
Não é novidade que as praias fluviais da região estão ao abandono, mas muitos insistem em frequentar esses locais. O turismo fluvial poderia ser uma importante âncora na capacidade de atrair mais turistas, mas por enquanto os projectos teimam em não sair da gaveta, por causa dos constrangimentos financeiros. Por outro lado as entidades estatais são vistas como os maus da fita pelos autarcas por causarem ainda mais dificuldades, face ao interesse de investidores.
A praia fluvial de Azambuja, mais conhecida como praia da Casa Branca, tem conhecido ao longo dos anos períodos muito diferentes entre si, principalmente quando a população recua décadas e se recorda de dias bem passados ali. Por diversas ocasiões procedeu-se a obras que permitiram alguma qualidade aos veraneantes, mas nos últimos anos, o estado de degradação é tal que não há quaisquer condições para tomar banho. O clima é de insalubridade e a placa avisa quem teima em fazer-se destemido e avança para um banho, sem se importar com a sujidade das águas. Estivemos no local e falámos com algumas pessoas que por ali estavam naquelas condições mas que não quiseram ser identificadas. Para as mesmas, pouco importava “as condições da água”. Sabiam do perigo, mas o mais importante era poderem refrescar-se nestes dias de calor intenso.
Nos últimos mandatos de Joaquim Ramos esteve em cima da mesa um projecto que compreendia ligar a praia em causa à congénere de Valada do Ribatejo, no concelho do Cartaxo, situada a poucos quilómetros, bem como a reparação da própria praia fluvial. Antes disso, o antigo presidente quis dar alguma dignidade ao local, e procedeu a algumas melhoras no mobiliário urbano, recomposição do cais fluvial, construção de parque infantil, e abertura de bar.
“O Tejo passa a cinco quilómetros de Azambuja e a população não vigia a manutenção daquele espaço, e devo dizer que depois de ter lá feito obras, poucos dias depois, já tinham retirado os paus das cercaduras e feito fogueiras de bacalhau e torricado”, refere refere Joaquim Ramos. Por outro lado, “aquela zona é demasiado lodosa para haver uma praia em condições, quanto a isso pouco se pode fazer. O problema é que as pessoas querem uma praia porque o vizinho também tem”, sentencia.
Mais tarde ainda houve lugar a um projecto que oscilou entre três milhões de euros e 1,5 milhões, no penúltimo mandato de Ramos, até 2009, que consistia numa ciclovia até Valada, paralela ao dique ou por cima desse mesmo dique. Tratava-se de uma parceria com o Cartaxo, entretanto abandonada porque também esfriou o interesse de parte a parte. Até porque negociar com os ditos “ambientalistas das estâncias governamentais” começou a ser cada vez mais “complicado”, refere. “São uma espécie de fundamentalistas do ambiente que invadiram a CCDR. Diria mesmo eco-xiítas completamente infiltrados na ARH-Tejo e obcecados com a preservação ambiental, na perspectiva de que não se pode tocar em nada, nem para melhor nem para pior”. A falta de financiamento e as dificuldades criadas por aquelas instâncias levaram ao abandono do projecto. O antigo presidente vai mais longe – “O ministério do Ambiente e as CCDR’s são grandes responsáveis pelo atraso do país”. “Quando tentei fazer a recuperação do Palácio das Obras Novas, apareceram dois grupos económicos muito interessados em transformar aquilo numa pousada de charme, ou num parque temático sobre a evolução do homem. Quis trabalhar nisso, mas nunca consegui saber que organismo do Estado mandava naquilo. Sabia-se só que era do Património do Estado, e pronto já não conseguimos avançar mais. Os investidores obviamente acabaram por desistir”.
A Rota dos Mouchões foi um dos ex-libris do concelho, quando Azambuja teve uma palavra dizer, há uns anos atrás, sempre que se fava em turismo fluvial, e o barco “Vala Real” adquirido pela autarquia dava nas vistas. “A rota era altamente deficitária, gastávamos dez vezes mais do que o que recebíamos dos grupos. O barco agora está nuns estaleiros para os lados do Montijo”.
Inusitadamente, o barco já foi alvo de cobiça por parte de alguns empresários, nomeadamente, o proprietário do Ouro Hotel, facto confirmado pelo presidente da Câmara Luís de Sousa. Esse empresário com uma unidade hoteleira à entrada de Azambuja ficaria com o encargo de recuperar o barco e geri-lo, facultando-o quando necessário à autarquia. O mesmo interesse foi motivado pelo proprietário do restaurante “Escaroupim” em Salvaterra de Magos.
