
A comemorar 83 anos de vida e com 70 bombeiros no corpo ativo, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, prepara-se agora para novos desafios. Não que os desafios do passado tenham sido inteiramente superados, mas segundo o atual presidente, André Salema e o novo comandante, Armando Baptista, “têm sido dados passos seguros nesse sentido.”
No âmbito destas comemorações que os bombeiros desejam como “caseiras”; ou seja envolvendo mais os bombeiros, e menos as entidades oficiais, o Valor Local quis tentar esclarecer algumas questões que têm sido alvo de vários pontos de interrogação. André Salema diz que a associação “respira agora outros ares” e por isso encara os novos desafios com “otimismo”. Ao Valor Local, André Salema e Armando Batista dizem que se assiste “a uma mudança na forma como os bombeiros atuam, diferente de há três anos atrás”.
André Salema avança que se vai recandidatar às próximas eleições para dar continuidade ao trabalho feito até aqui, que passou também pela racionalização de custos. Os contratos com fornecedores foram cancelados ou renegociados. Os veículos ao serviço dos bombeiros foram otimizados e assim “conseguiu-se rentabilizar as receitas e despesas da associação.”
Um dos exemplos, segundo André Salema, incidiu sobre o parque de viaturas. “Tínhamos carros que passavam mais tempo na oficina do que ao serviço dos soldados da paz. Foi feito um estudo que levou à poupança de quase cinco mil euros na manutenção dessas viaturas.” Uma poupança que – garante o comandante dos bombeiros – se veio a refletir na otimização do parque de viaturas, também através da aquisição de outros carros mais novos.
André Salema destaca que todos “os gastos supérfluos que não estavam direcionados para a nossa atividade concreta, foram alienados, cortados”, na senda do que também começou a ser feito pela anterior direção, mas com algumas alterações. As fontes de receita também já não são o que eram, pois, (e a título de exemplo), os serviços de transporte de doentes, já vão sendo cada vez mais escassos.
Armando Baptista que participa em conjunto com a direção em parte da gestão da casa, reforça que “a saúde não dá lucro”. As despesas são fixas, com os ordenados do pessoal ou com os gastos das viaturas, “mas a receita é variável e por isso torna-se difícil fazer um equilíbrio”. O comandante vinca que o facto de o hospital poder não pagar um serviço de transporte aos bombeiros, pode levar a um encargo extra do doente, ou por fim da própria associação.
Chegado da Cruz Vermelha para substituir o anterior comandante, Pedro Cardoso, Armando Baptista diz que viu “esta missão como um desafio”. Com efeito Armando Baptista é assalariado da casa. No início, o ordenado do comandante foi alvo de polémica, dado que se falou em valores díspares em relação ao resto da corporação, mas nesta entrevista o mesmo referiu que acaba por pagar o seu próprio ordenado com “formações pagas por empresas enquanto comandante deste corpo de bombeiros entre outros serviços, dando por isso algum sustento aos bombeiros”. Armando Baptista que já fazia esse trabalho quando estava na Cruz Vermelha em Lisboa, trouxe consigo algumas empresas, com as quais ainda hoje mantém o ministrar de formações, que permite à associação pagar-lhe um vencimento, sem que isso “belisque a sua saúde financeira”, reitera.
Aliás, Armando Batista, que diz ser um homem de desafios, esclarece mesmo que com a saída da Cruz Vermelha, veio a perder dinheiro, mas que isso é compensado através de aulas que dá numa instituição. Neste sentido diz-se sentir “um embaixador” dos bombeiros de Azambuja”, ao mesmo tempo que vinca a necessidade de ter reestruturado o corpo de bombeiros “que teria sempre de ser feito por qualquer outra pessoa que aqui estivesse ”. Este foi segundo Armando Batista um enorme desafio, mas também ele já ultrapassado.
Para Armando Batista o “benefício da dúvida” pedido à direção foi quanto bastou para levar a cabo um trabalho que ele próprio considera já avançado. Primeiro, a associação investiu em equipamentos e fardamentos individuais. A associação gastou perto de 12 mil euros tendo como garantia que no espaço de um ano as verbas seriam rentabilizadas. Ora essa foi uma meta alcançada com sucesso, refere o comandante que considera ter ultrapassado “esse desafio” através de uma verba que já tinha em mente através da “carteira de clientes que trazia da cruz vermelha e até da polícia”, onde é formador.
Com esta medida. Armando Batista acredita “ter credibilizado as tropas”. Aos poucos, o comandante refere que foram sendo ganhos alguns hábitos: “Os bombeiros passaram a ter mais cuidado com as fardas e agora já são eles que se autoeducam”; referindo que a titulo de exemplo foram proibidos o álcool e o tabaco no quartel.
Bombeiros e a responsabilidade social
Os bombeiros de Azambuja têm um programa em conjunto com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Azambuja (CPCJ) que consiste na integração de alguns jovens identificados, nas iniciativas do quartel de bombeiros.
Armando Baptista que não quer apontar esta medida como de caráter militarista, mas vinca que “a necessidade de disciplina de que carecem muitos destes jovens oriundos de famílias desestruturadas é muito grande”. O comandante salienta que o sucesso da reintegração desses jovens “é de 100%”. Estamos a falar de uma instrução já com 19 jovens, cinco dos quais identificados pela CPCJ, “que estão a revelar um sentido de integração total”.
Este “é um programa que obriga os jovens a participar em formações à sexta-feira ou aos sábados, abrangendo também o período das férias escolares”. Armando Baptista vinca a necessidade de se ocupar os jovens com idades entre os 14 e os 15 anos, até porque muitos dos pais têm de trabalhar e não conseguem acompanhar os filhos.
Nos bombeiros, “os jovens não podem fazer atividade operacional, porque a lei não o permite, mas fazem manutenção, limpeza e formação cívica”.
Mas para este programa resultar tem de existir uma troca de informação entre a escola e o comando. Neste caso se as notas não forem boas, ou a aplicação dos jovens nos estudos não for aceitável, pode haver lugar a algum tipo de sanções. Armando Batista explica ao Valor Local que “são punidos com esforços físicas, como por exemplo flexões. Outro castigo consiste em limpar as jantes dos carros com uma escova de dentes”, refere, sublinhando que tal não se trata de “uma punição de regime militar”, ao mesmo tempo, que observa que pior do que os castigos para esses jovens; é quando se lhes acena com a possibilidade de não voltarem a regressar ao quartel e às suas atividades. “É uma doença para eles!”, não se coíbe de referir o comandante. “Este projeto tem fundamentalmente uma função de integração”.
Miguel A. Rodrigues
26-01-2015
Comentários
Ainda não há novidades ...