Segundo os últimos dados há no nosso país 950 mil pessoas sem trabalho, 17,7 por cento. O desemprego tem subido em todas as regiões, e o Ribatejo não tem sido excepção. O desemprego jovem também assume contornos evidentes. Valor Local foi ao encontro de quatro pessoas, em situação de desemprego de longa duração (mais de dois anos), na nossa região, que desabafaram sobre os seus esforços para voltarem ao mercado de trabalho. São o retrato de quem desespera por uma oportunidade e só quer trabalhar!
Licenciada disposta a “tudo”
“O trabalho agrícola já seria uma óptima opção”
Helena Cruz, 31 anos, residente nas Virtudes, concelho de Azambuja, está desempregada há dois anos. Durante cinco anos trabalhou num transitário na parte da importação a ganhar “um bom ordenado”, apesar de não ser aquela a sua área de formação, dado que é licenciada em “Estudos Africanos”. “Tentei trabalhar na área, mas não foi possível ir além do estágio. A minha ideia era fazer trabalhos de desenvolvimento sustentado em África”.
“Ainda estive em Moçambique com umas colegas a fazer um estudo de terreno, mas éramos muito novas, prometeram-nos apoios, mas acabaram por ficar com o nosso projecto”, dá a conhecer. Hoje, reconhece que se tivesse apostado num mestrado em algo mais específico, poderia ter outras possibilidades, mas também adverte que nesta como noutras áreas, o sistema está minado pela circunstância das ditas cunhas. “Fui ultrapassada, após um estágio, pela prima do primo, literalmente”.
Face às dificuldades que tem encontrado no mercado de trabalho, desde há dois anos, que já lhe passou pela cabeça “empobrecer” o currículo, tendo em conta a sua licenciatura. “Há uma incongruência entre as ofertas disponíveis nos sites de emprego, que são muitas, e as oportunidades reais no mercado de trabalho, por vezes penso que a sua publicação na internet corresponde, apenas, a uma mera formalidade”. Helena Cruz procurou trabalho na área de importação, secretariado, mas mais recentemente começou a enviar candidaturas “para armazéns, apanha agrícola de ‘tudo e mais alguma coisa’, ajudante de cozinha, lojas”.
Incrivelmente, diz nunca ter sido contactada pelos empregadores relacionados com trabalho menos qualificado, que tantas vezes se queixam de falta de mão-de-obra. “Penso que há um leque de pessoas fixo para esses trabalhos, que depois chamam conhecidos ou amigos”.
Desiludida com a situação, Helena Cruz, diz já ter enviado também propostas para trabalhar nos campos agrícolas da região, tendo em conta anúncios que viu: “Fiquei na dúvida se deveria ou não mandar currículo, certo é que me contactaram, imediatamente, para uma plantação de milho em Muge, mas não pude aceitar por uma questão de horário, porque colidia com o horário do meu marido, (por volta das seis da manhã), e tornava-se complicado por causa do nosso filho, mas se não fosse este o obstáculo teria ido com certeza, sendo que já me inscrevi mais, recentemente, para a campanha da pêra rocha no Bombarral”, diz decidida, lembrando que em tempos chegou a trabalhar simultaneamente “numa loja, na limpeza de escadas, e nas limpezas de uma casa de banho de um café”, antes de ir para a universidade.
A fase imediatamente após a saída do transitário culminou numa espécie de “banho de realidade”, pois antes “era muito bem remunerada”. “Usufruía de condições muito boas, naquela altura a minha fasquia era muito alta. Quando fui para o fundo desemprego passei a ganhar menos 40 por cento, adaptei a minha vida para esse valor. Mas, progressivamente, vamos descendo, e hoje em dia, já ficaria muito satisfeita com um ordenado de 600 euros”.
Helena Cruz continua optimista, apesar de tudo, pois diz estar consciente do seu valor. “Não tenho medo de trabalhar, nem que seja num emprego temporário, tenho uma família e não quero depender, exclusivamente, do meu marido para pagar contas”.
