Pedra de Ouro em Alenquer, um segredo bem escondido da Arqueologia
A sua estrutura subretangular só encontra paralelo com outras congéneres no sul de França. População entusiasmada com a perspetiva de maior divulgação deste património
| 30 Maio 2023 17:42
Sílvia Agostinho No concelho de Alenquer, na localidade da Pedra de Ouro, recentes escavações arqueológicas prometem guindar este sítio ao patamar em que já se encontram outros na região. Com ocupação no fim do Calcolítico, a denominada Idade do Cobre (3300 a 1200 A.C), a Pedra de Ouro é um recinto murado classificado como monumento nacional desde 17 de julho de 1990. Uma das particularidades que tem vindo a desafiar a comunidade arqueológica, nos últimos tempos, prende-se com a estrutura subretangular do sítio que só encontra paralelo com outras congéneres no sul de França, a que acresce o facto de ter conhecido um povoamento mais rápido e tardio em comparação com outras estruturas do mesmo tipo na região como a Ota, Vila Nova de S.Pedro, ou Forte do Paço em Arruda dos Vinhos, todas elas do período Calcolítico. André Texugo, arqueólogo do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ), deu a conhecer o sítio da Pedra de Ouro à reportagem do Valor Local que se desenvolve ao longo de um hectare com três muros. O local podia servir de defesa. O monumento fica num cabeço com vista privilegiada para o Rio Grande da Pipa e ao longe ainda é possível vislumbrar o Tejo pelo que é possível que aquele fosse um sítio de defesa das populações.
Este é mais um dos sítios calcolíticos descobertos e explorados por Hipólito Cabaço (1934), entre as décadas de 1930 e 1940, e dos quais não há registos diretos das intervenções. Estas encontraram eco nas publicações de Afonso do Paço (1940 e 1966), Ernâni Barbosa (1955 e 1956), Vera Leisner e Hermanfrid Schubart (1966 e 1969) e, mais recentemente, Gertrudes Branco (2007). Ainda assim, não se conhece a localização das intervenções, não existindo qualquer tipo de registo de campo e mesmo do tempo despendido no sítio. A classificação da Pedra de Ouro foi proposta em 1990 pelo professor catedrático Victor Gonçalves, após a segunda intervenção (e última) de escavações arqueológicas no sítio. Um dos grandes desafios passa agora pela sua limpeza, algo que o município de Alenquer pretende levar a cabo, de forma que possam ser desvendados mais segredos desta pérola arqueológica do concelho. “Segundo Vera Leisner e Schubart é possível que o sítio não se remeta apenas a esta plataforma, podemos ter aqui socalcos do género do Douro que podem ter sido ocupados”, acrescenta André Texugo. A identificação, por outro lado, daquilo que podia ser uma torre com estrutura funerária, composta por pedras de variadas dimensões, de forma circular, e que remeteriam para a existência de enterramentos, os denominados Tholei, também é uma das particularidades do local. Torres Vedras, Sintra- Praia das Maçãs, e Lourinhã têm estruturas deste tipo, mas em Alenquer ainda não tinham sido identificadas. “Este sítio tem coisas extremamente singulares. O facto de ter este formato subretangular é muito raro. Questiona-se se esta estrutura é menos antiga do que outras do mesmo género no Calcolítico. Por outro lado, será esta uma adaptação ao esporão da Pedra de Ouro?”, deixa no ar o arqueólogo. O monumento que terá cerca de 4500 anos, datado do Calcolítico Final, conheceu depois um enterramento 1000 anos depois já na Idade do Bronze de uma mulher e de uma criança acompanhadas de uma cerâmica, o que também não deixa de ser “um dado curioso”. “Queremos perceber por que se foram enterrar aqui. O recipiente encontrado não é típico do Calcolítico”. “Seriam estas pessoas originárias daqui? É o que pretendemos vir a estudar através de datações por radiocarbono”. Atualmente a ciência já consegue fazer um mapeamento dos locais habitados por um ser humano através de estudos isotópicos à dentição humana em que, por exemplo, se consegue determinar as fontes de água consumidas, que podem ter muitas variações geográficas consoante o seu predomínio de metais nesta ou naquela região ou até por localidade. Limpar a Pedra de Ouro; perceber a cronologia de cada um dos muros e como se conjugam para entender a evolução arquitetónica do sítio e por fim averiguar da estratégia ocupacional do mesmo são os próximos objetivos deste trabalho coordenado pelo arqueólogo André Texugo. No Museu Arqueológico do Carmo estão também expostos materiais resultantes das escavações que tiveram lugar na Pedra de Ouro, inclusive “uma importante figura em argila feminina”. A Pedra de Ouro que terá tido uma ocupação humana de apenas 500 anos ao que se acredita numa diacronia mais fechada do que sítios contemporâneos na região vai permitir um olhar mais incisivo, segundo o arqueólogo, sobre a história deste povoado pré-histórico. O objetivo é também dar a conhecê-lo junto da população que desde já se encontra entusiasmada com as mais recentes escavações que devem regressar até ao ano que vem. Rui Costa, vice-presidente da Câmara de Alenquer, destaca o trabalho desenvolvido pelo arqueólogo André Texugo, também ele natural do concelho, “pois despertou em nós um olhar diferente para a Pedra de Ouro, que tinha sido pouco valorizada no passado”. “Queremos olhar para este monumento com mais interesse histórico. Temos previsto voltar a limpar o espaço num futuro próximo, e adquirir parte dos terrenos privados a três proprietários de algumas das parcelas, no sentido também de ultrapassar esta fase. O município já é proprietário de parte dos terrenos. A partir daí, queremos também organizar um projeto de valorização arqueológica de forma a criar um programa de visita mais organizado e que se continue a estudar a Pedra de Ouro”, destaca ao Valor Local. Comentários Super interessante. Eu gosto de tudo o que seja arqueologia, história, descobrir coisas e o porquê, para mim é a melhor forma de aprender. Gostei que tivessem partilhado este pequeno grande tesouro, mais um, no nosso pequeno mas muito grande país. Maria Mota 03/06/2023, 21:37 Nos terrenos que são municipais, já deveriam de ter sido limpos e trabalhados ,por equipas de voluntariado,e o respectivo arquiologo, depois vem as compras de outros terrenos. Carlos Santos 03/06/2023, 09:17 Muito bom José Freitas 02/06/2023, 22:34 É sem dúvida um achado interessante e extraordinário, não só pelo o conhecimento que nos dá, também pelo impulso para continuar a procura de mais legados que nos premitam refazer a história do local. O interesse turístico é certamente muito maior e uma grande mais valia para a região. Continuação de bom trabalho. Rui Gaspar 2/06/2023 , 13:36 Trabalho muito meritório e interessante. Será óptimo trazerem ao conhecimento público a riqueza do nosso património cultural, para que todos possamos usufruir do conhecimento, desse património encontrado e devidamente estudado e e xplicitado. José Rolho 1/06/2023, 23:12 |
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