Combate à exclusão social: Salvaterra de Magos reforçou presença de psicólogos no concelho
Vários instrumentos têm atuado no território concelhio
Sílvia Agostinho
03-02-2017 às 18:07 Salvaterra de Magos reforçou nos últimos anos o número de profissionais a trabalharem na área da ação social. Através do Contrato Local de Desenvolvimento Social (CLDS) e da Rede Local de Intervenção Social (RLIS) há mais dois psicólogos no concelho a que se juntou, recentemente, em 2016 um outro profissional da mesma área a prestar consultas no centro de saúde. Os fenómenos de exclusão e emergência social no concelho, que em algumas circunstâncias têm sido notícia ao longo dos anos, são agora abarcados pelas novas estruturas presentes no território, o que segundo a vereadora com o pelouro da Ação Social na autarquia, Helena Neves, garante “um combate mais incisivo e específico” a este tipo de fenómenos, em comparação com o que existia anteriormente, quando eram tratados na esfera geral da Segurança Social.
O CLDS de Salvaterra de Magos tem a duração de 36 meses, (iniciou-se em janeiro de 2016) e desenvolve ações em três eixos de intervenção: Emprego, Formação e Qualificação; Intervenção familiar e parental, preventiva da pobreza infantil; Capacitação da comunidade e das instituições. O projeto tem um financiamento de 450 mil euros. Apesar de o Centro de Bem Estar Social de Marinhais servir de ponto de apoio ao programa, este estende-se a todo o concelho. Para além da psicóloga é constituído também por educadora, socióloga, e animadora sócio-cultural. “O nosso território foi considerado como prioritário para a implantação de um projeto desta natureza”, reforça Helena Neves que dá conta, ao mesmo tempo, que só no eixo um relacionado com o emprego, formação e qualificação foram alvo deste género de intervenção 1337 pessoas, incluindo empresas, compreendendo ações de formação, e de empreendedorismo; oficinas de emprego; divulgação de ofertas de emprego. Neste aspeto, a vereadora sublinha “a importãncia da parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional”. Embora fora do âmbito do CLDS, decorrem também no município e no âmbito da intervenção social, as denominadas “atividades socialmente úteis”, em que os beneficiários da Rendimento Social de Inserção têm a oportunidade de desempenhar uma função inseridos na comunidade. No máximo passam três dias por semana dedicados a atividades na autarquia, IPSS's, associações. “No caso da Câmara, temos pessoas a realizar tarefas no auxílio ao setor da limpeza, pavilhões, universidade sénior. Algumas dizem mesmo que já não passam sem essa ocupação e tem sido algo muito bom para a auto-estima dessas pessoas, que ainda não se sentem ou não conseguem, depois de muitos anos desempregadas, com capacidade para voltar em pleno ao mercado de trabalho”. Outra das vertentes do CLDS refere-se ao combate à pobreza, intervenção familiar e competências parentais, e neste aspeto “há muitos pais que já passaram enquanto crianças pela CPCJ, e agora os seus filhos acabam por seguir o mesmo trajeto de intervenção social. Temos casos em que três gerações já estiveram sob a alçada daquela estrutura. Os avós foram intervencionados, depois os filhos e mais tarde os netos”. Um círculo vicioso que para parar “tem de obedecer a um trabalho muito grande a nível de dar competências parentais a estes pais. Não será num ano ou dois que veremos resultados. Todas estas matérias levarão anos, mas penso que já se nota alguma coisa no terreno, graças também à grande articulação entre os parceiros da rede”. Junto das famílias sinalizadas, Helena Neves, confessa que contrariamente ao que seria de esperar, “são pessoas que na sua maioria sentem que precisam de ajuda, e que sabem que têm de melhorar a sua forma de vida para continuarem a ficar com os seus filhos”. No total, foram intervencionadas 2958 pessoas neste eixo, sobretudo nas escolas, tendo sido também criado um gabinete de atendimento personalizado para o efeito, que até ao momento recebeu 40 casos. É prestado apoio psicológico, e dada orientação no que respeita a problemáticas relacionadas com a delinquência, consumos, entre outras. No âmbito da intervenção familiar, o município vai também agilizar no sentido de garantir mais uma estrutura de apoio para