Água da torneira é mais segura e na região empresas e sistemas mantêm fasquia alta
Águas da Azambuja, SMAS de Vila Franca de Xira e Águas do Ribatejo dão conta do seu trabalho neste âmbito
Sílvia Agostinho/Bruno Libano
30-08-2017 às 18:13 Apesar de ainda existir receios, Portugal é um dos países da União Europeia onde é mais seguro estender um copo para a torneira lá de casa e assim matar a sede. A água engarrafada continua a ser inseparável de muitos portugueses, mas de acordo com a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), com base em dados de 2016, a água para abastecimento atingiu os 99 por cento de segurança. Se em 1993, esse indicador era apenas de 50 por cento, tal significa que o avanço é significativo. Neste trabalho fomos saber o que alguns sistemas e concessionárias estão a levar a cabo tendo em conta estes indicadores.
No caso da concessionária que serve o concelho de Azambuja, “Águas da Azambuja” esta tem obtido o selo de qualidade da entidade reguladora, sendo das que se situa num dos “patamares mais elevados do país”, de acordo com Isabel Pires, diretora da concessionária local. Neste concelho, a água distribuída é totalmente adquirida à entidade em alta Águas do Vale do Tejo, havendo por isso um compromisso quanto a “um controlo bastante exaustivo” da sua qualidade quer pela entidade produtora, a EPAL, quer pela entidade em alta, a Águas do Vale do Tejo, mas também pela própria Águas da Azambuja. Cada uma destas entidades tem um Plano de Controlo de Qualidade da Água (PCQA) autónomo, anualmente aprovado pela Entidade Reguladora: ERSAR. Para além deste controlo e do controlo operacional que todas estas entidades promovem nas suas rotinas de operação, existe ainda a vigilância sanitária assegurada pela Autoridade de Saúde, que procede regularmente à monitorização da água distribuída. Complementarmente a este controlo apertado da qualidade da água distribuída, a Águas da Azambuja implementou ainda em 2012 um Plano de Segurança da Água, integrando assim “as melhores práticas do sector”. Ainda de acordo com a avaliação da ERSAR, historicamente o município de Azambuja sempre teve “um bom desemprenho em termos de qualidade da água para consumo humano”. Mesmo assim, há a perceção geral por parte da população do concelho de que a água da torneira fica aquém em termos de sabor. Neste aspeto, refere, Isabel Pires, que tudo depende da origem, temperatura, características naturais e processo de tratamento e desinfeção que asseguram a potabilidade do líquido em causa. Sendo a água distribuída em baixa produzida em alta pela EPAL ou pela Águas do Vale do Tejo, “a sua perceção pode variar ao longo do ano não estando em causa a sua potabilidade.” “A ERSAR recomenda algumas práticas para o consumidor uniformizar essa perceção, como por exemplo arrefecer ou aromatizar a água consumida.” O combate às perdas de água é outra das preocupações dos sistemas contactados pelo nosso jornal, e para a Águas da Azambuja centra-se em duas áreas chave: por um lado as perdas físicas na rede de distribuição e as perdas comerciais por via de roubos ou ineficiência do parque de contadores. Em todas estas áreas existem procedimentos permanentes de monitorização e avaliação que tendem a reduzir o volume de água não faturada. “No final de 2016, as perdas de água eram inferiores a 22 por cento, bastante abaixo da média nacional”, deduz a responsável. SMAS de Vila Franca estão a ultimar o seu Plano de Segurança da Água Já no concelho de Vila Franca de Xira, os Serviços Municipais de Águas e Saneamento (SMAS) dão conta que a água é na sua totalidade comprada à EPAL, entidade em alta. De forma a garantir e melhorar a qualidade da água na torneira dos consumidores, que neste concelho também recolhe o sele de qualidade da ERSAR, têm sido implementadas algumas estratégias – Atendendo às características da água, perfil de consumo em cada rede de abastecimento e características físicas da própria rede, têm sido instalados em pontos estratégicos da mesma, postos de recloragem da água, nos quais é aplicado um reforço de desinfetante para que seja garantida a barreira de segurança sanitária, mantendo-se a concentração adequada de desinfetante residual ao longo de toda a rede de abastecimento. António Oliveira, presidente dos SMAS, acrescenta ainda neste ponto, que a aquisição de equipamentos automáticos para doseamento e controlo da concentração de cloro residual livre na água, com acesso online aos valores de cloro residual existentes na água distribuída, permite uma gestão mais eficiente da qualidade da mesma. É também importante apostar “na qualificação dos recursos humanos” com “equipas jovens, de operacionais motivados e com formação específica para a realização