A poluição e o assoreamento não são problemas novos, mas a consciência de que o Tejo não poderá continuar a ser um eterno moribundo ligado à máquina começa a despertar. Neste trabalho ouvimos as autarquias, os ecologistas, os avieiros e outros protagonistas que lançam um grito de alerta para a necessidade de todos acordarmos para um dos mais importantes recursos ambientais do país.
Navegar no Rio Tejo entre Valada do Ribatejo e Vila Nova da Rainha não é uma tarefa fácil. Com o encerramento de dois estaleiros de extração de areias a norte de Azambuja, a navegabilidade no rio tornou-se mais difícil. O Tejo foi ficando assoreado e hoje existem locais onde, com a maré cheia, o rio não tem mais de um metro e meio de profundidade. A poluição ainda é gritante, apesar das novas etar’s terem suprimido parte do problema, e de se terem adotado boas práticas ambientais na agricultura praticada à beira rio. Mas o Tejo não deixou de ser o esgoto de alguns malfeitores.
A viagem do Valor Local começa a bordo do barco dos bombeiros de Azambuja, numa reportagem, onde tentamos perceber quais as dificuldades impostas pelo assoreamento e a poluição, e o que sobra das possibilidades turísticas e económicas associadas ao rio Tejo.
O cais do Palácio das Obras Novas, em Azambuja, já teve melhores dias. A vegetação por cortar inunda o local, e o lodo é por demais evidente. O porto serve ainda assim muitas embarcações que arriscam navegar na Vala Real.
Hélder Santos, segundo Comandante dos Bombeiros de Azambuja, e o bombeiro Fernando Coração, guiaram o Valor Local Tejo adentro. Num facto, todos parecem concordar, a paisagem é de “cortar a respiração”. Aqui e ali, o Tejo vai desvendando alguns traços da sua beleza. A fauna ribatejana é mais do que diversificada e o seu aproveitamento seria uma mais-valia, caso o barco “Vala Real” não estivesse à espera de uma grande reparação. Até lá, o tempo vai passando e a paisagem vai mudando. Dificilmente se poderia dizer que alguma vez os mouchões foram frequentados por milhares de turistas como aconteceu no passado.
Uma das preocupações são mesmo os bancos de areia que se vão acumulando aos poucos no rio e que obrigam, neste caso, os bombeiros a fazerem grandes desvios para não “encalharem” o barco. À saída da Vala, e já a entrar no Tejo, verificamos profundidades de 15 e de 12 metros. E em contraste, verificamos também através da sonda que ajuda a perceber o fundo do rio, que existem locais com metro e meio e cinco metros.
Esta é uma situação que se verificou ao longo de todo o percurso entre Vila Nova da Rainha e Valada do Ribatejo. A sonda é uma mais-valia, caso contrário qualquer embarcação facilmente pode encalhar. Todavia, os locais mais preocupantes são mesmo junto à praia da Casa Branca em Azambuja. O local que de praia, hoje, só tem, mesmo, o nome, regista profundidades onde não se consegue mais de 70 centímetros com maré cheia, o que se constitui como um risco para as embarcações maiores e para quem não conhece “as manhas” do Tejo, referiram os bombeiros. Hélder Santos assegurou mesmo que os bombeiros já tiveram de acudir a barcos encalhados no Tejo, pois o aventureirismo neste rio normalmente acaba daquela maneira.
A mesma sonda dá indicações das irregularidades do fundo do Tejo, do lixo acumulado, e dos poucos cardumes de peixe que fomos encontrando pelo caminho. Aliás, os Bombeiros de Azambuja também apontam como fatores de perigosidade as constantes redes de pesca colocadas no rio. A maioria são ilegais e apenas sinalizadas por garrafões azuis ou brancos, e nunca por bóias, como deveria ser o caso.
Outra das dificuldades prende-se com a má visibilidade no rio Tejo. As águas são turvas e no caso de um salvamento, as dificuldades são evidentes. Ainda assim, os Bombeiros de Azambuja querem reativar o núcleo de mergulho. Para já, o mesmo contra com três elementos, o comandante do corpo de bombeiros, Armando Baptista, Hélder Santos, o segundo comandante, e o bombeiro Fernando Coração
O rio está subaproveitado por todos os motivos explanados, e para além disso poucos são os locais no que respeita ao concelho de Azambuja que dão acesso ao rio. A única exceção é o “Porto da Palha” na aldeia avieira do Lezirão, que ainda recentemente recebeu o Cruzeiro do Tejo.
