Bairros Sociais
A Luta pela Inclusão
Sílvia Agostinho
27-05-2018 às 10:36
A Luta pela Inclusão
Sílvia Agostinho
27-05-2018 às 10:36
Ainda é tido como inserido numa área problemática em Azambuja, mas o bairro do Plano Especial de Realojamento (PER) situado em plena Quinta da Mina já vai respirando outros ares. Há uns anos apenas se ia lá com alguma escolta policial. Mesmo assim a sensação que fica quando se chega ao bairro é a de que se entrou um pouco num mundo paralelo. Apesar do aspeto degradado, em alguns aspetos, o bairro tem conseguido manter-se limpo. Todos os dias, um cidadão através de um programa de apoio ao qual recorreu com o apoio do município tem levado a cabo a tarefa de deixar varrer as ruas. A população reconhece que a tarefa está a ser bem desempenhada. Vivem no bairro vários cidadãos de etnia cigana, e a convivência com os demais moradores embora nem sempre seja fácil, já foi pior asseguram-nos.
Vítor Salinas, 62 anos, é quem tem a seu cargo a limpeza diária da rua que separa os dois blocos. Nos últimos tempos também arranjou uns tímidos canteiros de flores que despontam a meio da calçada outrora suja. “Sempre adorei flores”, confidencia-nos. Uma espécie de garagem no famigerado sexto bloco onde antes se acumulava lixo de todo o tipo a olhos vistos tem-se mantido limpa mas nem sempre é fácil. Permanecem os grafitis neste sexto bloco onde famílias de etnia cigana vão vivendo à espera de obras. Vítor Salinas frequenta um contrato emprego-inserção. Diz que começa todos os dias às sete e meia da manhã porque não consegue dormir mais. Também vive no bairro há muitos anos.
“Há algum tempo que andava atrás da doutora Fátima (técnica de Ação Social da Câmara de Azambuja) para me arranjar uma ocupação. Fiquei contente. Estou a gostar da experiência. O bairro está totalmente diferente a nível de muita coisa. Por vezes os miúdos fazem lixo, mas como são crianças…”, refere à nossa reportagem o habitante do bairro que salienta, ainda, que também cuida da limpeza noutros locais da Quinta da Mina aos quais não se encontra obrigado no âmbito do contrato. Antes, Vítor Salinas vendia roupa nas feiras. A mulher está doente e abandonou a antiga atividade. Aufere atualmente neste contrato 528 euros. Vítor que veio do Alto da Torres como muitos outros moradores, necessitaria, nesta altura, de obras na sua casa, nomeadamente, a colocação de algumas portas. A maioria das habitações das casas habitadas por elementos da etnia cigana do bairro carece de portas e janelas. Diz-se que no início do bairro serviram para fogueiras. Hoje, e segundo este morador as coisas estão mais pacíficas – “Se eu não a ofender a senhora também não me ofende. Mas se eu a ofender claro que reage mal. Por isso só arranja confusões quem quer”, considera. Quanto às rendas diz que consegue pagar todos os meses. São 10 euros. No final do ano acaba o contrato-programa que espera ver renovado.
Vítor Salinas, 62 anos, é quem tem a seu cargo a limpeza diária da rua que separa os dois blocos. Nos últimos tempos também arranjou uns tímidos canteiros de flores que despontam a meio da calçada outrora suja. “Sempre adorei flores”, confidencia-nos. Uma espécie de garagem no famigerado sexto bloco onde antes se acumulava lixo de todo o tipo a olhos vistos tem-se mantido limpa mas nem sempre é fácil. Permanecem os grafitis neste sexto bloco onde famílias de etnia cigana vão vivendo à espera de obras. Vítor Salinas frequenta um contrato emprego-inserção. Diz que começa todos os dias às sete e meia da manhã porque não consegue dormir mais. Também vive no bairro há muitos anos.
“Há algum tempo que andava atrás da doutora Fátima (técnica de Ação Social da Câmara de Azambuja) para me arranjar uma ocupação. Fiquei contente. Estou a gostar da experiência. O bairro está totalmente diferente a nível de muita coisa. Por vezes os miúdos fazem lixo, mas como são crianças…”, refere à nossa reportagem o habitante do bairro que salienta, ainda, que também cuida da limpeza noutros locais da Quinta da Mina aos quais não se encontra obrigado no âmbito do contrato. Antes, Vítor Salinas vendia roupa nas feiras. A mulher está doente e abandonou a antiga atividade. Aufere atualmente neste contrato 528 euros. Vítor que veio do Alto da Torres como muitos outros moradores, necessitaria, nesta altura, de obras na sua casa, nomeadamente, a colocação de algumas portas. A maioria das habitações das casas habitadas por elementos da etnia cigana do bairro carece de portas e janelas. Diz-se que no início do bairro serviram para fogueiras. Hoje, e segundo este morador as coisas estão mais pacíficas – “Se eu não a ofender a senhora também não me ofende. Mas se eu a ofender claro que reage mal. Por isso só arranja confusões quem quer”, considera. Quanto às rendas diz que consegue pagar todos os meses. São 10 euros. No final do ano acaba o contrato-programa que espera ver renovado.
A vereadora da Ação Social do município, Sílvia Vítor, refere que a aproximação aos membros da etnia e restante população do bairro tem dado os seus frutos. A abordagem junto de algumas pessoas é afável, mas os pedidos são também cada vez mais exigentes. Cátia, por exemplo, tem o marido na prisão. Há possibilidade de sair em breve com pulseira. Gostaria de ter uma casa nova no bairro mas enfrenta algumas desconfianças por parte dos moradores. A frequentar um curso de logística em Aveiras de Cima, diz que se dá bem com as pessoas do bairro mas confessa que há sempre quem a olhe de lado. “É uma moça doce, gosto do jeito dela, mas se a espicaçam…”, atalha, entretanto, a vereadora. No dia seguinte ao da nossa reportagem, diz Cátia que gostaria de se dirigir ao gabinete de Sílvia Vítor para ver o que se pode fazer para que o marido regresse a casa. O juiz não dá liberdade se as condições se mantiverem. Mora no denominado sexto bloco, onde as paredes estão riscadas, não há portas no interior das habitações, e a degradação é evidente.
Também moradora no bairro desde a primeira hora, Maria da Conceição que habita nos blocos opostos, refere que nunca teve conflitos de maior com as pessoas de etnia. “Isto agora está melhorzinho. Temos aí esse senhor (Vítor Salinas) a limpar as ruas todos os dias. Anda por cá também uma senhora a limpar as escadas” acrescenta para se referir à melhoria na componente da limpeza na Quinta da Mina. Lembra que na altura em que teve de abandonar o Bairro da Liberdade possuía casa, mas “o Benavente obrigou as pessoas a virem para o PER”. A casa onde mora tem precisado de arranjos, mas a Câmara correspondeu – “O senhor presidente Luís de Sousa mandou arranjar o poliban. Não tenho nada de mal a dizer.” No fundo “moro aqui há 20 anos, e já tive momentos mais felizes e outros mais infelizes como se morasse noutro lado qualquer”. Sobre os conflitos de que muito se fala neste bairro, alega que “quando assim é o truque é ignorar” mas também confessa – “Há momentos e momentos. Temos de ter respeito por nós e por eles”, revela. Atualmente vive com 400 euros da pensão de viuvez do marido. As rendas estão em atraso mas diz que vai começar a pagar.
Também inserida num contrato-programa, Filomena Conceição, 57 anos, está encarregue da limpeza dos espaços comuns nos prédios. Já residiu em Manique mas a vida deu voltas e veio parar ao bairro social em 2013 – “Não conseguia pagar a renda onde estava e vim para cá. Não foi fácil ter vindo para aqui. Apenas conhecia o bairro de passagem. Fui-me abaixo.”, recorda-se. A auferir 557 euros por mês, tem uma filha a acabar os estudos na faculdade. Trata-se de um grande esforço para esta moradora ainda a braços com uma depressão crónica. O facto de ter encontrado esta ocupação tem sido positiva para conseguir algum bem-estar, embora, confesse, que preferisse andar a varrer ruas.
