Azambuja chocada com abate de mais de 500 animais na Torre Bela
Câmara Municipal, Confederação dos Caçadores Portugueses e até os promotores do parque fotovoltaico estão indignados
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| 21 Dez 2020 12:46
Atualizada 21 Dez 2020 21:37 Sílvia Agostinho Começaram a circular, neste fim de semana, nas redes sociais fotografias bastante explícitas e alegadamente recentes de uma montaria ocorrida na Torre Bela, em que um dos dados que salta vista prende-se com o número de exemplares abatidos entre veados, gamos e javalis, cerca de 540, com vários caçadores a exibirem o resultado da caçada. As fotografias chocaram os internautas, e esta segunda-feira, o presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa ao Valor Local, confirma que de facto as fotos não são montagens, que já falou com o proprietário da Torre Bela mas que este não soube indicar o número exato de animais mortos porque a caçada teria sido organizada pelo filho. A Torre Bela tem estado debaixo de fogo nos últimos tempos face às vozes que se ergueram conta o parque fotovoltaico que se pretende instalar no local, sendo que a caçada teria também como objetivo abrir caminho à implantação do projeto, a par do arranque de eucaliptos em curso.
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O Valor Local contactou a Torre Bela sendo que o seu responsável disse perentoriamente que não está disponível para falar sobre o assunto. Luís de Sousa por seu turno e à nossa reportagem mostra-se agastado, diz que já entrou em contacto com o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), a entidade que supervisiona a atividade da caça, para pedir esclarecimentos sobre os factos. O próprio presidente da Câmara desabafa que os promotores, Aura Power e CSRTB, que querem implantar o parque numa área prevista de 775 hectares na Torre Bela, se mostraram incomodados com as imagens e desanimados perante os acontecimentos. O Partido Socialista em comunicado às redações também repudia os factos e confirma que a Câmara já deu conta do caso ao ICNF.
A atividade da caça daquele tipo de animais encontra-se regulamentada e aprovada, sendo que a Torre Bela respeitou o calendário para o efeito para os veados, gamos e javalis, que não são espécies protegidas. O presidente da Câmara diz que este tipo de caça por se enquadrar no domínio turístico não está na jurisdição do conselho municipal cinegético pelo que o município é alheio ao que se passa para lá dos muros da Torre Bela. A entidade a reportar é o ICNF. O proprietário garantiu grosso modo à Câmara, que "ainda sobram muitos animais", e que estão a ser encaminhados para "uma área de 200 e tal hectares". No relatório com vista à Declaração de Impacte Ambiental para o projeto do parque fotovoltaico, ao qual o Valor Local teve acesso, é referido pelos promotores essa deslocalização dos exemplares de caça para uma outra zona da propriedade, contudo estima-se que grande parte terá sido abatida na montaria da semana passada. Luís de Sousa continua a adiantar: "Confrontei a Torre Bela com algo que a mim me incomodou bastante, que é a possibilidade de ter existido um abate indiscriminado porque já não há muita vegetação, e os animais terem estado ali mais do que à mercê dos caçadores". Neste ponto faz um parêntesis: "Mas temos de fazer uma destrinça entre a caçada e o projeto das energias, até porque também já falei com os promotores que estão desanimadíssimos e tristes!". Na sua opinião "deveria ter existido um pouco mais de cautela em tudo isto. Escusavam de ter matado mais de 500 animais num só dia". O Valor Local contactou alguns interlocutores neste domínio. Segundo Nuno Oliveira do Fundo de Proteção de Animais Selvagens (FAPAS) estamos de facto "perante algo inusitado" e dá a achega - "Se de facto queriam tirar de lá os animais para fazer esse projeto fotovoltaico, podiam ter contactado o ICNF alegando a presença de mais de 500 animais excedentários no sentido de os levarem para repovoamento de outra zona". O dirigente da FAPAS confessa que "uma matança dessas não é normal, embora possam não estar a infringir a lei, mas é uma questão de bom senso o que aqui temos, sendo que facto não há outra explicação que não a de limpar o terreno". A própria Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses diz-se admirada com o estado de coisas, e que episódios como aquele que está em causa deixam a atividade mal vista. José Bernardino, presidente desta associação, explica que as reservas de caça turística não estão sujeitas às mesmas regras apertadas das zonas de caça municipal e que a lei é omissa quanto ao número de exemplares a abater nessas localizações específicas. Mas mesmo assim José Bernardino não tem dúvidas de que "esses números no contexto nacional, mesmo atendendo às circunstâncias, são absolutamente invulgares". Para obtermos um termo de comparação refere que o normal num dia de boa caçada entre javalis e veados ronda os 80 