Centrais Solares no concelho de Alenquer vão produzir energia para 700 mil pessoas
Fomos conhecer os vários projetos em marcha, com a Alambi, e alguns já concluídos no concelho que se desenvolvem entre o Carregado, Alenquer e Ota numa vasta mancha florestal
|22 Nov 2022 10:55
Sílvia Agostinho O Valor Local cumpriu um périplo com a Associação para o Estudo e Defesa do Ambiente do Concelho de Alenquer pelos vários terrenos onde estão em desenvolvimento ou para onde estão previstas as várias centrais solares que Alenquer vai acolher. Vamos conhecer os projetos, os seus impactes, e benefícios.
Central Solar da Marmeleira
Entre as localidades de Guizanderia, Marmeleira e Ferraguda na freguesia de Alenquer e na do Carregado encontra-se um dos projetos fotovoltaicos resultantes do leilão solar de 2019. A Central Solar da Marmeleira, da Solaria, empresa espanhola, é apenas uma das quatro que tem a seu cargo no nosso país, num investimento total de 23 milhões de euros. Com uma potência de 12,1 Megawatts (MW), desenvolve-se numa área contratada de terreno de 34,7 hectares, sendo que 13 hectares são para painéis solares. Apesar da sua área de implantação ser menor em comparação com outros projetos similares a decorrer neste município, foi dos que mais resistência recebeu por parte do município, que desejaria construir naquele local um parque desportivo. Depois de pressões nos bastidores por parte do secretário de Estado da Energia, João Galamba, as quais Pedro Folgado, presidente do município de Alenquer, reconheceu numa entrevista ao Valor Local, a decisão sobre a implantação deste projeto, resolveu-se com a aquisição do terreno por parte da empresa a um particular, à partida em regime de arrendamento, como é tónica dominante neste tipo de empreendimentos, pois existe um período de vida útil para as centrais fotovoltaicas em análise. Parte desse terreno como é intenção do município deveria ser consagrado à construção do parque de jogos, mas segundo Pedro Folgado, presidente da Câmara, a intenção está a esbarrar na relutância por parte de um dos três proprietários, pelo que o município encontra-se a estudar outras soluções, não estando de parte recorrer à expropriação. O parque solar encontra-se bem visível das principais vias de comunicação e é dos que convive mais de perto junto de áreas habitacionais. Numa zona erma onde o parque está desenvolvido, vive uma família em condições precárias, que no dia da nossa reportagem tinha roupa pendurada no gradeamento que isola o acesso ao parque. A Alambi tem muitas dúvidas dos contornos sociais desta obra, “até porque não estamos a ver que tipo de harmonia existirá aqui com um campo de jogos mesmo ao lado”. A informação sobre esta central devido à sua pequena dimensão é escassa, segundo a ALAMBI, “e não deverá ter sido necessário estudo de impacte ambiental”, avalia Francisco Henriques daquela associação. Não existe informação sobre o número de painéis. A nossa reportagem esteve com a Alambi no local chamado de “Quinta do César”, “onde em tempos havia carvalhos, sobreiros e azinheiras, arrancados há vários anos, sendo que pouco sobra atualmente, ou seja vamos ter um parque desportivo e um parque fotovoltaico onde antes tínhamos espécies protegidas”. Central Solar Enfinity Carregado
Esteve em consulta pública entre 1 de fevereiro e 12 de março de 2021, o projeto da Enfinity da Central Solar do Carregado que prevê um total de área ocupada de 72 hectares para uma área total do lote de 132 hectares. O investimento é de 40 milhões. A Enfinity Renewables é uma empresa norte-americana de Delaware em expansão no mercado das renováveis. Com projetos em desenvolvimento no Japão, México, Itália, Portugal, Estados Unidos da América, Índia e Tailândia, a empresa desenvolve “soluções energéticas para ajudar a alcançar a neutralidade carbónica e permitir uma transição sustentável para