“Mentalmente é importante”, diz, embora confesse que o momento atual não esteja a correr bem porque a filha foi a uma entrevista de emprego e não conseguiu ficar. Para quem vive no fio da navalha quanto a rendimentos foi algo que teve o seu impacto. Apesar de tudo tem a renda em dia. Vive numa casa onde a sala foi convertida em quarto para a filha para que “pudesse ter mais privacidade”. “Cheguei a ir ver outra casa aqui no bairro, era maior, mas estava demasiado degradada, com muitos vidros partidos…”
Também moradora no bairro desde a primeira hora, Maria da Conceição que habita nos blocos opostos, refere que nunca teve conflitos de maior com as pessoas de etnia. “Isto agora está melhorzinho. Temos aí esse senhor (Vítor Salinas) a limpar as ruas todos os dias. Anda por cá também uma senhora a limpar as escadas” acrescenta para se referir à melhoria na componente da limpeza na Quinta da Mina. Lembra que na altura em que teve de abandonar o Bairro da Liberdade possuía casa, mas “o Benavente obrigou as pessoas a virem para o PER”. A casa onde mora tem precisado de arranjos, mas a Câmara correspondeu – “O senhor presidente Luís de Sousa mandou arranjar o poliban. Não tenho nada de mal a dizer.” No fundo “moro aqui há 20 anos, e já tive momentos mais felizes e outros mais infelizes como se morasse noutro lado qualquer”. Sobre os conflitos de que muito se fala neste bairro, alega que “quando assim é o truque é ignorar” mas também confessa – “Há momentos e momentos. Temos de ter respeito por nós e por eles”, revela. Atualmente vive com 400 euros da pensão de viuvez do marido. As rendas estão em atraso mas diz que vai começar a pagar.
Também inserida num contrato-programa, Filomena Conceição, 57 anos, está encarregue da limpeza dos espaços comuns nos prédios. Já residiu em Manique mas a vida deu voltas e veio parar ao bairro social em 2013 – “Não conseguia pagar a renda onde estava e vim para cá. Não foi fácil ter vindo para aqui. Apenas conhecia o bairro de passagem. Fui-me abaixo.”, recorda-se. A auferir 557 euros por mês, tem uma filha a acabar os estudos na faculdade. Trata-se de um grande esforço para esta moradora ainda a braços com uma depressão crónica. O facto de ter encontrado esta ocupação tem sido positiva para conseguir algum bem-estar, embora, confesse, que preferisse andar a varrer ruas.
“Mentalmente é importante”, diz, embora confesse que o momento atual não esteja a correr bem porque a filha foi a uma entrevista de emprego e não conseguiu ficar. Para quem vive no fio da navalha quanto a rendimentos foi algo que teve o seu impacto. Apesar de tudo tem a renda em dia. Vive numa casa onde a sala foi convertida em quarto para a filha para que “pudesse ter mais privacidade”. “Cheguei a ir ver outra casa aqui no bairro, era maior, mas estava demasiado degradada, com muitos vidros partidos…”
Seguimos agora rumo ao sexto bloco, que mais parece um prédio próprio de um cenário de guerra. A comunidade cigana instalou-se ao longo dos vários andares, e embora as marcas de vandalismo sejam profundas, os vários cantos e recantos das habitações apresentam-se limpos e tudo devidamente arrumado. Entre as mulheres desta etnia há o cultivo pelo asseio na casa. Um dos exemplos paradigmáticos é o da casa da sogra de Núria, ambas de etnia cigana. Não há janelas nem portas mas “as paredes foram pintadas”. “Está tudo limpo. Se você tivesse visto esta casa toda cheia de porcaria. A minha sogra esfregou e limpou tudo. Não tem água nem luz. Tem de comer na minha casa, mas dorme aqui com os netos. O prédio já não cheira mal como há uns tempos atrás”, diz Núria (na foto acima) com convicção.
Questionamos a vereadora sobre a possibilidade de a Câmara poder fazer obras neste bloco. A intervenção teria de ser profunda, mas a comunidade pede para que pelo menos as janelas e as portas possam ser colocadas. Havendo o compromisso de que não voltam a ser retiradas como em tempos aconteceu. Núria vai dizendo que as crianças por vezes é que vão estragando algumas coisas no prédio e não deixa de atirar – “A Câmara não quer saber!”. “Gostaria de fazer uma requalificação de todo o bloco mas o investimento ainda é considerável, porque passa por eletricidade, caixilharia, mobiliário, casas de banho em todos os apartamentos. Muita coisa mesmo. Nunca se fez nada ao longo dos anos e este bloco chegou ao nível de degradação total” confessa Sílvia Vítor. E não esconde – “Mais dia, menos dia, vamos ter de lidar com esta questão de frente, correndo o risco junto da demais população que questionará o sentido de darmos algo a estas pessoas, quando foram elas que destruíram. Será inevitável passar por esse juízo de valores.” Núria acrescenta – “No meu caso é mentira que alguma vez tenha dado cabo das janelas, já recebi a casa estragada e tenho feito melhorias aos poucos”, evidencia. Com orgulho refere – “Pus paredes meias de azulejo, pintei a casa toda com tinta de areia, coloquei algumas portas novas”. Leva-nos a conhecer a sua casa. Alguns eletrodomésticos vão pontuando a habitação. Diz ter contrato da luz. Foi obrigada. Mas água não. A habitação possui uma área simpática não fosse o facto de não receber uma intervenção profunda há anos.
Aqui também está tudo limpo e arrumado e é com satisfação que Núria evidencia que já tem uma sanita. “Faltam-me as portas agora!”. Com vários filhos, Núria que se casou ainda adolescente, está hoje na casa dos 20. Recebe o rendimento social de inserção bem como marido que gostaria de encontrar um trabalho. No seu caso, e como é da tradição cigana em que a mulher não trabalha sem ser junto com o marido, quer continuar em casa a cuidar dos filhos. Considera que a Câmara podia dar uma oportunidade à comunidade e fazer as obras no bloco, que já não cheira mal, e onde a própria comunidade tem feito algumas melhorias. “Pode vir à hora que quiser que temos sempre tudo arrumado”. “Este é um lado que as pessoas não conhecem”, diz a vereadora que gostaria que o estigma em relação aos habitantes de etnia do bairro fosse ultrapassado. “Pensámos na possibilidade de eles poderem mostrar a sua tradição e cultura nas escolas, e a Núria é uma das pessoas que está disponível”. Quando se fala nos casamentos e na festa que acontece entre pessoas da sua etnia, os olhos brilham. “Vamos todas arranjadas e bonitas. É lindo”. Com vários filhos na escola, diz que se portam bem. “Queremos que eles aprendam, que tenham uma vida diferente da nossa. Tenho gosto nisso. Gostava que o meu filho fosse até ao 12º ano”. Já no caso das filhas preferia que fossem donas de casa, como acontece normalmente entre as mulheres de etnia.
Culturalmente, a evolução nesta comunidade tem dado poucos passos, mas a nível do vestuário, Núria diz que ao contrário das mulheres mais velhas sempre teve liberdade para se vestir como entende. É assim com as jovens da sua geração que tanto vestem calças como saias mais curtas. “Sou casada há 12 anos e nunca vesti uma saia comprida. Já não é mal visto pelas pessoas mais velhas”, ilustra e até acrescenta que a sogra com 45 anos também já veste manga curta. “Somos felizes, contentamo-nos com o que temos”, refere Núria em jeito de conclusão nesta conversa. “Não tenho uma vida dura, vivo feliz, nada me falta, vou para onde quero, visto o que quero, e dou-me bem com o meu marido”. Núria despede-se, e não deixa de lembrar à vereadora – “Se você pusesse as portas, eu contentava-me”. A responsável refere que é impossível fingir que esta realidade existe. “São pessoas independentemente da sua etnia. São crianças que vivem em apartamentos sem as mínimas condições, embora limpos e arrumados. É necessário reunir consensos”, deixa escapar. A comunidade cigana está relativamente integrada “embora com algumas limitações” não deixa de notar. Contudo continua a ser importante pensar que se pode dar uma oportunidade a estas pessoas.