Licenciada disposta a “tudo”
“O trabalho agrícola já seria uma óptima opção”
Helena Cruz, 31 anos, residente nas Virtudes, concelho de Azambuja, está desempregada há dois anos. Durante cinco anos trabalhou num transitário na parte da importação a ganhar “um bom ordenado”, apesar de não ser aquela a sua área de formação, dado que é licenciada em “Estudos Africanos”. “Tentei trabalhar na área, mas não foi possível ir além do estágio. A minha ideia era fazer trabalhos de desenvolvimento sustentado em África”.
“Ainda estive em Moçambique com umas colegas a fazer um estudo de terreno, mas éramos muito novas, prometeram-nos apoios, mas acabaram por ficar com o nosso projecto”, dá a conhecer. Hoje, reconhece que se tivesse apostado num mestrado em algo mais específico, poderia ter outras possibilidades, mas também adverte que nesta como noutras áreas, o sistema está minado pela circunstância das ditas cunhas. “Fui ultrapassada, após um estágio, pela prima do primo, literalmente”.
Face às dificuldades que tem encontrado no mercado de trabalho, desde há dois anos, que já lhe passou pela cabeça “empobrecer” o currículo, tendo em conta a sua licenciatura. “Há uma incongruência entre as ofertas disponíveis nos sites de emprego, que são muitas, e as oportunidades reais no mercado de trabalho, por vezes penso que a sua publicação na internet corresponde, apenas, a uma mera formalidade”. Helena Cruz procurou trabalho na área de importação, secretariado, mas mais recentemente começou a enviar candidaturas “para armazéns, apanha agrícola de ‘tudo e mais alguma coisa’, ajudante de cozinha, lojas”.
Incrivelmente, diz nunca ter sido contactada pelos empregadores relacionados com trabalho menos qualificado, que tantas vezes se queixam de falta de mão-de-obra. “Penso que há um leque de pessoas fixo para esses trabalhos, que depois chamam conhecidos ou amigos”.
Desiludida com a situação, Helena Cruz, diz já ter enviado também propostas para trabalhar nos campos agrícolas da região, tendo em conta anúncios que viu: “Fiquei na dúvida se deveria ou não mandar currículo, certo é que me contactaram, imediatamente, para uma plantação de milho em Muge, mas não pude aceitar por uma questão de horário, porque colidia com o horário do meu marido, (por volta das seis da manhã), e tornava-se complicado por causa do nosso filho, mas se não fosse este o obstáculo teria ido com certeza, sendo que já me inscrevi mais, recentemente, para a campanha da pêra rocha no Bombarral”, diz decidida, lembrando que em tempos chegou a trabalhar simultaneamente “numa loja, na limpeza de escadas, e nas limpezas de uma casa de banho de um café”, antes de ir para a universidade.
A fase imediatamente após a saída do transitário culminou numa espécie de “banho de realidade”, pois antes “era muito bem remunerada”. “Usufruía de condições muito boas, naquela altura a minha fasquia era muito alta. Quando fui para o fundo desemprego passei a ganhar menos 40 por cento, adaptei a minha vida para esse valor. Mas, progressivamente, vamos descendo, e hoje em dia, já ficaria muito satisfeita com um ordenado de 600 euros”.
Helena Cruz continua optimista, apesar de tudo, pois diz estar consciente do seu valor. “Não tenho medo de trabalhar, nem que seja num emprego temporário, tenho uma família e não quero depender, exclusivamente, do meu marido para pagar contas”.

Portadora de paralisia cerebral
Paula gostava de trabalhar à secretária
Com 34 anos, portadora de paralisia cerebral, Paula Sequeira, moradora em Azambuja, tirou um curso de contabilidade, na área de formação profissional, em Alcoitão, mas está disponível para trabalhar noutras áreas, desde que sentada à secretária, devido às suas limitações físicas. A desempregada devido às dificuldades de locomoção gostaria, sobretudo, de arranjar um trabalho na vila de Azambuja.
Está no desemprego desde 2004, ano em que acabou o estágio na Câmara Municipal de Azambuja, como técnica auxiliar. “Tentaram prolongar o estágio, mas depois não conseguiram colocar os papéis a tempo. Desde então, que estou em casa, na esperança de encontrar algo”, refere.
