A maior Seca dos últimos 90 anos – O que estão a fazer as empresas de abastecimento de água da nossa região
O ano de 2022 é já um dos mais secos dos últimos 90 anos em Portugal. Que medidas estão a ser tomadas
|23 Ago 2022 11:29
O ano de 2022 é já um dos mais secos dos últimos 90 anos em Portugal. O Governo tem vindo a anunciar medidas para combater a seca extrema e alguns municípios foram já obrigados a aumentar as tarifas, o que não aconteceu na nossa região, até porque muitos deles já cobram valores acima da média nacional. Para saber de que forma os sistemas de água e saneamento na nossa região estão a lidar com a escassez de água, fomos ouvir as empresas.
No caso da Águas do Ribatejo, sistema que alberga sete concelhos, o presidente daquela entidade, Francisco Oliveira salienta que as alterações climáticas estão a trazer cada vez mais desafios. No caso em concreto deste sistema, as origens de água são subterrâneas, com mais de 100 captações em toda a área servida pela empresa. Estas origens são menos “sensíveis” à precipitação de um determinado ano, ao contrário das origens superficiais (barragens, rios), “mas a realidade é que temos vindo a assistir, ao longo dos anos, a um rebaixamento dos níveis freáticos, o que nos coloca perante novos desafios”. A grande demanda de água para a agricultura na nossa região é entendida pela empresa como um dos grandes desafios, porque apesar do setor ter um peso económico fundamental é, também, de longe, o maior consumidor de água. Na maioria dos casos, “as regas agrícolas são efetuadas também com recurso a captações subterrâneas, cada vez mais profundas em virtude do rebaixamento dos níveis freáticos, o que significa que estão cada vez mais próximas dos níveis a que captamos água para consumo humano, situação que não se verificava no passado”, refere com preocupação. Por isso Francisco Oliveira identifica que “no período das regas agrícolas, entre maio e setembro, registamos nalgumas zonas o rebaixamento dos níveis freáticos entre 20 e 30 metros, o que demonstra bem o impacto desta atividade”. Este ano, fruto da seca que atravessamos, “este rebaixamento foi ainda mais acentuado e mais rápido”. Para o presidente da Águas do Ribatejo, “é necessário refletir sobre o caminho que queremos seguir, quer seja no que se refere às origens de água e a um maior aproveitamento das águas superficiais na agricultura, quer seja sobre o tipo de culturas que fazemos, em face do clima que temos e da água que temos disponível”. Também no seio dos sete municípios tem-se discutido esta matéria com vista à adoção de espécies vegetais mais adaptadas ao nosso clima “e que precisam de menos água mas também a instalação de sistemas de rega mais eficientes ou o recurso a origens de água alternativas, para não sobrecarregar o sistema público de abastecimento”. Igualmente a ser estudada “a viabilidade de reutilização de água residual tratada para alguns usos, mas esta é uma matéria complexa cujo quadro normativo e regulamentar é particularmente exigente”, salienta. Para além disso, a empresa continua empenhada na redução das perdas de água. “Apostamos também na sensibilização dos consumidores, para que evitem o desperdício e utilizem a água de forma responsável. Para se ter uma noção da importância desta questão, posso adiantar que, no início do mês de julho, quando se registou uma onda de calor com vários dias consecutivos com temperaturas acima dos 40 graus, os consumos de água nalguns locais foram quatro a cinco vezes superiores aos registados no período de Inverno. Se assumirmos que os consumos de inverno corresponderão, aproximadamente, ao que se designam por consumos essenciais (água para beber, tomar banho, cozinhar) facilmente concluímos que estes acréscimos de consumo registados no verão respeitam a utilizações não essenciais ou prioritárias, como sejam regas, lavagens de pátios e quintais, enchimento de piscinas, entre outros. " Para já o sistema intermunicipal teve de suspender regas em espaços públicos nos respetivos municípios e em articulação com as Câmaras, de forma, “a gerir de forma diferenciada as pressões na rede de distribuição e até aumentar a profundidade das bombas de captação de água para não colocar em causa o abastecimento à população”. A empresa não descarta ter de equacionar medidas mais drásticas se a situação piorar. Contudo não há para já motivos para grandes alarmismos, dado que a capacidade dos reservatórios está num nível normal. “Fruto dos investimentos que fizemos, a Águas do Ribatejo tem hoje uma capacidade de reserva para sensivelmente dois dias na maior parte das zonas de abastecimento. Contudo, importa sublinhar que esta capacidade de reserva é para níveis de consumo ‘normais’. Se, de um momento para o outro, tivermos grandes picos de consumo, como os que já se registaram este ano, a situação pode-se agravar rapidamente.” Para já os municípios afetos à AR ainda não tiveram de recorrer a camiões-cisterna para o abastecimento, Muito se tem falado na necessidade de conter os usos da água em espaço público especialmente quando falamos em usos ornamentais como fontes, cascatas, ou mesmo nos ditos fontanários ou bebedouros. “Ainda que estes pontos de abastecimento possam, num