Fátima Lourinho, técnica de ação social no município, refere que tem assistido a um esforço da comunidade cigana para se integrar, e no caso do homem, (já que à mulher está por enquanto reservado um papel de assistência ao lar) uma tentativa de encontrar um emprego remunerado que vá para além do Rendimento Social de Inserção. A técnica diz que as entidades locais contudo não estão preparadas para aceitar um homem de etnia cigana, e fecham as portas. “Têm chegado ao gabinete de ação social pessoas com essa vontade e o município tem feito diligências em conformidade para as integrar no mercado de trabalho”. Estamos a falar de empregos na área fabril. Quando se fecham as portas “ficam revoltados e magoados”, não tem dúvidas em referir contrariamente ao que é propalado em relação ao que é voz corrente em relação às comunidades ciganas. “O Vítor, por exemplo, está a fazer um trabalho fantástico, talvez o pudesse fazer numa entidade empregadora”. O estigma “é muito grande, e este trabalho tem sido feito muito devagarinho”. Segundo a técnica o marido de Núria também tem manifestado vontade de encontrar um emprego mas não tem sido possível dado o preconceito. “Temos inclusivamente a viver aqui no bairro um rapaz cigano com o 12º ano com curso profissional de técnico de informática a quem não lhe dão emprego”.
No que respeita ao valor das rendas em dívida neste bairro ronda os 300 mil euros. Sempre que os agregados não entregam a documentação necessária para se fazer esse cálculo, o valor é fixado no máximo, nos 300 euros, pelo que algumas delas subiram exponencialmente tendo em conta esta premissa. “Temos vários acordos de pagamento. De uma maneira geral, as pessoas têm manifestado vontade de ir pagando a dívida”, refere Sílvia Vítor que rejeita os despejos “porque temos crianças em quase todos os agregados e essa é uma decisão difícil e não será com certeza a solução”. Fátima Lourinho estima que mais de 50 por cento dos agregados estejam a cumprir os acordos de pagamento. Quanto à necessidade de intervenção da Câmara em grande parte das casas do bairro social que não apenas o sexto bloco, Sílvia Vítor refere que algumas pequenas obras têm sido efetuadas “embora não com a rapidez desejável devido à questão burocrática”. “As queixas estão mais relacionadas com os espaços comuns porque por norma as pessoas tentam resolver por si próprias as suas necessidades”, acrescenta Fátima Lourinho.
A inclusão social ainda tem um longo caminho em Azambuja e neste bairro em particular. Apesar de hoje o clima estar mais desanuviado, “podemos trabalhar ainda mais com as escolas, com a comunidade em geral, e com as famílias”, diz Sílvia Vítor que acredita que o preconceito e o estigma “não se resolvem de um dia para o outro”. “Vamos notando essa proximidade deles junto do município, e esse esforço de integração nota-se. Porque ao não surgirmos aqui com escolta policial como acontecia antigamente, olham para nós de uma maneira mais positiva. É importante mostrarmos que somos pessoas como eles e que estamos aqui para colaborar. Se nos derem algo também receberão em troca alguma coisa”, refere a técnica concluindo- “É um trabalho que leva o seu tempo. Está a dar a flor para que um dia dê o fruto”.
Questionamos a vereadora sobre a possibilidade de a Câmara poder fazer obras neste bloco. A intervenção teria de ser profunda, mas a comunidade pede para que pelo menos as janelas e as portas possam ser colocadas. Havendo o compromisso de que não voltam a ser retiradas como em tempos aconteceu. Núria vai dizendo que as crianças por vezes é que vão estragando algumas coisas no prédio e não deixa de atirar – “A Câmara não quer saber!”. “Gostaria de fazer uma requalificação de todo o bloco mas o investimento ainda é considerável, porque passa por eletricidade, caixilharia, mobiliário, casas de banho em todos os apartamentos. Muita coisa mesmo. Nunca se fez nada ao longo dos anos e este bloco chegou ao nível de degradação total” confessa Sílvia Vítor. E não esconde – “Mais dia, menos dia, vamos ter de lidar com esta questão de frente, correndo o risco junto da demais população que questionará o sentido de darmos algo a estas pessoas, quando foram elas que destruíram. Será inevitável passar por esse juízo de valores.” Núria acrescenta – “No meu caso é mentira que alguma vez tenha dado cabo das janelas, já recebi a casa estragada e tenho feito melhorias aos poucos”, evidencia. Com orgulho refere – “Pus paredes meias de azulejo, pintei a casa toda com tinta de areia, coloquei algumas portas novas”. Leva-nos a conhecer a sua casa. Alguns eletrodomésticos vão pontuando a habitação. Diz ter contrato da luz. Foi obrigada. Mas água não. A habitação possui uma área simpática não fosse o facto de não receber uma intervenção profunda há anos.
Aqui também está tudo limpo e arrumado e é com satisfação que Núria evidencia que já tem uma sanita. “Faltam-me as portas agora!”. Com vários filhos, Núria que se casou ainda adolescente, está hoje na casa dos 20. Recebe o rendimento social de inserção bem como marido que gostaria de encontrar um trabalho. No seu caso, e como é da tradição cigana em que a mulher não trabalha sem ser junto com o marido, quer continuar em casa a cuidar dos filhos. Considera que a Câmara podia dar uma oportunidade à comunidade e fazer as obras no bloco, que já não cheira mal, e onde a própria comunidade tem feito algumas melhorias. “Pode vir à hora que quiser que temos sempre tudo arrumado”. “Este é um lado que as pessoas não conhecem”, diz a vereadora que gostaria que o estigma em relação aos habitantes de etnia do bairro fosse ultrapassado. “Pensámos na possibilidade de eles poderem mostrar a sua tradição e cultura nas escolas, e a Núria é uma das pessoas que está disponível”. Quando se fala nos casamentos e na festa que acontece entre pessoas da sua etnia, os olhos brilham. “Vamos todas arranjadas e bonitas. É lindo”. Com vários filhos na escola, diz que se portam bem. “Queremos que eles aprendam, que tenham uma vida diferente da nossa. Tenho gosto nisso. Gostava que o meu filho fosse até ao 12º ano”. Já no caso das filhas preferia que fossem donas de casa, como acontece normalmente entre as mulheres de etnia.
Culturalmente, a evolução nesta comunidade tem dado poucos passos, mas a nível do vestuário, Núria diz que ao contrário das mulheres mais velhas sempre teve liberdade para se vestir como entende. É assim com as jovens da sua geração que tanto vestem calças como saias mais curtas. “Sou casada há 12 anos e nunca vesti uma saia comprida. Já não é mal visto pelas pessoas mais velhas”, ilustra e até acrescenta que a sogra com 45 anos também já veste manga curta. “Somos felizes, contentamo-nos com o que temos”, refere Núria em jeito de conclusão nesta conversa. “Não tenho uma vida dura, vivo feliz, nada me falta, vou para onde quero, visto o que quero, e dou-me bem com o meu marido”. Núria despede-se, e não deixa de lembrar à vereadora – “Se você pusesse as portas, eu contentava-me”. A responsável refere que é impossível fingir que esta realidade existe. “São pessoas independentemente da sua etnia. São crianças que vivem em apartamentos sem as mínimas condições, embora limpos e arrumados. É necessário reunir consensos”, deixa escapar. A comunidade cigana está relativamente integrada “embora com algumas limitações” não deixa de notar. Contudo continua a ser importante pensar que se pode dar uma oportunidade a estas pessoas.
Fátima Lourinho, técnica de ação social no município, refere que tem assistido a um esforço da comunidade cigana para se integrar, e no caso do homem, (já que à mulher está por enquanto reservado um papel de assistência ao lar) uma tentativa de encontrar um emprego remunerado que vá para além do Rendimento Social de Inserção. A técnica diz que as entidades locais contudo não estão preparadas para aceitar um homem de etnia cigana, e fecham as portas. “Têm chegado ao gabinete de ação social pessoas com essa vontade e o município tem feito diligências em conformidade para as integrar no mercado de trabalho”. Estamos a falar de empregos na área fabril. Quando se fecham as portas “ficam revoltados e magoados”, não tem dúvidas em referir contrariamente ao que é propalado em relação ao que é voz corrente em relação às comunidades ciganas. “O Vítor, por exemplo, está a fazer um trabalho fantástico, talvez o pudesse fazer numa entidade empregadora”. O estigma “é muito grande, e este trabalho tem sido feito muito devagarinho”. Segundo a técnica o marido de Núria também tem manifestado vontade de encontrar um emprego mas não tem sido possível dado o preconceito. “Temos inclusivamente a viver aqui no bairro um rapaz cigano com o 12º ano com curso profissional de técnico de informática a quem não lhe dão emprego”.