Esteve inscrita no centro de emprego, e confessa que recebeu cartas para comparecer em entrevistas para tarefas inusitadas dados os handicaps físicos que possui – “Queriam colocar-me na Auchan a fazer paletes”. (Paula só consegue andar com o apoio de terceiros ou através de canadianas). Em mais do que uma ocasião, o centro de emprego convocou-a para comparecer em entrevistas sem atender à sua deficiência – “Diziam que se tinham esquecido de inserir o código, aquando da emissão das convocatórias para entrevistas! Usaram esta desculpa. Também me pediram para ir de supermercado em supermercado fazer promoções de cartões de crédito”, dá conta.
Ao longo deste período de desemprego, Paula Sequeira tem procurado ofertas de emprego sobretudo através da internet. “Tenho tido alguns períodos não digo depressivos, mas já me senti um bocado em baixo. Não tenho transporte e isso limita em muita a minha procura de emprego. Tem ficado de parte o meu sonho de poder trabalhar fora de casa”.
Paula recebe um subsídio do Estado no valor de 282 euros, e nas épocas de preenchimento do IRS, há quem solicite os seus serviços, entre amigos e vizinhos. Desde há dois anos que é também tesoureira, em regime de voluntariado, da Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias, ligada às doenças raras. “É um trabalho voluntário, mas mantenho a cabeça ocupada, o que já não é mau!”, desabafa. Vive com os pais que são reformados.
A desempregada considera que muito há por fazer no capítulo da legislação e das oportunidades de emprego para as pessoas deficientes. Apesar de confessar estar um pouco desactualizada na sua área de formação, desejaria encontrar um trabalho como contabilista ou qualquer outro que passe por estar sentada à secretária. Mas Paula lamenta, sobretudo, a carga negativa que é atribuída aos portadores de paralisia cerebral. Na sua opinião deveria optar-se por uma terminologia diferente, pois como costuma dizer não é dos casos mais graves, e possui uma “boa cabeça”.Clique aqui para editar
Paula gostava de trabalhar à secretária
Com 34 anos, portadora de paralisia cerebral, Paula Sequeira, moradora em Azambuja, tirou um curso de contabilidade, na área de formação profissional, em Alcoitão, mas está disponível para trabalhar noutras áreas, desde que sentada à secretária, devido às suas limitações físicas. A desempregada devido às dificuldades de locomoção gostaria, sobretudo, de arranjar um trabalho na vila de Azambuja.
Está no desemprego desde 2004, ano em que acabou o estágio na Câmara Municipal de Azambuja, como técnica auxiliar. “Tentaram prolongar o estágio, mas depois não conseguiram colocar os papéis a tempo. Desde então, que estou em casa, na esperança de encontrar algo”, refere.
Esteve inscrita no centro de emprego, e confessa que recebeu cartas para comparecer em entrevistas para tarefas inusitadas dados os handicaps físicos que possui – “Queriam colocar-me na Auchan a fazer paletes”. (Paula só consegue andar com o apoio de terceiros ou através de canadianas). Em mais do que uma ocasião, o centro de emprego convocou-a para comparecer em entrevistas sem atender à sua deficiência – “Diziam que se tinham esquecido de inserir o código, aquando da emissão das convocatórias para entrevistas! Usaram esta desculpa. Também me pediram para ir de supermercado em supermercado fazer promoções de cartões de crédito”, dá conta.
Ao longo deste período de desemprego, Paula Sequeira tem procurado ofertas de emprego sobretudo através da internet. “Tenho tido alguns períodos não digo depressivos, mas já me senti um bocado em baixo. Não tenho transporte e isso limita em muita a minha procura de emprego. Tem ficado de parte o meu sonho de poder trabalhar fora de casa”.
Paula recebe um subsídio do Estado no valor de 282 euros, e nas épocas de preenchimento do IRS, há quem solicite os seus serviços, entre amigos e vizinhos. Desde há dois anos que é também tesoureira, em regime de voluntariado, da Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias, ligada às doenças raras. “É um trabalho voluntário, mas mantenho a cabeça ocupada, o que já não é mau!”, desabafa. Vive com os pais que são reformados.
