Refeições escolares da CIMLT vão novamente para empresa que tem estado debaixo de fogo nos últimos anos
A Gertal é uma das empresas mais criticadas do seu ramo. De ano para ano as queixas continuam a perdurar, mas a empresa não deixa de ganhar o concurso das refeições para as escolas. Sílvia Agostinho 18-09-2015 às 21:30 A Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) decidiu mais uma vez adjudicar a favor da empresa Gertal o concurso internacional de fornecimento de refeições escolares, no valor de 2 milhões e 400 mil euros (sem IVA). Esta é uma das empresas mais criticadas do seu ramo, e muitos colocam em causa, se a atribuição das refeições escolares não poderia estar na alçada de instituições ou empresas da região.
No entanto competir com preços de 1,40 euros por aluno torna-se complicado. Na hora de eleger a empresa vencedora destes concursos, o preço é que fala mais alto. Enquanto isso, vamos ouvindo falar em queixas amiúde deste tipo de empresas: pouca comida e nem sempre confecionada da melhor forma. Em certos concelhos do país o tom chega a ser feroz, até com interpelações ao ministro da Educação como aconteceu em Leiria, e através de um deputado do PSD. Pelo que a nossa reportagem conseguiu constatar em alguns concelhos da região, o tom de crítica já foi mais forte, mas só com muita supervisão é que se consegue fazer com que o serviço prestado por esta empresa nas cantinas não resvale. António Torres, secretário da CIMLT, em declarações ao Valor Local coloca a questão antes no facto de o concurso ter sido feito dentro da legalidade e do que está no caderno de encargos nesta matéria. “São as câmaras que fazem a análise da qualidade do serviço”, refere, rejeitando outras responsabilidades. O responsável reitera que esta empresa foi a que apresentou a melhor proposta. Quanto ao passado e às críticas diz que têm de ser dirimidas em termos de escolas e da comunidade, cabendo à CIMLT apenas lançar os concursos. Já o representante para esta região do Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul, António Barbosa, tem muitas dúvidas quanto ao cumprimento do caderno de encargos por parte da empresa, no caso dos municípios da CIMLT, e de outros concelhos da nossa zona. Pelo que tem conhecimento, a empresa não está a cumprir com o estipulado em vários itens e seria de questionar a sua continuidade. À nossa reportagem adianta que “em muitas cantinas onde a empresa tem trabalhadores próprios (como no caso de Azambuja) não há controle por parte do Estado acerca do número adequado de pessoas nesses locais, que normalmente é inferior, numa lógica de poupança e de sobrecarga dos trabalhadores que lá estão”. O sindicalista não tem dúvidas – “Estamos a falar de uma das piores empresas do país neste aspeto, se bem que quase todas elas trabalham mal, mas no caso desta, também temos de acrescentar as terríveis condições de trabalho que proporciona aos seus funcionários com salários miseráveis, muitas vezes sem direito a férias”. Uma dirigente sindical que pediu o anonimato e que trabalha nesta empresa, num dos concelhos da região, acrescentou à nossa reportagem – “Tudo isto acaba por prejudicar também o serviço que é prestado às comunidades e às escolas, pois há pessoas a viverem situações de stress elevado, com imposição de férias quando é mais oportuno para a empresa”. Esta dirigente sindical concorda que “as queixas das colegas são muitas”. “A empresa não paga com o que se compromete, faz ameaças e tem o descaramento nas férias escolares de pedir às trabalhadoras para meterem baixa”. É sob “este clima de cortar à faca” que “muitas funcionárias trabalham a confecionar milhares de refeições para as crianças da região”. Já quanto ao serviço prestado não tem dúvidas – “A empresa não cumpre com o que está na ementa, por vezes lê-se que em determinado dia será servido peixe-espada ao almoço, mas acaba por ser mentira, inventam um outro peixe qualquer mais barato para essa refeição, só para enganar os encarregados de educação”. As colegas chegam a trazer condimentos de casa, só porque “querem manter o mínimo de brio profissional”. Por vezes, “as cozinheiras fazem autênticas habilidades com o que lhes é fornecido”. No meu caso “estou sempre a refilar que os miúdos precisam de comer porque estão a crescer, embora no caso da minha escola, a empresa acabe por ter mesmo assim um mínimo de respeito”. “Eles fazem preços baratíssimos e nós que estamos no terreno é que nos vemos aflitíssimas”. Um dos concelhos que esteve na linha da frente no que diz respeito a contestar a empresa foi o de Espinho, e como este também Santiago do Cacém, Marinha Grande, Batalha, Porto de Mós e Leiria, entre outros um pouco por todo o país. Tivemos acesso no caso de Espinho a correspondência trocada entre encarregados de educação e as escolas, onde a empresa tem fama de servir melão com 0,5cm de espessura; gelatina liquida, almôndegas cruas, salada sem azeite. No caso de municípios como o de