No que respeita ao valor das rendas em dívida neste bairro ronda os 300 mil euros. Sempre que os agregados não entregam a documentação necessária para se fazer esse cálculo, o valor é fixado no máximo, nos 300 euros, pelo que algumas delas subiram exponencialmente tendo em conta esta premissa. “Temos vários acordos de pagamento. De uma maneira geral, as pessoas têm manifestado vontade de ir pagando a dívida”, refere Sílvia Vítor que rejeita os despejos “porque temos crianças em quase todos os agregados e essa é uma decisão difícil e não será com certeza a solução”. Fátima Lourinho estima que mais de 50 por cento dos agregados estejam a cumprir os acordos de pagamento. Quanto à necessidade de intervenção da Câmara em grande parte das casas do bairro social que não apenas o sexto bloco, Sílvia Vítor refere que algumas pequenas obras têm sido efetuadas “embora não com a rapidez desejável devido à questão burocrática”. “As queixas estão mais relacionadas com os espaços comuns porque por norma as pessoas tentam resolver por si próprias as suas necessidades”, acrescenta Fátima Lourinho.
A inclusão social ainda tem um longo caminho em Azambuja e neste bairro em particular. Apesar de hoje o clima estar mais desanuviado, “podemos trabalhar ainda mais com as escolas, com a comunidade em geral, e com as famílias”, diz Sílvia Vítor que acredita que o preconceito e o estigma “não se resolvem de um dia para o outro”. “Vamos notando essa proximidade deles junto do município, e esse esforço de integração nota-se. Porque ao não surgirmos aqui com escolta policial como acontecia antigamente, olham para nós de uma maneira mais positiva. É importante mostrarmos que somos pessoas como eles e que estamos aqui para colaborar. Se nos derem algo também receberão em troca alguma coisa”, refere a técnica concluindo- “É um trabalho que leva o seu tempo. Está a dar a flor para que um dia dê o fruto”.
Povos, Vila Franca
Rancho da Alfarrobeira diz que é uma prova de resistência
manter-se no bairro
O Rancho Folclórico da Alfarrobeira fica situado em pleno coração de um dos ditos bairros mais problemáticos do concelho de Vila Franca de Xira, Povos. A identidade do rancho está muito ligada a esta zona da cidade onde nasceu. Com coletividade aberta enfrenta diversas dificuldades. O material para dançar não é propriamente barato. Só umas meias custam 50 euros, enfatizam à nossa reportagem algumas pessoas com quem nos encontrámos na Boa Morte para esta reportagem. Foi no feriado municipal e neste dia o rancho atuaria no palco das comemorações levadas a cabo pelo município nesta zona da cidade.
Os membros do grupo, trinta na sua totalidade, já pensaram numa mudança de sede para o interior de Vila Franca de Xira mas acabaram por chegar à conclusão que acabaria por não fazer sentido. Haveria aspetos positivos pois noutra localização podiam estar mais seguros e livres da pequena criminalidade que dizem sentir no bairro, mas perder-se-ia a essência deste rancho, que em conjunto com o dos avieiros são o símbolo do folclore na cidade sede de concelho. “O bairro nasceu aqui mesmo na Alfarrobeira, perto da Boa Morte e de Povos. Se nascemos com o nome de Paula, não podemos ser chamadas de Maria, e o rancho é a mesma coisa”, concretiza Cristina Murteira, elemento do rancho. “Temos o sentimento de pertença ao bairro mas também sentimos necessidade que nos conheçam como um rancho de Vila Franca”, acrescenta Ana Trindade. É com orgulho que as duas mulheres referem que o maior espetáculo que o bairro recebe durante o ano é o festival de ranchos levado a cabo pelo grupo da Alfarrobeira.
Inserido num bairro desfavorecido, os membros do rancho que na sua maioria vivem em Povos também dispõem de fracos recursos económicos. A Câmara de Vila Franca de Xira subsidia a coletividade mas segundo os seus membros tal tem-se revelado insuficiente, até tendo em conta que no protocolo com a Câmara são fixadas quatro atuações por ano, e o palco que a autarquia prepara não se tem apresentado nas melhores condições. Houve membros do rancho que danificaram calçado. “Hoje vamos estrear o novo palco da Câmara. Vamos ver como corre, porque no antigo já não era possível fazermos o nosso trabalho da melhor forma. Uma criança no ano passado magoou-se e pelo que sei o rancho dos avieiros, este ano, já nem quer dançar. Porque o palco também devia ter uma coberta. Já era mais do que tempo! O rancho dos avieiros dança descalço e com a força do calor ficam com os pés em carne viva”, adianta Cristina Murteira. Falhas e pregos à mostra eram banais no outro palco. “Já dançámos sem condições nenhumas para a Câmara”. E continua – “ Se um dia também desistirmos de dançar no senhor da Boa Morte que é uma tradição, mais ninguém vai quer. A sorte deles é que a população gosta desta tradição” diz outro dos elementos do rancho. “É isso mesmo. Ainda vamos papando alguns grupos”, usa esta expressão Cristina Murteira.
Captar novos pares para os ranchos folclóricos é tarefa árdua e no caso do grupo da Alfarrobeira também não é algo simples. Vão entrar à partida novos elementos em breve vindos do Carregado. “Ou se gosta ou não se gosta, e quando não se gosta por mais que se queira ensinar é impossível cativar alguém”.
Nos projetos para o futuro, o rancho gostaria de encontrar novas instalações dentro do bairro, porque a atual sede fica num recanto escuro, tapado e isolado, “com muitos problemas e a abundância de comportamentos desviantes”. “O local onde se encontra a nossa sede está muito à mão de semear por parte de quem quer praticar atividades ilícitas, e isso afeta-nos muito”, refere Rute Caetano. O cartão-de-visita não é o melhor, concordam os membros do rancho. “É mesmo muito difícil fazer o que quer que seja dentro do bairro”, mostra-se desolada Cristina Murteira, quando se fala nas atividades que o rancho podia desenvolver, até porque acaba por ser a única coletividade que ali existe. “Evitamos fazer festas e espetáculos. Já lá vai o tempo em que organizávamos bailes, e comemorações, porque nunca se sabe o que pode acontecer dada a mistura de grupos”, refere. Apenas o festival é levado a cabo e é tendo em conta que se desenrola “num sítio privado, na escola primária de Povos, porque imagine o que seria se nos partissem o palco como já aconteceu. Teríamos de pagar tudo. E sendo ali na escola também é mais fácil chamar a polícia”. Por outro lado “arriscar outra localização também podia significar outro problema, como dar azo a que algumas pessoas do bairro se metem-se com os ranchos nossos convidados. Esse é o meu medo”, defende Ana Trindade. Por esta ordem de razões manterem-se em Povos é de facto uma “prova de resistência”. Os problemas e os desacatos segundo estas moradoras acontecem com todo o tipo de pessoas, como as ligadas à toxicodependência mas pode acontecer também com “um simples morador que naquele dia bebeu uns copitos a mais, mas que por regra não arranja confusões”, diz Cristina Murteira.
Policiamento é então palavra de ordem. Quanto à ação das técnicas da Ação Social da Câmara referem que pouco ou nada vale o facto de existir um gabinete no bairro que tem como incumbência intervir socialmente em Povos. “Não se envolvem na comunidade. Se lhes batermos os pés, elas tremem. Não podem mostrar medo dentro de um bairro social”, sentencia Ana Trindade. Cristina Murteira vai mais longe – “Se formos lá com algum tipo de pedido ou reivindicação e usarmos da boa educação não resolvem nada, mas se formos lá à bruta como outros, aí já atuam”. E neste aspeto diz que “as técnicas têm a obrigação de trabalhar mais connosco, rancho folclórico, porque somos o único grupo com atividade dentro do bairro. Se tivéssemos mais apoio podíamos fazer mais atividades, mas como temos medo e não sentimos essa ajuda, acabamos por não concretizar o que gostaríamos”. “Desviam-se dos focos de problemas, não os querem confrontar”, acrescenta Ana Trindade que acaba por realçar o facto de as técnicas recentemente terem desenvolvido atividades com a terceira idade mas que na sua opinião não chegam. “Temos ali muitos jovens e se a Câmara conseguisse proporcionar-lhes atividades para não andarem metidos em determinadas ocupações seria importante”, defende Cristina Murteira. Os filhos das mulheres do rancho vão andando pela coletividade, mas quanto aos demais não tem sido hábito dedicarem-se a atividades relacionadas com o folclore. A vereadora com o pelouro da Ação Social, Helena de Jesus, contrapõe e diz que muitas são as iniciativas que se vão desenvolvendo no bairro e que este não está abandonado pelo município. A técnica Ana Carla Costa junta que funciona no bairro um centro comunitário onde são desenvolvidas ações junto da infância no sentido de encorajar o sucesso escolar. Estando ainda a trabalhar no local psicólogo, assistente social e animador sociocultural, pelo que não percebe a crítica dos moradores. “Povos está abrangido por um Contrato Local de Segurança e é inegável o seu sucesso”.
