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​Cidadã britânica acusa voluntário de conduta imprópria na Casa Mãe

Em causa o facto de, alegadamente, o homem tocar nas partes íntimas dos filhos quando lhes dá banho
Sílvia Agostinho
30-08-2018 às 12:29
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Uma cidadã britânica, de 37 anos, que se encontra no nosso país desde novembro de 2016, a quem a Segurança Social do Barreiro retirou a guarda dos três filhos em fevereiro deste ano, por não apresentar condições para os ter a seu cargo, contactou o nosso jornal com queixas da instituição Casa Mãe em Aveiras de Cima. Tina Vaughan dá conta de castigos sem razão de ser, bofetadas, mas principal, e alegadamente, o facto de um voluntário da instituição dar banho aos filhos não se coibindo de o fazer também nas partes íntimas.

Dai de 8 anos, Tobby de 10 anos, e Jaiden de 12 anos são os filhos desta cidadã que antes de vir para Portugal já se encontrava sinalizada no seu país pela Segurança Social britânica. Vítima de violência doméstica e com diversos problemas de saúde que não esconde, Tina Vaughan acabou por sair de forma pouco ortodoxa do seu país em busca de refúgio junto de amigos em Portugal. Viveu em apartamentos na Baixa da Banheira e no Barreiro dos quais nos mostra as fotografias. “A Segurança Social em Portugal retirou-me os meus filhos. Disseram que como não tinha frigorífico em casa não estava a criar os meus filhos em condições, mas o supermercado era do outro lado da rua. Não concordavam que não os vacinasse também. Na Grã-Bretanha vivia numa zona de excessiva radiação o que me fez largar a minha casa e vir para cá. A psicóloga portuguesa que trabalha com a Segurança Social do Barreiro não aconselhou a retirada dos meus filhos mas isso acabou mesmo por acontecer”.

Ao saber que estavam à guarda da instituição do concelho de Azambuja, Tina Vaughan mudou-se para Aveiras de Cima. Neste momento, vive na casa de uma idosa conhecida na vila, onde ajuda em tudo o que diz respeito à lida da casa em troca de comida e de um teto. Ilegal no país, diz-nos que tem andado a trabalhar, por estes dias, na apanha da pera no Cercal, e ocasionalmente em algumas limpezas de casas na localidade de Aveiras.


Tina Vaughan sabe que não será esta reportagem a devolver-lhe os filhos. Diz ter noção da fragilidade do seu caso, e do facto de que a sua postura de confrontamento junto dos responsáveis da instituição também não a está a ajudar, mas o sentimento de mãe sobrepõe-se e diz não conseguir evitar, ou porque num dia fica a saber que houve algo na instituição que incomodou uma das crianças ou porque se sente injustiçada depois tudo o que passou. O seu sonho é um dia regressar a Inglaterra e com a ajuda de um amigo advogado recuperar os filhos, mesmo sabendo que no dia em que saírem de Portugal voltam para uma instituição mas no seu país de origem. Tina Vaughan teve diversos empregos ao longo da vida. Nos últimos tempos, em Inglaterra era entregadora de pizzas. “Quando me livrei do pai das crianças de quem fui alvo de violência doméstica e arranjei uma casa começaram os problemas de saúde, espero um dia poder reconstruir a minha vida.”

Tina Vaughan diz que os filhos apenas lhe contaram sobre as incursões do monitor por volta de maio. A britânica refere que os filhos com as idades em causa já estavam habituados a tomar banho sozinhos. O homem terá lavado algumas vezes os dois irmãos mais novos. Tina Vaughan refere que perguntou a uma das crianças se o visado também lhes tocara no sexo durante a lavagem e que os mesmos terão dito que sim. Depois a mãe perguntou se essa conduta os incomodava ao que responderam afirmativamente. Aí começou verdadeiramente a revolta desta mulher que já antes se queixara de questões como agressões físicas, e de alguns castigos “desnecessários” como o facto de os filhos nem terem ido à colónia de verão da IPSS em Peniche. É com lágrimas nos olhos que Tina Vaughan dá conta do seu desespero quando conta o que se passou nos banhos. A mulher ainda tentou apresentar queixa na GNR que acabou por não conseguir formalizar. Entrou em contacto com a embaixada do seu país que reencaminhou o assunto para a técnica Ana Barrocas, da Segurança Social do Barreiro. O Valor Local teve acesso a esse email e neste a funcionária da embaixada, Cláudia Marques, numa resposta à cidadã britânica, diz que já transmitiu a informação relativa aos alegados abusos cometidos na instituição por parte do voluntário a Ana Barrocas e que esta manifestou preocupação com o assunto, dando conta de que uma investigação aos factos iria ter lugar.