“Tenho muita pena de não termos o barco, foi adquirido, ainda, no tempo de João Benavente. O nosso barco passou tempo demais na água doce, e começou a deteriorar-se, a falta de dinheiro para o manter também pesou. O barco está em Sarilhos Grandes, Montijo, e quando o fui ver só não chorei porque tive vergonha. Recuperá-lo custaria cerca de 50 mil euros, algo que não podemos despender. Os interessados em recuperar o barco também acharam que era demasiado dinheiro”, refere Luís de Sousa. O presidente refere que hipoteticamente, “poderá dar-se uma aproximação a algumas grandes empresas do concelho para patrocinarem a reparação, através da inserção à posteriori de publicidade na embarcação”. “Poderia pensar-se em recuperá-lo e refazer rotas de turismo desde Belém até às zonas ribeirinhas do concelho”.
Quanto à praia da Casa Branca, Luís de Sousa mete qualquer tipo de projecto mais profundo naquela paisagem na gaveta, porque a Câmara não tem meios financeiros para algo de maior envergadura, que não as limpezas obrigatórias. “Sabemos que em 2008, apareceu um projecto através da comunidade intermunicipal com a ciclovia até Valada, bar fluvial, e restaurantes”. O autarca adianta que para minimizar impactos mais nefastos naquele território, pretende não autorizar mais raves no local.
A praia fluvial de Azambuja, mais conhecida como praia da Casa Branca, tem conhecido ao longo dos anos períodos muito diferentes entre si, principalmente quando a população recua décadas e se recorda de dias bem passados ali. Por diversas ocasiões procedeu-se a obras que permitiram alguma qualidade aos veraneantes, mas nos últimos anos, o estado de degradação é tal que não há quaisquer condições para tomar banho. O clima é de insalubridade e a placa avisa quem teima em fazer-se destemido e avança para um banho, sem se importar com a sujidade das águas. Estivemos no local e falámos com algumas pessoas que por ali estavam naquelas condições mas que não quiseram ser identificadas. Para as mesmas, pouco importava “as condições da água”. Sabiam do perigo, mas o mais importante era poderem refrescar-se nestes dias de calor intenso.
Nos últimos mandatos de Joaquim Ramos esteve em cima da mesa um projecto que compreendia ligar a praia em causa à congénere de Valada do Ribatejo, no concelho do Cartaxo, situada a poucos quilómetros, bem como a reparação da própria praia fluvial. Antes disso, o antigo presidente quis dar alguma dignidade ao local, e procedeu a algumas melhoras no mobiliário urbano, recomposição do cais fluvial, construção de parque infantil, e abertura de bar.
“O Tejo passa a cinco quilómetros de Azambuja e a população não vigia a manutenção daquele espaço, e devo dizer que depois de ter lá feito obras, poucos dias depois, já tinham retirado os paus das cercaduras e feito fogueiras de bacalhau e torricado”, refere refere Joaquim Ramos. Por outro lado, “aquela zona é demasiado lodosa para haver uma praia em condições, quanto a isso pouco se pode fazer. O problema é que as pessoas querem uma praia porque o vizinho também tem”, sentencia.
Mais tarde ainda houve lugar a um projecto que oscilou entre três milhões de euros e 1,5 milhões, no penúltimo mandato de Ramos, até 2009, que consistia numa ciclovia até Valada, paralela ao dique ou por cima desse mesmo dique. Tratava-se de uma parceria com o Cartaxo, entretanto abandonada porque também esfriou o interesse de parte a parte. Até porque negociar com os ditos “ambientalistas das estâncias governamentais” começou a ser cada vez mais “complicado”, refere. “São uma espécie de fundamentalistas do ambiente que invadiram a CCDR. Diria mesmo eco-xiítas completamente infiltrados na ARH-Tejo e obcecados com a preservação ambiental, na perspectiva de que não se pode tocar em nada, nem para melhor nem para pior”. A falta de financiamento e as dificuldades criadas por aquelas instâncias levaram ao abandono do projecto. O antigo presidente vai mais longe – “O ministério do Ambiente e as CCDR’s são grandes responsáveis pelo atraso do país”. “Quando tentei fazer a recuperação do Palácio das Obras Novas, apareceram dois grupos económicos muito interessados em transformar aquilo numa pousada de charme, ou num parque temático sobre a evolução do homem. Quis trabalhar nisso, mas nunca consegui saber que organismo do Estado mandava naquilo. Sabia-se só que era do Património do Estado, e pronto já não conseguimos avançar mais. Os investidores obviamente acabaram por desistir”.
