Biólogo que coordenou o estdo dá pistas para o futuro
Sílvia Agostinho 15-12-2016 às 15:19
Espécie rara em Portugal
A equipa que estudou exaustivamente 100 hectares do denominado Canhão Cársico de Ota, projeto incluído no Orçamento Participativo de Alenquer, deu a conhecer os resultados desse trabalho numa apresentação pública que contou com a presença de responsáveis políticos locais, Governo e organismos do Estado no dia 25 de novembro precisamente em Ota, e segue-se agora a sua classificação como Área Protegida – Monumento Natural.
José Carlos Morais, coordenador do estudo, em entrevista ao Valor Local, salienta que das descobertas levadas a cabo pela equipa salientam-se dois sítios arqueológicos naquele património natural já visto como a nova jóia do concelho. Em dez locais registaram-se 10 ocorrências arqueológicas importantes. Foram classificados 1700 materiais arqueológicos que vão desde o Paleolítico ao Período Islâmico.
Do ponto de vista geológico, o Canhão Cársico da Ota já era considerado o acidente geológico mais importante do país e por isso referenciado como constante da lista de geossítios de Portugal. Uma das preocupações prende-se com o atravessamento deste monumento natural por um rio “bastante poluído”. Na origem estarão algumas pecuárias a montante, “que tentámos apurar mas todos os afluentes vinham bastante poluídos”. Estamos a falar de “explorações ainda dentro do concelho”, entre Ota e Montejunto. Foram detetados “valores muito elevados de bactérias e de coliformes fecais”, salienta. A esperança do biólogo, neste momento, reside no projeto para a requalificação dos Olhos de Água também em Ota, e na necessidade de limpeza do local. “Só se poderá criar ali um espelho de água se esse rio for limpo, caso contrário não faz sentido, e acabaremos por fazer ali uma espécie de ETAR por decantação”, avança. A flora do local foi também alvo de estudo e 400 espécies identificadas. E entre essas há a salientar 32 que são consideradas raras, ameaçadas, em perigo de extinção, ou endémicas. Sendo que algumas delas só podem ser encontradas no Canhão Cársico de Ota, “nomeadamente as que habitam este tipo de habitats muito específicos como é o caso da nossa cascalheira, em que se adaptam à humidade própria deste relevo”.
Do trabalho da Câmara Municipal de Alenquer tendo em vista a classificação do sítio, José Carlos Morais está satisfeito com o seguimento que está a ser dado ao que foi levado a cabo pela sua equipa. “Daquilo que me foi dado a perceber o trabalho do município já deixa algumas pistas, e se for classificado como área protegida de âmbito local tal é muito importante”, nomeadamente quanto a “novos licenciamentos de pedreiras ou extensões de trabalhos que vão ter de deixar de existir”. Esta é uma atividade comprometedora para as melhores intenções quanto ao canhão “mas perspetiva-se que o controle e a regulamentação sobre as que ainda laboram no local será superior”; assim como “também existirá maior controle a nível da visitação do espaço para evitar que se pisem espécies importantes, em que as pessoas deverão ser antes guiadas por um especialista, se assim quisermos designar”. A forma como o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas recebeu a intenção da área protegida, “foi muito positiva”, assente na possibilidade daquele património integrar também “a rede nacional de áreas protegidas”.
Principalmente, este estudo e o que se pode vir a seguir deixou “as próprias pessoas de Ota mais curiosas para conhecer melhor o canhão, principalmente o seu vale ainda pouco explorado, e relativamente inacessível”. A serra enquanto área de lazer e de passeio é mais conhecida, a qual a Câmara também quer classificar. Os mais velhos de Ota “gostavam de voltar a ter uma nova área fluvial requalificada na zona da nascente, mas teria de passar por a EPAL deixar de captar, e pela despoluição do rio, daí esse projeto dos Olhos de Água”. Em relação a quem não é de Ota, “aí sim houve um boom de necessidade de conhecimento”. “Estou a lembrar-me de uns dinamarqueses que passaram por Ota à procura do canhão, muitos estrangeiros quiseram chegar até lá”. Um centro de interpretação deverá ser à posteriori o passo seguinte, “criado na sequência da área protegida”.
Inicialmente cético quanto a uma predisposição da Câmara para este projeto, acredita que desta feita “há uma outra maneira de olhar para estas questões, e sinceramente nunca consegui antes trabalhar com a Câmara, no passado, como aconteceu agora”. “Todos elogiam hoje o projeto apesar de no início ter sido chumbado no OP, ainda bem que recorri, porque caso contrário não tinha existido nada disto”. José Carlos Morais diz que este património “é mais único no concelho do que o vinho e a vinha que há em toda a parte do país”. “Este tipo de património é único. Vejo a Câmara muito focada no turismo, espero que também olhe no futuro para o que temos de mais singular e este é um excelente exemplo”.
Uma das preocupações no futuro pode relacionar-se com a comissão de baldios, os donos dos terrenos confinantes com o canhão, mas “este processo em curso vai obrigar a que exista regras e limitações, e vamos ver como essas pessoas compreenderão a necessidade cumprir o regulamento a ser implementado”. O que é “importante é que o caminho é este, pode ser devagar, mas tem de ser para a frente. Julgo que algumas pessoas vão adquirindo essa noção”.
Comentários
Gostaria de saber qual é o plano que sendo uma zona protegida
1 qual é o papel da da comissão de baldios
2 qual é os beneficios que os proprietarios vão ter com a zona protegida.
3 penso que tanto a CMALENQUER Como a freguesia de OTA deveria abordar o caso com os proprietários mais proximos
4 Saber qual é o papel dao institutode proteção da natureza neste caso
5 por ultimo vamos contribuir para uma natureza sutentavel mas não para um fundamentalismo da natureza
Artur Ferreira Ota, Casal da Cascalheira, Olhos de Água 15/12/2016 22:45
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