Na memória, ficam as constantes viagens do Barco Vala Real, que há meia dúzia de anos, percorria o Tejo com os turistas nacionais e estrangeiros. Os dias de hoje são de resto uma miragem do passado. Apenas alguns barcos turísticos se vão atrevendo a mostrar o que resta da beleza selvagem aos turistas, com saídas de Valada, no Cartaxo, ou de Salvaterra, na aldeia do Escaroupim. Nesta reportagem, e com o Tejo em evidência, a Praia Doce de Salvaterra de Magos foi uma agradável surpresa. Dezenas de pessoas aproveitavam o fim de tarde de um dia de semana para se banharem no rio.
“O meu sonho é ir à Feira de Maio de Azambuja de barco”
Para os avieiros da aldeia do Porto da Palha, no concelho de Azambuja, a nostalgia fala mais alto, e as memórias de quando o rio era um gigante saudável que abraçava e dava sustento a todas as comunidades ribeirinhas fazem denotar um misto de emoção e de algum desgosto pelo atual estado de coisas. E se o esteiro de Azambuja se tornasse navegável, “era mais uma estrada que tínhamos para ir à vila buscar mantimentos e para mostrar aos turistas a bonita Vala Real”, é assim que fala o avieiro João Lobo. “Era um espetáculo ir de barco com alguns turistas às festas de Azambuja, era um grande orgulho para todos nós. A mágoa de não termos isso é muito grande, até porque isso na vala de Salvaterra é possível. ” |
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João Lobo, avieiro com 56 anos de idade, viveu até aos 12 anos na aldeia vizinha da Palhota, e depois mudou-se para o Porto da Palha onde viveu a sua juventude. Apesar de denotar que o Tejo se encontra catastrófico para cima de Santarém, mais a sul houve melhorias a partir do momento em que os municípios adotaram as denominadas estações de tratamento de águas residuais, e se atacou a poluição no Alviela e no Trancão. Pesca-se mais, e faz-se algum negócio com a venda de peixe, “pois o sável voltou 20 anos depois”, mas podia estar melhor.
As descargas poluidoras da central de Almaraz às portas da localidade raiana de Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, e os transvases do Tejo, têm estado na agenda dos vários intervenientes dos grupos ecologistas e começa agora a ser objeto de atenção por parte dos partidos políticos. Mas outras indústrias ao longo do rio também se constituem como um foco de poluição. “Quando isso acontece pescamos lixo. Não sei se é originada pelos espanhóis, se pelos portugueses”, diz, por seu turno, o avieiro Emílio Lobo. Este é um cenário que se tem vindo a repetir nos últimos 10 anos. “Parecem borras de café!”.
Quando o negrume de mais uma descarga poluente invade o rio, assiste-se a todo um cenário de pesadelo – “Mais parece que estamos a navegar no meio de uma massa, tal a espessura das águas que invade os nossos oleados. Quando chegamos à aldeia temos de lavar as nossas redes empapadas de sujidade com as mangueiras”, diz João Lobo.
As autoridades vêm recolher água para as análises, mas Emídio Lobo acrescenta que se olha para a realidade em causa como “um facto consumado”. A Agência Portuguesa do Ambiente “está mais interessada em passar multas sempre que temos a tentação de intervir nas margens”. Neste caso, mostrou-nos um ponto da aldeia que está literalmente “preso por arames” para que um dos pequenos pontos de ancoragem dos barcos não desapareça.
Tendo em conta que os transvases espanhóis podem ser um dos principais motivos dos desníveis de caudais verificados no rio, João Lobo diz que “há dias em Alpiarça onde se pode atravessar as duas margens de carro ou de trator”. E dentro de seis a sete anos, a pesca poderá ficar seriamente comprometida.
“As pessoas comem, hoje, mais peixe do que antigamente. A lampreia do Tejo tem muita qualidade bem como o sável. Há mais pescadores, mas com as descargas de poluição destrói-se tudo, principalmente quando ocorrem durante a pesca sazonal. Uma coisa destas no século XXI é uma tristeza. Este rio merecia mais e podia dar ainda mais riqueza a todos até em postos de trabalho, com a vinda de jovens para a pesca no rio”, constata João Lobo que trabalha com vários revendedores.
As descargas poluidoras da central de Almaraz às portas da localidade raiana de Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, e os transvases do Tejo, têm estado na agenda dos vários intervenientes dos grupos ecologistas e começa agora a ser objeto de atenção por parte dos partidos políticos. Mas outras indústrias ao longo do rio também se constituem como um foco de poluição. “Quando isso acontece pescamos lixo. Não sei se é originada pelos espanhóis, se pelos portugueses”, diz, por seu turno, o avieiro Emílio Lobo. Este é um cenário que se tem vindo a repetir nos últimos 10 anos. “Parecem borras de café!”.
