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CPCJ de Vila Franca ensina crianças a lidar com o abuso sexual"Aqui Ninguém Toca" assim se chama este projeto que procura quebrar um tabu na abordagem deste tema em contexto escolar
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Nas últimas semanas, as escolas do ensino básico do concelho de Vila Franca receberam uma ação da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) do concelho com o objetivo de alertar para a problemática do abuso sexual. Através de um jogo de tabuleiro e de uma série de conselhos a cargo de agentes da PSP local tentou-se elucidar as crianças dos quartos anos de escolaridade, entre os 9 e os 11 anos, para alguns pequenos ou grandes sinais que podem revelar-se como indiciadores de que um adulto pode estar a ir longe demais nas abordagens e que a sua conduta pode significar uma situação desconfortável, no mínimo, até um abuso de cariz sexual. Uma coisa as crianças ficaram a saber: se esse comportamento as perturbar devem dizer que não, e denunciar.
"Aqui Ninguém Toca" assim se chama este projeto que procura ir mais além na quebra de um tabu neste tema, acerca do qual pouco se falava, muito menos num contexto escolar. O Valor Local acompanhou a sessão que decorreu no estabelecimento de ensino da Fundação Cebi, em Alverca, e onde os mais novos demonstraram já adotar alguns comportamentos aconselhados pelos dois agentes da PSP, Eurico Marcos e Nuno Cabral, como “não falar na internet com desconhecidos”, só usar o whatsup, aplicativo de mensagens instantâneas para telemóvel, “para falar em grupo com os familiares”, ou ligar 144 , linha de emergência social, sempre que em causa estiver uma conduta reprovável por parte de um adulto. Ao todo decorreram no concelho 68 sessões deste género no município. Carolina Neves, presidente da CPCJ de Vila Franca, refere que a iniciativa teve como ponto de partida o Dia Europeu para a Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual, assinalado a 18 de novembro. Só nos últimos três anos, e segundo dados do ministério da Justiça, 2752 crianças foram vítimas de abuso sexual em Portugal. A iniciativa teve grande adesão por parte das escolas, e já houve um pedido no sentido de a ação se estender aos terceiros anos de escolaridade. “É necessário alertar cada vez mais para esta problemática, sobretudo porque, na sua maioria, os abusadores estão dentro do próprio seio familiar”, refere Carolina Neves. O tabu associado a estes casos ainda é muito grande, e por vezes a criança fica sem rede quando é vítima sem saber onde e a quem se dirigir, acabando por “achar que a culpa foi sua”. A ideia é fazer com que nestas sessões, os mais jovens saibam que os comportamentos incorretos ligados ao abuso sexual devem ser denunciados. |
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“Tem havido situações em que é a própria escola que dá conta deste tipo de situações, porque há sempre alguém no contexto escolar em quem a criança confia”. A maioria das crianças envolvidas nestas ações da CPCJ têm consciência do seu corpo e dos limites que cada um pode ter consigo, e como tal sabem que há aproximações que podem ser sinónimo de abuso.
Carolina Neves não dá números quanto às estatísticas envolvendo casos de abuso sexual no concelho mas refere que as denúncias que chegam à CPCJ partem de vizinhos, familiares, conhecidos que “fazem uma sinalização anónima”. A partir daí a comissão alerta a Polícia Judiciária, e se necessário o tribunal. Os casos de abuso sexual no concelho envolvem todo o tipo de estratos sociais. “Não se passa apenas nas famílias desfavorecidas”. Nos últimos anos, assiste-se a um acumular de penas suspensas para abusadores sexuais, muitas vezes familiares próximos da vítima, o que significa que criminoso e menores vão continuar a conviver debaixo do mesmo teto. Com muita frequência a comunicação social faz eco deste tipo de desfecho para os casos de crimes de abuso sexual. Trata-se de uma realidade que Carolina Neves vê com preocupação, e daí a aposta na prevenção para “darmos as ferramentas necessárias às crianças”. |
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