Mais uma vez na nossa conversa, a mãe diz – “Se o meu testemunho servir para salvar outras crianças deste tipo de comportamentos então que sirva. Sei que não tenho condições para conseguir ter os meus filhos tão cedo mas não vou desistir”.


O Valor Local falou com uma técnica com experiência e currículo na área do terceiro setor que nos afirmou ser a norma padrão existir uma supervisão nos duches quando necessária mas jamais recorrendo ao toque. Sendo apenas necessária e quanto muito a verificação visual e se necessário obrigar a criança a esfregar-se sozinha. O Valor Local verificou ainda através de uma gravação de telemóvel pela mãe junto das duas crianças mais novas, num dos dias em que as pôde visitar, em que as mesmas relatam que o visado as lavava inclusivamente nas zonas íntimas, e quantas vezes isso aconteceu. As crianças referem também terem sido alvo de bofetadas em duas ocasiões.

A defesa da Casa Mãe

A instituição que está a par de todas as acusações imputadas pela cidadã britânica sente-se, neste momento, no foco de uma grande injustiça, mas refere Maria João Vaz, diretora técnica, que nada a Casa Mãe tem a esconder neste processo, de tal forma que já encaminhou todas as incidências e mais algumas relatadas pela queixosa para as entidades competentes, nomeadamente, o tribunal do Barreiro. A instituição é ainda supervisionada habitualmente pela Segurança Social do Barreiro (para este caso em concreto); Equipa de Proteção de Crianças e Jovens de Vila Franca de Xira, e Núcleo de infância e Juventude de Lisboa.

Em fevereiro deste ano, quando tudo começou a Casa Mãe estava longe de imaginar esta bola de neve “até porque se tratando de uma cidadã estrangeira todas as partes foram a tribunal e ficou lá expresso que a senhora só teria de arranjar bilhetes para regressar a casa e tudo correria sem quaisquer tipo de intromissões ou obstáculos da nossa parte, ela aceitou, contudo depressa se verificou que não queria regressar (porventura por também estar referenciada pela Segurança Social do seu país) e de lá para cá não temos tido descanso”, diz a técnica manifestando ainda a “grande injustiça” de que a instituição está a ser alvo. “Todos os dias batalhamos imenso para darmos tudo a estas crianças com projetos ambiciosos e inovadores para sermos confrontados, agora, com tudo isto”. “Não é nada justo”, refere não escondendo o tom embargado na voz. “Semanalmente fala mal de nós apontando erros e críticas e não se importando com quem leva à frente”, consubstancia a técnica. “Por exemplo já implicou com a alimentação das crianças, tão depressa dizia que não deviam comer bolos, como a seguir já não se importava, e isso foi causador de grande stress e confusão”. Segundo o que Tina Vaughan também nos relatou uma das crianças terá intolerância alimentar, sendo este também um foco de conflito permanente entre as duas partes. “A senhora não respeita as regras da instituição. O seu comportamento intrusivo não é abonatório da situação dela, até porque quando temos atividades ao ar livre, ela aparece e prejudica toda a gente”.

A técnica saúda entretanto o pai que está na Inglaterra, (segundo Tina Vaughan - o homem que a terá violentado em diversas ocasiões durante o tempo em que mantiveram uma relação) “que todos os dias telefona para os filhos e tem mantido uma postura assertiva”.

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Maria João Vaz também refuta a questão das bofetadas porque “numa das ocasiões acusou uma funcionária que naquele dia nem estava ao serviço”. “Todas as situações de que fomos acusados até hoje foram reportadas para todas as entidades de que falei, e até hoje os miúdos nunca foram transferidos ou seja é porque não foram encontrados motivos”.

A nossa reportagem confrontou a técnica com todo o cenário envolvendo o voluntário e os banhos das crianças. Maria João Vaz diz que é normal as meninas serem supervisionadas pelas funcionárias e os meninos por funcionários. Sobre a necessidade da existência de haver uma ação direta e física em todo corpo da criança diz que “só acontece com os meninos em causa porque não tinham hábitos de higiene nem sabiam tomar banho”. À nossa reportagem, a mãe diz que tal não é verdade e antes os filhos já sabiam lavar-se sozinhos, acrescentando ainda que o mais velho só não foi lavado pelo homem em causa porque barrou a entrada no chuveiro. A técnica por seu turno refuta essas críticas e diz atestar a idoneidade do voluntário, também ligado à associação de escuteiros local, à partida integrado na sociedade e homem de confiança do padre António Cardoso, que terá ficado seriamente incomodado com o caso do sacristão de Aveiras de Baixo em 2012 acusado de pedofilia, e que por isso será intransigente com quaisquer tipos de comportamentos que possam sequer aflorar situações minimamente parecidas. Questionámos a técnica se não seria melhor a supervisão das crianças do sexo masculino também por mulheres nos banhos, mas a mesma refere que nunca houve queixas deste género como as que estamos a assistir. “Todos os funcionários e voluntários deram mostras de integração e idoneidade”.