A desempregada considera que muito há por fazer no capítulo da legislação e das oportunidades de emprego para as pessoas deficientes. Apesar de confessar estar um pouco desactualizada na sua área de formação, desejaria encontrar um trabalho como contabilista ou qualquer outro que passe por estar sentada à secretária. Mas Paula lamenta, sobretudo, a carga negativa que é atribuída aos portadores de paralisia cerebral. Na sua opinião deveria optar-se por uma terminologia diferente, pois como costuma dizer não é dos casos mais graves, e possui uma “boa cabeça”.Clique aqui para editar

Em Azambuja desemprego rima com Opel
Em 2006 o encerramento da fábrica Opel em Azambuja veio agudizar um problema que começava a emergir no seio das famílias portuguesas, o desemprego. É certo que o flagelo já se avizinhava, mas o impacto foi maior quando a fábrica deslocalizou a produção para Espanha, enviando para o desemprego mais de mil pessoas do município azambujense.
Os dias de hoje acabam por ser um reflexo do que sucedeu na Opel. Os ex trabalhadores nunca foram totalmente absorvidos pelas indústrias de logística que entretanto se vieram a implantar em Azambuja.
No município e segundo dados do vereador com a pasta do Emprego, Marco Leal, estão neste momento inscritos no Centro de Emprego 1236 pessoas, contudo e de acordo com o vereador, estes números podem não espelhar a realidade do concelho de Azambuja, “pois há muitas pessoas que não têm ou já perderam o subsídio de desemprego”.
Os inscritos no centro de emprego de Santarém recebem acompanhamento por parte da autarquia que ao criar o “Gabinete de Inserção Profissional” (GIP) em parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) , ajuda também a estabelecer “pontes” na ajuda à procura de emprego.
Este é um gabinete criado nas autarquias, e sugerido pelo Governo, todavia em Azambuja o vereador explica que foram criados outros mecanismos como o “Conselho Local de Acção Social”, no qual estão integrados grupos como o do “emprego e formação Profissional” bem como o “Conselho Municipal Educação”.
Já em 2011, o município encomendou um estudo ao economista Augusto Mateus, tendo em conta as preocupações com o desemprego. O programa “Azambuja 2025, uma estratégia com um Rio de Oportunidades” acabou por ser um instrumento onde foram traçadas algumas metas e objectivos, nomeadamente uma “reflexão estratégica para o concelho de Azambuja visa promover a articulação e garantir a coerência da actuação do Município nas suas múltiplas áreas de intervenção”, sendo o combate ao desemprego e a criação de oportunidades uma delas.
A existência de uma Escola Profissional em Azambuja poderia em parte suprimir algumas das lacunas a nível da criação de postos de trabalho, em articulação com o tecido empresarial local. Este é um projecto antigo defendido pela ACISMA (Associação de Comércio e Indústria do Município de Azambuja) e pela autarquia. Todavia o processo nunca avançou e vai emperrando, “ora na falta de financiamento, ora na burocracia”. Marco Leal salienta que esse é um projecto que tem pernas para andar e que gostava de ver implantado no antigo edifício do Centro de Saúde de Azambuja, o que não será de todo possível, uma vez que o espaço, propriedade da Santa Casa da Misericórdia Local está destinado para um “lar de grandes dependentes”.
Todavia, o vereador vinca a necessidade de saber quais os cursos que poderiam ser ministrados, já que esse levantamento é necessário, embora tenha estado a ser feito em consonância com o plano estratégico desenhado pela equipa de Augusto Mateus que “já dá uma ideia sobre as áreas de ensino a desenvolver”.
Chegou a mandar mais de 400 currículos no início
“Procurar emprego é um trabalho”
Licenciada em Solicitadoria, Sofia Cândido, residente em Alverca, está à procura de emprego há cerca de dois anos. O último trabalho que teve foi a nível da prestação de serviços jurídicos para o sector bancário. “Como estava a recibos verdes fui das primeiras a sair”, tendo em conta o contexto económico do país.
Na sua procura não se tem restringido apenas à área na qual tem formação, mas também tem encetado contactos a nível de ofertas relacionadas com trabalho em escritórios; call centers e lojas. Internet, empresas de trabalho temporário e jornais são os meios, através dos quais procura ver, habitualmente, quais as novidades do mercado.
