“Vai para a fila!"
Por Acácio Vasconcelos
19-08-2016 às 11:10
Todos nós, cidadãos portugueses, já assistimos, numa fila de espera para utilizar um serviço, à intromissão inoportuna, abusadora e, por vezes, provocadora de alguém a meter-se à frente de quem, ordeira e pacientemente, espera pela sua vez.
Nesses incidentes, há, sempre, quem diga: “só em Portugal é que isto acontece”, “vai para a fila” e, até, mais à portuguesa, “a bicha é ali”. Pelo contrário, os inoportunistas, já encaixados na fila, incitam os comparsas: “chega-te à frente”. Isto, com o objectivo de se sentirem acompanhados, mas sempre com o olho nesses, de modo que não os ultrapassem (coisas do dia-a-dia).
Não é verdade que só em Portugal é que isto acontece; verifica-se em todo o mundo, mas, mais nuns países do que noutros. Há quem entenda que tal se gera em sociedades onde prevalecem a falta de civismo e o desrespeito pelos outros. Contudo, tudo isso advém da avidez das pessoas de algo que as sirva, que lhes é primário para satisfazer as suas necessidades. Também, efectivamente, a falta de regras de convivência, ou o incumprimento das mesmas conduz e permite todos estes atropelos. Mesmo em casos de extrema necessidade, como seja a distribuição de alimentos para matar a fome, se verifica que, por vezes, os mais fracos são espezinhados pelos mais fortes, sem qualquer humanidade.
Poderíamos tecer diversas e prolongadas considerações sobre tudo isto, com a finalidade de analisar as causas que estão na origem destas atitudes e as suas consequências, mas, debruçar-nos-emos sobre o aspecto que me parece ser o mais relevante e principal factor influenciador do modo de agir do ser humano: “a avidez de algo que os sirva” que conduz à falta de civismo e ao desrespeito pelos outros.
Nas ruas, nos empregos, na política e, até, no ambiente familiar, deparamo-nos com muitas destas situações.
Então, por quê, remexer, agora, num assunto tão comum, em que muitos se habituaram a conviver com ele?
É sempre oportuno e, tanto mais, quando a maioria dos cidadãos (que são os que não estão na fila) sente que não são estes os princípios apregoados de liberdade, de democracia, de igualdade e, fundamentalmente, de justiça e de respeito pela dignidade de todo e qualquer ser humano.
Ora, nas alturas de eleições (políticas, associativas, ou outras) ocorre, infelizmente, este cenário; alguém indesejado, primeiro, porque não se sujeita às regras de boa vivência, nomeadamente, de respeito pelos outros e, segundo, porque, a ser necessário, não é aquele que, por mérito e reconhecimento da comunidade poderia ocupar o lugar disponível para alguém que sirva aqueles que necessitam.
Triste é dizer que não nos devemos admirar de que isso aconteça, porque o nosso modo de estar já é o de não nos preocuparmos muito, dizendo, apenas: “vai para a fila, ocupa o teu lugar!”
Nunca é tarde, e sabemos que, ao longo da história, muitos se revoltaram contra ociosos, ávidos do poder, interessados em protagonismo mais do que no bem-servir da comunidade que certos cargos exigem e, às vezes demasiado tarde, apesar de tudo, lutando, mesmo sem armas de metal, conseguiram afirmar e defender mais justiça e mais fraternidade para o povo massacrado, que paga para as mordomias de todos esses senhores.
Tudo isto acontece porque, infelizmente, ainda há necessidade de filas para que os cidadãos possam usufruir dos serviços a que têm direito. O ideal seria que não fossem necessárias filas para todos serem bem servidos.
Se as apregoadas democracia, igualdade e liberdade existissem não haveria filas, onde uns ficam servidos e outros aguardam pela sua vez ou não chegam a ser servidos. Não seria necessário que alguns se auto-promovessem para se servirem do que faz falta a outros para o bem-comum. Os mais capacitados surgiriam, naturalmente, para desempenhar funções e cargos de que a sociedade, necessariamente, precisa.
Importa, pois, acabar com as filas e com os intrusos, mas, enquanto elas existirem, fruto das carências do povo português quanto a respeito por direitos, por igualdade e por dignidade do ser humano, é forçoso que se diga, para que, no mínimo, se verifique o cumprimento de regras: “vai para a fila!”
