Voluntários de Vale do Paraíso já são os primeiros amigos dos refugiados ucranianos
Sílvia Agostinho 17-03-2022 às 17:30
Sílvia Agostinho 17-03-2022 às 17:30
Maria Antonieta, Domingos Pereira e Filomena Esteves são apenas três dos muitos voluntários de Vale do Paraíso que se têm entregado de corpo e alma a proporcionar as melhores condições possíveis aos que fugiram da guerra na Ucrânia, e que estão a encontrar um porto de abrigo nesta localidade. É com muita emoção e com um sentido de missão que estão a encarar esta tarefa desde o dia em que os refugiados chegaram a 10 de março. Passam muito do seu tempo livre depois de um dia de trabalho no recinto do pavilhão, incluindo os fins de semana.
Filomena Esteves e Maria Antonieta estão encarregues da cozinha com a preparação de refeições e limpeza do espaço. Inicialmente a Câmara de Azambuja pretendia contratar para fornecimento de refeições a mesma empresa que trabalha com as escolas do concelho, mas face ao avolumar de oferta de alimentos, a agulha mudou. “Deram-nos tantos bens alimentares que decidimos começar a cozinhar para estas pessoas, e não há nada que se compare ao cheirinho a comida. O ânimo deles até mudou, porque o odor da comida a ser preparada dá-nos aquela sensação de conforto, de que estamos em casa, e isso também aconteceu aqui”, conta Filomena Esteves. Entre as refeições que já foram servidas refere que já confecionaram “stogonoff” que “adoraram” e uma espécie de “empadão de atum com pão”. Tudo é racionado para que não haja desperdício na cozinha. Mas até a sopa de beterraba, a borscht, típica daquela zona do mundo, as cozinheiras de Vale do Paraíso já experimentaram cozinhar com a ajuda das mulheres ucranianas que estão no pavilhão. “Perguntam se podem ajudar e têm colaborado na cozinha”. Filomena Esteves confidencia que esta é uma experiência enriquecedora a todos os níveis. “Uma das senhoras tem o marido a lutar perto de uma das centrais nucleares. No outro dia estava numa videochamada (aliás essa senhora anda sempre com o coração nas mãos) e chamou-me. O marido do lado de lá fez-me um gesto de agradecimento ao mesmo tempo que chorava compulsivamente. São coisas que ficam para sempre. Sinto-me muito pequenina perante aquilo que eles estão a passar”.
Filomena Esteves e Maria Antonieta estão encarregues da cozinha com a preparação de refeições e limpeza do espaço. Inicialmente a Câmara de Azambuja pretendia contratar para fornecimento de refeições a mesma empresa que trabalha com as escolas do concelho, mas face ao avolumar de oferta de alimentos, a agulha mudou. “Deram-nos tantos bens alimentares que decidimos começar a cozinhar para estas pessoas, e não há nada que se compare ao cheirinho a comida. O ânimo deles até mudou, porque o odor da comida a ser preparada dá-nos aquela sensação de conforto, de que estamos em casa, e isso também aconteceu aqui”, conta Filomena Esteves. Entre as refeições que já foram servidas refere que já confecionaram “stogonoff” que “adoraram” e uma espécie de “empadão de atum com pão”. Tudo é racionado para que não haja desperdício na cozinha. Mas até a sopa de beterraba, a borscht, típica daquela zona do mundo, as cozinheiras de Vale do Paraíso já experimentaram cozinhar com a ajuda das mulheres ucranianas que estão no pavilhão. “Perguntam se podem ajudar e têm colaborado na cozinha”. Filomena Esteves confidencia que esta é uma experiência enriquecedora a todos os níveis. “Uma das senhoras tem o marido a lutar perto de uma das centrais nucleares. No outro dia estava numa videochamada (aliás essa senhora anda sempre com o coração nas mãos) e chamou-me. O marido do lado de lá fez-me um gesto de agradecimento ao mesmo tempo que chorava compulsivamente. São coisas que ficam para sempre. Sinto-me muito pequenina perante aquilo que eles estão a passar”.
Os mimos por parte da comunidade de Vale do Paraíso sucedem-se: Uma criança também fez anos, entretanto, e foi “confecionado um bolo”. Maria Antonieta que também está entregue à cozinha relata que “são todos muito amorosos”. “Assim que soube que vinham para cá os refugiados disse logo ao presidente da junta, ao Sérgio, que contasse comigo para aquilo que fosse necessário, e cá estou com muito amor”. Já quanto à sopa de beterraba diz que se está a aprimorar pois “fica quase igual à deles”. Também uma travessa de fatias paridas confecionada recentemente desapareceu num ápice, contam as duas habitantes de Vale do Paraíso.
