de arqueólogos. Por dirimir está ainda a questão dos terrenos adjacentes ao Castro, e a sua compra pelo município aos proprietários que no passado não teve frutos. Luís de Sousa, presidente da autarquia de Azambuja, referiu ao Valor Local que, neste momento, existirá uma outra vontade de os donos dos terrenos colaborarem, certo é que nas localidades de Vila Nova de São Pedro e Torre Penalva se vai dizendo que querem uma fortuna. “Não sei se é verdade ou não”, refere Graciete Moreira, mas de uma coisa tem a certeza – “Será que era assim tão difícil fazerem uma limpeza naquele local, ainda há uns tempos fui lá com uns jovens que queriam muito ver o Castro e arranhei-me toda”. Durante os anos em que o Castro ia permanecendo visitável, “vinham várias camionetas com turistas e estudantes”, enfatiza para lembrar a importância do património. Este monumento que se caracteriza como um dos mais antigos do género na Europa destaca-se pela construção de fortificações de pedra. Outros traços culturais específicos como lúnulas, taças rituais, lajes com aparente significado astronômico, estão entre os objetos descobertos. No terreno, ainda estão mais ou menos visíveis alguns fornos e cisternas existentes no povoado.
“Gostava que as pessoas, hoje, pudessem apreciar o que aquela gente naqueles tempos tão rudes, tão selvagens, conseguiram ao criarem no meio deste bosque um espaço para viverem. Construíram umas paredinhas. Isto é muito importante”. Por outro lado gostava “que as crianças e os jovens quando dizem que vão brincar para o Castelo soubessem do valor do que ali está, porque não sabem, não lhes é ensinado na escola”.
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