Justina Graça
vai completar 100 anos no próximo dia 4 de Setembro. Residente no Carregado,
viveu toda a vida no concelho de Alenquer, e recentemente um grupo de vizinhos
e amigos prestaram-lhe homenagem. O Valor Local foi conhecer esta anciã que
ainda é do tempo em que não havia aviões e as revoluções da 1ª República
estavam no auge em Portugal. Justina Graça tem já uma trisneta e a filha também
viva tem 79 anos.
A sua vida foi quase igual à de tantas outras mulheres que nasceram na ruralidade, trabalhou em quase todo o tipo de trabalhos no campo, com algumas incursões em fábricas, nomeadamente, na central termo-eléctrica do Carregado e também “a dias em casa de patroas”. Com um discurso fluído, diz que “foi na fábrica que conseguiu a sua reforma”. Ainda se lembra que se reformou num dia 12 de Abril, aos 59 anos.
Na fábrica, o seu serviço consistia na limpeza e lembra-se de um grande susto que apanhou. “A água fervia a elevadas temperaturas e corríamos grandes riscos com espumas e fumos, tive muita sorte de nunca ter apanhado nenhum azar!”. No campo, fez de tudo um pouco desde cavar, ceifar, apanhar fruta “do nascer ao pôr-do-sol”. Mas o “trabalho mais rigoroso” que desempenhou, nas suas palavras, foi na apanha de arroz. “Tínhamos de andar todo o dia dentro de água, com muitos bichos pretos que nos mordiam”. Lembra-se de ganhar 20 escudos nesse trabalho, em Azambuja.
O marido já faleceu há mais de 35 anos anos, mas não consegue precisar com grande exactidão se há 38 ou 36. Tem saudades, particularmente, do “tempo em que a filha e os netos eram pequeninos”. “Tenho muitas saudades de ser nova e quando podia trabalhar. Ainda esta noite sonhei que apanhava feno”. Sobre o facto de que não vai viver para sempre, diz simplesmente: “Deus está a preparar-me para isso”.
Justina Graça começou a trabalhar com sete anos ao lado da mãe a apanhar “cardos, cardichas, pitelhas”, “tudo coisas ásperas”. Depois nas operações de enxofre e de sulfate. “Toda a vida trabalhei, agora é que estou parada, mas mesmo assim ainda faço muita coisa”. O elixir da longevidade não se lhe conhece, mas recorda-se bem dos tempos em que ainda criança foi mamar nas tetas de uma cabra. A anciã nunca entrou numa escola, mas tem muita pena de não saber ler e escrever. Mas fazer contas é com ela.
Tendo em conta que já acompanhou várias fases da História, lembra-se dos tempos das “revoluções” e de quando “havia mais barcos do que aviões”. “Quando os barcos chegavam, ouvíamos grandes estrondos”. Nas suas vivências, ainda se lembra de ter fugido de um touro, e muito presentes na sua memória estão também as cheias de 1957, quando o marido chegou a casa esbaforido a falar sobre as graves inundações, “e onde muita gente morreu”.
“O mundo está muito mudado desde a minha época, como quando se tira a pele do coelho e se a vira do avesso. O mundo é bonito mas há muita falta de respeito. Mata-se demasiada gente todos os dias. O dinheiro influencia demasiado as pessoas”.
Justina Graça cozinha todos os dias para a família. “Gosto de fazer tudo e ainda me lembro bem de todos os ingredientes que tenho de por na comida”. Doenças não tem, apenas dores nas pernas. “Tomo vários comprimidos, mas nada de especial”.
Sílvia Agostinho
26-07-2014
A sua vida foi quase igual à de tantas outras mulheres que nasceram na ruralidade, trabalhou em quase todo o tipo de trabalhos no campo, com algumas incursões em fábricas, nomeadamente, na central termo-eléctrica do Carregado e também “a dias em casa de patroas”. Com um discurso fluído, diz que “foi na fábrica que conseguiu a sua reforma”. Ainda se lembra que se reformou num dia 12 de Abril, aos 59 anos.
Na fábrica, o seu serviço consistia na limpeza e lembra-se de um grande susto que apanhou. “A água fervia a elevadas temperaturas e corríamos grandes riscos com espumas e fumos, tive muita sorte de nunca ter apanhado nenhum azar!”. No campo, fez de tudo um pouco desde cavar, ceifar, apanhar fruta “do nascer ao pôr-do-sol”. Mas o “trabalho mais rigoroso” que desempenhou, nas suas palavras, foi na apanha de arroz. “Tínhamos de andar todo o dia dentro de água, com muitos bichos pretos que nos mordiam”. Lembra-se de ganhar 20 escudos nesse trabalho, em Azambuja.
O marido já faleceu há mais de 35 anos anos, mas não consegue precisar com grande exactidão se há 38 ou 36. Tem saudades, particularmente, do “tempo em que a filha e os netos eram pequeninos”. “Tenho muitas saudades de ser nova e quando podia trabalhar. Ainda esta noite sonhei que apanhava feno”. Sobre o facto de que não vai viver para sempre, diz simplesmente: “Deus está a preparar-me para isso”.
Justina Graça começou a trabalhar com sete anos ao lado da mãe a apanhar “cardos, cardichas, pitelhas”, “tudo coisas ásperas”. Depois nas operações de enxofre e de sulfate. “Toda a vida trabalhei, agora é que estou parada, mas mesmo assim ainda faço muita coisa”. O elixir da longevidade não se lhe conhece, mas recorda-se bem dos tempos em que ainda criança foi mamar nas tetas de uma cabra. A anciã nunca entrou numa escola, mas tem muita pena de não saber ler e escrever. Mas fazer contas é com ela.
Tendo em conta que já acompanhou várias fases da História, lembra-se dos tempos das “revoluções” e de quando “havia mais barcos do que aviões”. “Quando os barcos chegavam, ouvíamos grandes estrondos”. Nas suas vivências, ainda se lembra de ter fugido de um touro, e muito presentes na sua memória estão também as cheias de 1957, quando o marido chegou a casa esbaforido a falar sobre as graves inundações, “e onde muita gente morreu”.
“O mundo está muito mudado desde a minha época, como quando se tira a pele do coelho e se a vira do avesso. O mundo é bonito mas há muita falta de respeito. Mata-se demasiada gente todos os dias. O dinheiro influencia demasiado as pessoas”.
Justina Graça cozinha todos os dias para a família. “Gosto de fazer tudo e ainda me lembro bem de todos os ingredientes que tenho de por na comida”. Doenças não tem, apenas dores nas pernas. “Tomo vários comprimidos, mas nada de especial”.
Sílvia Agostinho
26-07-2014