A Rota dos Mouchões foi um dos ex-libris do concelho, quando Azambuja teve uma palavra dizer, há uns anos atrás, sempre que se fava em turismo fluvial, e o barco “Vala Real” adquirido pela autarquia dava nas vistas. “A rota era altamente deficitária, gastávamos dez vezes mais do que o que recebíamos dos grupos. O barco agora está nuns estaleiros para os lados do Montijo”.
Inusitadamente, o barco já foi alvo de cobiça por parte de alguns empresários, nomeadamente, o proprietário do Ouro Hotel, facto confirmado pelo presidente da Câmara Luís de Sousa. Esse empresário com uma unidade hoteleira à entrada de Azambuja ficaria com o encargo de recuperar o barco e geri-lo, facultando-o quando necessário à autarquia. O mesmo interesse foi motivado pelo proprietário do restaurante “Escaroupim” em Salvaterra de Magos.
“Tenho muita pena de não termos o barco, foi adquirido, ainda, no tempo de João Benavente. O nosso barco passou tempo demais na água doce, e começou a deteriorar-se, a falta de dinheiro para o manter também pesou. O barco está em Sarilhos Grandes, Montijo, e quando o fui ver só não chorei porque tive vergonha. Recuperá-lo custaria cerca de 50 mil euros, algo que não podemos despender. Os interessados em recuperar o barco também acharam que era demasiado dinheiro”, refere Luís de Sousa. O presidente refere que hipoteticamente, “poderá dar-se uma aproximação a algumas grandes empresas do concelho para patrocinarem a reparação, através da inserção à posteriori de publicidade na embarcação”. “Poderia pensar-se em recuperá-lo e refazer rotas de turismo desde Belém até às zonas ribeirinhas do concelho”.
Quanto à praia da Casa Branca, Luís de Sousa mete qualquer tipo de projecto mais profundo naquela paisagem na gaveta, porque a Câmara não tem meios financeiros para algo de maior envergadura, que não as limpezas obrigatórias. “Sabemos que em 2008, apareceu um projecto através da comunidade intermunicipal com a ciclovia até Valada, bar fluvial, e restaurantes”. O autarca adianta que para minimizar impactos mais nefastos naquele território, pretende não autorizar mais raves no local.
Valada do Ribatejo
“Podíamos ser o espelho do turismo no Cartaxo”
O presidente da junta de freguesia de Valada do Ribatejo, Cartaxo, Manuel Fabiano começa por referir que chamar “praia fluvial” ao sítio em causa é exagerado. Carece dessa designação porque há parâmetros que não foram atendidos, nomeadamente, ausência de análises à qualidade da água. No local há uma placa vandalizada em que já não se consegue ler que é proibido tomar banho. Sendo que intenções mais ambiciosas estão para já na gaveta.
O local em causa é perigoso para os banhistas devido às oscilações das marés, e acidentes têm acontecido. Algumas pessoas já perderam a vida porque arriscaram a tomar banho no local. “Futuramente quando for considerada praia fluvial terá de ser posta uma barreira, porque passam aqui carreiras de barcos, onde a água tem cerca de cinco a seis metros de profundidade. Facilmente, o banhista num segundo tem água a dar pelo peito e no outro fica subitamente sem pé”.
“Já morreram duas pessoas aqui. E este ano uma criança também esteve em risco”, dá conta Fernando Silva que mantem uma roulotte de comida junta à praia, há 10 anos, e segundo o mesmo a época estival não significa mais negócio – “É melhor em Fevereiro ou Março. Já houve grande movimento em alturas de Páscoa mas agora está uma miséria. Deviam limpar a praia, que fica muito suja e cheia de latas. Os utilizadores da praia não têm cuidado nenhum. Fazem churrascos em sítios impróprios nesta zona”. O proprietário do bar existente no local, Porfírio Correia, também clama por mais limpeza e vigilância – “Este sítio está ao deus dará, ninguém impõe respeito. As pessoas têm um parque de merendas lá em baixo mas fazem fogueiras em qualquer sítio. Ninguém controla a praia”. O bar só funciona de Verão, porque de Inverno “não se justifica”.
