"A Feira de Maio"
Por Joaquim Ramos
04-06-2015 às 00:53
Não esperam com certeza que eu vá escrever novamente que a Feira de Maio é um acontecimento cultural com repercussões a nível nacional e mesmo internacional – o ano passado estive a comer sardinhas, no Largo dos Pescadores, com dois alemães! Mas a gente cá se entendeu, que a sardinha, o pão e o tinto, ou branco, são uma linguagem universal. Não, fui o principal responsável pela sua realização durante doze edições e sei bem como a Feira de Maio se agigantou no panorama cultural e lúdico do Ribatejo. Infelizmente, mas isso são águas passadas, o momento em que deveria estar a dar início à minha edição número treze, passe a superstição, foi o momento em que estive mesmo, mesmo à beira da morte, de peito aberto em Santa Maria ( perdoe-se-me este apontamento pessoal).
Voltemos à Feira de Maio. A que se deve este fervor que, a partir do meio de Abril, quando se começam a ver as tronqueiras ( eu acho que é tronqueiras, vem de tronco, não é tranqueiras que deriva de trancas...) e se começam a vislumbrar movimentações de fim-de-semana e serão nos pisos térreos do casco antigo da Vila?
Em meu entender, à conjugação duma série de factores. Mas, na minha óptica, os grandes segredos do êxito da Feira de Maio são a sua variedade cultural e a sua seriedade na recriação da História, o movimento de reencontro de amigos e conhecidos que proporciona e, acima de tudo, e como factor distintivo da nossa Feira em relação às suas congéneres, o facto de toda a população – ou grande parte dela – participar activamente na sua realização, aos mais diversos níveis.
Em termos de variedade cultural, a Feira de Maio tem a sua espinha dorsal assente nas costas do toiro e do campino e das entradas e largadas de toiros. As esperas e largadas de toiros são a recriação do que de facto acontecia antigamente. Os toiros eram conduzidos encabrestados e a pé dos campos até às Praças da proximidade acompanhados por campinos. Tinham que ir pelas estradas e, consequentemente, atravessar Azambuja ( identificaram-se salvo erro dezanove ganadarias bravas no Concelho). O povo esperava para os ver passar. É essa prática ancestral que é recriado agora na entrada de toiros. Mas alguns mais atrevidos também provocavam por vezes o tresmalhe da manada, e os touros espalhavam-se, e com eles o terror, pelas ruas da Vila. É recriado nas largadas de Maio.
É por isso é que as Largadas da Feira não podem deixar de ser realizadas nas ruas centrais da Vila. É porque assim é que era a realidade do Ribatejo de então. Fazê-lo seria torná-las artificiais e sem sentido, como aconteceu outros Concelhos.
Mas, complementarmente, há uma enorme variedade de acontecimentos culturais que se vão desenvolvendo no Mês da Cultura Tauromáquica: espectáculos, exposições, colóquios, artesanato, recriação de cenas de campo que, inclusivamente, envolvem as nossas crianças na segunda-feira de manhã.
A Feira de Maio é uma feira de reencontro de afectos que muitas vezes só se encontram por esta altura: o familiar que está no estrangeiro, o amigo que foi viver para Lisboa. A Praça das Freguesias, para além de divulgar a gastronomia e a cultura associativa do Concelho, é um espaço de convívio e reencontro. Este ano vou estar por lá...
E depois é o envolvimento da população, a pujança das Tertúlias que se multiplicam e tanta animação dão à Feira, o espírito que se respira. Um dia, dizia-me um amigo: “ a tua terra é mesmo uma terra ribatejana! Um dia destes ia a atravessar a rua principal e não vi um miúdo que se preparava para a atravessar. Travei a fundo eparei e o puto, que ia sendo apanhado, em vez de me chamar aqueles nomes da ordem ou fazer—e gestos das Caldas com o dedo, simulou-me um passe ao natural e berrou Olé!”
É nesse campo, nesta interiorização que cada azambujense faz dela, que a Feira de Maio é única.
Já não podemos imaginar a Feira de Maio sem Tertúlias, sem as Tertúlias são uma das marcas da nossa Feira e tem vindo a multiplicar-se pela Vila.. Porque uma Tertúlia não é só um mini-museu onde se discutem toiros. Essas são as Tertúlias Tauromáquicas. Mas também há um Tertúlia quando um grupo de amigos se junta e congrega esforços para enaltecer a cultura ribatejana, discutir a Feira e os toiros, beber uns copos de cerveja e vinho. Porque beber uns copos também faz parte da tradição ribatejana.
