Quarta vaga da pandemia obriga restaurantes da região a reinventarem-se
Os desabafos dos responsáveis de "A Prensa", "O Fuso" e "Oficina dos Sabores". Na área de influência do nosso jornal apenas duas farmácias de Benavente fazem parte da lista da DGS para os testes de Covid-19 e confessam que não têm tido mãos a medir
|31 Jul 2021 10:54
Sílvia Carvalho d'Almeida As medidas atuais de mitigação da Covid-19 preveem a obrigatoriedade de efetuar testes PCR à portas de restaurantes, ou em alternativa mostrar um certificado de vacina válido, nas sextas, sábados e domingos. Conversámos com alguns proprietários e gerentes deste tipo de estabelecimentos, para saber como está a ser gerida toda esta questão, e como se estão a adaptar a esta nova realidade, para além de tentarmos saber as reações das pessoas a estas medidas. Para além disto, entrámos em contato com algumas farmácias para percebermos como tem sido a afluência na procura dos testes. Também contactámos várias unidades hoteleiras na região, algumas recusaram colaborar connosco alegando indisponibilidade de momento, outras acabaram por pedir perguntas por escrito, mas não nos fizeram chegar as respostas.
O Conselho de Ministros deu a conhecer, esta quinta-feira, dia 29 de julho, novas medidas que vão no sentido de aliviar estes tempos, que têm sido de chumbo, sobretudo para a restauração que tem vivido dias de ansiedade e de incertezas. Sobre os testes, Nuno Almeida do restaurante “A Prensa”, em Alenquer, não os faz no seu restaurante. Esclarece que não tem formação para tal e não compreende esta medida por parte do Governo. Neste estabelecimento de restauração, limitam-se a receber os certificados de vacina que são validados pela aplicação de internet, mas ainda assim diz que “não têm forma de saber se o certificado é da pessoa em questão, pois não é legal pedir identificação, por via da Lei de Proteção de Dados”. Este “é mais um problema” acrescido a tantos outros que a pandemia veio trazer. Tem sentido uma quebra muito grande no negócio, pois muitas vezes, e ao trabalhar essencialmente com famílias, os membros mais velhos trazem certificados, mas os mais jovens não, e os clientes decidem então ficar por casa. Outra coisa que o preocupa é que muitas pessoas não percebem que estas medidas são impostas, e não uma iniciativa do restaurante. O estabelecimento tem três salas, “mas felizmente pode contar com uma esplanada, que é onde a maioria dos clientes opta por estar”. Nuno Almeida confessa à nossa reportagem que não é fácil continuar a levar este barco, até porque se dependesse unicamente dos espaços interiores para servir refeições já tinha fechado. Por outro lamenta que se esteja a “pôr as pessoas umas contra as outras” face ao estado de sítio que mais uma vaga da pandemia veio trazer. Na sua opinião, o Governo está a usar os restaurantes como escudo para obrigar as pessoas a tomar a vacina. “O sentimento é o de descrédito no Governo e desânimo com a atual situação dos fins-de-semana, que era quando se faturava mais”. A continuar assim não tem dúvidas de que muitos restaurantes irão à falência. Jaime Canteiro, do restaurante “Oficina dos Sabores”, em Aveiras de Cima, é da mesma opinião do seu colega: Não têm formação para testar os clientes, pelo que não o fazem. No entanto é obrigatório ter a vacina da Covid-19 para que os clientes entrem no restaurante, pelo que pedem o certificado, ou pelo menos o teste negativo. À semelhança de “A Prensa”, não têm como saber se este pertence a quem o entrega, e muitas famílias decidem não frequentar o restaurante pois os elementos mais novos ainda não foram vacinados. Para além disto, este estabelecimento, que realiza batizados e festas, regista por estes dias muitos cancelamentos para estas celebrações que comportam sempre mais convidados, porque as pessoas recusam-se a fazer testes, mesmo com a deslocação de uma equipa de enfermeiros ao local do restaurante. O verão é a melhor altura do ano para a “Oficina dos Sabores” mas a quebra na faturação “tem sido muito grande” face às despesas. Contudo a unidade de restauração tem conseguido manter os postos de trabalho. O restaurante tem take away, mas segundo Jaime Canteiro “não é expressivo”. Neste caso, a estrutura financeira permite que o restaurante não