Em menos de uma semana várias famílias de refugiados já foram encaminhadas para casas de acolhimento. “Em poucos dias ganhamos muito apego às pessoas. Um menino agarrou-se a mim com muita pena de ter de ir.”, dá conta Filomena Esteves. Os voluntários têm transmitido às famílias que no caso de não se sentirem confortáveis para abandonar o pavilhão para não irem. Há um medo do desconhecido e a mudança de cenários em muito pouco tempo também está a mexer com o lado psicológico destas pessoas. “No fundo, antes de irem procuram obter aprovação junto de nós, aconselharem-se no fundo. Têm medo, porque ainda agora chegaram. Sentem-se serenos aqui e há receios de uma nova mudança brusca, porque há semanas que estão numa roda-viva”, enfatiza Filomena Esteves.
Em menos de uma semana várias famílias de refugiados já foram encaminhadas para casas de acolhimento. “Em poucos dias ganhamos muito apego às pessoas. Um menino agarrou-se a mim com muita pena de ter de ir.”, dá conta Filomena Esteves. Os voluntários têm transmitido às famílias que no caso de não se sentirem confortáveis para abandonar o pavilhão para não irem. Há um medo do desconhecido e a mudança de cenários em muito pouco tempo também está a mexer com o lado psicológico destas pessoas. “No fundo, antes de irem procuram obter aprovação junto de nós, aconselharem-se no fundo. Têm medo, porque ainda agora chegaram. Sentem-se serenos aqui e há receios de uma nova mudança brusca, porque há semanas que estão numa roda-viva”, enfatiza Filomena Esteves.
“O que está a acontecer é que nos pedem a opinião. Ficamos com o contacto quer da família de acolhimento quer dos refugiados. Já tivemos notícias dessas pessoas que passaram por aqui e que foram embora. Enviaram-nos fotografias. Confiam muito em nós e procuram aconselhar-se connosco”, evidencia, referindo que o google translator acaba por ser o maior amigo de portugueses e ucranianos nesta aventura. “No primeiro dia vinham muito tristes e amargurados o que é natural porque caíram aqui de paraquedas”, acrescenta Maria Antonieta. “Depois de o gelo ter sido quebrado, cresce aqui uma amizade, e os que saíram ficaram com os nossos contactos e nós com os deles, e houve promessas de um dia nos visitarmos mutuamente”, acrescenta Domingos Pereira, evidenciando – “Dizemos às pessoas que se não se sentirem bem que entrem em contacto connosco”. “Nunca se sabe como as coisas se vão proporcionar, porque ao fim de algumas semanas podem começar a surgir atritos. É um pouco como nós quando recebemos visitas nas nossas casas e ao cabo de alguns dias já estamos desejosos que se vão embora. É incontornável. Mas eles sabem que podem sempre contar connosco”, acrescenta Filomena Esteves.
As famílias que desejem acolher refugiados, por estes dias, podem inscrever-se quer nos municípios que já demonstraram essa disponibilidade, quer na própria associação "Ukrainian Refugees” UAPT, entre outras entidades.
As famílias que desejem acolher refugiados, por estes dias, podem inscrever-se quer nos municípios que já demonstraram essa disponibilidade, quer na própria associação "Ukrainian Refugees” UAPT, entre outras entidades.
A solidariedade não conhece limites, e já foram oferecidos alguns instrumentos musicais dado que no pavilhão estiveram ou ainda estão algumas crianças praticantes. Guitarras, um piano e um violino foram emprestados ou oferecidos. “Vamos ter um violino cá para que uma menina possa ficar mais entretida. Foi um senhor de Sintra que decidiu fazer esta oferta bem como mais duas flautas, sabendo nós que pelo menos o violino é um instrumento caro. As pessoas tentam minimizar o sofrimento deles”, acrescenta Domingos Pereira. As ofertas chegam de todo o lado, desde o concelho até outras zonas entre os distritos de Santarém e de Lisboa. Muitas marcas individualmente já se quiseram associar. No dia da nossa reportagem chegou mais uma carrinha com bens enviados por um empresário. “Temos os stocks completamente abastecidos desde alimentação passando pela comida entre outros bens”.