Por Joaquim Ramos
04-06-2015 às 00:53
Não esperam com certeza que eu vá escrever novamente que a Feira de Maio é um acontecimento cultural com repercussões a nível nacional e mesmo internacional – o ano passado estive a comer sardinhas, no Largo dos Pescadores, com dois alemães! Mas a gente cá se entendeu, que a sardinha, o pão e o tinto, ou branco, são uma linguagem universal. Não, fui o principal responsável pela sua realização durante doze edições e sei bem como a Feira de Maio se agigantou no panorama cultural e lúdico do Ribatejo. Infelizmente, mas isso são águas passadas, o momento em que deveria estar a dar início à minha edição número treze, passe a superstição, foi o momento em que estive mesmo, mesmo à beira da morte, de peito aberto em Santa Maria ( perdoe-se-me este apontamento pessoal).
Voltemos à Feira de Maio. A que se deve este fervor que, a partir do meio de Abril, quando se começam a ver as tronqueiras ( eu acho que é tronqueiras, vem de tronco, não é tranqueiras que deriva de trancas...) e se começam a vislumbrar movimentações de fim-de-semana e serão nos pisos térreos do casco antigo da Vila?
Em meu entender, à conjugação duma série de factores. Mas, na minha óptica, os grandes segredos do êxito da Feira de Maio são a sua variedade cultural e a sua seriedade na recriação da História, o movimento de reencontro de amigos e conhecidos que proporciona e, acima de tudo, e como factor distintivo da nossa Feira em relação às suas congéneres, o facto de toda a população – ou grande parte dela – participar activamente na sua realização, aos mais diversos níveis.
Em termos de variedade cultural, a Feira de Maio tem a sua espinha dorsal assente nas costas do toiro e do campino e das entradas e largadas de toiros. As esperas e largadas de toiros são a recriação do que de facto acontecia antigamente. Os toiros eram conduzidos encabrestados e a pé dos campos até às Praças da proximidade acompanhados por campinos. Tinham que ir pelas estradas e, consequentemente, atravessar Azambuja ( identificaram-se salvo erro dezanove ganadarias bravas no Concelho). O povo esperava para os ver passar. É essa prática ancestral que é recriado agora na entrada de toiros. Mas alguns mais atrevidos também provocavam por vezes o tresmalhe da manada, e os touros espalhavam-se, e com eles o terror, pelas ruas da Vila. É recriado nas largadas de Maio.
É por isso é que as Largadas da Feira não podem deixar de ser realizadas nas ruas centrais da Vila. É porque assim é que era a realidade do Ribatejo de então. Fazê-lo seria torná-las artificiais e sem sentido, como aconteceu outros Concelhos.
Mas, complementarmente, há uma enorme variedade de acontecimentos culturais que se vão desenvolvendo no Mês da Cultura Tauromáquica: espectáculos, exposições, colóquios, artesanato, recriação de cenas de campo que, inclusivamente, envolvem as nossas crianças na segunda-feira de manhã.
A Feira de Maio é uma feira de reencontro de afectos que muitas vezes só se encontram por esta altura: o familiar que está no estrangeiro, o amigo que foi viver para Lisboa. A Praça das Freguesias, para além de divulgar a gastronomia e a cultura associativa do Concelho, é um espaço de convívio e reencontro. Este ano vou estar por lá...
E depois é o envolvimento da população, a pujança das Tertúlias que se multiplicam e tanta animação dão à Feira, o espírito que se respira. Um dia, dizia-me um amigo: “ a tua terra é mesmo uma terra ribatejana! Um dia destes ia a atravessar a rua principal e não vi um miúdo que se preparava para a atravessar. Travei a fundo eparei e o puto, que ia sendo apanhado, em vez de me chamar aqueles nomes da ordem ou fazer—e gestos das Caldas com o dedo, simulou-me um passe ao natural e berrou Olé!”
É nesse campo, nesta interiorização que cada azambujense faz dela, que a Feira de Maio é única.
Já não podemos imaginar a Feira de Maio sem Tertúlias, sem as Tertúlias são uma das marcas da nossa Feira e tem vindo a multiplicar-se pela Vila.. Porque uma Tertúlia não é só um mini-museu onde se discutem toiros. Essas são as Tertúlias Tauromáquicas. Mas também há um Tertúlia quando um grupo de amigos se junta e congrega esforços para enaltecer a cultura ribatejana, discutir a Feira e os toiros, beber uns copos de cerveja e vinho. Porque beber uns copos também faz parte da tradição ribatejana.
Comentários
Que continue assim por muitos anos
João Ferreira
Azambuja
sáb 04/06/2016 13:48
João Ferreira
Azambuja
sáb 04/06/2016 13:48