Opinião Ana Bernardino:
"A Democracia está garantida?" "Sublinho e reforço: uma viragem em Espanha daria aos partidos nacionalistas e de extrema-direita representados no Parlamento Europeu, um significativo peso para condicionar ou bloquear aquelas que têm sido as políticas europeias para o desenvolvimento e coesão social"
| 18 Ago 2023 10:21
SA No mundo em que vivemos são muitos aqueles que se dizem democratas e afirmam a defesa da democracia. Mas o que é a democracia? Eleições livres, partidos políticos, cidadania ativa, minorias, liberdade, garantias, direitos, deveres? Sim é tudo isto e muito mais.
A história ensinou-nos que a democracia nunca está garantida. Cada geração tem de lutar para a defender, renovar e fortalecer. A liberdade de expressão, o direito à saúde, à justiça e à igualdade, o direito à dignidade de cada ser humano foram a votos em Espanha. O desgaste dos últimos anos de governação não afastou os eleitores espanhóis da defesa dos princípios e dos valores em que assentam as democracias liberais ocidentais. A queda vertiginosa do Vox, liderado por Santiago Abascal, reduziu as possibilidades de que um governo de coligação PP-Vox condenasse Espanha a integrar o grupo de países europeus com governos liderados ou compostos por partidos de extrema-direita. A incapacidade do Partido Popular para capitalizar o descontentamento do eleitorado do centro político espanhol deve servir de sério aviso à direita democrática portuguesa, nomeadamente, ao PSD, enquanto pilar fundamental do nosso sistema democrático. Em Espanha estava muito mais em jogo do que uma eleição para o Governo do país. Só isso explica a ida ao país vizinho dos líderes de extrema-direita, como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki ou o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. A sua ostensiva presença na campanha do Vox foi alimentada pela esperança de que o quarto país mais populoso da UE passasse a ser condicionado pelos ideais nacionalistas, bem contrários ao espírito de Paz, solidariedade e cooperação entre Povos, que presidiu à fundação do projeto europeu no pós-II Grande Guerra Mundial. Sublinho e reforço: uma viragem em Espanha daria aos partidos nacionalistas e de extrema-direita representados no Parlamento Europeu, um significativo peso para condicionar ou bloquear aquelas que têm sido as políticas europeias para o desenvolvimento e coesão social, para a tolerância e igualdade, para a liberdade de circulação de pessoas e bens, e para o reforço dos mecanismos de proteção ambiental e de solidariedade entre Povos. Como se vê, a democracia está em permanente perigo com a ameaça das ideias extremistas e populistas que proliferam entre nós e na tentativa de normalização que temos de combater e de cerrar fileiras na defesa da igualdade. Já dizia a primeira e única chefe de governo mulher em Portugal, Maria de Lurdes Pintassilgo, notável humanista, que a “presença das mulheres no poder deve traduzir-se numa melhoria das condições de vida dos seres humanos”. Sabemos que ainda há um longo caminho a fazer, os direitos não estão garantidos e têm que ser permanentemente defendidos. É essa defesa que está nas mãos de cada um de nós! Vivemos momentos conturbados. Em Portugal e em toda a Europa foram dados passos significativos nas matérias que mais se prendem com os direitos humanos e, em especial, com os direitos das mulheres. É neste tempo interrogativo em que vivemos, que devemos centrar-nos no ideal de construção da sustentabilidade de um espaço humanista e igualitário. Esta é uma luta permanente e sem tréguas para garantir um futuro melhor do que aquele que vivemos no presente, na consciência da urgência da importância das vitórias da democracia. Vivemos numa Europa marcada por múltiplos riscos para a democracia. É certo que a democracia tem intrinsecamente as suas virtudes e os seus defeitos, dado que acolhe os democratas e os não democratas, no entanto, não pode haver transigências com movimentos que possam enfraquecer a sua virtude. Insisto: a normalização dos ideais extremistas que alguns moderados tentam fazer, numa tentativa de conquistarem ou manterem o poder, é a destruição da própria democracia. Os riscos de hoje exigem clareza, empenho e comprometimento dos democratas. Temos de ser agregadores e capazes de barrar esses extremismos. Lutas que exigem coragem que não nos pode faltar. Todos devemos fazer mais, melhor e com maior apuro ético. Importa que todos os democratas atuem na sua esfera de ação, sabendo que a confiança na democracia não está dissociada da perceção que as pessoas têm sobre a conduta, a ação e o resultado dessa ação. Combater os populismos que ameaçam os Direitos das Mulheres, os Direitos Humanos e a Democracia é um desígnio que deve ser de todas e de todos, e para o qual estamos convocados para fazermos o caminho que ainda não fizemos. A diferença é a razão da democracia. A desigualdade nunca! |
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