das tarefas de tratamento da água e controlo do mesmo”, bem como a “certificação dos técnicos de colheita de amostras de águas”. Neste concelho, os SMAS executam a subcontratação de análises de amostras de água, a laboratório externo, no âmbito do Programa de Controlo de Qualidade da Água de consumo humano. Ainda no que respeita à segurança da água que chega todos os dias à torneira dos munícipes, tem-se apostado também na intensificação das ações diárias de controlo operacional da água distribuída, com base em prévia avaliação do risco associado a cada componente da rede de abastecimento, e realização de análises diárias de controlo interno da qualidade da água, em laboratório próprio, em complemento das análises obrigatórias, permitindo “uma atuação preventiva face a possíveis desvios da qualidade da água”. Neste momento, os SMAS estão a ultimar o seu Plano de Segurança da Água a implementar no sistema de abastecimento do concelho de Vila Franca de Xira, só possível através de ações concretas como a realização de obras de remodelação da rede de abastecimento de água, ao longo de todo o concelho, eliminando pontos críticos da mesma; realização de obras de manutenção/conservação de reservatórios de água; execução de campanhas anuais de higienização dos reservatórios de água; monotorização periódica das instalações e equipamentos por forma a assegurar o seu normal funcionamento e atuar preventivamente em caso de necessidade. Os SMAS adiantam ainda que no ano de 2016, o investimento referente à renovação das redes de abastecimento de água, aquisição de equipamentos e demais ações que contribuem para “a melhoria da qualidade da água fornecida” foi de aproximadamente 1 milhão 596 mil euros, correspondendo a cerca de 41% do Plano Plurianual de Investimento. Desta forma, e para esta entidade, os selos de qualidade da ERSAR, atestam assim “a boa qualidade da água distribuída bem como a eficiência das práticas utilizadas”. “Contribuem para um aumento da confiança por parte dos consumidores, de que a água da torneira tem qualidade, fruto de todo o empenho e esforço das equipas que diariamente trabalham para que a água chegue às torneiras não só em quantidade, mas com uma qualidade de excelência comprovada.” Também as perdas de água são um dos combates levados a cabo por este sistema, que todos os anos tem apostado na monitorização dos caudais noturnos, consumos fantasma, ligações fraudulentas e identificando possíveis roturas e fugas na rede, o que representa “um investimento avultado, mas que a longo prazo beneficia o ambiente e os clientes”. Para além disso, atentos a esta realidade, os SMAS de Vila Franca de Xira, fizeram também um investimento na aquisição de uma viatura que possui equipamento de última geração, o qual permite fazer a deteção de fugas e micro roturas antes de estas se tornarem significativas, sem a necessidade de abrir o pavimento, o que minimiza os custos da intervenção assim como os incómodos para as populações daí resultantes. Noutra vertente, os SMAS têm procurado estar atentos às perdas que possam resultar da submedição de consumos com a substituição de contadores antigos. Além disso, tendo em conta uma “política de melhoria contínua dos seus serviços centrada no cliente", os SMAS de Vila Franca, investiram este ano numa aplicação para smartphones, o MyAQUA, disponibilizada gratuitamente aos consumidores. Esta permite “a comunicação de anomalias como roturas, anomalias relacionadas com a qualidade da água; problemas de pressão, faltas de água, e ainda a consulta e gestão dos dados dos contratos, a consulta e comunicação de leituras e da faturação.” Em Vila Franca de Xira os serviços registam perdas de água na ordem dos 18 por cento, valor “bem abaixo da média nacional de 30 por cento de perdas e uma das mais baixas da Área Metropolitana de Lisboa”, refere António Oliveira. No que respeita a campanhas de sensibilização, os SMAS de Vila Franca de Xira, têm desenvolvido várias ações que contribuem para esse fim nomeadamente as realizadas no âmbito das comemorações do dia mundial da água e do dia mundial da criança, tais como: dinamização de sessões pedagógicas nas escolas do concelho sobre água e a sua utilização de forma sustentável; distribuição de copos “retráteis” com logotipo dos SMAS e outros brindes, apelando ao seu uso para beber água da torneira; realização de jogos didáticos alusivos à poupança de água, à sua boa utilização e qualidade; mostra interativa do circuito da água desde a captação até ao esgoto, passando pela utilização nas habitações. Destaque ainda para a elaboração de folhetos sobre a qualidade da água de abastecimento e redes prediais, distribuídos em ações de sensibilização ambiental disponíveis no site dos SMAS de Vila Franca; e a exibição de um filme sobre as atividades deste sistema municipal. ![]()