Quando o negrume de mais uma descarga poluente invade o rio, assiste-se a todo um cenário de pesadelo – “Mais parece que estamos a navegar no meio de uma massa, tal a espessura das águas que invade os nossos oleados. Quando chegamos à aldeia temos de lavar as nossas redes empapadas de sujidade com as mangueiras”, diz João Lobo.
As autoridades vêm recolher água para as análises, mas Emídio Lobo acrescenta que se olha para a realidade em causa como “um facto consumado”. A Agência Portuguesa do Ambiente “está mais interessada em passar multas sempre que temos a tentação de intervir nas margens”. Neste caso, mostrou-nos um ponto da aldeia que está literalmente “preso por arames” para que um dos pequenos pontos de ancoragem dos barcos não desapareça.
Tendo em conta que os transvases espanhóis podem ser um dos principais motivos dos desníveis de caudais verificados no rio, João Lobo diz que “há dias em Alpiarça onde se pode atravessar as duas margens de carro ou de trator”. E dentro de seis a sete anos, a pesca poderá ficar seriamente comprometida.
“As pessoas comem, hoje, mais peixe do que antigamente. A lampreia do Tejo tem muita qualidade bem como o sável. Há mais pescadores, mas com as descargas de poluição destrói-se tudo, principalmente quando ocorrem durante a pesca sazonal. Uma coisa destas no século XXI é uma tristeza. Este rio merecia mais e podia dar ainda mais riqueza a todos até em postos de trabalho, com a vinda de jovens para a pesca no rio”, constata João Lobo que trabalha com vários revendedores.
Há vontade dos municípios em estarem mais perto do Rio
A autarquia de Salvaterra de Magos decidiu assumir a tarefa que parecia impossível de devolver um pouco da Praia Doce aos salvaterrenses. As ações de limpeza tiveram lugar, as margens foram restabelecidas com areia, e o Tejo minimamente limpo até uma distância aceitável da praia. Por tudo isto, muitos têm sido os habitantes do concelho que em finais de tarde ou ao fim de semana decidiram acolher o local como uma espécie de hot spot inesperado do momento no concelho. O Valor Local comprovou numa sexta-feira ao fim da tarde que algumas dezenas de pessoas descansavam no novo areal do concelho. O presidente da Câmara, Hélder Esménio, afirma-se “bastante surpreendido com a adesão.”
Na valorização do Tejo, a autarquia tem vindo a encetar algumas obras como a recuperação da escola primária que está na entrada da aldeia avieira com a sua ampliação e a futura criação no espaço de um museu do rio, bem como a construção de sanitários públicos no Escaroupim, “pois recebemos centenas de pessoas todas as semanas”. A autarquia limpou os valados até à boca da Vala com “um apontamento muito especial no Bico da Goiva que tem correspondido às expetativas da população, onde a paisagem é lindíssima e que se encontrava inacessível há várias décadas” O autarca salienta que “não andou a desmatar as margens mas a cuidar, nomeadamente, na Pinheiroca, mas sobretudo na Praia Doce”. Muito frequentada há décadas atrás quando a população não tinha posses para ir às praias marítimas.
O leito do rio foi limpo onde as profundidades são baixas, com a colaboração dos bombeiros, que também estão a vigiar o espaço. Embora ressalve que foi colocada uma placa a indicar que “a zona não é vigiada”. A ideia de intervir no espaço era somente para o devolver aos pescadores, mas entretanto os entusiastas dos piqueniques foram pedindo para que a praia fosse recuperada, e assim foi.
Nesta praia estão a ser recuperados sanitários, e foi colocado um parque de merendas. Será criado ainda um palco para pequenos acontecimentos culturais que possam animar o local. A Câmara tem também um funcionário na praia de modo a se evitar “possíveis vandalismos”.
A autarquia de Salvaterra de Magos decidiu assumir a tarefa que parecia impossível de devolver um pouco da Praia Doce aos salvaterrenses. As ações de limpeza tiveram lugar, as margens foram restabelecidas com areia, e o Tejo minimamente limpo até uma distância aceitável da praia. Por tudo isto, muitos têm sido os habitantes do concelho que em finais de tarde ou ao fim de semana decidiram acolher o local como uma espécie de hot spot inesperado do momento no concelho. O Valor Local comprovou numa sexta-feira ao fim da tarde que algumas dezenas de pessoas descansavam no novo areal do concelho. O presidente da Câmara, Hélder Esménio, afirma-se “bastante surpreendido com a adesão.”