Sofia Cândido tem visto a sua reentrada no mundo laboral complicada pelo facto de ter uma criança com necessidades especiais, que dificulta, à partida, a sua empregabilidade em zonas para além do concelho de Vila Franca de Xira – “Não posso ausentar-me durante muito tempo. O ideal seria um trabalho de seis horas, embora esteja disponível para jornada contínua”, refere, adiantando – “Fiz um levantamento exaustivo de todas as empresas existentes no concelho, entregando em mãos o meu currículo em cerca de 20, e contactando, também, os directores de recursos humanos”. No início da sua situação de desemprego, chegou a mandar cerca de 400 currículos – “5 a 6 por dia”. “Para algumas ofertas, retirei a questão da licenciatura”, detalha. Sofia não tem dúvidas – “Procurar emprego é um trabalho!”
Algumas entrevistas deixaram-lhe um travo amargo quando confrontada com a questão da idade (tem 43 anos) e da existência de um filho – “Era uma oferta para inbound (atendimento ao cliente) numa empresa no Parque das Nações, o horário era de seis horas, que era excelente para mim, pois possibilitava dar acompanhamento ao meu filho, já que não tenho com quem o deixar, depois das quatro da tarde, mas disseram-me que o horário seria rotativo. Tive de desistir. Foi frustrante”. Ou como quando esteve para ser contratada por uma unha negra, até que o empregador viu a sua idade no currículo. “O discurso mudou completamente; até já tinham tirado fotocópias dos meus documentos”, recorda-se, embora o anúncio em causa não colocasse a idade como factor eliminatório.
O próprio mercado de ofertas de emprego funciona de forma estranha na sua opinião, pois já pôde constatar que as mesmas são “preenchidas em poucas horas” quando colocadas na internet, “desacreditando o sistema de selecção de candidatos”.
No que respeita ao Instituto de Emprego, realça o “papel motivador” dos seus técnicos que “fornecem muitas estratégias e passam uma mensagem de optimismo”. “Dizem que o nosso dia há-de chegar, como se estivéssemos a falar de um totoloto ou de um euromilhões”. “Há algum tempo, foi-me sugerida uma oportunidade de trabalho pelo IEFP, de acordo com um programa concebido para quem como eu tem mais de 40 anos e possui uma licenciatura, mas como tinha trabalhado durante 15 dias no Natal numa empresa, não preenchia o item do tempo necessário para me candidatar à oferta em causa, pois fiz descontos para a Segurança Social. Mais uma vez senti uma grande frustração”, conta.
“A desmoralização é total entre os que como eu marcam presença nas reuniões do centro de emprego, pois já estamos fora do mercado há muito tempo, à espera que algo arranque. Há boas intenções mas as coisas não fluem”. Mesmo assim “é preciso não desistir”, expressa.
Desempregada há dois anos e meio
“Estou disponível para lavar sanitas ou varrer ruas”
Carla (nome fictício) está desempregada há dois anos e meio. Para piorar o cenário, o marido, serralheiro de profissão, encontra-se na mesma situação, há um ano. Ambos tentam desesperadamente encontrar trabalho. Esta família humilde do Carregado recorre todas as semanas ao apoio da loja social existente na localidade, local onde a fomos encontrar. É com o rosto lavado pelas lágrimas que confessa que os seus filhos já passaram fome.
“Tenho corrido tudo. A minha procura de emprego tem-se relacionado com serviços de limpezas, supermercados, fábricas, armazéns. Já fui a imensas entrevistas mas sem sucesso”.
Carla tem 28 anos e o último emprego que teve foi como operadora de caixa num supermercado. Com uma filha de oito anos e um filho com dois anos, diz sem reservas que um dos contratempos que tem encontrado na altura de lhe darem um emprego prende-se com a existência dos mesmos. “Há pouco tempo fui a uma entrevista para um supermercado na Castanheira. Havia cinco vagas, sendo que a maioria das concorrentes eram jovens sem filhos. É o que os empregadores procuram!”, refere inconformada. Carla dá a conhecer que a existência ou não de filhos transforma-se quase sempre numa das perguntas sacramentais nas entrevistas. Mas mesmo usando o argumento de que a sogra pode ficar com as crianças, tal continua a constituir impedimento para passar à próxima fase nas entrevistas. E deixa um desabafo – “Estou disponível para trabalhar em qualquer horário nem que seja para lavar sanitas ou varrer ruas”.
