Escola de Música de Salvaterra sonha com recuperação total do edifício
Obras no antigo quartel dos bombeiros
Sílvia Agostinho
06-05-2016 às 18:26 A Associação Cultural e Musical de Salvaterra de Magos procura dar uma nova cara e melhores condições às suas atuais instalações – o antigo quartel dos Bombeiros Voluntários de Salvaterra. A associação conseguiu obter um apoio da Câmara no valor de três mil euros, mais mil euros da junta de freguesia de Foros/Salvaterra para as obras. Os bombeiros assumem ainda um encargo também no valor de três mil euros.
A Associação Cultural e Musical de Salvaterra surgiu em 2011, após se ter desvinculado enquanto banda dos bombeiros locais, e sonha com a recuperação total do antigo quartel para já impossível. O primeiro andar do antigo edifício que carecia de algumas pinturas e reformulações está a ser alvo de diversas intervenções. No rés-do-chão ficará o museu da corporação salvaterrense. Hernâni Damásio, vogal da associação, passa em revista a história da banda que pertenceu aos bombeiros mas que nem sempre foi bem acarinhada pelos soldados da paz como faz questão de frisar, “talvez porque muitos bombeiros fossem na altura analfabetos, ao contrário dos músicos, e esse estigma atravessou gerações”. Nas paredes da maior sala de ensaio podemos observar fotografias de antepassados da banda que marcaram a sua história. Tudo começou com “Os Persistentes” numa espécie de “jazz band” com “José Luís Borrego, e José Miguel Travessa”. “Estávamos no longínquo ano de 1935, quando os jovens em questão decidiram fundar a ‘Banda dos Rapazes’ que depois originou o Grupo Musical Salvaterrense. Justiniano Ferreira, era presidente dos bombeiros, e convidou o grupo para se juntar à corporação”, relata. A relação entre a banda e os bombeiros duraria até 2011. No ano de 2006, os bombeiros mudaram-se de armas e bagagens para as novas instalações junto à nacional 114-3, e “ a banda ficou aqui porque se calhar acharam que não cabíamos lá ou não fazia sentido lá estarmos”; relembra, evocando ainda a história de um antigo comandante distrital, Joaquim Chambel, que “queria acabar com as bandas nos corpos de bombeiros”. “Criámos na altura bandeiras, estandartes e emblemas para a banda a pensar nessa possibilidade, mas depois lá nos disseram que não havia necessidade de nos autonomizarmos”. Não obstante, a banda gastara à volta de 300 euros a pensar no pior. “Dinheiro que não tínhamos”; frisa para reforçar a dificuldade que teve para fazer face a esse quadro. Hernâni Damásio recebeu a solidariedade de Carlos Leonel que estava na direção dos bombeiros, e continuou. A ruptura quando se deu há cinco anos atrás deveu-se “à descapitalização por completo dos nossos fundos”. “O presidente da corporação não conseguia pagar os ordenados aos bombeiros, e num dia em que fui à contabilidade para pedir os ordenados dos professores da banda, informaram-me que as verbas tinham ido para os salários dos efetivos, e para material das ambulâncias”. Os montantes para pagar salários aos professores “eram provenientes das mensalidades dos alunos, e se eu não lhes pagasse iam-se embora no mês seguinte”, acentua. Para piorar o quadro, os bombeiros “na altura em que começaram a sentir dificuldades e a desviar dinheiro ficaram ainda com os apoios da Câmara que contemplavam também a banda”. Rapidamente, a banda desvinculou-se dos bombeiros, “até porque ficou provado que nunca existira investimento da corporação ou de algum dos seus presidentes na academia, logo o património pertencia-nos em exclusivo”, adianta o responsável. Hoje ao olhar para trás não lamenta a saída da esfera dos bombeiros: “Ficaria mais triste se tivesse de abandonar este edifício”, afiança. Conta que a antiga presidente da autarquia, Ana Cristina Ribeiro ainda lhe sugeriu o edifício da antiga escola primária do parque, “mas tal acabou por não acontecer”. Durante a campanha eleitoral, o atual presidente do município, Hélder Esménio, prometeu- lhe ajuda para recuperar o edifício antigo, “e assim foi”. “. Eu tinha apresentado uma proposta no valor de 11 mil euros para pinturas, e arranjo dos tetos, e casas de banho. Era o orçamento mais baixo. A Câmara conseguiu arranjar quatro mil euros”. Depois de deitar mãos à obra, a associação percebeu que os estragos provocados pelo passar do tempo, tinham sido mais profundos. “Fomos dar com barrotes podres, ripas e telhas partidas”. O reboco entretanto ficou a cargo dos bombeiros (que ficaram segundo o protocolo com o edifício a seu cargo no que respeita à sua manutenção) no valor de três mil euros com a colocação das letras que identificavam o edifício na frontaria do mesmo. A junta de Salvaterra adianta uma verba de 1100 euros. Para ilustrar a falta de condições do prédio, inaugurado em 1939, Hernâni Damásio recorda que os bombeiros antes de abandonarem as antigas instalações, “chovia num dos gabinetes ao ponto de os tacos andarem a boiar”. Nos sonhos da academia estaria a recuperação integral do edifício que poderia ser levada a cabo mediante uma candidatura aos fundos estruturais, “só possível quando os bombeiros transferirem para a associação a posse do edifício, nem que seja temporariamente, mas até hoje não foi possível chegar a acordo, talvez por má vontade”, desabafa.
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