Artes marciais e desportos de combate cada vez mais procurados na região
Nos últimos anos, as artes marciais são também “receitadas” pelos médicos tendo em conta os fenómenos de hiperatividade e dificuldades de concentração em crianças
Sílvia Agostinho/Nuno Vicente
05-02-2017 às 22:17 Fomos ao encontro de duas modalidades diferentes na região. Uma delas é arte marcial e tem feito escola em Samora Correia, a outra é uma forma de defesa pessoal, e também tem vários praticantes em Azambuja. Ambas fazem parte do vasto leque de modalidades trazidas de países distantes para o nosso país, já visto como uma meca do género lá fora.
Numa sala da Escola Tradicional de Artes Marciais em Samora Correia um grupo de crianças e jovens vão ensaiando diversas técnicas do mundo das artes marciais. Alguns são mais experientes, outros entraram há emnos tempo na escolas, mas todos eles confessam-se entusiastas deste universo. Portugal é um dos países onde as artes marciais possuem um maior número de aderentes, uma realidade que não passa despercebida em lado nenhum do planeta, e até os países de origem da grande maioria destas modalidades estão atentas ao fenómeno no nosso país. É em Samora Correia, mas também podia ser em qualquer outra parte da região. As artes marciais estão para ficar e parecem ser a nova coqueluche de muitas associações e coletividades. No dia da nossa reportagem, o Kosho Ryu Kempo era a modalidade em destaque. Nos últimos anos, as artes marciais são também “receitadas” pelos médicos tendo em conta os fenómenos de hiperatividade e dificuldades de concentração em crianças. Os princípios e a rigidez das artes marciais são vistas como um bom ponto de partida para “essas dificuldades”. Mas este é um trabalho “quem não se vê nem num mês nem num ano”, refere o sensei Luís Coelho, mestre de Kosho Ryu Kempo. “Posso dizer que estou a recolher frutos desse trabalho com 10 anos”, com jovens que hoje “têm 16 ou 17 anos e que trabalham comigo desde os nove”. Marlene Bento é mãe de uma menina de sete anos que revelava até algum tempo atrás dificuldades de socialização, mas desde que entrou na escola que por assim dizer desabrochou e “tornou-se muito mais sociável”. “Quando tinha cinco anos não conseguia largar-me, era muito inibida, e desde que veio para as artes marciais que mudou bastante. Andou na natação e na ginástica, mas só mesmo o Kosho Ryu Kempo permitiu que ela se abrisse”. Durante a aula, as duas classes (infantil e juvenil) vão chegando à sala e fazem o cumprimento específico deste tipo de filosofia. À semelhança de outras, o Kosho Ryu Kempo também vai beber nos ensinamentos budistas. Para além da parte de modalidade de luta, o praticante deverá também observar uma forma de estar na vida muito própria: mais aberta e em comunhão com os outros. Frequentam a modalidade cerca de 60 alunos. Sendo que a modalidade surgiu em Samora Correia há cerca de 20 anos. Para além do Kosho Ryu Kempo, integra ainda a Esgrima Filipina, e o Kuroishi Riu Bujutsu. “Para o leigo as diferenças entre as artes marciais não são muito visíveis, mas quem as pratica sabe das diferenças existentes, tem a ver com o princípio e com a cultura de cada uma”, define Luís Coelho. O Kosho Ryu Kempo surgiu na China. Julga-se que à volta do ano 525 D.C. Esta arte marcial expandiu-se depois para o Japão e mais tarde para o Hawai. A escola de Samora Correia desenvolve uma linha japonesa da arte marcial em causa, “que consiste na defesa pessoal com mais temáticas de pé, que não a que trabalha o chão, na base, se quiser, do jiu-jitsu”. Contudo salienta que as artes marciais embora possam assemelhar-se aos desportos de combate puros, possuem outras subtilezas – “A importância dos princípios e dos hábitos que as crianças têm de adquirir, não se resumem apenas à vertente competitiva. O nosso principal foco não incide só nas mecanizações desportivas, mas também nas formas de estar na vida”. “Colocar completamente à vontade quem aqui chega para praticar esta modalidade pela primeira vez é também um dos nossos lemas”, conclui. Por outro lado, “ensinamos o valor da partilha da amizade. São princípios importantes para as crianças. Um adulto que aqui chegue e que não tenha esse princípio não ficará cá durante muito tempo. Por outro lado, incutimos a necessidade de as crianças serem bem-sucedidas nos estudos”, refere Luís Coelho, que por norma vai acompanhando a evolução escolar dos praticantes. “A partilha é uma das bases do nosso trabalho. Não guardo segredos dos meus métodos e daquilo que sei para os meus alunos, e sei que eles também não o fazem”. Ricardo Ferreira, 17 anos, é praticante de Kosho Ryu Kempo desde pequeno. Há 11 anos que está na escola de Samora Correia e a forma de estar do sensei Luís Coelho também ajudou a que fosse ficando. “Ganhei mais concentração”. As notas na escola “melhoraram”. “Os resultados que tenho conseguido devo-os ao kempo também”. Na componente adulta, as artes marciais são procuradas em norma como um meio para se ganhar noções de defesa pessoal, “mas mais uma vez não é esse o objetivo”. “O adulto que aqui chegue com esses propósitos terá de mudar a sua perspetiva se quiser continuar. Aliás quem antes de vir para aqui era violento, passa a ser menos”, refere Luís Coelho. Krav Maga com 30 alunos em Azambuja
Foi há seis anos que João Manuel Leal trouxe para o Grupo Desportivo de Azambuja, o Krav Maga Security uma modalidade de defesa pessoal com cada vez mais praticantes no nosso país. Nascida em plena segunda guerra mundial, pelas mãos do senhor Imi, um judeu austro-húngaro, este género de defesa pessoal, chegou mais tarde a Israel e daí passou para o resto do mundo, tendo chegado a Portugal no início deste seculo, quando um elemento das nossas forças de segurança se deslocou aquele pais do Médio Oriente, para conhecer os segredos desta arte e implantá-la por cá, tendo nascido então muitas escolas e de diversos estilos, pelo país fora. João Manuel Leal que começou em Azambuja com cerca de uma dúzia de atletas, numa sala de reduzidas dimensões, tem hoje cerca de 30 alunos dos dois sexos entre os oito e os 45 anos e está a trabalhar no ginásio das piscinas municipais, numa sala que divide com o Taekwondo, também do GDA, mas onde segundo o mestre tem outras condições a nível de espaço e qualidade de treino que não tinha na sede do clube devido ao pouco espaço da sala onde trabalhava. Quando lhe perguntamos, qual a diferença entre uma arte de defesa pessoal e as artes marciais, visto modalidades como o Karaté, Taekwondo ou Judo por exemplo, também terem sido na sua génese criadas para defesa pessoal, João Leal diz-nos que essas modalidades evoluíram para a vertente desportiva enquanto o Krav Maga é somente para defesa, além de que quando uma pessoa é atacada, vale tudo para se defender, enquanto uma modalidade desportiva “tem regras”. No entanto está-se a trabalhar para ser criada uma federação e passar a haver também a vertente desportiva da modalidade. João Leal foi um dos introdutores do Krav Maga Security em Portugal e diz-nos que este estilo implantado pelo seu mestre Alain Cohen é um dos mais utilizados pelas diversas forças de segurança. Além da defesa pessoal, o Krav Maga é importante também para a auto confiança, aumentando a auto estima de quem o pratica e fazendo encarar a vida de outra forma, sem medos nem fantasmas.
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