A Agricultura Transgénica
Por Joaquim Ramos
Eu tento nortear as minhas crónicas no Valor Local pelo tema que, nessa edição, é o escolhido como respectivo “ prato forte”. Mas desta vez confesso que escrever sobre agricultura transgénica não é propriamente a minha praia ( como se diz hoje…).
Talvez porque eu, neste ultimo quarto final da minha vida, faço parte dum tempo em que tudo corre muito depressa, tão depressa que passámos da teta da vaca, quase directamente, para os leites empacotados, desnatados, semi ou totalmente, condensados, em pó, enriquecidos com cálcio, sem lactose, com sabores às frutas mais diversas. E tudo isto no espaço duma vida que ainda não se esgotou.
Talvez porque eu já vivi tempo suficiente, vi demasiadas coisas e observei tão diversas situações que me estou nas tintas para os transgénicos. É por isso que eu quero lá saber com que raio de milho são alimentados os animais que são transformados em hambúrgueres do MacDonald`s! Como-os e pronto. Gosto deles, sabem-me bem mesmo sem a batatinha frita ( transgénica ou não) e a coca-cola sem cafeína que, infelizmente, o meu coração não permite.
Talvez porque eu já vi tanta miséria alimentara naturalmente, só com o que a natureza dá e tanta saúde e felicidade a comer milho transgénico, soja alterada, arroz manipulado em laboratório, que acho que a agricultura transgénica vai ser é como a pílula anticoncepcional.
Quando apareceu, ninguém acreditava e era pecado. Hoje em dia não há mulher em idade fértil que a dispense- salvo raras e ocasionais excepções, claro! A agricultura transgénica é controversa porque é uma coisa nova e nós não a dominamos nem sabemos onde vai parar, que desafia os valores tradicionais que, no fundo, nos dominam. É por isso que é bem ser contra a agricultura transgénica.
Mas pergunto eu : a “ transgenia” não é uma forma de tornar as culturas mais abundantes, adaptáveis a mudanças climáticas e resistentes a pragas? Se assim é, em princípio é uma coisa boa!
Então quando tudo evolui à velocidade da luz para satisfazer as necessidades duma população mundial em crescimento exponencial, a agricultura, que fornece a mais básica dessas necessidades, deveria ficar na mesma, agarrada ao pau do arado e às pragas de gafanhoto e filoxera?
E se fôr a solução, ou uma parte da solução, para as gritantes situações de fome e malnutrição que afligem uma parte dum Mundo em constante expansão, então tem que se investir nela, desenvolvê-la e controlá-la.
É isso que eu penso, quando como uma daquelas belas nectarinas, que não existiam quando eu era pequeno e que, por isso, desconfio serem transgénicas. Só sei que sabe bem, que me enche de vitamina C, que resistiu a lagartas e piolhos e não me interessa nada se é transgénica ou se foi criada a estrume de cavalo.
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