Águas do Ribatejo sublinha investimento de 40 milhões A Águas do Ribatejo (AR) detida a 100 por cento pelos municípios de Almeirim, Alpiarça, Benavente, Chamusca, Coruche, Salvaterra de Magos e Torres Novas exemplifica que o seu esforço na consolidação dos bons indicadores de qualidade da água assenta em grande parte no investimento efetuado até aos dias de hoje, cerca de 40 milhões de desde 2009. “A segurança e a qualidade do abastecimento de água são fundamentais para a Águas do Ribatejo (AR)”. Resultado desta “preocupação” é a construção de nove estações de tratamento de água em oito anos de gestão dos sistemas de abastecimento. “Realizamos cerca de 10 mil análises por ano em laboratório certificado e cujos resultados reportamos à ERSAR, autoridade de saúde, municípios e freguesias”, refere Francisco Oliveira, presidente da AR, que sublinha ainda o “controlo operacional de qualidade efetuado diariamente a alguns parâmetros como pH, cloro residual e turvação”. Toda a informação é disponibilizada aos clientes e consumidores no site www.aguasdoribatejo.com. Praticamente dois terços do orçamento de exploração da AR destinam-se a assegurar o fornecimento de água com qualidade e em quantidade a todos os utilizadores. A empresa intermunicipal salienta ainda que, desde 2009, foram investidos nos sistemas de abastecimento de água dos vários municípios cerca de 40 milhões de euros, visando sobretudo “aumentar a qualidade e fiabilidade dos mesmos e, consequentemente, prestar um serviço de elevada qualidade a todos os cidadãos”. Muito se tem falado na questão do manganês, e com isso o facto de por vezes a água correr nas torneiras com alguma turvação - Consequentemente a AR refere que com a entrada em funcionamento das novas Estações de Tratamento de Água (ETA), a presença daquele metal em águas subterrâneas é removido antes de esta entrar nos reservatórios. No entanto, são ainda alguns os quilómetros de rede de distribuição que necessitam de limpezas constantes por acumularem este elemento antes da entrada em serviço das ETA, operação que é realizada de “forma sistemática”. Apesar de esta empresa surgir com bons índices de qualidade da água, nunca ganhou um selo de qualidade exemplar da água da ERSAR pelo menos naquilo que é o registo da última edição em 2014. Neste aspeto, Francisco Oliveira dá conta que os selos são atribuídos em função de um conjunto de critérios. “A AR cumpre todos, menos um que nada tem a ver com a qualidade da água e que se prende com o cadastro das infraestruturas”. “Como é público, recebemos as infraestruturas e equipamentos de sete municípios e, na maioria dos casos sem um cadastro atualizado. Esse trabalho de levantamento e registo no Sistema de Informação Geográfica (SIG) está a ser realizado tratando-se de um trabalho demorado por se tratar de infraestruturas enterradas”, dá conta, acrescentando: “Todavia, consideramos que mais importante que qualquer selo é a garantia de que a água que levamos a casa dos consumidores é segura e de boa qualidade como está patente no Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP) da entidade reguladora.” No que respeita ao combate às perdas de água, a Águas do Ribatejo informa que, nesta altura, ronda os 34 por cento, mas a fasquia será os 20 por cento. Contudo quando a empresa entrou em funcionamento, em 2009, a média das perdas nos sete concelhos era de 52 por cento. “Não podemos continuar a desperdiçar tanta água tratada em nome do ambiente e dos custos que esta situação acarreta, razão pela qual temos vindo a investir fortemente nesta área, quer através da substituição de condutas, quer através de campanhas sistemáticas de pesquisa ativa de fugas de água nos mais de dois mil quilómetros de rede geridos pela AR”. Quanto às campanhas de sensibilização a decorrer junto dos consumidores, a AR conta com parcerias com a Direção Geral de Saúde, Quercus, Deco e Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas. A empresa instalou ainda 100 fontes de água ligadas à rede, em locais públicos, nos sete concelhos. Nestes espaços é disponibilizada a água da rede refrigerada ou natural aos utilizadores. As mesmas fontes são alocadas para feiras, certames e eventos em que a AR participa, nos quais disponibiliza também variado material didático. Numa parceria com os municípios, “oferecemos milhares de garrafas reutilizáveis às crianças para que se habituem a beber água da torneira ao longo do dia”, exemplifica. A empresa está a levar ainda a cabo uma campanha em que oferece garrafas personalizadas aos clientes que aderem à fatura eletrónica e ao débito em conta, medidas que “visam reduzir a pegada