Por Acácio Vasconcelos
19-08-2016 às 11:10
Todos nós, cidadãos portugueses, já assistimos, numa fila de espera para utilizar um serviço, à intromissão inoportuna, abusadora e, por vezes, provocadora de alguém a meter-se à frente de quem, ordeira e pacientemente, espera pela sua vez.
Nesses incidentes, há, sempre, quem diga: “só em Portugal é que isto acontece”, “vai para a fila” e, até, mais à portuguesa, “a bicha é ali”. Pelo contrário, os inoportunistas, já encaixados na fila, incitam os comparsas: “chega-te à frente”. Isto, com o objectivo de se sentirem acompanhados, mas sempre com o olho nesses, de modo que não os ultrapassem (coisas do dia-a-dia).
Não é verdade que só em Portugal é que isto acontece; verifica-se em todo o mundo, mas, mais nuns países do que noutros. Há quem entenda que tal se gera em sociedades onde prevalecem a falta de civismo e o desrespeito pelos outros. Contudo, tudo isso advém da avidez das pessoas de algo que as sirva, que lhes é primário para satisfazer as suas necessidades. Também, efectivamente, a falta de regras de convivência, ou o incumprimento das mesmas conduz e permite todos estes atropelos. Mesmo em casos de extrema necessidade, como seja a distribuição de alimentos para matar a fome, se verifica que, por vezes, os mais fracos são espezinhados pelos mais fortes, sem qualquer humanidade.
Poderíamos tecer diversas e prolongadas considerações sobre tudo isto, com a finalidade de analisar as causas que estão na origem destas atitudes e as suas consequências, mas, debruçar-nos-emos sobre o aspecto que me parece ser o mais relevante e principal factor influenciador do modo de agir do ser humano: “a avidez de algo que os sirva” que conduz à falta de civismo e ao desrespeito pelos outros.
Nas ruas, nos empregos, na política e, até, no ambiente familiar, deparamo-nos com muitas destas situações.
Então, por quê, remexer, agora, num assunto tão comum, em que muitos se habituaram a conviver com ele?
É sempre oportuno e, tanto mais, quando a maioria dos cidadãos (que são os que não estão na fila) sente que não são estes os princípios apregoados de liberdade, de democracia, de igualdade e, fundamentalmente, de justiça e de respeito pela dignidade de todo e qualquer ser humano.
Ora, nas alturas de eleições (políticas, associativas, ou outras) ocorre, infelizmente, este cenário; alguém indesejado, primeiro, porque não se sujeita às regras de boa vivência, nomeadamente, de respeito pelos outros e, segundo, porque, a ser necessário, não é aquele que, por mérito e reconhecimento da comunidade poderia ocupar o lugar disponível para alguém que sirva aqueles que necessitam.
Triste é dizer que não nos devemos admirar de que isso aconteça, porque o nosso modo de estar já é o de não nos preocuparmos muito, dizendo, apenas: “vai para a fila, ocupa o teu lugar!”
Nunca é tarde, e sabemos que, ao longo da história, muitos se revoltaram contra ociosos, ávidos do poder, interessados em protagonismo mais do que no bem-servir da comunidade que certos cargos exigem e, às vezes demasiado tarde, apesar de tudo, lutando, mesmo sem armas de metal, conseguiram afirmar e defender mais justiça e mais fraternidade para o povo massacrado, que paga para as mordomias de todos esses senhores.
Tudo isto acontece porque, infelizmente, ainda há necessidade de filas para que os cidadãos possam usufruir dos serviços a que têm direito. O ideal seria que não fossem necessárias filas para todos serem bem servidos.
Se as apregoadas democracia, igualdade e liberdade existissem não haveria filas, onde uns ficam servidos e outros aguardam pela sua vez ou não chegam a ser servidos. Não seria necessário que alguns se auto-promovessem para se servirem do que faz falta a outros para o bem-comum. Os mais capacitados surgiriam, naturalmente, para desempenhar funções e cargos de que a sociedade, necessariamente, precisa.
Importa, pois, acabar com as filas e com os intrusos, mas, enquanto elas existirem, fruto das carências do povo português quanto a respeito por direitos, por igualdade e por dignidade do ser humano, é forçoso que se diga, para que, no mínimo, se verifique o cumprimento de regras: “vai para a fila!”
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