A vertente do entretenimento para ajudar estas pessoas, especialmente as crianças, está a ser proporcionada por Domingos Pereira. No primeiro fim de semana organizou um passeio de bicicleta para os mais pequenos, e sem grande dificuldade moradores do concelho disponibilizaram bicicletas. “É assim a solidariedade dos portugueses, estamos sempre dispostos a ajudar”. Na sexta “lancei o repto e no sábado apareceram 20 bicicletas”. A memória dos rostos destes miúdos assim que viram as novas companheiras para passearem por Vale do Paraíso é inesquecível- “A felicidade foi enorme, agarram-se a mim e disseram obrigado Portugal”.
No próximo fim de semana “vamos organizar uma sessão de pinturas, mas isto é tudo muito dinâmico porque as pessoas vão saindo para as suas famílias de acolhimento. O que preparamos tem de ser em função das idades. As minhas filhas e as amigas estão a organizar esse workshop para passarem aqui umas horas. Penso que este vai ser um processo contínuo, porque uma vez que temos esta estrutura, deverá ser um primeiro porto de abrigo para os que cheguem aqui à região de Lisboa”. “Esta experiência vai ficar para a história de Vale do Paraíso, embora todo o concelho e a região estejam a aderir de uma forma extraordinária", enfatiza Domingos Pereira.
A vertente do entretenimento para ajudar estas pessoas, especialmente as crianças, está a ser proporcionada por Domingos Pereira. No primeiro fim de semana organizou um passeio de bicicleta para os mais pequenos, e sem grande dificuldade moradores do concelho disponibilizaram bicicletas. “É assim a solidariedade dos portugueses, estamos sempre dispostos a ajudar”. Na sexta “lancei o repto e no sábado apareceram 20 bicicletas”. A memória dos rostos destes miúdos assim que viram as novas companheiras para passearem por Vale do Paraíso é inesquecível- “A felicidade foi enorme, agarram-se a mim e disseram obrigado Portugal”.
No próximo fim de semana “vamos organizar uma sessão de pinturas, mas isto é tudo muito dinâmico porque as pessoas vão saindo para as suas famílias de acolhimento. O que preparamos tem de ser em função das idades. As minhas filhas e as amigas estão a organizar esse workshop para passarem aqui umas horas. Penso que este vai ser um processo contínuo, porque uma vez que temos esta estrutura, deverá ser um primeiro porto de abrigo para os que cheguem aqui à região de Lisboa”. “Esta experiência vai ficar para a história de Vale do Paraíso, embora todo o concelho e a região estejam a aderir de uma forma extraordinária", enfatiza Domingos Pereira.

Sérgio Alexandre, presidente da junta de Vale do Paraíso, enaltece comportamento da população
Sérgio Alexandre, o presidente da junta de freguesia de Vale do Paraíso, refere que estes têm sido dias de muitas emoções, que tenta controlar e sobretudo revela que faz um esforço para não se apegar muito às pessoas. “Sei que depois será mais difícil para mim quando se forem embora”. Têm sido muitas as horas que a equipa da junta tem dedicado a esta população que agora é uma espécie de “uma segunda família para nós”. “Depois de um dia de trabalho repartido entre as nossas profissões e o tempo que passamos aqui, quando a chega a hora de nos deitarmos na almofada temos uma sensação de dever cumprido e de satisfação connosco”. O presidente da junta é o primeiro a acender as luzes e o último que as apaga no pavilhão.
Entre voluntários e a população que vai ajudando como pode com a oferta de bens, Sérgio Alexandre fala em centenas de pessoas, “e isso dá-nos muita força”. “Tem sido incrível o carinho que demonstram para esta causa. A Câmara de Azambuja também feito tudo o que está ao seu alcance. Temos a certeza de que vamos deixar uma marca forte e que estas pessoas nunca mais se vão esquecer de nós”.
O presidente da junta apenas lamenta o turismo de curiosos que começa a surgir em Vale do Paraíso – “Pessoas que querem ver isto como aconteceu no fim de semana. Tivemos de resguardar os refugiados porque isto não é um espetáculo. Estamos a lidar com seres humanos. Aqueles que querem vir dar produtos e bens são bem-vindos, mas contactem a junta ou a Câmara antes.” A junta de freguesia está também a preparar um conjunto de atividades para facilitar a sua integração com passeios, aulas de música, e mais tarde dar-lhes também a conhecer as tradições da terra, a gastronomia, monumentos e a Casa Colombo.
Algumas senhoras, dado que têm chegado apenas mulheres, questionam sobre oportunidades de emprego, sendo que a junta refere que existe trabalho na logística, mas alugar uma casa é algo mais difícil, embora seis proprietários de Vale do Paraíso tenham disponibilizado as suas habitações gratuitamente, pelo menos nos primeiros tempos, para quem deseje arranjar um emprego na zona.