o concelho – um Centro de Atendimento Familiar. Em 2014, e numa entrevista ao Valor Local, a antiga presidente da CPCJ local colocava o ênfase na necessidade de serem contratados mais piscólogos para o concelho, dados alguns fenómenos de delinquência, exclusão social, e sobretudo de consumos em idades muito precoces. “Hoje em dia, esse quadro alterou-se significativamente com as novas respostas sociais”, refere a vereadora que não esconde que o homicídio de um menor no ano de 2015 por outro menor “levou também a um debate interno na Câmara sobre estas questões”. Por último, o CLDS compreende a capacitação da comunidade e das instituições . Até à data foram intervencionadas 115 pessoas. “Este é um trabalho que tem sido, especialmente, feito junto das associações, IPSS's, com ações concretas no que se refere ao papel que podem desempenhar junto das populações sinalizadas”. Outro dos instrumentos que o município passou a dispor no terreno prende-se com a equipa de RLIS, desta feita organizada a partir do Centro de Bem Estar Social de Foros de Salvaterra mas também a trabalhar em todo o concelho. A esta equipa constituída por três especialistas: um psicólogo e dois assistentes sociais,chegam todos os casos detetados no concelho, e que à posteriori encaminha os indivíduos para os diferentes tipos de resposta existentes. “É mais uma forma de podermos intervir socialmente e todos juntos trabalharmos na possibilidade de resolver as situações”. “Todas estas estruturas novas em conjunto com as que já existiam fazem parte da rede social, em que estamos sempre em contacto uns com os outros. Somos alertados por agentes que andam sempre no terreno como a GNR, os bombeiros ou até os presidentes de junta. No outro dia, um idoso que andava a pé de noite foi sinalizado, não era do nosso concelho, e rapidamente tentou-se encontrar um local para ele passar a noite. Entrou-se em contacto com a família, e conseguimos de alguma forma ajudar”. Para a população idosa do concelho que de alguma forma tenha de ser intervencionada existe também uma nova estrutura. Trata-se da Equipa de Proteção ao Idoso (EPI), inicialmente designada de Gabinete de Apoio ao Idoso, tratou-se de um projeto concelhio que foi pioneiro no país. Em 2014, falou-se pela primeira vez da EPI, e mais uma vez Helena Neves salienta o trabalho feito em rede com “as IPSS's, bombeiros, agentes de autoridade, a Saúde, as juntas de freguesia”. Até à data foram tratados 20 casos de idosos em risco. Casos de negligência, abandono, e isolamento têm constituído o grosso deste trabalho. Situações de violência física, segundo a vereadora, “não têm sido detetadas até à data”. Neste trabalho, “nem sempre é fácil convencer os idosos de que necessitam de ser ajudados. A linha entre a vontade de agir e fazer o melhor pelo idoso e o respeito pela sua privacidade e pela sua vontade não é fácil de gerir”, refere e dá o exemplo - “Tivemos um caso complicado de uma idosa, cujos filhos se encontravam longe, e que teve de ser internada no hospital. Posteriormente houve a necessidade de a levar para uma instituição. Esse trabalho foi demorado, levou cerca de seis meses, isto porque a senhora não queria sair da sua casa, apesar de não ter condições para continuar a viver sozinha. Acabou por aceitar e atualmente está integrada num lar”. No acompanhamento aos idosos que vivem sozinhos no concelho, Helena Neves sublinha ainda as visitas das técnicas da área social aos que ocupam casas de renda social do município – “que passam agora a ser de caráter semanal, porque temos muitos viúvos e viúvas nessas casas e é muito importante ir passando, falar com essas pessoas, apercebermo-nos do estado em que se encontram”. O flagelo dos lares de idosos ilegais também não passa despercebido à autarquia, e a responsável é da opinião de que a circunstância de o concelho se situar relativamente próximo de Lisboa tem despoletado este tipo de fenómenos, “os quais nos preocupam”. O futuro passará pela construção de mais estruturas residenciais. A vereadora sabe que o Centro de Bem Estar da Glória já tem na sua posse um projeto para lar, e que os centros de bem estar social de Marinhais e de Foros de Salvaterra também possuem intenções nesse sentido.
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