Mas a exclusão “faz-se sentir” o que na opinião destas moradoras é “pena”, porque “o bairro tem muita gente que se podia aproveitar”. O bairro em tempos já foi mais unido com muitas festas e agora “não conseguimos fazer nada”. E na opinião de Ana Trindade o que prejudicou o espírito de Povos foi a compartimentação por grupos. “Juntaram o bairro da lata com o de Povos, mas ao invés de os integrarem na comunidade, separaram essas pessoas das outras. Criou-se uma divisória, no fundo. Misturar é o que faz sentido nem que fosse no meio de Vila Franca”.
A sede da coletividade é outra das pechas. Em muitas ocasiões o grupo já pediu ajuda à Câmara para arranjar o telhado. Chove lá dentro “ao ponto de termos de chamar os bombeiros”. “Nas eleições prometem sempre obras mas depois nada se passa”, alude Cristina Murteira. A componente da eletricidade nestas ocasiões implica sempre ter de mudar tudo quando chove.
“Somos um rancho pequeno, não temos força nem bens materiais mas bastava que nos dessem um terreno abandonado que está lá no bairro e o material, que nós com as nossas forças e o nosso empenho fazíamos uma sede nova”, desabafa, cansada do estado de coisas, Cristina Murteira. Se isso acontecesse “nós como grupo poderíamos progredir e fazer mais alguma coisa”. “Nós temos estas ideias. Nunca lhes apresentámos estas propostas mas eles também têm olhos na cara”, finaliza Ana Trindade, que lembra ainda o espaço antes ocupado por uma outra coletividade que se encontra completamente encerrado, e que podia ser aproveitado pelo rancho. Este grupo sai quase todos os fins de semana para dançar um pouco por todo o país. Com poucos recursos levam o nome da terra e da cultura folclórica vila-franquense a outros pontos de Portugal.
Rancho da Alfarrobeira diz que é uma prova de resistência
manter-se no bairro
O Rancho Folclórico da Alfarrobeira fica situado em pleno coração de um dos ditos bairros mais problemáticos do concelho de Vila Franca de Xira, Povos. A identidade do rancho está muito ligada a esta zona da cidade onde nasceu. Com coletividade aberta enfrenta diversas dificuldades. O material para dançar não é propriamente barato. Só umas meias custam 50 euros, enfatizam à nossa reportagem algumas pessoas com quem nos encontrámos na Boa Morte para esta reportagem. Foi no feriado municipal e neste dia o rancho atuaria no palco das comemorações levadas a cabo pelo município nesta zona da cidade.
Os membros do grupo, trinta na sua totalidade, já pensaram numa mudança de sede para o interior de Vila Franca de Xira mas acabaram por chegar à conclusão que acabaria por não fazer sentido. Haveria aspetos positivos pois noutra localização podiam estar mais seguros e livres da pequena criminalidade que dizem sentir no bairro, mas perder-se-ia a essência deste rancho, que em conjunto com o dos avieiros são o símbolo do folclore na cidade sede de concelho. “O bairro nasceu aqui mesmo na Alfarrobeira, perto da Boa Morte e de Povos. Se nascemos com o nome de Paula, não podemos ser chamadas de Maria, e o rancho é a mesma coisa”, concretiza Cristina Murteira, elemento do rancho. “Temos o sentimento de pertença ao bairro mas também sentimos necessidade que nos conheçam como um rancho de Vila Franca”, acrescenta Ana Trindade. É com orgulho que as duas mulheres referem que o maior espetáculo que o bairro recebe durante o ano é o festival de ranchos levado a cabo pelo grupo da Alfarrobeira.
Inserido num bairro desfavorecido, os membros do rancho que na sua maioria vivem em Povos também dispõem de fracos recursos económicos. A Câmara de Vila Franca de Xira subsidia a coletividade mas segundo os seus membros tal tem-se revelado insuficiente, até tendo em conta que no protocolo com a Câmara são fixadas quatro atuações por ano, e o palco que a autarquia prepara não se tem apresentado nas melhores condições. Houve membros do rancho que danificaram calçado. “Hoje vamos estrear o novo palco da Câmara. Vamos ver como corre, porque no antigo já não era possível fazermos o nosso trabalho da melhor forma. Uma criança no ano passado magoou-se e pelo que sei o rancho dos avieiros, este ano, já nem quer dançar. Porque o palco também devia ter uma coberta. Já era mais do que tempo! O rancho dos avieiros dança descalço e com a força do calor ficam com os pés em carne viva”, adianta Cristina Murteira. Falhas e pregos à mostra eram banais no outro palco. “Já dançámos sem condições nenhumas para a Câmara”. E continua – “ Se um dia também desistirmos de dançar no senhor da Boa Morte que é uma tradição, mais ninguém vai quer. A sorte deles é que a população gosta desta tradição” diz outro dos elementos do rancho. “É isso mesmo. Ainda vamos papando alguns grupos”, usa esta expressão Cristina Murteira.
Captar novos pares para os ranchos folclóricos é tarefa árdua e no caso do grupo da Alfarrobeira também não é algo simples. Vão entrar à partida novos elementos em breve vindos do Carregado. “Ou se gosta ou não se gosta, e quando não se gosta por mais que se queira ensinar é impossível cativar alguém”.
Nos projetos para o futuro, o rancho gostaria de encontrar novas instalações dentro do bairro, porque a atual sede fica num recanto escuro, tapado e isolado, “com muitos problemas e a abundância de comportamentos desviantes”. “O local onde se encontra a nossa sede está muito à mão de semear por parte de quem quer praticar atividades ilícitas, e isso afeta-nos muito”, refere Rute Caetano. O cartão-de-visita não é o melhor, concordam os membros do rancho. “É mesmo muito difícil fazer o que quer que seja dentro do bairro”, mostra-se desolada Cristina Murteira, quando se fala nas atividades que o rancho podia desenvolver, até porque acaba por ser a única coletividade que ali existe. “Evitamos fazer festas e espetáculos. Já lá vai o tempo em que organizávamos bailes, e comemorações, porque nunca se sabe o que pode acontecer dada a mistura de grupos”, refere. Apenas o festival é levado a cabo e é tendo em conta que se desenrola “num sítio privado, na escola primária de Povos, porque imagine o que seria se nos partissem o palco como já aconteceu. Teríamos de pagar tudo. E sendo ali na escola também é mais fácil chamar a polícia”. Por outro lado “arriscar outra localização também podia significar outro problema, como dar azo a que algumas pessoas do bairro se metem-se com os ranchos nossos convidados. Esse é o meu medo”, defende Ana Trindade. Por esta ordem de razões manterem-se em Povos é de facto uma “prova de resistência”. Os problemas e os desacatos segundo estas moradoras acontecem com todo o tipo de pessoas, como as ligadas à toxicodependência mas pode acontecer também com “um simples morador que naquele dia bebeu uns copitos a mais, mas que por regra não arranja confusões”, diz Cristina Murteira.
Policiamento é então palavra de ordem. Quanto à ação das técnicas da Ação Social da Câmara referem que pouco ou nada vale o facto de existir um gabinete no bairro que tem como incumbência intervir socialmente em Povos. “Não se envolvem na comunidade. Se lhes batermos os pés, elas tremem. Não podem mostrar medo dentro de um bairro social”, sentencia Ana Trindade. Cristina Murteira vai mais longe – “Se formos lá com algum tipo de pedido ou reivindicação e usarmos da boa educação não resolvem nada, mas se formos lá à bruta como outros, aí já atuam”. E neste aspeto diz que “as técnicas têm a obrigação de trabalhar mais connosco, rancho folclórico, porque somos o único grupo com atividade dentro do bairro. Se tivéssemos mais apoio podíamos fazer mais atividades, mas como temos medo e não sentimos essa ajuda, acabamos por não concretizar o que gostaríamos”. “Desviam-se dos focos de problemas, não os querem confrontar”, acrescenta Ana Trindade que acaba por realçar o facto de as técnicas recentemente terem desenvolvido atividades com a terceira idade mas que na sua opinião não chegam. “Temos ali muitos jovens e se a Câmara conseguisse proporcionar-lhes atividades para não andarem metidos em determinadas ocupações seria importante”, defende Cristina Murteira. Os filhos das mulheres do rancho vão andando pela coletividade, mas quanto aos demais não tem sido hábito dedicarem-se a atividades relacionadas com o folclore. A vereadora com o pelouro da Ação Social, Helena de Jesus, contrapõe e diz que muitas são as iniciativas que se vão desenvolvendo no bairro e que este não está abandonado pelo município. A técnica Ana Carla Costa junta que funciona no bairro um centro comunitário onde são desenvolvidas ações junto da infância no sentido de encorajar o sucesso escolar. Estando ainda a trabalhar no local psicólogo, assistente social e animador sociocultural, pelo que não percebe a crítica dos moradores. “Povos está abrangido por um Contrato Local de Segurança e é inegável o seu sucesso”.