Num dos últimos fins-de-semana, entrevistámos alguns banhistas. Diogo Duarte é de Lisboa, mas como estava a passar uns dias na casa de um amigo no Cartaxo não hesitou em vir até à praia de Valada. Reconhece que o rio é perigoso, mas como sabe nadar não costuma ter problemas. "Não tenho muitas cautelas mas tento não me afastar demasiado”. Quanto à zona envolvente, considera que deveria ter melhores condições “com mais esplanada e melhor apresentação”. Já Edgar Xavier, residente no Cartaxo, vê Valada como “alternativa para quem não tem muitas posses para ir à praia”, sendo que procura tomar banho “com alguma cautela”.
O projecto Valada XXI pensado ainda no tempo de Paulo Caldas quando era presidente da Câmara do Cartaxo visava uma intervenção na margem desde a fluvina ao parque de merendas, com o intuito de criar melhores condições e declarar oficialmente Valada como praia fluvial. “Esse projecto seria ótimo. Mesmo assim, aquela zona já teve outras condições melhores, mas entretanto a natureza do rio alterou-se, e a intervenção teria de ser diferente”, diz o presidente da junta.
“Valada podia ser o espelho do turismo no Cartaxo. Infelizmente a Câmara nunca soube aproveitar as potencialidades da nossa terra, que tem condições óptimas para receber barcos. Podíamos facilmente ser a porta de entrada do concelho para além das quintas e dos vinhos. O autarca também reconhece que há pouca oferta a nível da restauração, “mas os possíveis investidores também estão na expectativa para ver que sinais transmite a Câmara ou o Estado no sentido de desenvolver este espaço”. E observa ainda o seguinte: “Por outro lado, verifica-se que muitos proprietários de casas praticamente em ruínas, em Valada, pedem autênticas fortunas – se calhar julgando que isto é o Estoril ou Cascais – a quem vem de Lisboa ou de outros locais e que gostava de se fixar aqui, ou fazer pelo menos uma segunda habitação”, acrescenta e sentencia: “Temos níveis dramáticos de desertificação, se o PDM não for alterado Valada desaparece”.
O actual presidente da autarquia do Cartaxo, Pedro Ribeiro, deu conta numa das últimas reuniões do executivo da iniciativa de licenciamento do cais de Valada, estando em curso a vistoria técnica sobre o assoreamento. “Foi feita peritagem técnica em relação à fluvina, e as suas condições preocupam-nos, pois há um conjunto de barcos atracados que impossibilitam um pouco a actividade da mesma”. Quanto ao projecto Valada XXI recuperamos as declarações de Ribeiro aquando da entrevista ao Valor Local publicada na edição de Maio passado – “Sempre se falou muito nesse projecto, mas nunca se viu nada. Já falámos com a CCDR, para se procurar soluções para que investidores e casais jovens se fixem em Valada. Queremos licenciar a fluvina, passar as antigas instalações da hidráulica para alçada da Câmara, organizar também um festival de música em Valada. Mais do que grandes chavões, estamos empenhados em resolver os problemas. Toda a gente gosta de um power point muito bonito, e no Cartaxo fizeram-se muitos com a “Cidade do Conhecimento”; “Escola Superior de Negócios”, e o próprio “Valada XII” que deram em nada.
“O Tejo está desprezado”
A afirmação é de Madalena Viana, promotora turística, que se dedica, entre outras actividades, a organizar passeios de barco no Tejo. Na sua opinião, este rio precisa de levar uma grande volta, dado o estado em que se encontram muitas das ditas praias fluviais e não só.
“Há partes do rio completamente assoreadas em que temos quase de andar com o barco às costas. Se não fizemos algo rapidamente o Tejo será uma espécie de fio de água. Tudo por causa não só do assoreamento mas também da pesca ilegal e das barragens espanholas”. O incremento do turismo fluvial também tem de se fazer na sua opinião com mais oferta a nível da restauração à beira Tejo– “Como é possível só termos um restaurante nesta zona, entre Alhandra e Santarém, no Escaroupim?”, deixa a interrogação.