ou noutro caso, ter consumos mais elevados, não será esta a maior fonte de preocupação. Os fontanários ligados à rede pública são importantes para assegurar o acesso a água potável em espaços públicos, o foco tem de estar na eliminação do desperdício, e não do consumo”, destaca. “Temos de pensar hoje o futuro, porque muitas das medidas que adotarmos agora, só terão efeitos a médio prazo. É fundamental trabalharmos em conjunto: municípios, entidades gestoras, Governo, APA, agricultura, indústria, todos têm um papel importante numa matéria que é fundamental para o nosso futuro coletivo”, conclui. Incêndio de agosto em Quebradas foi teste para os reservatórios da Águas da Azambuja Já no caso da concessionária privada a operar no concelho de Azambuja, a “Águas da Azambuja” as preocupações face ao cenário de seca severa, em que a União Europeia já fala na pior seca dos últimos 500 anos, Daniel dos Santos Silva, diretor da empresa sublinha, que ao longo dos anos a ADAZ “tem desenvolvido uma série de investimentos nos sistemas e redes de distribuição que, por si, são a melhor forma de combater situações de seca e de poupar água, minimizando a possibilidade de impactos negativos no abastecimento público de água aos a azambujenses”. A Águas da Azambuja é responsável pelo abastecimento de água em baixa no concelho de Azambuja, sendo a aquisição de água em alta feita à entidade – Águas do Vale do Tejo. “A menos de três semanas do final do verão, e fruto do trabalho desenvolvido ao longo dos anos, não foram sentidos até ao momento quaisquer constrangimentos no abastecimento público de água à população do concelho de Azambuja, existindo uma relação próxima com o município de Azambuja e a Águas do Vale do Tejo de forma a garantir um serviço de excelência no que concerne ao abastecimento de água aos Munícipes de Azambuja”, salienta. Apesar de até ao momento não ter sido constatado qualquer problema no que diz respeito ao abastecimento de água a empresa diz que está alerta para a questão da falta de água e monitoriza “atentamente a temática da Seca”, nomeadamente “os estudos mais recentes que referem que os períodos de seca poderão vir a ser cada vez mais frequentes, até mesmo anuais”. Tendo em vista a defesa dos consumidores, “estão a ser debatidas estas questões entre vários interlocutores, de forma a minimizar ou precaver futuros problemas no abastecimento à população do concelho de Azambuja” em que uma das soluções passa pela criação de redundância nos sistemas de abastecimento de água. Está ainda a ser estudado um reforço no que diz respeito ao abastecimento de água em algumas zonas do concelho.
Quanto à capacidade dos reservatórios, a Águas da Azambuja possui um sistema de controlo e monitorização de caudais instalado em todos os reservatórios do concelho, que permite saber o nível de cada um em tempo real. O investimento nesta tecnologia “permite à ADAZ ter uma interação contínua em caso de necessidade com a Águas do Vale do Tejo, garantindo de forma eficaz a quantidade necessária do volume de água presente em cada reservatório do concelho, com a possibilidade, em casos urgentes, de uma rápida reposição do nível das células dos reservatórios”. Exemplo disso são os incêndios já tidos na zona alta do concelho, “onde foi acautelada a reposição de água nestes reservatórios, sem qualquer impacto sentido junto da população”. Em caso de necessidade, o abastecimento de água à população por camiões-cisterna é sempre uma das soluções “a ter em conta em situações de emergência, se se verificar algum problema de maior na rede de distribuição de água”. Nesse sentido, convém realçar “a importante relação existente entre a ADAZ, o município de Azambuja, a Proteção Civil, a Associação Humanitária de Bombeiros de Azambuja e Alcoentre e outras entidades”, acrescenta Daniel dos Santos Silva. Embora seja uma questão da alçada do município, a ADAZ acredita que existe parcimónia por parte da Câmara para evitar desperdícios de água no que respeita a fontanários públicos ou fontes até porque “há alguns anos foram tomadas diversas medidas de forma a evitar esses desperdícios de água na via pública.” Quanto a possíveis campanhas de sensibilização junto da população do concelho para um consumo racional da água, a empresa refere que essa é uma estratégia sempre presente, e faz parte da sua rotina diária a análise atenta dos consumos dos clientes, “sendo os mesmos alertados sempre que é registado um consumo fora da média normal, permitindo assim minimizar possíveis roturas nas suas redes prediais, e o desperdício de água”. “Este conjunto de fatores, este trabalho diário realizado por todos os elementos da ADAZ, nomeadamente na monitorização de caudais, níveis de reservatórios, otimização de pressões nas redes de distribuição, reparação de roturas em tempo quase que real, atualizações cadastrais, entre outros, é que faz com que os valores de perdas da Águas da Azambuja estejam muito abaixo da média nacional. Porque, para a nós a água é o bem mais importante que temos. É preciso que todos lhe deem o valor que ela merece”, conclui apelando ao uso racional e consciente da água por parte dos consumidores. |
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