Na valorização do Tejo, a autarquia tem vindo a encetar algumas obras como a recuperação da escola primária que está na entrada da aldeia avieira com a sua ampliação e a futura criação no espaço de um museu do rio, bem como a construção de sanitários públicos no Escaroupim, “pois recebemos centenas de pessoas todas as semanas”. A autarquia limpou os valados até à boca da Vala com “um apontamento muito especial no Bico da Goiva que tem correspondido às expetativas da população, onde a paisagem é lindíssima e que se encontrava inacessível há várias décadas” O autarca salienta que “não andou a desmatar as margens mas a cuidar, nomeadamente, na Pinheiroca, mas sobretudo na Praia Doce”. Muito frequentada há décadas atrás quando a população não tinha posses para ir às praias marítimas.
O leito do rio foi limpo onde as profundidades são baixas, com a colaboração dos bombeiros, que também estão a vigiar o espaço. Embora ressalve que foi colocada uma placa a indicar que “a zona não é vigiada”. A ideia de intervir no espaço era somente para o devolver aos pescadores, mas entretanto os entusiastas dos piqueniques foram pedindo para que a praia fosse recuperada, e assim foi.
Nesta praia estão a ser recuperados sanitários, e foi colocado um parque de merendas. Será criado ainda um palco para pequenos acontecimentos culturais que possam animar o local. A Câmara tem também um funcionário na praia de modo a se evitar “possíveis vandalismos”.
No que toca ao concelho de Vila Franca de Xira, a autarquia tem tentado tirar o maior partido possível do barco Varino “Liberdade” que várias vezes por semana faz viagens entre Valada e o Parque das Nações. Alberto Mesquita, presidente da autarquia, refere que o barco foi adquirido pela autarquia em 1988, depois de um período em que esteve inativo.
As visitas dão para se contemplar as aves, os mouchões, e “toda a beleza do Tejo”. O barco constitui-se como um núcleo museológico e em 2014, “foi um dos melhores anos em passeios, cerca de 100”. Até aos 12 anos, não se paga bilhete, nas outras idades o preço é de seis euros, com valores especiais para grupos. O varino tem capacidade para 40 pessoas. Manter esta embarcação custa “milhares de euros” em manutenções por ano, refere o presidente do município.
A autarquia gostaria de ver o Tejo navegável de novo do ponto de vista económico, e espera que os Governos possam olhar para essa necessidade. “O assoreamento é um problema complicado não só para a náutica de recreio mas também para o transporte de mercadorias que está esquecido, e que economicamente seria essencial, pois as nossas vias estão saturadas de trânsito de veículos pesados”, assegura. “O secretário de Estado dos Transportes mostrou interesse, desassorear o rio é difícil mas é um trabalho que está a ser feito, e nos próprios queremos desassorear as marinas de Vila Franca e de Alhandra”. Uma tarefa muito vasta “que tem esbarrado em alguma burocracia e é difícil não esmorecermos”, confessa e sentencia – “São obras de muitos anos mas penso que há uma intenção clara de se começar a olhar para o rio. Temos de prosseguir o caminho de limpeza do Tejo começado com a construção das etar’s. Estou expectante para que o Tejo esteja na agenda política no futuro, porque para norte em Abrantes ou Santarém vivem-se situações muito críticas”.
A autarquia que criou um passeio ribeirinho que atravessa várias freguesias do concelho prepara-se agora para em concertação com Alenquer ligar a Vala do Carregado ao concelho vizinho, “e para isso vamos fazer uma candidatura intermunicipal, e queremos ligar também a Póvoa de Santa Iria ao Parque das Nações”. “Estamos a trabalhar em conjunto com os técnicos de Alenquer, Loures e Lisboa”.
No território do município de Azambuja, a Câmara espera vir a concretizar uma limpeza na vala do esteiro, tendo efetuado uma candidatura aos fundos europeus nesse sentido. O desejo é que esta vala se torne navegável nas horas de maré cheia através do barco ”Vala Real” que em tempos fez essas mesmas viagens. O projeto tem um orçamento que varia entre os 300 mil e os 400 mil euros com financiamento em 80 por cento da União Europeia.
Na envolvente ao palácio e na denominada Casa Branca, não há projetos para algo mais profundo, a Câmara pensa apenas em fazer “uma limpeza dos locais”. Luís de Sousa lamenta que o concessionário que chegou a explorar a Praia do Tejo não tenha tido a melhor sorte e que o edifício tenha sido vandalizado entretanto. “ A Câmara deveria ter pagado a alguém para tomar conta do espaço”. O autarca é definitivo – “Não há projetos para já, não quer dizer que um dia com disponibilidade financeira não haja de novo”. O presidente da Câmara também não tem informação acerca de um estaleiro inativo na fronteira entre os concelhos de Azambuja e Cartaxo.