Benavente, a empresa trabalha com funcionárias das escolas, e neste ponto reconhece a dirigente sindical que “as reclamações acabam por ser menores, mas mesmo assim é preciso andar sempre em cima do serviço prestado, a ver muito bem como as coisas se passam, caso contrário acabam por prevaricar”. Fonte da autarquia garantiu isto mesmo: “As refeições servidas pela empresa chegaram a ser contestadas, mas a fiscalização do município tornou-se mais intensa, e o serviço melhorou.” António Barbosa acrescenta – “A Gertal controla a grande maioria das escolas, porque apresenta os melhores preços. Dificilmente conseguiremos comprovar o significado desse valor em relação ao que é servido às crianças. Por vezes só dão metade de uma peça de fruta porque dizem que elas não conseguem comer mais, logo aí já estão a jogar com os valores e com o lucro”. Pelo que referem alguns trabalhadores da nossa região – “As ementas são muito repetitivas, e a comida é insuficiente”. O concelho do Cartaxo vai entrar pela primeira vez nas refeições escolares para algumas escolas através desta empresa. Pedro Ribeiro, presidente desta autarquia, refere que os preparativos estão a ser devidamente acautelados tendo em conta também o que já se ouviu dizer acerca da empresa. Aliás esta nova realidade também suscitou alguma apreensão entre os eleitos de outros partidos na autarquia que tiveram ocasião de expressar publicamente as suas dúvidas. A Câmara já está em negociações com a Gertal que deverá atender aos pedidos do município, nomeadamente, quem vai cozinhar as refeições serão os funcionários que já estão nas escolas. “Manifestei as minhas preocupações, e procurámos saber como será o acompanhamento e a fiscalização para que o ano letivo arranque da melhor maneira”. Sem querer criar alarmismos, o autarca refere que acreditou na experiência de outros concelhos vizinhos como Santarém, Almeirim e Rio Maior “que há muitos anos trabalham com empresas deste tipo”. Pedro Ribeiro acautelou que as refeições vão ser cozinhadas nas escolas EB1 de Pontével, escola José Tagarro, e EB 2,3 de Pontével, acompanhadas por nutricionista. Paulo Ferreira, presidente da Associação de Pais do Agrupamento Marcelino Mesquita, também se encontra na expetativa face à entrada da empresa (que já atua no concelho na escola secundária) nas escolas do ensino básico- “Não sei como é que vai ser feita a logística, pois terá de ser feito o transporte de algumas crianças das escolas para outras onde vão almoçar, e as funcionárias já são poucas”. “Para já sei que há queixas sobre a empresa, dizem que na secundária e na escola nova a comida não é boa, servem pouco, ouvi dizer que no ano passado, houve um dia, em que só serviram atum, porque faltou a luz”, conclui. Já no caso de Azambuja, este concelho sentiu na pele o que foi a atuação da empresa em outros anos. No ano letivo de 2012/2013, o vereador da Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra, Jorge Lopes, em declarações à Lusa repudiava o comportamento da Gertal no concelho. "Não aceitamos que os lucros da empresa privada, a quem foi feita a concessão do serviço das refeições, sejam feitos à custa da falta de qualidade e quantidade na alimentação das nossas crianças", defendia o vereador. No presente mandato autárquico, principalmente no último ano, reconhece que as críticas são menores, e que as coisas não estão assim tão más. A sua colega de vereação Maria João Canilho que desempenha funções numa instituição social do concelho, e que tem acompanhado desde há muitos anos esta matéria, refere que seria de se pensar numa solução que talvez passasse pelo fornecimento de refeições através das IPSS’s ou outras instituições. À época das manifestações, lembra-se que na altura foi necessária uma intervenção mais musculada da comunidade em relação a esta empresa, nomeadamente, por parte da antiga vereadora da Educação, Ana Maria Ferreira. Já David Mendes da CDU, em reunião de Câmara, estranhou que este tipo de concursos lançados pela CIMLT acabe por beneficiar sempre as grandes empresas, em desfavor do tecido local. Luís de Sousa, presidente deste município, lembra-se de a empresa ter sido muito criticada, mas atualmente “temos uma funcionária a percorrer as cantinas, e nós próprios, neste caso eu e os vereadores, vamos muitas vezes verificar se as coisas continuam a correr bem ou não”. Quanto a críticas lembra-se de nos últimos meses haver queixas de que tinha sido servida fruta demasiado verde. Sandra Pratas Seabra com filhos a frequentarem as várias escolas do concelho, também reconhece que o serviço está melhor, apesar de já terem sido servidas “batatas frias e duras, e hambúrgueres de pior qualidade”, mas mesmo assim não se afirma descontente, face ao que já se ouviu dizer noutras alturas. O Valor Local contactou a Gertal para se defender das críticas mas perentoriamente nos foi dito que não tem interesse em prestar declarações. |
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