Virar a Página
Por Rui Alves Veloso - Editor Economia RTP
Três anos de ajustamento forçado transformaram Portugal. Para melhor, dizem uns. Para pior, dizem outros.
A pobreza aumentou. O desemprego (embora esteja agora, com mais ou menos sobressaltos, em rota descendente) atingiu níveis outrora considerados inimagináveis. Muitos jovens não tiveram alternativa à emigração. Boa parte dos trabalhadores do setor público e dos reformados e pensionistas ainda têm o rendimento cortado. A classe média empobreceu, graças sobretudo a uma carga fiscal historicamente elevada.
Também é verdade que a economia portuguesa está agora mais equilibrada. As exportações ganharam peso. O país tem agora saldo positivo com o exterior. As contas do Estado caminham para o equilíbrio. Se não fossem, aliás, os encargos com os juros da dívida existiria excedente orçamental e não défice. Portugal consegue agora financiar-se nos mercados com juros historicamente baixos. Sublinho: consegue financiar-se. Já não depende da ajuda do FMI e dos parceiros europeus. Reconquistou a independência financeira. E esse será porventura o principal ganho após o ajustamento.
Tudo isto são factos. Dizer se o país está melhor ou pior depende obviamente dos olhos de quem analisa (e muito provavelmente das convicções político-partidárias). A verdade é que a alternativa ao ajustamento seria a bancarrota, com tudo o que isso implicaria a nível social. Portanto, parece-me inútil discutir se o país está melhor ou pior. Está -isso sim - seguramente diferente. Não havia alternativa ao ajustamento e nunca nenhum ajustamento se fez sem dor.
Importa agora virar a página e olhar para o futuro. Importa termos a certeza de que não repetiremos, enquanto país, os erros do passado recente. Termos a certeza de que não vamos necessitar de um novo ajustamento com mais sacrifícios para todos.
Nesse virar de página destaco alguns aspetos que me parecem importantes.
É preciso, tão depressa quanto possível, baixar os impostos para que o Estado deixe de atrofiar a economia. O processo de redução da carga fiscal para as empresas já se iniciou. É preciso também que os impostos baixem para as famílias, tanto ao nível do IRS como do IVA. Com realismo, não com facilitismos. Para que essa descida seja duradoura e estrutural e não uma mera operação cosmética de quem quer ganhar eleições.
É preciso estimular o investimento das empresas. São elas que criam riqueza. São elas que criam emprego. Desse ponto de vista, é fundamental aproveitar o potencial dos fundos comunitários para os próximos sete anos com bons projetos. O programa Portugal 2020 (que sucede ao QREN) disponibiliza 25 mil milhões de euros, que se destinam sobretudo às empresas. É muito dinheiro. É preciso aproveitá-lo bem e não cometer erros do passado, em que, muitas vezes (demasiadas vezes mesmo...) os dinheiros da Europa foram usados em projetos inúteis que apenas serviram alguns “chico-espertos”.
Neste sentido, há uma área que também me parece fundamental. Ao longo dos anos muito se tem falado na formação dos trabalhadores. E é decisiva. Porque mão-de-obra qualificada potencia a atração de mais e melhor investimento. Porque são as pessoas com menos qualificações que ficam mais tempo desempregadas.
Mas é preciso também apostar a sério na formação dos gestores e empresários. O Banco de Portugal e o FMI já levantaram a questão. E parece-me muito importante. Há em Portugal excelentes empresários e gestores, que em contexto difícil souberam dar a volta. Mas num país onde mais de 90 por cento das empresas são micro e PME há também muitos que têm muito a aprender. E está provado que os trabalhadores portugueses se forem bem geridos são tão bons ou mesmo melhores do que quaisquer outros.
25-04-2015
Por Rui Alves Veloso - Editor Economia RTP
Três anos de ajustamento forçado transformaram Portugal. Para melhor, dizem uns. Para pior, dizem outros.
A pobreza aumentou. O desemprego (embora esteja agora, com mais ou menos sobressaltos, em rota descendente) atingiu níveis outrora considerados inimagináveis. Muitos jovens não tiveram alternativa à emigração. Boa parte dos trabalhadores do setor público e dos reformados e pensionistas ainda têm o rendimento cortado. A classe média empobreceu, graças sobretudo a uma carga fiscal historicamente elevada.
Também é verdade que a economia portuguesa está agora mais equilibrada. As exportações ganharam peso. O país tem agora saldo positivo com o exterior. As contas do Estado caminham para o equilíbrio. Se não fossem, aliás, os encargos com os juros da dívida existiria excedente orçamental e não défice. Portugal consegue agora financiar-se nos mercados com juros historicamente baixos. Sublinho: consegue financiar-se. Já não depende da ajuda do FMI e dos parceiros europeus. Reconquistou a independência financeira. E esse será porventura o principal ganho após o ajustamento.
Tudo isto são factos. Dizer se o país está melhor ou pior depende obviamente dos olhos de quem analisa (e muito provavelmente das convicções político-partidárias). A verdade é que a alternativa ao ajustamento seria a bancarrota, com tudo o que isso implicaria a nível social. Portanto, parece-me inútil discutir se o país está melhor ou pior. Está -isso sim - seguramente diferente. Não havia alternativa ao ajustamento e nunca nenhum ajustamento se fez sem dor.
Importa agora virar a página e olhar para o futuro. Importa termos a certeza de que não repetiremos, enquanto país, os erros do passado recente. Termos a certeza de que não vamos necessitar de um novo ajustamento com mais sacrifícios para todos.
Nesse virar de página destaco alguns aspetos que me parecem importantes.
É preciso, tão depressa quanto possível, baixar os impostos para que o Estado deixe de atrofiar a economia. O processo de redução da carga fiscal para as empresas já se iniciou. É preciso também que os impostos baixem para as famílias, tanto ao nível do IRS como do IVA. Com realismo, não com facilitismos. Para que essa descida seja duradoura e estrutural e não uma mera operação cosmética de quem quer ganhar eleições.
É preciso estimular o investimento das empresas. São elas que criam riqueza. São elas que criam emprego. Desse ponto de vista, é fundamental aproveitar o potencial dos fundos comunitários para os próximos sete anos com bons projetos. O programa Portugal 2020 (que sucede ao QREN) disponibiliza 25 mil milhões de euros, que se destinam sobretudo às empresas. É muito dinheiro. É preciso aproveitá-lo bem e não cometer erros do passado, em que, muitas vezes (demasiadas vezes mesmo...) os dinheiros da Europa foram usados em projetos inúteis que apenas serviram alguns “chico-espertos”.
Neste sentido, há uma área que também me parece fundamental. Ao longo dos anos muito se tem falado na formação dos trabalhadores. E é decisiva. Porque mão-de-obra qualificada potencia a atração de mais e melhor investimento. Porque são as pessoas com menos qualificações que ficam mais tempo desempregadas.
Mas é preciso também apostar a sério na formação dos gestores e empresários. O Banco de Portugal e o FMI já levantaram a questão. E parece-me muito importante. Há em Portugal excelentes empresários e gestores, que em contexto difícil souberam dar a volta. Mas num país onde mais de 90 por cento das empresas são micro e PME há também muitos que têm muito a aprender. E está provado que os trabalhadores portugueses se forem bem geridos são tão bons ou mesmo melhores do que quaisquer outros.
25-04-2015
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