O Valor Local também enviou um conjunto de questões ao município do Cartaxo mas não obtivemos resposta até o fecho desta edição.
As visitas dão para se contemplar as aves, os mouchões, e “toda a beleza do Tejo”. O barco constitui-se como um núcleo museológico e em 2014, “foi um dos melhores anos em passeios, cerca de 100”. Até aos 12 anos, não se paga bilhete, nas outras idades o preço é de seis euros, com valores especiais para grupos. O varino tem capacidade para 40 pessoas. Manter esta embarcação custa “milhares de euros” em manutenções por ano, refere o presidente do município.
A autarquia gostaria de ver o Tejo navegável de novo do ponto de vista económico, e espera que os Governos possam olhar para essa necessidade. “O assoreamento é um problema complicado não só para a náutica de recreio mas também para o transporte de mercadorias que está esquecido, e que economicamente seria essencial, pois as nossas vias estão saturadas de trânsito de veículos pesados”, assegura. “O secretário de Estado dos Transportes mostrou interesse, desassorear o rio é difícil mas é um trabalho que está a ser feito, e nos próprios queremos desassorear as marinas de Vila Franca e de Alhandra”. Uma tarefa muito vasta “que tem esbarrado em alguma burocracia e é difícil não esmorecermos”, confessa e sentencia – “São obras de muitos anos mas penso que há uma intenção clara de se começar a olhar para o rio. Temos de prosseguir o caminho de limpeza do Tejo começado com a construção das etar’s. Estou expectante para que o Tejo esteja na agenda política no futuro, porque para norte em Abrantes ou Santarém vivem-se situações muito críticas”.
A autarquia que criou um passeio ribeirinho que atravessa várias freguesias do concelho prepara-se agora para em concertação com Alenquer ligar a Vala do Carregado ao concelho vizinho, “e para isso vamos fazer uma candidatura intermunicipal, e queremos ligar também a Póvoa de Santa Iria ao Parque das Nações”. “Estamos a trabalhar em conjunto com os técnicos de Alenquer, Loures e Lisboa”.
No território do município de Azambuja, a Câmara espera vir a concretizar uma limpeza na vala do esteiro, tendo efetuado uma candidatura aos fundos europeus nesse sentido. O desejo é que esta vala se torne navegável nas horas de maré cheia através do barco ”Vala Real” que em tempos fez essas mesmas viagens. O projeto tem um orçamento que varia entre os 300 mil e os 400 mil euros com financiamento em 80 por cento da União Europeia.
Na envolvente ao palácio e na denominada Casa Branca, não há projetos para algo mais profundo, a Câmara pensa apenas em fazer “uma limpeza dos locais”. Luís de Sousa lamenta que o concessionário que chegou a explorar a Praia do Tejo não tenha tido a melhor sorte e que o edifício tenha sido vandalizado entretanto. “ A Câmara deveria ter pagado a alguém para tomar conta do espaço”. O autarca é definitivo – “Não há projetos para já, não quer dizer que um dia com disponibilidade financeira não haja de novo”. O presidente da Câmara também não tem informação acerca de um estaleiro inativo na fronteira entre os concelhos de Azambuja e Cartaxo.
O Valor Local também enviou um conjunto de questões ao município do Cartaxo mas não obtivemos resposta até o fecho desta edição.
O Tejo e os avieiros: um manancial
turístico por descobrir
Desde que esta comunidade ribeirinha se começou a abrir mais ao exterior que frequentemente os turistas fazem escala por umas horas nas aldeias avieiras do Tejo para conhecer os seus costumes e para apreciar uma refeição em que o peixe é o artista principal. Assim acontece em Azambuja, no Cartaxo e noutras rio acima. João Serrano é um dos rostos da candidatura avieira a património imaterial nacional, um processo já longo, cujo dossier foi recentemente remetido à Direção Geral do Património Cultural; e que pode dar um impulso importante ao turismo ribeirinho. “Vamos aguardar com serenidade”. A decisão deve acontecer ainda durante este ano.
A poluição no Tejo é também uma preocupação para esta candidatura, “pois prejudica não só as comunidades ribeirinhas, e da Lezíria, mas também a economia do próprio país”. “Os avieiros estão disponíveis para de uma forma prática ajudarem as entidades competentes, nada está perdido”. João Serrano também corrobora as declarações dos avieiros do Porto da Palha que enfrentam jorros de poluição no Tejo. “Cheguei a testemunhar no início de maio no Cruzeiro do Tejo um cheiro de tal forma nauseabundo na zona da barragem do Fratel (no limite entre o distrito de Castelo Branco e o distrito de Portalegre) como se naquele local laborassem pocilgas, o que não acontece. Os próprios funcionários da barragem afirmaram que tiveram de abrir as janelas para fazer corrente de ar porque não suportavam o cheiro nauseabundo do Tejo”.