A sua busca incessante reflecte-se no facto de todos os dias enviar currículos pela internet quer nas áreas onde tem trabalhado quer noutras. “Muitas vezes, saio de manhã para dar uma volta pelas empresas do Carregado para tentar alguma possibilidade, algo que volto a repetir dali a poucas semanas, assim como, o meu marido, que mesmo assim tem conseguido alguns trabalhos temporários. Já tentei em todas as localidades da região desde Azambuja, Vila Franca, até Lisboa”, dá conta, acrescentando – “Actualmente, apenas tenho a lavagem de umas escadas, em que ganho 50 euros por mês. O meu marido está à espera de poder ir trabalhar para Sines ou para o estrangeiro”. Até nesta componente, o panorama já foi mais animador – “Há uns anos atrás, qualquer homem que quisesse trabalhar lá fora na construção era mais fácil do que hoje em dia. O meu marido chegou a estar dois anos no estrangeiro como serralheiro”.
Carla não encontra outra frase que defina tão bem o que a família está a passar - “Tem sido completamente desesperante”, confessa. Quando ambos estavam empregados, o orçamento familiar rondava os 1000 euros. Dado o quadro actual já teve de cortar em muito nas despesas – deixou de comprar roupa e doces, “que agora só entram em casa em altura de festas”.
A família vive com 279 euros do subsídio de desemprego do marido. (Só a renda de casa ronda os 300 euros). Carla já esteve na Segurança Social de Vila Franca de Xira para se candidatar ao Rendimento Social de Inserção, mas o seu processo ainda está a ser avaliado. Até lhe disseram que pode ter direito ao subsídio, mas que não sabem se à posteriori o Estado o conseguirá pagar, dado o estado do país.
Diz que enquanto esteve a receber subsídio de desemprego não recebeu quaisquer convocatórias para entrevistas por parte do IEFP, mas que ofertas para sessões de formação não têm faltado, algo que Carla considera pouco interessante no seu caso – “Já lhes perguntei se vou viver de um curso”.
Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
Reportagem Destaque de Edição Julho 2013
Em 2006 o encerramento da fábrica Opel em Azambuja veio agudizar um problema que começava a emergir no seio das famílias portuguesas, o desemprego. É certo que o flagelo já se avizinhava, mas o impacto foi maior quando a fábrica deslocalizou a produção para Espanha, enviando para o desemprego mais de mil pessoas do município azambujense.
Os dias de hoje acabam por ser um reflexo do que sucedeu na Opel. Os ex trabalhadores nunca foram totalmente absorvidos pelas indústrias de logística que entretanto se vieram a implantar em Azambuja.
No município e segundo dados do vereador com a pasta do Emprego, Marco Leal, estão neste momento inscritos no Centro de Emprego 1236 pessoas, contudo e de acordo com o vereador, estes números podem não espelhar a realidade do concelho de Azambuja, “pois há muitas pessoas que não têm ou já perderam o subsídio de desemprego”.
Os inscritos no centro de emprego de Santarém recebem acompanhamento por parte da autarquia que ao criar o “Gabinete de Inserção Profissional” (GIP) em parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) , ajuda também a estabelecer “pontes” na ajuda à procura de emprego.
Este é um gabinete criado nas autarquias, e sugerido pelo Governo, todavia em Azambuja o vereador explica que foram criados outros mecanismos como o “Conselho Local de Acção Social”, no qual estão integrados grupos como o do “emprego e formação Profissional” bem como o “Conselho Municipal Educação”.
Já em 2011, o município encomendou um estudo ao economista Augusto Mateus, tendo em conta as preocupações com o desemprego. O programa “Azambuja 2025, uma estratégia com um Rio de Oportunidades” acabou por ser um instrumento onde foram traçadas algumas metas e objectivos, nomeadamente uma “reflexão estratégica para o concelho de Azambuja visa promover a articulação e garantir a coerência da actuação do Município nas suas múltiplas áreas de intervenção”, sendo o combate ao desemprego e a criação de oportunidades uma delas.
