Resort de luxo no Mouchão do Lombo do Tejo causa polémica
CDU refere que a ilha não suporta a carga de edificado prevista para o local. Em causa o Plano de Ordenamento da Reserva Natural do Estuário do Tejo
|27 Abr 2021 17:26
Sílvia Agostinho A hipótese de construção de um hotel de luxo no denominado Mouchão do Lombo do Tejo, que fica frente à cidade de Alverca, conforme o Valor Local avançou com a notícia em 2019, levou, nesta altura, à redação de uma carta aberta por parte de uma série de especialistas contra as pretensões do proprietário local, tendo em conta com a “possível delapidação ambiental” do mouchão. “Em defesa do Estuário do Tejo”, assim se chama o documento que vem sendo divulgado na comunicação social nos últimos tempos. Os signatários do documento onde estão, entre outros, antigos diretores de institutos ligados ao Estado, ex-governantes, professores universitários, biólogos, e engenheiros fala da intensificação da presença humana no mouchão em causa que vai significar “mais ruído e perturbação à vida selvagem do estuário em especial da avifauna”, e que por esse facto “o dinheiro e os negócios não devem prevalecer sobre os valore fundamentais da vida.”
O projeto chama-se Ilha de Lisboa, e a propriedade foi adquirida por Sidik Latif em 2018, por 35 milhões de euros, com o intuito de dar um cunho turístico ao local que passaria não só por um empreendimento hoteleiro, mas também pela disponibilização de várias atividades ligadas ao lazer como equitação, kitesurfing , vela e passeios de charrete. O apelo é ao turismo no local e são destacados, entre outros pontos de interesse, a proximidade ao futuro aeroporto de Lisboa, à Ponte Vasco da Gama, e até à pista Alverca no caso de vir a receber jatos privados. Sidik Latif vendeu negócios Brasil ligados à hotelaria. Foi proprietário do Sunrise Hotels & Resort Holding e do Sunsys Hotel e Resort. O Mouchão do Lombo do Tejo tem estado sob os holofotes desde há vários anos, e as polémicas têm-se multiplicado. Em 2010 já se falava num projeto de turismo de natureza. A ilha é pontuada por algumas construções de apoio à atividade agrícola. Ao longo dos anos, muitas têm sido as vozes discordantes quanto aos usos e à intensidade da marca humana naqueles territórios selvagens, nomeadamente, através de grupos ambientalistas do concelho que falavam das diversas “intervenções ilegais” realizadas neste mouchão em concreto. Numa notícia de fevereiro de 2008, da agência Lusa, em que citava o grupo Xiradania, esta associação ambiental dava conta das denúncias que, ao longo dos tempos, endereçou às entidades estatais relacionadas com “obras de ampliação de caminhos, e de edifícios pré-existentes, bem como a construção de outros novos”, representando “um aumento da área construída de quase 130 por cento”. As ilegalidades, segundo o movimento Xiradania, estendiam-se ainda à construção de um cais ilegal, e à destruição do coberto vegetal da zona entre as marés nas áreas adjacentes ao cais pré-existente. Foram levantados diversos autos à anterior proprietária Real Mouchão do Lombo do Tejo. OUÇA O ÁUDIO
Nuno Libório da CDU fala em erro crasso
Em reunião de Câmara, o vereador da CDU, Nuno Libório, vincou a sua preocupação face a este investimento que conta com fundos soberanos do Dubai, um fundo privado de Inglaterra e investidores brasileiros a que se junta o interesse financeiro de um grupo tailandês de hotelaria de luxo, o Six Senses. Libório diz ter ficado estupefacto com a regularização das construções na componente que diz respeito à alteração do uso do solo para fim turístico em 27 m2. O resort de luxo terá 70 quartos e um spa, mais 60 a 70 “vilas” em madeira entre os 250 e os 450m2. Para o autarca “isto não é turismo de natureza”, e não tem nada a ver com o Plano de Ordenamento do Estuário do Tejo ou o Plano Diretor Municipal. O autarca está convencido que a ir para a frente “o projeto vem trazer consequências bastante negativas sobre a preservação dos mouchões”. Nuno Libório pediu para que a Câmara providencie a informação sobre o andamento do processo. Em entrevista à Rádio Valor Local, o autarca desenvolve o seu ponto de vista sobre este tema (ouça o áudio no ficheiro acima). Recorde-se que há pouco mais de um ano, o presidente da Câmara, Alberto Mesquita, entrevistado pelo nosso jornal assegurava que o processo estava bem encaminhado junto das entidades que superintendem o ambiente, e que não conhecera nenhum retrocesso. O presidente da Câmara não é contra os projetos turísticos, pois pior fim está a ter, na sua opinião, o Mouchão da Póvoa, deixado ao abandono e a sofrer os efeitos naturais da erosão “arriscando-se a desaparecer mais dia menos dia.” Os mouchões estão identificados no Plano de Ordenamento da Reserva Natural do Estuário do Tejo como áreas de intervenção específica, sendo prioritárias ações para a recuperação dos habitats e da paisagem, a manutenção das utilizações necessárias à conservação dos recursos naturais e a promoção de ações de investigação científica e de sensibilização, bem como de desenvolvimento local, nomeadamente, manter a integridade física dos mouchões, e dos seus habitats naturais, através da contenção dos processos erosivos que ameaçam a sua estabilidade e através da promoção de atividades sustentáveis. Deixe a sua Opinião sobre este Artigo
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