A degradação deste ecossistema deixa mais longe por consequência o sonho turístico para o Tejo. A candidatura avieira lamenta ainda que as verbas que estavam destinadas ao projeto submetido ao Provere, braço dos fundos europeus para valorização dos recursos endógenos, tenham sido transportadas para outros projetos. “Andámos a trabalhar e ninguém nos disse nada, tudo isto foi posto de parte. Lutámos tanto pelos projetos e não fomos avisados”. Este projeto previa, entre outros a recuperação das aldeias avieiras do Tejo. João Serrano sustenta que nem tudo é negativo pois o apoio das Câmaras é “mais proactivo do que anteriormente”. “Entendem claramente que a valorização das aldeias pode significar mais riqueza, e isso está patente no delinear de projetos por parte das comunidades intermunicipais da Lezíria e do Médio Tejo. No meio de tanta depressão, há otimismo e razões para acreditar”.
Desde que esta comunidade ribeirinha se começou a abrir mais ao exterior que frequentemente os turistas fazem escala por umas horas nas aldeias avieiras do Tejo para conhecer os seus costumes e para apreciar uma refeição em que o peixe é o artista principal. Assim acontece em Azambuja, no Cartaxo e noutras rio acima. João Serrano é um dos rostos da candidatura avieira a património imaterial nacional, um processo já longo, cujo dossier foi recentemente remetido à Direção Geral do Património Cultural; e que pode dar um impulso importante ao turismo ribeirinho. “Vamos aguardar com serenidade”. A decisão deve acontecer ainda durante este ano.
A poluição no Tejo é também uma preocupação para esta candidatura, “pois prejudica não só as comunidades ribeirinhas, e da Lezíria, mas também a economia do próprio país”. “Os avieiros estão disponíveis para de uma forma prática ajudarem as entidades competentes, nada está perdido”. João Serrano também corrobora as declarações dos avieiros do Porto da Palha que enfrentam jorros de poluição no Tejo. “Cheguei a testemunhar no início de maio no Cruzeiro do Tejo um cheiro de tal forma nauseabundo na zona da barragem do Fratel (no limite entre o distrito de Castelo Branco e o distrito de Portalegre) como se naquele local laborassem pocilgas, o que não acontece. Os próprios funcionários da barragem afirmaram que tiveram de abrir as janelas para fazer corrente de ar porque não suportavam o cheiro nauseabundo do Tejo”.
A degradação deste ecossistema deixa mais longe por consequência o sonho turístico para o Tejo. A candidatura avieira lamenta ainda que as verbas que estavam destinadas ao projeto submetido ao Provere, braço dos fundos europeus para valorização dos recursos endógenos, tenham sido transportadas para outros projetos. “Andámos a trabalhar e ninguém nos disse nada, tudo isto foi posto de parte. Lutámos tanto pelos projetos e não fomos avisados”. Este projeto previa, entre outros a recuperação das aldeias avieiras do Tejo. João Serrano sustenta que nem tudo é negativo pois o apoio das Câmaras é “mais proactivo do que anteriormente”. “Entendem claramente que a valorização das aldeias pode significar mais riqueza, e isso está patente no delinear de projetos por parte das comunidades intermunicipais da Lezíria e do Médio Tejo. No meio de tanta depressão, há otimismo e razões para acreditar”.
A Luta dos ambientalistas:
Chegar ao Comissário Europeu do Ambiente
Em breve todas as organizações ambientalistas ao longo do Tejo vão definir ações futuras em defesa do rio, até porque “nos últimos dois meses” este curso de água tem sofrido mais do que nunca com “as fábricas”. “Isso é mais evidente agora porque os caudais são menores”, refere Manuel João Sá do Movimento Ecologista de Vale de Santarém, que com o Movimento Ar Puro (Rio Maior) e a Eco-Cartaxo se uniram em defesa do Rio Maior/Vala Real, um dos afluentes do Tejo. A ida conjunta de vários movimentos às instâncias europeias deverá ser o próximo passo, face à inércia reinante.