Apesar da normalidade com que a instituição reporta este quadro, certo é que a representante do tribunal do Barreiro mostrou preocupação na carta enviada a Cláudia Marques. Questionámos novamente Maria João Vaz que nos assegura que após este relato houve uma investigação interna ao caso sem que se tenha verificado algum tipo de receio. Ainda assim, diz a técnica, o visado parou de dar banhos aos miúdos em causa e a outros – “Mas não é porque tenha culpa”. “Informou-se entretanto as entidades desse facto (já não dar banho) as quais continuam a confiar em nós”. O Tribunal do Barreiro ainda não se pronunciou. Contactámos a embaixada britânica e através de emails mostrados à nossa redação pela mãe ficamos a saber que a transferência das crianças para Inglaterra estará iminente. A embaixada diz estar a acompanhar todo o caso e a prestar auxílio à cidadã inglesa.
 
 

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Editorial do diretor do jornal Valor Local, Miguel António Rodrigues sobre este tema: 
 
Quem não Deve, não Teme…

Há cerca de quinze dias o Valor Local foi contatado por uma mãe que apontou o dedo a um funcionário da Casa Mãe em Aveiras de Cima.

Verificados os factos, e depois de ouvir o testemunho desta inglesa que veio para Aveiras de Cima para estar junto dos três filhos, o nosso jornal decidiu depois de pesar toda a informação que estava na posse de elementos credíveis para fazer uma notícia.

Sem colocar em causa o valor que a instituição gerida pelo Padre António Cardoso tem, até pelo mérito que representa na comunidade, decidimos receber Tina Vaughan nas nossas instalações onde nos relatou episódios que nos levaram ao nível seguinte.

Com efeito, o Valor Local é um jornal que não faz notícias de ânimo leve, e por isso, nem mesmo as opiniões contrárias quanto à credibilidade de Tina de que fomos alvo neste caso, barrou a nossa vontade de dar a conhecer os dois lados de uma história, que não sendo positiva, trouxe já algumas mudanças na instituição.

Para o Valor Local, pouco importa o passado desta mãe. O que importa são as provas a que tivemos acesso e a entrevista feita à assistente social daquela instituição que embora se tenha defendido das acusações, corroborou aquilo que que são os factos essenciais.

Posto isto, não ficaria bem na nossa consciência, não relatar este episódio. É certo que o comportamento de Tina Vaughan não é o mais comum, mas não sei também qual o comportamento aceitável para quem perde os filhos, ou por exemplo quem perde um irmão ou mesmos os pais. São comparações exageradas, mas também são exagerados e exacerbados muitos dos comportamentos que esta notícia, que mesmo antes de sair, já estava a motivar.

Da parte do Valor Local, fica mais uma vez a garantia, que a notícia e a verdade estão acima de tudo. Aqui, honramos a ética e a nossa carteira profissional, porque contar histórias é a nossa paixão e contar histórias verdadeiras e equilibradas é a nossa vida.

Sabemos que o assunto é sensível, por isso, como referi, ponderámos todos os aspetos. Ponderámos não revelar o nome da pessoa visada pelas crianças que se sentiram incomodadas por terem um homem adulto a dar-lhes banho, e por isso, por respeitarmos a privacidade de alguém que pode muito bem estar inocente, não o vamos fazer nesta fase.

As queixas de Tina feitas na instituição foram enviadas para o Tribunal. Este foi um ato de coragem destes responsáveis, e porque acreditamos que quem não deve não teme, cá estaremos para relatar todo o processo, assim que existam decisões.

Como diretor deste projeto, assumo claramente o rumo do Valor Local. Sem amarras e sem censura, e principalmente sem preconceitos e com respeito pelo ser humano, independentemente das circunstâncias da sua vida, Cá continuaremos a fazer o nosso trabalho, e talvez por isso, ainda cá continuamos a dar notícias online e também em papel. Bem-hajam.
 

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