Opinião João Santos: "De repente, os juros diretores do Banco Central Europeu começam a subir… e o dinheiro das famílias a 'fugir'."
"Por exemplo, em Portugal, segundo a plataforma dinheiro vivo, uma conta de 40 euros de supermercado ficou 12 euros mais cara em apenas três meses. Isto é terrível para as famílias mais socioeconomicamente mais frágeis."
|10 Jul 2022 19:25
Os juros diretores do Banco Central Europeu (BCE), em 0% desde 2016, deverão subir significativamente ainda este ano, podendo chegar aos 0,75% já em setembro. Por esta razão, antecipa-se uma recessão na zona euro, que poderá atingir os 2%, e a possibilidade de o desemprego romper os 8%.
Este é o preço que os Estados-membros da zona euro terão de pagar para combater a inflação, que tem vindo a bater sucessivamente recordes, situando-se já acima dos 8%. O objetivo do BCE é manter a inflação à volta de 2% no médio prazo. Por exemplo, em Portugal, segundo a plataforma dinheiro vivo, uma conta de 40 euros de supermercado ficou 12 euros mais cara em apenas três meses. Isto é terrível para as famílias mais socioeconomicamente mais frágeis. Se a inflação não der tréguas, para além da subida de 0,25 pontos percentuais (pp) em julho, os juros diretores do BCE poderão subir mais 0,25 pp ou 0,50 pp em setembro. E, de repente, a degrau do 1%, que parecia impensável há apenas alguns meses, fica ao virar da esquina. Com as Euribor a reagir em consonância e a atingir a fasquia do 1%, os portugueses poderão estar então, em setembro, a pagar cerca de mais 756 milhões de euros/ano aos bancos em juros. Este valor resulta da comparação com uma análise recente da DECO (Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor), que aponta para mais 63 milhões de euros por mês pagos pelas famílias portuguesas aos bancos pelos seus créditos à habitação no caso de as Euribor se fixarem em 1%. De acordo com a OCDE, cerca de 70% dos empréstimos recentemente contratados pelas famílias portuguesas são indexados a taxas de juro variáveis. Só 30% dos créditos à habitação está indexado a juros fixos. Por esta razão, a OCDE alerta que é “altamente provável” que as famílias portuguesas possam entrar em incumprimento em relação às prestações mensais do crédito à habitação. O aumento provável do incumprimento que a OCDE refere pode ser considerado como uma consequência indireta das medidas contracionistas do BCE para conter a inflação. Este tipo de política monetária (juros elevados para contrariar surtos inflacionários) acarreta riscos para famílias, empresas e governos. Primeiro, esta subida dos juros não se reflete instantaneamente no nível da inflação. Só a prazo surgirá o arrefecimento dos preços e tão desejada desinflação. Inevitavelmente, a inflação manter-se-á ativa nos próximos tempos, e lado a lado com níveis mais baixos de rendimento disponível do que o normal. O impacto na vida das pessoas e no fluxo económico, decorrente de um contexto destes, é altamente “depressor”. O embate negativo mais imediato poderá ser sentido pelos países mais dependentes de endividamento. É o caso de Portugal, Grécia, Itália. A este propósito, o BCE anunciou já o programa anti-fragmentação, cujo objetivo é esbater/anular as diferenças entre juros de dívidas soberanas dos Estados-Membros da zona euro, independentemente do potencial de crescimento de cada um. Eventualmente, funcionará. Os empréstimos a famílias e particulares também terão associados juros mais altos. As empresas, especialmente as mais pequenas e muito dependentes de financiamento bancário, deverão igualmente estar preparadas para o choque. Um quadro de receio em relação ao futuro também leva as pessoas a aumentar a propensão para a poupança. É isso que atesta a consultora independente EY, que, na semana passada, referiu que 49% dos consumidores portugueses, preocupados com a atual conjuntura, admite vir a poupar mais, mesmo com os preços a escalar. Portanto, estão reunidas todas as variáveis necessárias à diminuição efetiva dos preços, mas, infelizmente, também para uma quebra acentuada da atividade económica na zona euro. Por isso mesmo, o desemprego, que o BCE prevê ser de 6,8% na zona euro em 2022 e 2023, pode romper de forma severa. Num cenário de prolongamento do conflito militar e de agravamento da conjuntura macroeconómica, a zona euro poderá registar um desemprego de 7,1% já em 2022 e de 8,3% em 2023. |
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