“O Tejo está transformado numa autêntica desgraça, é um esgoto a céu aberto, e isto não pode continuar assim”, defende o ecologista que centra atenções na Central de Almaraz que “tem graves problemas”, e esse assunto “não é só de Portugal, mas também de Espanha, e de todos os movimentos ecologistas dos dois países”. Mas igualmente preocupante é a laboração de “suiniculturas e outras indústrias que funcionam à margem da legalidade no nosso país”.
Manuel João Sá coloca mesmo o acento tónico na união de esforços – “As associações ambientalistas dos dois países já não puxam cada uma a brasa à sua sardinha, olham para o Tejo como um todo.”
No contacto com as populações ribeirinhas, o sentimento é de “abandono e de tristeza”. “As pessoas sentem-se incapazes de fazerem as suas vidas de outrora. Significa a morte de atividades”. Longe vai também a memória de quando “bebia a água do Tejo que hoje está negra”. “Pescava, tomava banho e hoje essa é uma realidade impossível”.
Por esta ordem de razões, “temos de encarar a colocação desta questão à União Europeia, ao comissário do ambiente, e deputados portugueses na Europa dada a evidência e a gravidade do caso. Temos de por a questão ao nível mais elevado que conseguirmos. Vivemos uma situação de calamidade pública no Tejo”.
Regularização dos caudais cada vez mais longínqua
O Movimento Pró-Tejo, uma plataforma que integra várias associações ambientalistas, constata que a grande questão se prende com a inexistência de caudais ecológicos nos dois países de acordo com parâmetros científicos (indicadores físico-químicos, biológicos, hidromorfológicos). E a regularização dos caudais ecológicos não será feita nos tempos mais próximos já que o Plano de Gestão da Bacia Hidrográfica do Tejo 2015-2021, em fase de participação pública, não os contempla. Algo que entra em dissonância com o preconizado pela União Europeia (UE) através da diretiva quadro da água. “Se Portugal fizesse o estudo científico para os caudais ecológicos, teria outra margem de argumentação sempre que se queixasse à UE do incumprimento espanhol”, refere Paulo Constantino daquele movimento.
Vai continuar a vigorar a Convenção de Albufeira, onde “os caudais definidos resultaram de uma decisão política” Em termos práticos, o que tem acontecido é que Espanha abre as comportas em função das suas necessidades – ora com abundantes caudais, ora em escassez, grosso modo. Paulo Constantino dá conta que o ministério do Ambiente poucas vezes responde aos apelos lançados pela plataforma.
Na opinião do ambientalista, Portugal “tem-se sujeitado ao que Espanha quer”, porque “os caudais estão muito abaixo do desejável”. “Portugal deveria fazer estudos científicos acerca dos caudais e fazer vingar tal na Convenção de Albufeira”. Se o estado de coisas continuar assim, “a fauna e a flora do Tejo extinguir-se-ão” não só em Portugal como em Espanha. “Os caudais são retidos para fins hidroelétricos e o fator económico vai prevalecendo”, conclui.
Texto: Sílvia Agostinho/Miguel A. Rodrigues
Imagem: Nuno Filipe
02-08-2015
22:17
Chegar ao Comissário Europeu do Ambiente
Em breve todas as organizações ambientalistas ao longo do Tejo vão definir ações futuras em defesa do rio, até porque “nos últimos dois meses” este curso de água tem sofrido mais do que nunca com “as fábricas”. “Isso é mais evidente agora porque os caudais são menores”, refere Manuel João Sá do Movimento Ecologista de Vale de Santarém, que com o Movimento Ar Puro (Rio Maior) e a Eco-Cartaxo se uniram em defesa do Rio Maior/Vala Real, um dos afluentes do Tejo. A ida conjunta de vários movimentos às instâncias europeias deverá ser o próximo passo, face à inércia reinante.
“O Tejo está transformado numa autêntica desgraça, é um esgoto a céu aberto, e isto não pode continuar assim”, defende o ecologista que centra atenções na Central de Almaraz que “tem graves problemas”, e esse assunto “não é só de Portugal, mas também de Espanha, e de todos os movimentos ecologistas dos dois países”. Mas igualmente preocupante é a laboração de “suiniculturas e outras indústrias que funcionam à margem da legalidade no nosso país”.
Manuel João Sá coloca mesmo o acento tónico na união de esforços – “As associações ambientalistas dos dois países já não puxam cada uma a brasa à sua sardinha, olham para o Tejo como um todo.”
No contacto com as populações ribeirinhas, o sentimento é de “abandono e de tristeza”. “As pessoas sentem-se incapazes de fazerem as suas vidas de outrora. Significa a morte de atividades”. Longe vai também a memória de quando “bebia a água do Tejo que hoje está negra”. “Pescava, tomava banho e hoje essa é uma realidade impossível”.