Mas a exclusão “faz-se sentir” o que na opinião destas moradoras é “pena”, porque “o bairro tem muita gente que se podia aproveitar”. O bairro em tempos já foi mais unido com muitas festas e agora “não conseguimos fazer nada”. E na opinião de Ana Trindade o que prejudicou o espírito de Povos foi a compartimentação por grupos. “Juntaram o bairro da lata com o de Povos, mas ao invés de os integrarem na comunidade, separaram essas pessoas das outras. Criou-se uma divisória, no fundo. Misturar é o que faz sentido nem que fosse no meio de Vila Franca”.
A sede da coletividade é outra das pechas. Em muitas ocasiões o grupo já pediu ajuda à Câmara para arranjar o telhado. Chove lá dentro “ao ponto de termos de chamar os bombeiros”. “Nas eleições prometem sempre obras mas depois nada se passa”, alude Cristina Murteira. A componente da eletricidade nestas ocasiões implica sempre ter de mudar tudo quando chove.
“Somos um rancho pequeno, não temos força nem bens materiais mas bastava que nos dessem um terreno abandonado que está lá no bairro e o material, que nós com as nossas forças e o nosso empenho fazíamos uma sede nova”, desabafa, cansada do estado de coisas, Cristina Murteira. Se isso acontecesse “nós como grupo poderíamos progredir e fazer mais alguma coisa”. “Nós temos estas ideias. Nunca lhes apresentámos estas propostas mas eles também têm olhos na cara”, finaliza Ana Trindade, que lembra ainda o espaço antes ocupado por uma outra coletividade que se encontra completamente encerrado, e que podia ser aproveitado pelo rancho. Este grupo sai quase todos os fins de semana para dançar um pouco por todo o país. Com poucos recursos levam o nome da terra e da cultura folclórica vila-franquense a outros pontos de Portugal.
População do Bairro Azul na Póvoa queixa-se de estigma injusto
O Bairro Azul na Póvoa de Santa Iria vai entrar em fase de estaleiro. Arrancam em julho as obras nos 82 fogos no valor um milhão 600 mil euros. Este bairro social que data da década de 90 necessita de obras mais ou menos profundas nas habitações e tudo se desenrolará em três fases ao longo de cerca de 15 meses. Depois de ter estado em cima da mesa o realojamento temporário durante as obras em monoblocos, a Câmara fez as contas e dados os gastos exorbitantes, cerca de 800 mil euros, decidiu que compensa mais pagar alojamento às famílias em residenciais, pensões, ou recorrer a outras habitações sociais no concelho. Se necessário e no caso do alojamento em pensões pagará ainda lavandaria e refeições. No caso dos habitantes do bairro que pretendam ficar alojadas em casas de familiares ou amigos durante o tempo em que durarem os trabalhos, a Câmara também fornecerá um envelope financeiro de apoio às despesas.
O bairro que foi gozando ao longo dos tempos de má fama, estará hoje melhor. É o que nos afiançam os vários moradores com quem falámos. A imagem que passa não é a mais positiva e as notícias que têm vindo a lume sobre este bairro serão manifestamente exageradas segundo estas pessoas com quem falámos.
Maria Albertina diz mesmo que viver aqui “é normal”. Há cinco anos vivia em Vialonga mas como pagava uma renda de 280 euros e não sobrava que chegasse para pagar a luz e a água, até tendo em conta que “o patrão não conseguia pagar o ordenado completo de uma só vez”, a solução foi vir para o bairro do PER. “Vi-me com uma grande dívida ao senhorio. Tive de recorrer à Câmara para me acudir e graças a Deus estou muito agradecida à autarquia”. Hoje encontra-se no fundo de desemprego porque está com alguns problemas de saúde. Esta moradora prefere não falar de quanto paga de renda atualmente no PER, mas será incomparavelmente menos do que o que pagava antes. “São dezasseis”, deixa escapar e com algum otimismo acrescenta – “Já dá para pôr o pão na mesa”. Quando se lhe pergunta sobre as ditas confusões no bairro, diz que “isso se acontece é porque as pessoas querem”. “Mas para mim está ótimo. Nada funciona mal aqui”. Diz mesmo que não sente preconceito por parte de outras pessoas da Póvoa. “Sou bem acolhida em todo o lado”. A casa de Maria Albertina vai ser intervencionada numa segunda fase, pelo que para já não sabe para onde vai durante esse período. Obras na cozinha e na canalização são bastante necessárias. Quanto a pinturas refere que a própria deitou mãos à obra recentemente. “Mas para a renda que a gente paga não devíamos pedir muito. Há quem esteja sempre a pedir à Câmara,”, conclui deixando escapar uma gargalhada.
Elias Martins é um jovem que veio do Brasil. Trabalha no atendimento telefónico num call center mas tem um curso de Antropologia, e também refere que a má fama do bairro é muito injusta. Veio para o Bairro Azul em 2013. Antes vivia na Loja Nova, Vila Franca de Xira. “Uma zona com poucos transportes, com pouca mobilidade”. As dificuldades económicas eram algumas. Mesmo hoje em dia e trabalhando não teria condições de pagar uma renda fora do bairro. “O ordenado não dá para isso. Tenho uma filha que mora longe e todos os meses tenho de a ir buscar a Aveiro”. Oportunidades de emprego na sua área são quase impossíveis.
Para que tal pudesse ser uma possibilidade teria de pagar um mestrado, o que não é barato, e tinha de continuar a trabalhar oito horas por dia no seu emprego. Por isso vive um dia de cada vez, e vai por enquanto manter-se no call center onde trabalha. “A minha filha vai entrar agora na escola primária, pelo que não posso fugir muito daquilo que tenho a nível de emprego”. Para Elias Martins o estigma relacionado com o bairro vai até ao ponto de não conseguir que lhe venham entregar encomendas ou a botija de gás. “Já me disseram que tinham ordens para não virem aqui. As empresas recusam-se a mandarem os empregados sozinhos”, diz, e acrescenta – “Por vezes saem notícias na comunicação social que empolam situações que não são verdade, e vêm à tona todos os preconceitos e mais alguns em relação a este bairro”. “Sei que em tempos o bairro já teve problemas, mas atualmente é calmíssimo. Nada justifica que uma empresa de gás não faça aqui o serviço normal”. Elias Martins faz parte da primeira fase e ao que tudo indica vai para uma pensão em Vila Franca. O maior trastorno será a acomodação dos seus pertences. A Câmara já terá um espaço acautelado para esta questão relacionada com os bens dos moradores.
O Bairro Azul na Póvoa de Santa Iria vai entrar em fase de estaleiro. Arrancam em julho as obras nos 82 fogos no valor um milhão 600 mil euros. Este bairro social que data da década de 90 necessita de obras mais ou menos profundas nas habitações e tudo se desenrolará em três fases ao longo de cerca de 15 meses. Depois de ter estado em cima da mesa o realojamento temporário durante as obras em monoblocos, a Câmara fez as contas e dados os gastos exorbitantes, cerca de 800 mil euros, decidiu que compensa mais pagar alojamento às famílias em residenciais, pensões, ou recorrer a outras habitações sociais no concelho. Se necessário e no caso do alojamento em pensões pagará ainda lavandaria e refeições. No caso dos habitantes do bairro que pretendam ficar alojadas em casas de familiares ou amigos durante o tempo em que durarem os trabalhos, a Câmara também fornecerá um envelope financeiro de apoio às despesas.
O bairro que foi gozando ao longo dos tempos de má fama, estará hoje melhor. É o que nos afiançam os vários moradores com quem falámos. A imagem que passa não é a mais positiva e as notícias que têm vindo a lume sobre este bairro serão manifestamente exageradas segundo estas pessoas com quem falámos.