animais "quanto muito". "Na Torre Bela temos uma zona turística vedada em que a entidade proprietária concentrou um grande número de animais, e como estamos em pandemia temos assistido a muitas limitações no que à caça diz respeito, possivelmente ao invés de ter distribuído esse volume de abates por vários dias de caça concentrou tudo num só, a que se soma essa dita questão do parque fotovoltaico", infere, José Bernardino que prevê que uma vez no mercado, a carne de veado que é muito procurada além fronteiras, "vai permitir face a esse massivo abate um encaixe financeiro considerável para quem a vá vender". Em conclusão "posso perceber a necessidade da entidade mas é lamentável". Já Jacinto Amaro da outra associação do setor, Fencaça, não estranha estes números, embora diga que nunca esteve na Torre Bela nem conheça a propriedade. O presidente desta associação garante que a carne destes animais "será encaminhada de certeza para a cadeia alimentar como vai a de vaca, a de cabra, entre outras, especialmente para Espanha, com controle de todos os parâmetros de sanidade veterinária e consequente distribuição". Jacinto Amaro corrobora o seu colega- "Não há limite do número de abates neste tipo de propriedades turísticas". O caçador apenas precisa de ter um seguro, licença de caça e de porte de arma. Contudo não deixa de colocar o ênfase no facto de "existirem pessoas que vão colocar fotografias nas redes sociais e que no fundo não fazem bem à caça". "Isso é um tiro no pé e uma alarvidade. De resto são animais como outros que vão para a cadeia alimentar, independentemente de se tratar de controle de densidade ou de um controle para dar lugar a um projeto específico, como parece ser o caso". Jacinto Amaro calcula que face aos números "possivelmente não encontraram compradores para levarem dali os animais para não terem de os matar. Não faço ideia porque não conheço o caso", remata. O Valor Local contactou a associação Zero- Sistema Terrestre Sustentável que através de Nuno Former relaciona os factos em questão tendo em conta a necessidade de despojar a quinta com vista ao projeto fotovoltaico. A associação está com o processo de análise da Estudo de Impacte Ambiental (EIA) em mãos mas ainda não chegou a conclusões dado que apenas foi para a plataforma Participa recentemente. A associação também prefere não se pronunciar sobre a circunstância de os acontecimentos estarem em dissonância com o que está no EIA. O Valor Local contactou o ICNF sobre o modus operandi do proprietário da Torre Bela. Diz aquele instituto que não teve conhecimento prévio desta ação, que ocorreu numa zona de caça concessionada como Zona de Caça Turística (ZCT). O Plano de Ordenamento e Exploração Cinegético dessa ZCT prevê a exploração do veado e do javali, pelos métodos previstos na lei, onde se incluem as montarias, conforme de resto foi adiantado acima pelas duas confederações do setor. O ICNF considera que tendo em conta os números de animais abatidos divulgados pela comunicação social, deu já início a um processo de averiguações junto da Entidade Gestora da ZCT no sentido de apurar os factos ocorridos e eventuais ilícitos nos termos da legislação em vigor. |
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Comentários
killer Sónia Tavares terrorist Sónia Tavares TR TR 25/12/2020, 07:34 Estou em estado de choque, não acredito que a malvadez do ser humano chegue a este ponto, isto é de uma crueldade invulgar Víctor Moutinho 22/12/2020, 14:30 Psicopatas,não têm outro nome. Ainda veem pôr paninhos quentes "vão ser comidos como tantos outros animais "logo,não tem mal nenhum.Caçadores e toureiros são doentes que adoram sangue e morte. Wanda Nuno 22/12/2020, 13:10 A empresa da energia fotovoltaica por trás deste negócio devia rescindir o contrato que tem com estes inergumes milionários... Bem podiam dar a ganhar euros a quem tem terras menos rentáveis Maria Pombo 22/12/2020, 01:56 É da facto repugnante, imoral, inaceitável, asqueroso e mais não sei quantos adjectivos posso enunciar, para definir o vil acto assassino que, 16 indivíduos, pretensiosamente auto- apelidados de caçadores?! (mas não o são e se calhar nunca o foram, nem serão, mas sim comedores, predadores..., isso sim), efectuaram uma chacina de caça grossa de mais de 540 espécies (veados, corços, gamos, muflões, alguns javalis e não sabemos que mais), na Quinta da Torre Bela, Aveiras de Cima Azambujal!!!! Haverá algo que possa justificar tal vil acto? Tenho nojo, quando gentinha desta espécie, ignobilmente se disfarçam de nauseosos presumíveis caçadores!!!! O Caçador Português que se digna, é nobre, distinto, respeitador, consciencioso, cumpridor dos seus deveres e com ética. Não nos confundam, com esta espécie de gente que, devia ser vergonhosamente banido da nossa sociedade. Caça com respeito e respeitando a caça, praticando com ética e nobreza o acto venatório. Sérgio Aidos 21/12/2020, 23:23 |
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