Por esta ordem de razões, “temos de encarar a colocação desta questão à União Europeia, ao comissário do ambiente, e deputados portugueses na Europa dada a evidência e a gravidade do caso. Temos de por a questão ao nível mais elevado que conseguirmos. Vivemos uma situação de calamidade pública no Tejo”.
Regularização dos caudais cada vez mais longínqua
O Movimento Pró-Tejo, uma plataforma que integra várias associações ambientalistas, constata que a grande questão se prende com a inexistência de caudais ecológicos nos dois países de acordo com parâmetros científicos (indicadores físico-químicos, biológicos, hidromorfológicos). E a regularização dos caudais ecológicos não será feita nos tempos mais próximos já que o Plano de Gestão da Bacia Hidrográfica do Tejo 2015-2021, em fase de participação pública, não os contempla. Algo que entra em dissonância com o preconizado pela União Europeia (UE) através da diretiva quadro da água. “Se Portugal fizesse o estudo científico para os caudais ecológicos, teria outra margem de argumentação sempre que se queixasse à UE do incumprimento espanhol”, refere Paulo Constantino daquele movimento.
Vai continuar a vigorar a Convenção de Albufeira, onde “os caudais definidos resultaram de uma decisão política” Em termos práticos, o que tem acontecido é que Espanha abre as comportas em função das suas necessidades – ora com abundantes caudais, ora em escassez, grosso modo. Paulo Constantino dá conta que o ministério do Ambiente poucas vezes responde aos apelos lançados pela plataforma.
Na opinião do ambientalista, Portugal “tem-se sujeitado ao que Espanha quer”, porque “os caudais estão muito abaixo do desejável”. “Portugal deveria fazer estudos científicos acerca dos caudais e fazer vingar tal na Convenção de Albufeira”. Se o estado de coisas continuar assim, “a fauna e a flora do Tejo extinguir-se-ão” não só em Portugal como em Espanha. “Os caudais são retidos para fins hidroelétricos e o fator económico vai prevalecendo”, conclui.
Texto: Sílvia Agostinho/Miguel A. Rodrigues
Imagem: Nuno Filipe
02-08-2015
22:17
Comentários
Bom dia.
Entrei por aqui adentro só pra dizer duas coisas:
* Parabéns pelo vosso projecto, embora se me permitem, o template devia ser + vivo e nomeadamente com o azul.
* Visitem-me no nosso grupo Observatório Ambiental do Rio Tejo. Confirmo que o nosso Grupo se encontra a trabalhar juntamente com o Protejo, mas temos voz e intervenção livre. Ademais nós em Ortiga somos logo a porta de entrada do Rio Tejo no Distrito de Santarém. Por essa razão é que nasceu este aqui este Observatório e por isso é que detectamos diariamente qualquer alteração no Rio Tejo.
Deixo aqui o link e se quiserem trocar alguma ideia disponham. Confirmo também que não sou candidato a estas eleições e daí até ter um pouco mais de liberdade de actuação. Uma das nossas regras de intervenção é o privilégio e o respeito pelos artºs 3º e 66º da nossa Constituição, ou seja, tentaremos respeitar os que estão a desempenhar cargos ou candidatos a tal, mas não funcionamos com o respeito pelos calendários eleitorais.(no geral claro).
https://www.facebook.com/groups/685995898212441/
Cordialmente
De Mattos
Porta-Voz
Observatório Ambiental do Rio Tejo
Entrei por aqui adentro só pra dizer duas coisas:
* Parabéns pelo vosso projecto, embora se me permitem, o template devia ser + vivo e nomeadamente com o azul.
* Visitem-me no nosso grupo Observatório Ambiental do Rio Tejo. Confirmo que o nosso Grupo se encontra a trabalhar juntamente com o Protejo, mas temos voz e intervenção livre. Ademais nós em Ortiga somos logo a porta de entrada do Rio Tejo no Distrito de Santarém. Por essa razão é que nasceu este aqui este Observatório e por isso é que detectamos diariamente qualquer alteração no Rio Tejo.
Deixo aqui o link e se quiserem trocar alguma ideia disponham. Confirmo também que não sou candidato a estas eleições e daí até ter um pouco mais de liberdade de actuação. Uma das nossas regras de intervenção é o privilégio e o respeito pelos artºs 3º e 66º da nossa Constituição, ou seja, tentaremos respeitar os que estão a desempenhar cargos ou candidatos a tal, mas não funcionamos com o respeito pelos calendários eleitorais.(no geral claro).
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Cordialmente
De Mattos
Porta-Voz
Observatório Ambiental do Rio Tejo