Maria Albertina diz mesmo que viver aqui “é normal”. Há cinco anos vivia em Vialonga mas como pagava uma renda de 280 euros e não sobrava que chegasse para pagar a luz e a água, até tendo em conta que “o patrão não conseguia pagar o ordenado completo de uma só vez”, a solução foi vir para o bairro do PER. “Vi-me com uma grande dívida ao senhorio. Tive de recorrer à Câmara para me acudir e graças a Deus estou muito agradecida à autarquia”. Hoje encontra-se no fundo de desemprego porque está com alguns problemas de saúde. Esta moradora prefere não falar de quanto paga de renda atualmente no PER, mas será incomparavelmente menos do que o que pagava antes. “São dezasseis”, deixa escapar e com algum otimismo acrescenta – “Já dá para pôr o pão na mesa”. Quando se lhe pergunta sobre as ditas confusões no bairro, diz que “isso se acontece é porque as pessoas querem”. “Mas para mim está ótimo. Nada funciona mal aqui”. Diz mesmo que não sente preconceito por parte de outras pessoas da Póvoa. “Sou bem acolhida em todo o lado”. A casa de Maria Albertina vai ser intervencionada numa segunda fase, pelo que para já não sabe para onde vai durante esse período. Obras na cozinha e na canalização são bastante necessárias. Quanto a pinturas refere que a própria deitou mãos à obra recentemente. “Mas para a renda que a gente paga não devíamos pedir muito. Há quem esteja sempre a pedir à Câmara,”, conclui deixando escapar uma gargalhada.
Elias Martins é um jovem que veio do Brasil. Trabalha no atendimento telefónico num call center mas tem um curso de Antropologia, e também refere que a má fama do bairro é muito injusta. Veio para o Bairro Azul em 2013. Antes vivia na Loja Nova, Vila Franca de Xira. “Uma zona com poucos transportes, com pouca mobilidade”. As dificuldades económicas eram algumas. Mesmo hoje em dia e trabalhando não teria condições de pagar uma renda fora do bairro. “O ordenado não dá para isso. Tenho uma filha que mora longe e todos os meses tenho de a ir buscar a Aveiro”. Oportunidades de emprego na sua área são quase impossíveis.
Para que tal pudesse ser uma possibilidade teria de pagar um mestrado, o que não é barato, e tinha de continuar a trabalhar oito horas por dia no seu emprego. Por isso vive um dia de cada vez, e vai por enquanto manter-se no call center onde trabalha. “A minha filha vai entrar agora na escola primária, pelo que não posso fugir muito daquilo que tenho a nível de emprego”. Para Elias Martins o estigma relacionado com o bairro vai até ao ponto de não conseguir que lhe venham entregar encomendas ou a botija de gás. “Já me disseram que tinham ordens para não virem aqui. As empresas recusam-se a mandarem os empregados sozinhos”, diz, e acrescenta – “Por vezes saem notícias na comunicação social que empolam situações que não são verdade, e vêm à tona todos os preconceitos e mais alguns em relação a este bairro”. “Sei que em tempos o bairro já teve problemas, mas atualmente é calmíssimo. Nada justifica que uma empresa de gás não faça aqui o serviço normal”. Elias Martins faz parte da primeira fase e ao que tudo indica vai para uma pensão em Vila Franca. O maior trastorno será a acomodação dos seus pertences. A Câmara já terá um espaço acautelado para esta questão relacionada com os bens dos moradores.
A vereadora com o pelouro da Ação Social, Helena de Jesus, refere que complementam as obras nas habitações: a do polidesportivo, recentemente inaugurado, e a das hortas urbanas, dois espaços que servem para fortalecer o sentimento comunitário no bairro. O mobiliário urbano será também requalificado. Toda a logística que se prende com a mudança por fases da população para fora das suas habitações durante um determinado período de tempo tem estado a correr “de forma muito pacífica”, refere. “As pessoas têm colaborado imenso com disponibilidade para aceitarem todas as sugestões que impliquem mudança no seu dia-a-dia”. Cerca de 30 fogos vão ser intervencionados em cada uma das fases. “Foi o denominado plano B, porque era muito mais simples alojar toda a gente de uma vez em monoblocos. Assim, foi um esforço muito grande dos serviços”. Casa fase terá a duração de cinco semanas de obras mais duas para mudanças.
O combate à exclusão social no bairro passa muito por esta requalificação a que se juntam os dois novos “vizinhos”: horta e polidesportivo. “Até porque as pessoas de fora do bairro são convidadas a virem às hortas bem como ao polidesportivo. Faz com que haja uma inclusão da população”. Quanto a comportamentos desviantes que ainda possam existir neste bairro diz que “essa ideia não é verdadeira”. “Acho que é algo que acontecia há uns anos, porque como vê a esta hora não está ninguém no bairro. As pessoas estão a trabalhar. De qualquer das formas temos um atendimento integrado nesse trabalho”. Ana Carla Costa, chefe de divisão do Desenvolvimento Social na autarquia, refere que todas as famílias são acompanhadas a nível social pelo município.
O combate à exclusão social no bairro passa muito por esta requalificação a que se juntam os dois novos “vizinhos”: horta e polidesportivo. “Até porque as pessoas de fora do bairro são convidadas a virem às hortas bem como ao polidesportivo. Faz com que haja uma inclusão da população”. Quanto a comportamentos desviantes que ainda possam existir neste bairro diz que “essa ideia não é verdadeira”. “Acho que é algo que acontecia há uns anos, porque como vê a esta hora não está ninguém no bairro. As pessoas estão a trabalhar. De qualquer das formas temos um atendimento integrado nesse trabalho”. Ana Carla Costa, chefe de divisão do Desenvolvimento Social na autarquia, refere que todas as famílias são acompanhadas a nível social pelo município.
Salvaterra
Bairro da Terceira Idade em obras para receber novos moradores
O denominado Bairro da Terceira Idade, assim se chama o PER de Salvaterra de Magos, encontra-se em obras em algumas das suas casas. É habitado quase na totalidade por cidadãos com idade mais avançada e com carências económicas. A vereadora da Ação Social no município, Helena Neves, refere que tem sido efetuada uma intervenção profunda, com a recuperação da rede de esgotos, passando pelas próprias casas, pavimentos, e arranjos exteriores. Por outro lado, também se alterou o regulamento do bairro com a possibilidade de cidadãos mais jovens, em situação de carência, poderem aceder à habitação.
Noel Caneira, vereador das Obras Municipais, refere que está a ser feita uma separação a nível do encaminhamento dos esgotos em grande parte das casas do bairro. As casas que não estão habitadas no bairro estão a sofrer reparações a nível dos azulejos, e casa de banho, com colocação de barras para pessoas com mobilidade reduzida. Doze casas foram reparadas desde 2014, e quatro dessas já foram entregues. Sempre que alguma casa fica vaga, a autarquia começa por demolir os quintais, muitos deles com anexos construídos ilegalmente em tempos, como galinheiros. “Dão um aspeto um pouco miserável ao bairro”, diz Noel Caneira, “Temos tentado acabar com isso para dar uma outra dignidade”, acrescenta Helena Neves.
Todas as casas são de tipologia T1, pelo que albergam na sua maioria idosos que vivem sozinhos e um ou outro casal. (Investimento em novas tipologias de habitação com a construção de novas casas é algo que para já não está no horizonte). Sendo assim as relações de vizinhança são mais importantes. Encontramos Josefina Maia, de 57 anos, que veio para o bairro em janeiro. É abrangida pelo Rendimento Social de Inserção e já há algum tempo que aguardava por uma casa no bairro social. Antes vivia na Rua Padre Cruz em Salvaterra. Para si, a casa não podia ser melhor. Também a sua habitação foi antes alvo de intervenção. Gosta da vizinha Jaiminda Verde, 63 anos, com quem todos os dias vai dar as suas caminhadas acompanhadas pelos cães. No caso de Jaiminda veio para o bairro há 12 anos e foi “a melhor coisa” que lhe aconteceu. “Nunca tive uma casa que fosse minha e faço de conta que esta o é. Antes vivia na casa da minha sogra”. “Gosto muito de aqui estar. Dou-me bem com toda a gente”. Normalmente diz que não pede nada junto da Câmara para si. Apenas no outro dia disse ao vereador Noel Caneira para arranjar uma rampa para um cidadão que anda de cadeira de rodas e mais árvores para o bairro.
