Svitlana e Yana fugiram da guerra e estão agora a viver em Vale do Paraíso
Para além de querer voltar ao seu país para o reconstruir, gostaria de um dia receber na Ucrânia todos os amigos que já fez em Vale do Paraíso, e quem sabe ir regressando a Portugal de férias
|06 Jun 2022 15:47
Sílvia Agostinho Svitlana e Yana Versta são mãe e filha refugiadas da guerra na Ucrânia que encontraram em Vale do Paraíso um refúgio, amigos e principalmente paz numa altura em que o país está a ferro e fogo devido à invasão russa desde finais de fevereiro. Para trás Svitalana conta-nos que deixou o filho de 20 anos e o marido a combater. São oriundas da cidade de Odessa, uma das mais bombardeadas pelo exército russo. Na última Ávinho desfilaram juntamente com as gentes de Vale do Paraíso com os trajes do rancho folclórico no cortejo que ilustrava o ciclo do vinho.
Vieram para a localidade – que durante mais de um mês acolheu refugiados ucranianos – no dia 25 de março. A irmã e a mãe de Svitlana ainda estão na Ucrânia, mas já não vivem nas suas cidades, preferiram ir para outras localidades mais perto da fronteira com a Polónia, onde a guerra está menos exacerbada, sendo há partida sítios “mais seguros”. Já o filho e o marido fazem relatos de “bombas que sobrevoam as suas cabeças, e isso está a ser muto difícil para todos”. Esta mãe e filha escolheram Portugal por ser “um país calmo e muito longe da Ucrânia”, sendo que aproveitou o voo da Ukrainian Refugees UAPT que aterrou na Polónia para embarcar rumo a Portugal. Com Svitlana e Yana vieram muitos compatriotas, sendo que várias centenas de mulheres e crianças foram acolhidas no Pavilhão Desportivo de Vale do Paraíso e na Casa da Juventude em Azambuja. Todas elas foram encaminhadas para famílias de acolhimento e muitas destas pessoas já possuem emprego no nosso país ou estão a frequentar o ensino, no caso dos jovens e crianças. Ana Coelho, vereadora da Proteção Civil na Câmara de Azambuja, que esteve a acompanhar a estadia dos refugiados no pavilhão, refere que o processo “foi muito bem encaminhado” pela associação. Os refugiados foram integrados em famílias de acolhimento onde o processo tem decorrido de forma pacífica. No concelho de Azambuja permanecem três famílias já integradas. “Continuamos a contactar com muitas das famílias refugiadas espalhadas pelo país, e embora ainda nem todas tenham conseguido emprego, não temos conhecimento de ninguém que tenha saído das casas para onde foram devido a alguma situação mais desconfortável”. Depois de três semanas a viverem no pavilhão, um proprietário de Vale do Paraíso cedeu uma casa de que não precisava no momento a Svitlana e a Yana na localidade. Pagam apenas as despesas de luz, água, e gás, dado que esse proprietário, segundo nos refere Svitlana, num gesto de boa vontade, que agradece, prescindiu da renda. A ucraniana está neste momento empregada num jardim de infância em Azambuja, e a filha frequenta a escola secundária também na sede de concelho. Aprender a língua não tem sido fácil, “mas estamos a tentar”. A filha está a ter algumas dificuldades na escola, mas com ajuda vai resolvendo. A duas referem que têm sido muito bem tratadas pela população desde o primeiro dia e que a estadia no pavilhão acabou por correr bem. “Tivemos comida, cama, banho, e cuidado, porque fizeram tudo por nós”. “Sentimo-nos muito seguras”, enfatiza, tendo em conta os traumas da guerra e o estatuto de refugiadas. Para trás ficou uma vida na Ucrânia que esperam um dia recuperar. Svitlana dirigia com o marido uma empresa familiar de camionagem no setor da logística. Tinha uma vida estável que a guerra veio destruir. Agora com uma nova atividade profissional diz que está a gostar de conviver todos os dias com “crianças pequenas e amorosas”. Todos os dias apanha boleia com residentes de Vale do Paraíso para o trabalho ou no regresso – “Vou com a Dina Patrício e regresso com o professor José Paulo”. Nos tempos livres, mãe e filha costumam andar de bicicleta, disponibilizada pelo presidente da junta, Sérgio Alexandre, e vão até Aveiras de Cima. Também já participaram numa excursão organizada pela associação e foram de comboio com outros compatriotas até Cascais e Lisboa. Mas Svitlana gosta especialmente da terra que a acolheu – “É tudo muito verde e bonito”. Svitlana também se está a habituar aos pratos portugueses e não tem dúvidas em referir que o pão é melhor do que na sua terra, e conta que fruta como nêsperas foram uma revelação para as duas. Nesta altura, a ucraniana não faz ideia se a sua casa ainda está de pé ou não, mas as casas da irmã e da mãe já foram destruídas, e não têm lugar para viverem se quiserem regressar. Continua a contactar com outras mulheres refugiadas que também passaram pelo pavilhão, que lhe dizem que estão bem, sendo que muitas delas já estão a trabalhar. Para além de querer voltar ao seu país para o reconstruir, gostaria de um dia receber na Ucrânia todos os amigos que já fez em Vale do Paraíso, e quem sabe ir regressando a Portugal de férias. “Gostaria imenso que o meu filho e o meu marido vissem este sítio, Vale do Paraíso, mais do que o oceano ou outra paisagem qualquer, porque este é um lugar espetacular”. |
|
Leia também
Censos 2021
|
Antigos doentes queixam-se de dificuldades respiratórias, perdas de memória e cansaço
|
Ouvimos responsáveis da Ordem dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos, utentes, o novo conselho de administração, os presidentes de Câmara e as associações de socorro nesta radiografia a esta unidade de saúde. Está pior ou não? Foi o que quisemos saber.
|
Vertical Divider
|
Notícias Mais Populares
Líder das Socialistas de Vila Franca bate com a porta Alenquer: Ruas floridas e animação no final das Festas do Espírito Santo Oestecim anuncia "casamento" com a Boa Viagem em Arruda dos Vinhos Possível ETVO em Arranhó está a ser um pesadelo para a população Feira de Maio de Azambuja despede-se em beleza |