feche, “mesmo que a esplanada não tenha registado muita procura devido ao tempo que se tem feito sentir”. Relativamente aos apoios do Estado, não têm tido problemas, e o acesso tem sido rápido embora não cubra a totalidade dos prejuízos. Delfim Marques do restaurante “O Fuso” em Arruda dos Vinhos conta-nos que esta medida o está a afetar imenso. Os testes que são feitos à entrada, são ao custo de compra, ou seja, não faz lucro com os mesmos, e esclarece que apenas confirma os resultados, uma vez que não tem formação para os aplicar. Diz que esta medida é incorreta porque não faz sentido ser ao fim de semana. Para o empresário, esta é apenas uma forma de o “Governo não ser acusado de não fazer nada.” O problema que evidencia aqui são os jovens não vacinados, mas esclarece que mesmo que estes não frequentem restaurantes “acabam por se juntar em qualquer lado”, muitas vezes em cafés, pelo que não percebe por que razão é que este setor tem que pagar essa fatura. “Estas medidas são completamente despropositadas, isto acaba por ser uma bandeira do Governo para dizer que está a fazer alguma coisa. As medidas que já tínhamos eram suficientes, porque mesmo que estivéssemos fechados, as pessoas jantavam em casa umas das outras e a Covid não deixava de se espalhar”. Não despediu funcionários, pois tinha recursos, nesta casa que tem mais de 50 anos. As ajudas do Estado, enquanto estiveram fechados, foram uma ajuda, no entanto ainda não receberam os apoios à retoma. A mensagem que deixa aos nossos leitores é que “os restaurantes nunca foram o motivo de proliferação do vírus”, pelo que apela a que as pessoas não tenham medo de os frequentar. Farmácias de Benavente são as únicas que aceitaram estar na lista da DGS e não há mãos a medir Segundo nos diz Ana Isaías, diretora técnica da Farmácia Batista em Benavente, tem havido muita afluência de pessoas que pretendem comprar testes. “Vêm de todo o lado, de Salvaterra, de Coruche, de Santarém, de Alpiarça, de Alhandra, Viana do Castelo, Amadora, até mesmo do Norte, pois muitas vezes estão de passagem e decidem testar-se”, possivelmente para poderem ter acesso a espaços da região tais como restaurantes e hotéis. Grande parte de quem visita a farmácia já é vacinado, e quem recorre mais ao teste de PCR são os jovens. Não tem ouvido muitas queixas de potenciais opositores à vacinação porque no fundo a população portuguesa começa a habituar-se a este novo normal entre testes e vacinas. A venda dos testes está por isso a um ritmo muito acelerado, fruto das medidas impostas pelo Governo, mais recentemente. Para Ana Miguéns, da Farmácia Miguéns, também em Benavente, tem havido muitas solicitações, porém sendo os testes feitos na farmácia, por farmacêuticos e técnicos, estes têm que ser agendados. E as solicitações são muitas, mais do que aquelas que a farmácia pode comportar, especialmente agora, em período de férias, de alguns funcionários. Por exemplo, as chamadas telefónicas são tantas que por vezes não conseguem atender. Isto acontece, segundo Ana Miguéns, depois de os testes terem comparticipação por parte do Estado, e de o Governo ter obrigado à testagem de todos os que não são vacinados para a entrada em eventos, restaurantes, e unidades hoteleiras. Quem procura mais os testes são os jovens que ainda não têm certificado de vacina, e para além das pessoas do distrito de Santarém, também vem muita gente do distrito de Lisboa. A diretora técnica acredita que em breve não serão apenas duas farmácias em Benavente a efetuar testes rápidos, já que mais estabelecimentos desta natureza começaram a aderir à testagem. As pessoas estão recetivas à vacina, no entanto segundo a farmacêutica, “têm a ideia de que após a sua toma podem andar à vontade, o que não é verdade.” Segundo nos explica, as vacinas não são salvadoras, o ideal é continuar a tomar as medidas de segurança. “A arma mais eficaz é o distanciamento, higienização e a máscara, já que a vacina é uma profilaxia, tal como qualquer vacina.” Compara esta vacina à vacina da gripe, que é uma doença sazonal, e prevê que a Covid-19 terá eventualmente novas estirpes a aparecer, pelo que serão necessárias tomas periódicas, tal como no caso da H1N1. Deixe a sua Opinião sobre este Artigo
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