“Podíamos ser o espelho do turismo no Cartaxo”
O presidente da junta de freguesia de Valada do Ribatejo, Cartaxo, Manuel Fabiano começa por referir que chamar “praia fluvial” ao sítio em causa é exagerado. Carece dessa designação porque há parâmetros que não foram atendidos, nomeadamente, ausência de análises à qualidade da água. No local há uma placa vandalizada em que já não se consegue ler que é proibido tomar banho. Sendo que intenções mais ambiciosas estão para já na gaveta.
O local em causa é perigoso para os banhistas devido às oscilações das marés, e acidentes têm acontecido. Algumas pessoas já perderam a vida porque arriscaram a tomar banho no local. “Futuramente quando for considerada praia fluvial terá de ser posta uma barreira, porque passam aqui carreiras de barcos, onde a água tem cerca de cinco a seis metros de profundidade. Facilmente, o banhista num segundo tem água a dar pelo peito e no outro fica subitamente sem pé”.
“Já morreram duas pessoas aqui. E este ano uma criança também esteve em risco”, dá conta Fernando Silva que mantem uma roulotte de comida junta à praia, há 10 anos, e segundo o mesmo a época estival não significa mais negócio – “É melhor em Fevereiro ou Março. Já houve grande movimento em alturas de Páscoa mas agora está uma miséria. Deviam limpar a praia, que fica muito suja e cheia de latas. Os utilizadores da praia não têm cuidado nenhum. Fazem churrascos em sítios impróprios nesta zona”. O proprietário do bar existente no local, Porfírio Correia, também clama por mais limpeza e vigilância – “Este sítio está ao deus dará, ninguém impõe respeito. As pessoas têm um parque de merendas lá em baixo mas fazem fogueiras em qualquer sítio. Ninguém controla a praia”. O bar só funciona de Verão, porque de Inverno “não se justifica”.
Num dos últimos fins-de-semana, entrevistámos alguns banhistas. Diogo Duarte é de Lisboa, mas como estava a passar uns dias na casa de um amigo no Cartaxo não hesitou em vir até à praia de Valada. Reconhece que o rio é perigoso, mas como sabe nadar não costuma ter problemas. "Não tenho muitas cautelas mas tento não me afastar demasiado”. Quanto à zona envolvente, considera que deveria ter melhores condições “com mais esplanada e melhor apresentação”. Já Edgar Xavier, residente no Cartaxo, vê Valada como “alternativa para quem não tem muitas posses para ir à praia”, sendo que procura tomar banho “com alguma cautela”.
O projecto Valada XXI pensado ainda no tempo de Paulo Caldas quando era presidente da Câmara do Cartaxo visava uma intervenção na margem desde a fluvina ao parque de merendas, com o intuito de criar melhores condições e declarar oficialmente Valada como praia fluvial. “Esse projecto seria ótimo. Mesmo assim, aquela zona já teve outras condições melhores, mas entretanto a natureza do rio alterou-se, e a intervenção teria de ser diferente”, diz o presidente da junta.
“Valada podia ser o espelho do turismo no Cartaxo. Infelizmente a Câmara nunca soube aproveitar as potencialidades da nossa terra, que tem condições óptimas para receber barcos. Podíamos facilmente ser a porta de entrada do concelho para além das quintas e dos vinhos. O autarca também reconhece que há pouca oferta a nível da restauração, “mas os possíveis investidores também estão na expectativa para ver que sinais transmite a Câmara ou o Estado no sentido de desenvolver este espaço”. E observa ainda o seguinte: “Por outro lado, verifica-se que muitos proprietários de casas praticamente em ruínas, em Valada, pedem autênticas fortunas – se calhar julgando que isto é o Estoril ou Cascais – a quem vem de Lisboa ou de outros locais e que gostava de se fixar aqui, ou fazer pelo menos uma segunda habitação”, acrescenta e sentencia: “Temos níveis dramáticos de desertificação, se o PDM não for alterado Valada desaparece”.