ambiental com redução do consumo de papel, toner e outros consumíveis.” Na área de influência da AR têm sido comuns os relatos que dão conta do fenómeno das vendas agressivas de purificadores de água, que a AR apenas condena quando essas “empresas recorrem a estratégias que passam por visitar os nossos clientes e adulterar a qualidade e o aspeto da água com recurso a reagentes para provocar alarmismo e convencer as pessoas de que os purificadores são a solução”. Tomando conhecimento de que algumas empresas usaram indevidamente o nome da Águas do Ribatejo, fazendo com que os seus agentes se intitulassem como técnicos da AR, “denunciámos esta situação junto das autoridades que procederam às diligências que se afiguraram apropriadas”. “Promovemos também o esclarecimento das populações com comunicados que alertam para os riscos destas vendas”, fornecendo ainda a informação de que a AR “não tem em curso qualquer monitorização da qualidade da água em casa dos clientes”. “Podemos garantir que a nossa água é de qualidade e segura pelo que pode ser bebida sem reservas em qualquer dos 75 mil locais de consumo que temos nos sete concelhos”. ERSAR enaltece postura dos operadores ao longo dos anos
Para o regulador, os bons indicadores quanto à qualidade da água que sai das torneiras na generalidade do território deve-se a uma maior consciencialização mas também a uma intensificação da fiscalização por parte do Estado, mas neste aspeto releva ainda o “espírito construtivo que todos os agentes do setor adotaram na implementação das novas regras”, designadamente com o surgimento do IRAR, atual ERSAR, enquanto autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano, que se traduz “sempre na adoção de uma atitude pedagógica da nossa parte sem prejuízo da exigência do cumprimento rigoroso das regras legais vigentes”, refere à nossa reportagem. Só assim Portugal consegue estar hoje no mesmo patamar que os países mais desenvolvidos da União Europeia. Os níveis de água segura são considerados “internacionalmente como de excelência” em cumprimento com as regras comunitárias. Apesar de segura, em vários pontos do país, as populações queixam-se do seu sabor, sendo que neste aspeto a ERSAR enfatiza que apesar de o sabor da água não ser uniforme na totalidade do território, pois está dependente da composição mineral existente em determinada região, tal não acarreta necessariamente problemas de qualidade. No entanto também não deixa de notar que “a utilização excessiva de agentes desinfetantes pode conferir um gosto à água que pode por em causa a sua aceitabilidade”. “Nestes casos, sem prejuízo do trabalho que é efetuado pelas entidades gestoras para manterem os níveis de desinfetante nos valores recomendados pela legislação, o consumidor na presença de água com níveis de desinfetante que altere o seu sabor pode deixar repousar a água ou adicionar-lhe rodelas de limão ou ervas aromáticas, por exemplo, de modo a corrigir este aspeto”. “Tenhamos sempre presente que uma água com desinfetante é uma água segura do ponto de vista microbiológico”, atesta o regulador. O estigma ainda associado ao consumo de água da torneira tem sido uma luta por parte dos sistemas e concessionárias, e no entender da ERSAR apesar de tudo começa a surgir a perceção de que a água da torneira é de qualidade. Sendo certo que a água da rede “tem mais qualidade, é ambientalmente mais favorável e incomparavelmente mais barata”. Sem querer entrar em competição com a água engarrafada deduz apenas que “há que garantir que ambas têm a qualidade necessária para o cidadão tomar uma decisão consciente quanto à que pretende utilizar nas suas rotinas diárias.”
Mais recentemente têm surgido no mercado diversas empresas a quererem vender purificadores de água por vezes nem sempre da maneira mais cristalina, o que tem motivado a ERSAR (quer através do seu site, quer através de diversos meios de comunicação social) a garantir que este tipo de equipamentos “é desnecessário nas situações em que os cidadãos recebem água dos sistemas públicos de abastecimento”. “Não é necessário tratar o que já está tratado. Importa ainda dar nota que a ERSAR condena a abordagem utilizada por algumas destas empresas recorrendo a uma explicação técnica errada e referindo que água dos sistemas públicos de abastecimento não tem a qualidade necessária para proteger a saúde humana”. “Ora, tal não é verdade uma vez que a água dos sistemas públicos de abastecimento é sujeita a um controlo rigoroso, que é acompanhado por nós, enquanto autoridade competente, mas também pelas autoridades de saúde no que à proteção da saúde humana diz respeito”, conclui. ComentáriosSeja o primeiro a comentar...
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