Os Jovens Artistas Portugueses
Por: Joaquim Ramos
06-05-2016 às 12:09
Admito, com alguma consternação porque contraria o conceito de progresso por que todos lutamos, que a vida está mais difícil para as actuais gerações da faixa dos vinte aos quarenta do que para os mesmos jovens da minha geração.
Acho até que a minha geração foi das mais privilegiadas : em termos sociais e de liberdade, embora reprimidos, apanhámos em cheio, e participámos na sua construção, com a libertação rebelde e a contestação do final dos anos sessenta. E, por tabela, com todo o seu desfile de reivindicações de direitos de toda a ordem, , lutas por igualdade, manifestações artísticas, visões e formas diferentes de vida, solidariedades, tolerâncias.
Em termos materiais, beneficiámos da plena maturidade do boom económico que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial e não tivémos dificuldade em arranjar empregos – duma maneira geral, depois do 25 de Abril, todos se empregavam no dia seguinte a sair da Escola, em tarefas estáveis e minimamente remunerados para uma vida condigna e um olhar de segurança sobre o futuro.
Não é isso, infelizmente, o que espera os jovens de hoje. Refiro-me à segunda questão que levantei anteriormente, a questão material e da segurança.
Hoje em dia a realidade – triste realidade – e´-nos posta perante os olhos pelos números avassaladores do desemprego jovem e da nova onda de emigração. Ainda por cima, uma sangria emigratória de diferente das anteriores, pois quem é obrigado a fazer vida no estrangeiro são jovens altamente qualificados, nos quais o País, isto é, nós todos, investiu muito dinheiro e do qual, por incapacidade, não recolhe qualquer fruto – a não ser as remessas que esse novos emigrantes ainda vão enviando para cá. Mas desconfio bem que, com o grau de confiança que a Banca portuguesa inspira, qualquer dia nem desse benefício usufruímos.
Mas a dificuldade aguça o engenho e a criação artística jovem em qualquer campo tem conhecido uma enorme expansão nos últimos anos, quer em quantidade quer em qualidade.
Nós temos hoje em dias jovens portugueses que dão cartas em qualquer canto do Mundo, não só em qualquer ciência ou profissão, mas também em qualquer ramo da criação artística : música, dança, literatura, cinema, desporto e outras formas contemporâneas de expressão artística.
E também, cá dentro, existe uma número crescente de talentos que vão felizmente encontrando um público cada vez mais atento às suas capacidades, embora os sucessivos Governos tenham, como prova da sua própria incultura, dado uma papel de “sobras” à promoção da Cultura, e especialmente ao estímulo da cultura jovem.
Mas os jovens de hoje têm mais uma capacidade que na minha geração ainda começava apenas a despontar : a capacidade de fazer qualquer coisa, de se adaptar às circunstâncias da vida, a descobrir formas de intervenção que nem passavam pela cabeça dos jovens do meu tempo, ainda não libertados dos conceitos de classe de do parece bem ou parece mal.
É óbvio que muitos poucos jovens sobrevivem apenas pelo exercício da sua arte. Mas são capazes de “inventar” formas de a pôr em prática e lutar por ela. Tenho um filho que é músico. Naturalmente que se vivesse de tocar piano, já teria sido obrigado a emigrar. Mas descobre formas de intervir, cria conjuntos e propõe espectáculos, toca em casamentos e batizados, piano portátil na mala da carrinha, dá aulas em várias escolas e em casa e é capaz, pelo Natal, ele e os seus amigos, de comprarem uns barretes de Pai Natal no Chinês e irem cantar cantigas de Natal para a Rua, a entrada das igrejas e as estações de Metro, com uma caixinha de papelão para onde os passantes e ouvintes lhes atiram moedas ( às vezes, uma ou outra notita...).
Os jovens artistas portugueses de hoje, para além do desafio que é a constante evolução da sua arte, têm por acréscimo que inventar formas inéditas de fazer chegar a sua marca ao público. Não podem ser só artistas. Têm que ser também inventores.
E duma vez por todas, os Governos ( que ainda não o entenderam) e as Autarquias Locais ( que, sempre pioneiras, já o praticam em maior ou menor escala), têm que perceber que a base duma Cultura é a promoção dos seus próprios talentos.