O actual presidente da autarquia do Cartaxo, Pedro Ribeiro, deu conta numa das últimas reuniões do executivo da iniciativa de licenciamento do cais de Valada, estando em curso a vistoria técnica sobre o assoreamento. “Foi feita peritagem técnica em relação à fluvina, e as suas condições preocupam-nos, pois há um conjunto de barcos atracados que impossibilitam um pouco a actividade da mesma”. Quanto ao projecto Valada XXI recuperamos as declarações de Ribeiro aquando da entrevista ao Valor Local publicada na edição de Maio passado – “Sempre se falou muito nesse projecto, mas nunca se viu nada. Já falámos com a CCDR, para se procurar soluções para que investidores e casais jovens se fixem em Valada. Queremos licenciar a fluvina, passar as antigas instalações da hidráulica para alçada da Câmara, organizar também um festival de música em Valada. Mais do que grandes chavões, estamos empenhados em resolver os problemas. Toda a gente gosta de um power point muito bonito, e no Cartaxo fizeram-se muitos com a “Cidade do Conhecimento”; “Escola Superior de Negócios”, e o próprio “Valada XII” que deram em nada.
“O Tejo está desprezado”
A afirmação é de Madalena Viana, promotora turística, que se dedica, entre outras actividades, a organizar passeios de barco no Tejo. Na sua opinião, este rio precisa de levar uma grande volta, dado o estado em que se encontram muitas das ditas praias fluviais e não só.
“Há partes do rio completamente assoreadas em que temos quase de andar com o barco às costas. Se não fizemos algo rapidamente o Tejo será uma espécie de fio de água. Tudo por causa não só do assoreamento mas também da pesca ilegal e das barragens espanholas”. O incremento do turismo fluvial também tem de se fazer na sua opinião com mais oferta a nível da restauração à beira Tejo– “Como é possível só termos um restaurante nesta zona, entre Alhandra e Santarém, no Escaroupim?”, deixa a interrogação.
Salvaterra de Magos
Praia Doce ainda à espera de melhores dias
Encontra-se num avançado estado de degradação desde há alguns anos a Praia Doce em Salvaterra de Magos. O mobiliário urbano foi devastado, por incúria da população um pouco à semelhança do que aconteceu em Azambuja, e o tema da recuperação daquele espaço tem sido bandeira de campanha dos diferentes partidos em vários actos eleitorais.
Hoje, tendo em conta as dificuldades económicas da autarquia esse projecto foi posto de parte para já. O presidente da autarquia, Hélder Esménio, refere que já intuíu o que pode fazer, com “uma limpeza até onde for possível do local”. A recuperação do edificado existente com recurso a verbas públicas será para já adiada. “Só faz sentido gastar dinheiro nos apoios de bar e nos sanitários, quando tivermos um projecto que vá mais longe e possamos criar uma praia fluvial, com pessoas a fruírem da água e da areia, mas com condições, caso contrário corremos o risco de fazer as obras e os materiais serem vandalizados como de resto já aconteceu anteriormente”.
A Câmara está a ponderar a apresentação de uma candidatura ao QREN para limpeza do local e desassoreamento do braço de rio, através de dragagens, com recurso a um privado. “Seguir-se-á reunião com Agência Portuguesa do Ambiente para contornar impedimentos legais; se as conversações não chegarem a bom porto, temos de abanonar a ideia de que ali existe uma praia, e focarmo-nos na limpeza do local para pesca e piqueniques”.
Nos últimos anos, e noutra zona do rio Tejo em Salvaterra de Magos, no Escaroupim alvo de muitas visitas dos turistas, tem surgido interesse por parte de investidores na possibilidade de ali virem a consolidar um projecto turístico de charme, com bungalows, por exemplo. “Há mais do que uma pretensão desse tipo, mas aqueles terrenos são de reserva ecológica e com limitações drásticas, em leito de cheia, em que a construção está interdita”, dá conta Esménio. “A nossa ideia é criar um apoio de bar no Escaroupim com sanitários, um projecto simples que está a enfrentar alguma burocracia. É tremenda a dificuldade em criarmos um apoio de praia por parte da administração central”, refere salientando: “Se conseguirmos será um primeiro passo, depois vamos tentar defender a possibilidade de licenciamentos, tendo em conta o nosso vasto património à beira Tejo demonstrando que precisamos de restauração e hotelaria para acolher os turistas”. Tal como Joaquim Ramos, este autarca também concorda que pode haver demasiados lobbies nos organismos do Estado, mas tudo se “resume a fazer equilíbrios para que a paisagem do Tejo, por um lado, não seja destruída, e por outro manter o seu quê de selvagem, e com critério permitir o surgimento de alguns projectos mais estruturantes”.
Sílvia Agostinho
23-06-2014