Pintar e Cantar os Reis de Alenquer é património nacional e já pisca o olho à Unesco
Em declarações ao Valor Local, o vereador da Cultura fala num objetivo alcançado e se for vontade dos reiseiros, a inscrição na Unesco continuará a ser um sonho a alcançar
|09 Ago 2021 10:15
Foi há escassos anos que começou a tomar forma o projeto de candidatura do “Pintar e Cantar os Reis” de Alenquer a património cultural imaterial nacional. No dia 16 de julho foi anunciada esta inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural e o município sonha agora em levar esta tradição, que todos os anos acontece de cinco para seis de janeiro em várias aldeias do concelho, a património da Unesco.
“O Pintar e Cantar os Reis” é um ritual sem ensaios ou combinações elaboradas, em que os grupos se juntam espontaneamente e partem pelas ruas das respetivas povoações. Nas fachadas das casas pintam símbolos com um significado característico muitas vezes relacionados com o namoro e a entrada na vida adulta, mas também há elementos ligados às profissões ou tão só os votos de bom ano. Ao mesmo tempo que são entoados cânticos, em muitas casas são servidas ceias aos reiseiros. É assim em Catém, Casal Monteiro, Ota, Abrigada, Olhalvo, Pocariça, Mata e Penafirme, Cabanas de Torres e Paúla. À Rádio Valor Local, o vereador da Cultura sublinhou a importância desta inscrição. Rui Costa fala num aumento de responsabilidade não só para o município, mas também para os que dão corpo à tradição. A notícia ainda é recente, mas a autarquia pretenderá, de acordo com o autarca, partilhar esta inscrição através de uma cerimónia que possa vir a ser realizada em setembro. A tradição do Pintar e Cantar oos Reis perde-se nos tempos, mas conheceu uma inesperada revitalização nos últimos anos com muitos jovens do concelho a aderirem ao cumprimento desta celebração que não encontra semelhanças com outras deste tipo no país, à exceção do Cadaval mas com menos expressão. A ideia subjacente a este esforço foi no sentido da promoção e salvaguarda da tradição, enquanto manifestação cultural, promovendo o aumento do interesse público e da sua integração e coesão social, com vista à promoção da sua sustentabilidade, conservação e valorização. Foi ainda no mandato de 2013/2017 que o município lançou mão deste trabalho de classificação e reunião de informação com recurso a uma cooperativa cultural, sedeada em Pereiro de Palhacana. “A cooperativa Memória Imaterial fez um trabalho muito bom de recolha, quase porta a porta, em que ouvimos todas as pessoas que estavam envolvidas nessas celebrações, registando todas as memórias do passado. Muitas pessoas idosas não estiveram envolvidas, mas lembravam-se dos seus pais e avós já terem cumprido essa tradição”. Depois “deu-se a reunião desses dados através da realização de vídeos” bem como a edição de um livro em 2016. A autarquia espera em breve reeditar este livro com um novo prefácio. No meio deste processo foi ainda inaugurado o Centro de Interpretação do Cantar e Pintar dos Reis em 2018 com o apoio da Fundação EDP. O desígnio maior será consagrar este como património imaterial da Unesco mas o autarca diz-se cauteloso “porque aqui há uns anos quase todas as semanas ouvíamos falar de candidaturas à Unesco”. “Bem aconselhados pela Memória Imaterial decidimos fazer o nosso caminho sem procurar mediatismos. Vamos reabrir o dossier de candidatura e falar com os reiseiros para percebermos se é isso que eles também querem, e que contributo cada um pode dar para o processo”, descreve. OUÇA O ÁUDIO
A lista da Unesco que consagra aspetos da cultura dos povos como Património Cultural e Imaterial da Humanidade respeita a ideia da luta contra a globalização no sentido da proteção dos traços identitários de determinada região ou comunidade. José Barbieiro, da Memoria Imaterial, cooperativa que desenvolveu este trabalho, ouvido pelo nosso jornal em 2016 referia-se ao potencial desta candidatura da seguinte forma- “Por este ser um património vivo entre as comunidades que o expressam todas as noites de cinco para seis de janeiro, tal pode vir a ser um dos predicados com mais impacto junto da Unesco, porque não se classifica nada que já não seja praticado, ou que possa ser apenas fruto de uma recriação de algo que houve em tempos”, salientou o investigador. O facto de “as pessoas se reconhecerem nesta celebração, bem como a circunstância de não se realizar em mais sítio nenhum nem no país nem no estrangeiro é outro dos pontos favoráveis”. Chamou, ainda, a atenção da Memoria Imaterial, “a recuperação de práticas muito antigas quanto aos sinais pintados nas paredes”, como é o caso.
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