Bairro da Terceira Idade em obras para receber novos moradores
O denominado Bairro da Terceira Idade, assim se chama o PER de Salvaterra de Magos, encontra-se em obras em algumas das suas casas. É habitado quase na totalidade por cidadãos com idade mais avançada e com carências económicas. A vereadora da Ação Social no município, Helena Neves, refere que tem sido efetuada uma intervenção profunda, com a recuperação da rede de esgotos, passando pelas próprias casas, pavimentos, e arranjos exteriores. Por outro lado, também se alterou o regulamento do bairro com a possibilidade de cidadãos mais jovens, em situação de carência, poderem aceder à habitação.
Noel Caneira, vereador das Obras Municipais, refere que está a ser feita uma separação a nível do encaminhamento dos esgotos em grande parte das casas do bairro. As casas que não estão habitadas no bairro estão a sofrer reparações a nível dos azulejos, e casa de banho, com colocação de barras para pessoas com mobilidade reduzida. Doze casas foram reparadas desde 2014, e quatro dessas já foram entregues. Sempre que alguma casa fica vaga, a autarquia começa por demolir os quintais, muitos deles com anexos construídos ilegalmente em tempos, como galinheiros. “Dão um aspeto um pouco miserável ao bairro”, diz Noel Caneira, “Temos tentado acabar com isso para dar uma outra dignidade”, acrescenta Helena Neves.
Todas as casas são de tipologia T1, pelo que albergam na sua maioria idosos que vivem sozinhos e um ou outro casal. (Investimento em novas tipologias de habitação com a construção de novas casas é algo que para já não está no horizonte). Sendo assim as relações de vizinhança são mais importantes. Encontramos Josefina Maia, de 57 anos, que veio para o bairro em janeiro. É abrangida pelo Rendimento Social de Inserção e já há algum tempo que aguardava por uma casa no bairro social. Antes vivia na Rua Padre Cruz em Salvaterra. Para si, a casa não podia ser melhor. Também a sua habitação foi antes alvo de intervenção. Gosta da vizinha Jaiminda Verde, 63 anos, com quem todos os dias vai dar as suas caminhadas acompanhadas pelos cães. No caso de Jaiminda veio para o bairro há 12 anos e foi “a melhor coisa” que lhe aconteceu. “Nunca tive uma casa que fosse minha e faço de conta que esta o é. Antes vivia na casa da minha sogra”. “Gosto muito de aqui estar. Dou-me bem com toda a gente”. Normalmente diz que não pede nada junto da Câmara para si. Apenas no outro dia disse ao vereador Noel Caneira para arranjar uma rampa para um cidadão que anda de cadeira de rodas e mais árvores para o bairro.
No bairro vivem alguns homens sozinhos, que já não conseguem arranjar trabalho, e algumas situações ainda mais delicadas. A vereadora da Ação Social refere que existe um trabalho de acompanhamento por parte dos serviços da Câmara. “São pessoas. Algumas sem suporte familiar e que não têm possibilidades de viver noutro lado. Desenvolvemos várias atividades. Numa das ocasiões organizámos uma festinha com elas no sentido de incentivar o espírito de cooperação e vizinhança”. Vir ao bairro “conversar com estas pessoas frequentemente é das melhores coisas que podemos fazer, porque elas precisam, para não se sentirem tão sozinhas”.
Bairro de S. José e o caso da família acumuladora
Cátia Travessa vive com a avó no Bairro de S. José. Paredes meias com o Bairro da 3ª Idade, tem sido falado nos últimos anos tendo em conta o caso de uma família acumuladora. Apesar de várias ações da autarquia de limpeza da casa, o cenário teimou em repetir-se ao longo dos anos, desde 2001. Cátia e a avó sofreram na pele com o caso, com os maus cheiros e a proliferação de animais (pombos, ratos, baratas) devido à acumulação de lixos e resíduos de todo o tipo. “Havia dias em que não conseguíamos sequer abrir uma janela”, refere.
A população do bairro que pertence à paróquia organizou-se e através de um abaixo-assinado exigiu que se fizesse algo. A família acumuladora composta por mãe e filho, sendo que este sofre de problemas psiquiátricos, chegou a estar institucionalizada durante um ano mas regressou “e o caso piorou ainda mais” com todo o cenário idêntico a outras ocasiões. “É cíclico: a Câmara limpa e eles voltam a acumular”. Para Cátia Travessa estamos perante não apenas “um caso de saúde pública mas também psiquiátrico”. “Ao fazermos este abaixo-assinado pensámos não só na nossa saúde mas também na deles, porque imagino que não estivessem nada bem a viverem como acumuladores”.
Nesta altura, e segundo refere a vereadora Helena Neves, a família encontra-se institucionalizada. Ao que tudo indica, a mãe e o filho estão estáveis, e aparentemente não têm levantado problemas. Numa situação ideal e tendo em conta todos os contornos antigos o desejável, para os vários atores envolvidos, seria a sua permanência na instituição.
Ainda no Bairro S. José, a moradora refere que a exclusão social vai-se sentindo. Na sua opinião podiam ser efetuadas diversas atividades para esta população. Embora reconheça que a intervenção nos passeios e no estacionamento e a criação de uma pequena área de lazer central no interior do bairro por parte da autarquia tenha sido benéfica. Mas há mais por fazer como no pequeno caminho de terra batida de acesso à praça percorrido em parte por idosos que se transforma num “autêntico lamaçal sempre que chove”. “É um inferno”, consubstancia. A população do bairro queixa-se ainda de uma serração, foco de poluição sonora e da emissão de poeiras.
O vereador Noel Caneira diz que está prevista uma intervenção no caminho de acesso à praça no interior do bairro junto à serração. Referindo ainda que está a decorrer uma intervenção nos pavimentos neste bairro, com a substituição da antiga betonilha existente há décadas até à Padre Cruz.
Bairro de S. José e o caso da família acumuladora
Cátia Travessa vive com a avó no Bairro de S. José. Paredes meias com o Bairro da 3ª Idade, tem sido falado nos últimos anos tendo em conta o caso de uma família acumuladora. Apesar de várias ações da autarquia de limpeza da casa, o cenário teimou em repetir-se ao longo dos anos, desde 2001. Cátia e a avó sofreram na pele com o caso, com os maus cheiros e a proliferação de animais (pombos, ratos, baratas) devido à acumulação de lixos e resíduos de todo o tipo. “Havia dias em que não conseguíamos sequer abrir uma janela”, refere.
A população do bairro que pertence à paróquia organizou-se e através de um abaixo-assinado exigiu que se fizesse algo. A família acumuladora composta por mãe e filho, sendo que este sofre de problemas psiquiátricos, chegou a estar institucionalizada durante um ano mas regressou “e o caso piorou ainda mais” com todo o cenário idêntico a outras ocasiões. “É cíclico: a Câmara limpa e eles voltam a acumular”. Para Cátia Travessa estamos perante não apenas “um caso de saúde pública mas também psiquiátrico”. “Ao fazermos este abaixo-assinado pensámos não só na nossa saúde mas também na deles, porque imagino que não estivessem nada bem a viverem como acumuladores”.
Nesta altura, e segundo refere a vereadora Helena Neves, a família encontra-se institucionalizada. Ao que tudo indica, a mãe e o filho estão estáveis, e aparentemente não têm levantado problemas. Numa situação ideal e tendo em conta todos os contornos antigos o desejável, para os vários atores envolvidos, seria a sua permanência na instituição.
Ainda no Bairro S. José, a moradora refere que a exclusão social vai-se sentindo. Na sua opinião podiam ser efetuadas diversas atividades para esta população. Embora reconheça que a intervenção nos passeios e no estacionamento e a criação de uma pequena área de lazer central no interior do bairro por parte da autarquia tenha sido benéfica. Mas há mais por fazer como no pequeno caminho de terra batida de acesso à praça percorrido em parte por idosos que se transforma num “autêntico lamaçal sempre que chove”. “É um inferno”, consubstancia. A população do bairro queixa-se ainda de uma serração, foco de poluição sonora e da emissão de poeiras.
O vereador Noel Caneira diz que está prevista uma intervenção no caminho de acesso à praça no interior do bairro junto à serração. Referindo ainda que está a decorrer uma intervenção nos pavimentos neste bairro, com a substituição da antiga betonilha existente há décadas até à Padre Cruz.
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