A existência de uma Escola Profissional em Azambuja poderia em parte suprimir algumas das lacunas a nível da criação de postos de trabalho, em articulação com o tecido empresarial local. Este é um projecto antigo defendido pela ACISMA (Associação de Comércio e Indústria do Município de Azambuja) e pela autarquia. Todavia o processo nunca avançou e vai emperrando, “ora na falta de financiamento, ora na burocracia”. Marco Leal salienta que esse é um projecto que tem pernas para andar e que gostava de ver implantado no antigo edifício do Centro de Saúde de Azambuja, o que não será de todo possível, uma vez que o espaço, propriedade da Santa Casa da Misericórdia Local está destinado para um “lar de grandes dependentes”.
Todavia, o vereador vinca a necessidade de saber quais os cursos que poderiam ser ministrados, já que esse levantamento é necessário, embora tenha estado a ser feito em consonância com o plano estratégico desenhado pela equipa de Augusto Mateus que “já dá uma ideia sobre as áreas de ensino a desenvolver”.
Chegou a mandar mais de 400 currículos no início
“Procurar emprego é um trabalho”
Licenciada em Solicitadoria, Sofia Cândido, residente em Alverca, está à procura de emprego há cerca de dois anos. O último trabalho que teve foi a nível da prestação de serviços jurídicos para o sector bancário. “Como estava a recibos verdes fui das primeiras a sair”, tendo em conta o contexto económico do país.
Na sua procura não se tem restringido apenas à área na qual tem formação, mas também tem encetado contactos a nível de ofertas relacionadas com trabalho em escritórios; call centers e lojas. Internet, empresas de trabalho temporário e jornais são os meios, através dos quais procura ver, habitualmente, quais as novidades do mercado.
Sofia Cândido tem visto a sua reentrada no mundo laboral complicada pelo facto de ter uma criança com necessidades especiais, que dificulta, à partida, a sua empregabilidade em zonas para além do concelho de Vila Franca de Xira – “Não posso ausentar-me durante muito tempo. O ideal seria um trabalho de seis horas, embora esteja disponível para jornada contínua”, refere, adiantando – “Fiz um levantamento exaustivo de todas as empresas existentes no concelho, entregando em mãos o meu currículo em cerca de 20, e contactando, também, os directores de recursos humanos”. No início da sua situação de desemprego, chegou a mandar cerca de 400 currículos – “5 a 6 por dia”. “Para algumas ofertas, retirei a questão da licenciatura”, detalha. Sofia não tem dúvidas – “Procurar emprego é um trabalho!”
Algumas entrevistas deixaram-lhe um travo amargo quando confrontada com a questão da idade (tem 43 anos) e da existência de um filho – “Era uma oferta para inbound (atendimento ao cliente) numa empresa no Parque das Nações, o horário era de seis horas, que era excelente para mim, pois possibilitava dar acompanhamento ao meu filho, já que não tenho com quem o deixar, depois das quatro da tarde, mas disseram-me que o horário seria rotativo. Tive de desistir. Foi frustrante”. Ou como quando esteve para ser contratada por uma unha negra, até que o empregador viu a sua idade no currículo. “O discurso mudou completamente; até já tinham tirado fotocópias dos meus documentos”, recorda-se, embora o anúncio em causa não colocasse a idade como factor eliminatório.
O próprio mercado de ofertas de emprego funciona de forma estranha na sua opinião, pois já pôde constatar que as mesmas são “preenchidas em poucas horas” quando colocadas na internet, “desacreditando o sistema de selecção de candidatos”.
No que respeita ao Instituto de Emprego, realça o “papel motivador” dos seus técnicos que “fornecem muitas estratégias e passam uma mensagem de optimismo”. “Dizem que o nosso dia há-de chegar, como se estivéssemos a falar de um totoloto ou de um euromilhões”. “Há algum tempo, foi-me sugerida uma oportunidade de trabalho pelo IEFP, de acordo com um programa concebido para quem como eu tem mais de 40 anos e possui uma licenciatura, mas como tinha trabalhado durante 15 dias no Natal numa empresa, não preenchia o item do tempo necessário para me candidatar à oferta em causa, pois fiz descontos para a Segurança Social. Mais uma vez senti uma grande frustração”, conta.