uma economia internacional livre de carbono”, pode ler-se no seu site. A potência do projeto que se estende entre o Camarnal e Cheganças chegando quase à base da Ota terá uma potência de 50 MW. No total do seu mercado, a Enfinity tem uma quota de mercado a nível global de 4,8 gigawatts. A linha elétrica possui oito quilómetros e para além de atravessar as freguesias de Triana e Alenquer chega ainda ao concelho de Azambuja, em Vila Nova da Rainha. Serão instalados 111 mil 214 módulos fotovoltaicos. Segundo a Alambi, este projeto estará maioritariamente integrado em área florestal, em zona de eucaliptos, “pelo que não virá daí grande mal ao mundo”, exemplifica. Os terrenos previstos são em zona máxima de infiltração, o que requer “determinados cuidados”. Esta central em conjunto com a de Triana e a da Cerca formam um núcleo de 350 hectares entre a União de Freguesias de Alenquer (Santo Estevão e Triana) até à Ota. A única clareira neste vasto território florestal será na zona da cimenteira da Cimpor que se encontra em laboração, segundo a Alambi. Central Fotovoltaica de Triana
A Central Fotovoltaica de Triana foi a primeira a ser aprovada no concelho de Alenquer e está a cargo da Eurowind Energy S/AM, um grupo dinamarquês, que adquiriu o projeto a uma empresa que estava encarregue desta central numa fase inicial, a Hyperion Renewables, facto do qual demos conta em 2021. Com a capacidade total de 22 MW, esta Central está construída numa área de 33 hectares, composta por 40.741 paneis fotovoltaicos que terão uma produção estimada de cerca de 43.900 M, o equivalente ao consumo de aproximadamente 14 mil 100 famílias, e evitará a emissão de 19.135 toneladas de CO2 na atmosfera em comparação com a produção de eletricidade de fontes convencionais, pode ler-se no site da empresa. Este parque solar, segundo a empresa no seu site, está concluído há muito pouco tempo. Francisco Henriques refere que este projeto a par do de Marmeleira é dos mais pequenos implantados no concelho, mas “aparentemente com mais área de implantação de painéis”. Com presença na Europa e Estados Unidos da América, a Eurowind detém mais de 700 MW de capacidade eólica e solar já em operação e gere ainda outros 800 MW de capacidade renovável detida por terceiros. Central Solar da Cerca
A EDP Renováveis iniciou recentemente os trabalhos preliminares de construção do projeto da Central Fotovoltaica da Cerca, situado na área do concelho de Alenquer com uma potência total prevista de 142 a 187 MW. No terreno, na área C2, no dia da nossa reportagem, permaneciam alinhados vários caixas com painéis, prontos a serem desempacotados. O projeto inicial que previa ainda a colocação de painéis solares no concelho de Azambuja na denominada Quinta da Cerca, foi abandonado pela empresa, pelo que nesta altura apenas se prevê a passagem das linhas elétricas na área deste município. Inicialmente seriam 458 mil painéis, mas atualmente e dada a diminuição da área, está confinado a 312 mil 620 painéis. Segundo o gabinete de imprensa da EDP Renováveis ao Valor Local, o projeto “está a desenvolver-se com total normalidade e prevemos executá-lo nos próximos meses". O projeto que será um dos maiores do género no concelho e na região foi alvo de discussão em reunião de Câmara de Alenquer, com a oposição a acusar o executivo de negociar mal as contrapartidas, que passarão pela requalificação da Estrada de Vale Carros em Ota mais o pagamento de 213 mil euros para os cofres do município. No concelho de Azambuja, onde nesta altura vão ficar apenas linhas adstritas ao projeto, foram distribuídos apoios a instituições no valor de 120 mil euros. O projeto da Fotovoltaica da Cerca prevê uma extensão a nível das linhas elétricas na ordem dos 16,1 quilómetros e a criação de uma subestação em Vila Nova da Rainha, desenvolvendo-se entre o concelho de Azambuja ocupado por linha