Alice Pinto, utente do centro de saúde de Azambuja, nem em Benavente conseguiu consulta
Desde agosto que quem não tem médico de família tem de se deslocar a Benavente ou Póvoa, mas se tiver exames para mostrar não consegue ser visto. Utente desabafa que a saúde está entregue aos bichos em Azambuja
|09 Set 2022 11:20
Sílvia Agostinho Alice Pinto é utente do Centro de Saúde de Azambuja sem médico de família e terá sido das primeiras a deslocar-se ao Serviço de Atendimento Permanente em Benavente, no centro de saúde local, tendo em conta a nova diretiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo para as consultas de recurso. Desde finais de agosto que a Unidade de Cuidados de Saúde Primários de Azambuja não realiza consultas a quem não tem médico de família. Neste mês de setembro, 88 por cento da população de todo o concelho vai ficar sem médico de família. Com vários problemas de saúde, esta utente foi a Benavente e mesmo assim não conseguiu ser consultada. Alice Pinto diz-se vítima da falta de informação e da má vontade dos funcionários.
Sem médico de família, desde que "a doutora Áurea se reformou há uns três ou quatro anos", conta que também passou pelo calvário de ter de ir "às onze da noite ou meia noite para a porta do centro de saúde para apanhar consulta". Como muitos outros habitantes do concelho, em determinadas alturas, esteve o dia inteiro agarrada ao telefone para conseguir efetuar uma marcação. "Só num dia liguei 58 vezes e nunca me atenderam". O caso aconteceu há cerca de dois meses. Depois de ter efetuado exames à tiróide e ao coração pedidos pelo médico de recurso, José Viscainho, quando quis obter nova consulta, foi-lhe dito pelas funcionárias do Centro de Saúde de Azambuja que teria de deslocar-se ao SAP de Benavente ou Centro de Saúde da Póvoa, "mas apenas para doenças agudas ou de caráter urgente". "Como os exames acusaram uns nódulos nos pulmões achei que devia dirigir-me a Benavente". Uma vez no SAP daquele concelho, "a médica fartou-se de pedir desculpa mas disse que não podia fazer nada, porque obrigatoriamente quem teria de ver e registar os exames seria o doutor Viscainho". Nisto voltou a contactar o centro de saúde de Azambuja, que neste momento apenas possui consulta de recurso para situações de baixa e prescrição de medicamentos, e passados uns dias conseguiu a consulta com o médico que a tinha atendido e passado os exames, tendo sido encaminhada para o Hospital de Santa Maria. "O doutor dentro de 15 dias quer ver-me de novo, e disseram para contactar o centro de saúde, mas parece que é assim estilo pela porta do cavalo". Alice Pinto retira deste episódio que "está tudo muito mal explicado, porque não estamos suficientemente elucidados em que circunstâncias é que temos de ir a Benavente". "Perdi o meu tempo ao ir para lá. A saúde em Azambuja está uma miséria e mais valia fecharem o centro de saúde. No meu caso ainda tenho transporte próprio, mas no caso de pessoas mais idosas não é admissível uma coisa destas". Não chegou a ponderar uma deslocação antes ao centro de saúde da Póvoa "porque disseram-me que se esperava ainda mais tempo". Uma familiar dias depois teve de ir também a Benavente "e foi muito bem atendida, com pouquíssimo tempo de espera". Já o atendimento por parte das funcionárias do centro de saúde de Azambuja "depende muito". "Algumas são cinco estrelas, mas outras falam para os utentes com sete pedras na mão, e isto não é de agora". Quanto ao médico de recurso "é muito atencioso e gostava muito que fosse o meu médico de família". No dia 23 de setembro o Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja vai empreender uma marcha lenta na Nacional 3 a reivindicar melhores condições no centro de saúde local, algo que Alice Pinto vê com bons olhos, "porque hoje em dia só quem tem dinheiro é que consegue ter acesso a bons cuidados de saúde". "No meu caso até podia ir a um privado para uma consulta, mas depois os exames que nos mandam fazer são caríssimos e não tenho como os pagar, mesmo com cartão de saúde. Estamos entregues aos bichos.", desabafa. O Valor Local contactou a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, Sofia Theriaga, para uma entrevista sobre o caos nos centros de saúde da nossa região, mas até ao momento não obtivemos resposta. Comentários É uma vergonha tantos anos a descontar e agora não temos nada eu já não sou vista pelo médico a três anos porque o meu médico defamilia foi embora e agora tive de entrar para a cruz vermelha para ir a um médico particular .as minhas pesublidades são poucas ou nenunhas não compreendo porque não se faz nada e uma vergonha agora termos que se deslocar para estes sítios quem paga os transportes já alguém arranjou alternativas porque nem todos temos meus para se deslocarmos nem verbas para isso Fátima Seabra Pinto 09-09-2022 às 20:06 |
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