Por: Joaquim Ramos
06-05-2016 às 12:09
Admito, com alguma consternação porque contraria o conceito de progresso por que todos lutamos, que a vida está mais difícil para as actuais gerações da faixa dos vinte aos quarenta do que para os mesmos jovens da minha geração.
Acho até que a minha geração foi das mais privilegiadas : em termos sociais e de liberdade, embora reprimidos, apanhámos em cheio, e participámos na sua construção, com a libertação rebelde e a contestação do final dos anos sessenta. E, por tabela, com todo o seu desfile de reivindicações de direitos de toda a ordem, , lutas por igualdade, manifestações artísticas, visões e formas diferentes de vida, solidariedades, tolerâncias.
Em termos materiais, beneficiámos da plena maturidade do boom económico que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial e não tivémos dificuldade em arranjar empregos – duma maneira geral, depois do 25 de Abril, todos se empregavam no dia seguinte a sair da Escola, em tarefas estáveis e minimamente remunerados para uma vida condigna e um olhar de segurança sobre o futuro.
Não é isso, infelizmente, o que espera os jovens de hoje. Refiro-me à segunda questão que levantei anteriormente, a questão material e da segurança.
Hoje em dia a realidade – triste realidade – e´-nos posta perante os olhos pelos números avassaladores do desemprego jovem e da nova onda de emigração. Ainda por cima, uma sangria emigratória de diferente das anteriores, pois quem é obrigado a fazer vida no estrangeiro são jovens altamente qualificados, nos quais o País, isto é, nós todos, investiu muito dinheiro e do qual, por incapacidade, não recolhe qualquer fruto – a não ser as remessas que esse novos emigrantes ainda vão enviando para cá. Mas desconfio bem que, com o grau de confiança que a Banca portuguesa inspira, qualquer dia nem desse benefício usufruímos.
Mas a dificuldade aguça o engenho e a criação artística jovem em qualquer campo tem conhecido uma enorme expansão nos últimos anos, quer em quantidade quer em qualidade.
Nós temos hoje em dias jovens portugueses que dão cartas em qualquer canto do Mundo, não só em qualquer ciência ou profissão, mas também em qualquer ramo da criação artística : música, dança, literatura, cinema, desporto e outras formas contemporâneas de expressão artística.
E também, cá dentro, existe uma número crescente de talentos que vão felizmente encontrando um público cada vez mais atento às suas capacidades, embora os sucessivos Governos tenham, como prova da sua própria incultura, dado uma papel de “sobras” à promoção da Cultura, e especialmente ao estímulo da cultura jovem.
Mas os jovens de hoje têm mais uma capacidade que na minha geração ainda começava apenas a despontar : a capacidade de fazer qualquer coisa, de se adaptar às circunstâncias da vida, a descobrir formas de intervenção que nem passavam pela cabeça dos jovens do meu tempo, ainda não libertados dos conceitos de classe de do parece bem ou parece mal.
É óbvio que muitos poucos jovens sobrevivem apenas pelo exercício da sua arte. Mas são capazes de “inventar” formas de a pôr em prática e lutar por ela. Tenho um filho que é músico. Naturalmente que se vivesse de tocar piano, já teria sido obrigado a emigrar. Mas descobre formas de intervir, cria conjuntos e propõe espectáculos, toca em casamentos e batizados, piano portátil na mala da carrinha, dá aulas em várias escolas e em casa e é capaz, pelo Natal, ele e os seus amigos, de comprarem uns barretes de Pai Natal no Chinês e irem cantar cantigas de Natal para a Rua, a entrada das igrejas e as estações de Metro, com uma caixinha de papelão para onde os passantes e ouvintes lhes atiram moedas ( às vezes, uma ou outra notita...).
Os jovens artistas portugueses de hoje, para além do desafio que é a constante evolução da sua arte, têm por acréscimo que inventar formas inéditas de fazer chegar a sua marca ao público. Não podem ser só artistas. Têm que ser também inventores.
E duma vez por todas, os Governos ( que ainda não o entenderam) e as Autarquias Locais ( que, sempre pioneiras, já o praticam em maior ou menor escala), têm que perceber que a base duma Cultura é a promoção dos seus próprios talentos.
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