elétrica e ainda nas áreas C2 (Pombal) e C3 (Alvarinho), as duas em território de Alenquer. Em 2021, a Câmara de Alenquer já tinha dado luz verde ao projeto com a aprovação do Pedido de Informação Prévia (PIP) remetido pela empresa que pretende, então, instalar a central nos prédios denominados “Quinta da Bemposta” situado na localidade de Camarnal, “Casal Morais”, “Herdade do Paul de Ota”, “Casal d’El Rei”, “Herdade do Pombal” e “Quinta do Pombal”, na União de Freguesias de Alenquer (Santo Estêvão e Triana)", refere a minuta do contrato de urbanização. Embora não estando inscrita em área de Reserva Agrícola Nacional “tínhamos aqui uma grande zona de produção agrícola”, refere Francisco Henriques. A Alambi espera que sejam tomadas medidas para minimizar os impactes visuais das três centrais situadas na mesma mancha florestal, com “a construção de sebes”, porque “apesar de estarmos numa área remota não deixa de ser uma zona de grande implantação de painéis fotovoltaicos que substituirá uma vasta área de pivots de rega ou seja de agricultura. Todo este corredor é habitado por espécies protegidas como a águia de Bonelli ou o bufo real”, acrescenta. A grande difusão de linhas elétricas levou a comissão de avaliação de impacte ambiental a emitir a recomendação para que seja minimizada a possibilidade de embate das aves. Toda a zona entre Bemposta e Cheganças será impactada pelas três centrais em análise. No seu conjunto vão conseguir produzir energia para mais de 200 mil habitações. A proximidade à central do Carregado, ponto de injeção na rede, tornou Alenquer o concelho mais procurado da região para estes projetos. Ao Valor Local, Pedro Folgado refere que é intenção do município “ir monitorizando” o andamento dos projetos e o seu funcionamento. “À medida que se vão implantando enviamos lá a fiscalização para aferirmos da conformidade”, refere. Central Fotovoltaica do Carregado -Iberdrola A Central Fotovoltaica do Carregado, neste caso a cargo da Iberdrola, prevê uma potência instalada de 50 MW. A disposição dos painéis solares será essencialmente na zona de Ota, enquanto as linhas passam pela União de Freguesias de Alenquer (Santo Estevão e Triana) e pelo concelho de Azambuja/Vila Nova da Rainha. Será o segundo maior parque a edificar no concelho. Pelo que conseguimos apurar após consulta, este projeto está previsto para uma área total de 260 hectares, sendo ocupado em 106 hectares por painéis fotovoltaicos, sendo que contemplará um total de 147 mil 940 painéis, menos 4500 do que os previstos inicialmente para a Herdade de Vale do Mouro no concelho de Azambuja, que como chegámos a referir estava apontado para uma localização próxima da A1 com 152 mil 440 painéis. A central ocupará um território composto atualmente em 70 por cento por eucaliptos. Serão ainda abatidos cerca de 20 sobreiros, que deverão ser replantados. No seu total e analisadas todas as centrais, a energia produzida será a necessária para provir 700 mil pessoas. O tempo o dirá se os impactes no território valerão a pena em função do desígnio nacional das renováveis. “O planeta está a rebentar por todos os lados, temos de recorrer a fontes alternativas de energia, minimizar a extinção de espécies, produzir alimentação para as pessoas, não é fácil equacionar todas estas questões”, finaliza Francisco Henriques. No caso daquilo que são os vários projetos, o ambientalista espera que haja fiscalização, “que não seja como nas pedreiras”. “À partida as entidades fizeram um bom trabalho, a Câmara deu ideias construtivas e pertinentes, pese embora a falta de promoção do debate público sobre este tema”, lamenta. Neste aspeto, Pedro Folgado refere que “por norma as pessoas acabam por ser desligadas destas questões, infelizmente, mas tenho a certeza que quem quis saber mais encontrou informação”. |
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