“A desmoralização é total entre os que como eu marcam presença nas reuniões do centro de emprego, pois já estamos fora do mercado há muito tempo, à espera que algo arranque. Há boas intenções mas as coisas não fluem”. Mesmo assim “é preciso não desistir”, expressa.
Desempregada há dois anos e meio
“Estou disponível para lavar sanitas ou varrer ruas”
Carla (nome fictício) está desempregada há dois anos e meio. Para piorar o cenário, o marido, serralheiro de profissão, encontra-se na mesma situação, há um ano. Ambos tentam desesperadamente encontrar trabalho. Esta família humilde do Carregado recorre todas as semanas ao apoio da loja social existente na localidade, local onde a fomos encontrar. É com o rosto lavado pelas lágrimas que confessa que os seus filhos já passaram fome.
“Tenho corrido tudo. A minha procura de emprego tem-se relacionado com serviços de limpezas, supermercados, fábricas, armazéns. Já fui a imensas entrevistas mas sem sucesso”.
Carla tem 28 anos e o último emprego que teve foi como operadora de caixa num supermercado. Com uma filha de oito anos e um filho com dois anos, diz sem reservas que um dos contratempos que tem encontrado na altura de lhe darem um emprego prende-se com a existência dos mesmos. “Há pouco tempo fui a uma entrevista para um supermercado na Castanheira. Havia cinco vagas, sendo que a maioria das concorrentes eram jovens sem filhos. É o que os empregadores procuram!”, refere inconformada. Carla dá a conhecer que a existência ou não de filhos transforma-se quase sempre numa das perguntas sacramentais nas entrevistas. Mas mesmo usando o argumento de que a sogra pode ficar com as crianças, tal continua a constituir impedimento para passar à próxima fase nas entrevistas. E deixa um desabafo – “Estou disponível para trabalhar em qualquer horário nem que seja para lavar sanitas ou varrer ruas”.
A sua busca incessante reflecte-se no facto de todos os dias enviar currículos pela internet quer nas áreas onde tem trabalhado quer noutras. “Muitas vezes, saio de manhã para dar uma volta pelas empresas do Carregado para tentar alguma possibilidade, algo que volto a repetir dali a poucas semanas, assim como, o meu marido, que mesmo assim tem conseguido alguns trabalhos temporários. Já tentei em todas as localidades da região desde Azambuja, Vila Franca, até Lisboa”, dá conta, acrescentando – “Actualmente, apenas tenho a lavagem de umas escadas, em que ganho 50 euros por mês. O meu marido está à espera de poder ir trabalhar para Sines ou para o estrangeiro”. Até nesta componente, o panorama já foi mais animador – “Há uns anos atrás, qualquer homem que quisesse trabalhar lá fora na construção era mais fácil do que hoje em dia. O meu marido chegou a estar dois anos no estrangeiro como serralheiro”.
Carla não encontra outra frase que defina tão bem o que a família está a passar - “Tem sido completamente desesperante”, confessa. Quando ambos estavam empregados, o orçamento familiar rondava os 1000 euros. Dado o quadro actual já teve de cortar em muito nas despesas – deixou de comprar roupa e doces, “que agora só entram em casa em altura de festas”.
A família vive com 279 euros do subsídio de desemprego do marido. (Só a renda de casa ronda os 300 euros). Carla já esteve na Segurança Social de Vila Franca de Xira para se candidatar ao Rendimento Social de Inserção, mas o seu processo ainda está a ser avaliado. Até lhe disseram que pode ter direito ao subsídio, mas que não sabem se à posteriori o Estado o conseguirá pagar, dado o estado do país.
Diz que enquanto esteve a receber subsídio de desemprego não recebeu quaisquer convocatórias para entrevistas por parte do IEFP, mas que ofertas para sessões de formação não têm faltado, algo que Carla considera pouco interessante no seu caso – “Já lhes perguntei se vou viver de um curso”.
Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
Reportagem Destaque de Edição Julho 2013
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