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A segunda vida de uma cabine telefónica que agora é despensa solidáriaO projeto da junta de Vila Franca está em curso desde um de maio e com impacto na vida dos mais necessitados
Miguel António Rodrigues
17-06-2020 às 12:21 |
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A freguesia de Vila Franca de Xira tem um dos projetos mais originais de solidariedade da região. Em causa está uma velha cabine telefónica transformada numa “despensa solidária” que tem como missão ajudar quem mais precisa nesta altura de pandemia.
O projeto que está situado no Largo Carlos Pato, em frente ao Mini-Preço, tinha, segundo Ricardo Carvalho, da junta de freguesia, como objetivo inicial um ponto de wi-fi, mas o rumo foi alterado após a recente pandemia e a necessidade de se encontrar uma forma física e mais robusta para dar corpo a esta iniciativa, que afinal partiu da sociedade civil, e que encontrou na junta de freguesia um aliado. Ricardo Carvalho, vogal e responsável pelos trabalhadores da junta de freguesia, destacou ao Valor Local que a “cabine” esteve abandonada durante anos nuns terrenos da autarquia, e que esteve quase para ser destruída mas que foi “salva” pelos trabalhadores da junta. No entanto, esta ideia da despensa solidária começou a desenhar-se recentemente. O projeto está em curso desde um de maio e com impacto na vida dos mais necessitados. Ricardo Carvalho salienta que a ideia teve origem na sociedade civil e por isso foi fácil “mudar a agulha” no que toca à utilização da estrutura. “A ideia teve início nos nossos parceiros com a Sandra Levezinho, a Padaria Quimfer e o Solar de Santa Sofia” que têm alimentado a iniciativa com “várias mercearias e pão quase todos os dias.” Ricardo Carvalho enumera, como uma das mais-valias desta iniciativa, o facto de ser um espaço físico “que não pode ser transportado ao contrário do que acontece com as caixas solidárias” que segundo o autarca são muitas vezes vandalizadas. A ideia subjacente a esta iniciativa tem prevalecido na mente dos mais necessitados: “Leve apenas o que precisa” tem sido o mote encarado bastante a sério pelos vilafranquenses. Sandra Levezinho, uma das promotoras da ideia, salienta que no início “havia quem açambarcasse, tivemos de falar com essas pessoas que entenderam o ponto de vista, e nesta altura levam mesmo só o que precisam”. Aliás Sandra Levezinho tem uma vasta experiência no que toca à solidariedade. Quem a conhece sabe do seu interesse por ajudar o próximo pelo que esta foi apenas mais uma missão embora com contornos diferentes daquelas que já assumiu por exemplo para os países menos desenvolvidos. Este é um projeto comunitário. Para além dos parceiros da iniciativa, também os populares ajudam com frequência e “alimentam” a cabine, pelos que a escolha do local, bem em frente a um supermercado, não terá sido por acaso. São de resto muitas as pessoas que têm ajudado à iniciativa. Há voluntários e todos os dias o local é devidamente higienizado para manter a segurança das pessoas. José Vicente é uma das pessoas que tem levado a bom porto este projeto. O popular que gere o supermercado “Solar de Santa Sofia” destaca a ajuda dada pelos seus próprios clientes que têm deixado compras pagas para abastecer a despensa. Ao Valor Local, José Vicente refere que a solidariedade dos clientes tem sido importante para o projeto, e que com essa ajuda, a despensa é renovada várias vezes ao dia. O próprio fez o primeiro abastecimento no valor de cem euros sendo que o civismo dos mais necessitados tem sido em alguns casos, exemplar. Para além das mercearias, há também pão todos os dias. Pão fresco para quem precisa e que é doado pela Padaria Quimfer, sendo este um dos produtos mais procurados por quem precisa mesmo de ajuda. Sandra Levezinho, a principal promotora da iniciativa, também revela a participação da sociedade civil e sobretudo o civismo dos vilafranquenses. Para a popular existe “uma grande onda de solidariedade em Vila Franca de Xira” não só agora mas noutras ocasiões. Sandra Levezinho refere que um dos exemplos tem sido os contatos que tem recebido quer de ofertas, quer de pedidos de ajuda. Mal este projeto começou a ganhar forma, e Sandra Levezinho diz ter recebido contatos para ajudar algumas pessoas. Pelo facebook recebeu pedidos para fazer chegar a casa dos habitantes de Vila Franca alguns bens “porque as pessoas têm receio de dar a cara” referindo-se à pobreza envergonhada o que dificulta a ajuda nas horas de necessidade. Certo é que este projeto tem vindo a granjear simpatias por parte de quem ajuda e de quem precisa de apoio. Durante a nossa reportagem, minutos depois da despensa ser higienizada e abastecida, foram pelo menos quatro as pessoas que a usaram. São pessoas com quebras de rendimentos, ou pessoas com dificuldades financeiras como o caso de uma idosa que esperou que a equipa de reportagem se afastasse para poder ir buscar algumas mercearias. Noutros casos, testemunhámos também pessoas que foram buscar apenas alguns bens, e inclusive deixar outras mercearias, o que prova que este projeto solidário é aceite na comunidade e levou a um espírito de entreajuda entre todos. História da cabine telefónica dos anos 50 transformada em projeto solidário Durante anos, a cabine telefónica esteve ao serviço da praça de táxis de Vila Franca de Xira. O equipamento foi entretanto retirado do local, junto à estação da CP e substituído, posteriormente, por material mais moderno. Durante mais de 30 ou 40 anos esteve ao abandono nas instalações da junta de freguesia, e por mais de uma vez foi-lhe passada a certidão de óbito. Com o objetivo de lhe dar uma nova vida, o executivo pensou transformar o equipamento num “hotspot wi-fi”. No entanto a pandemia viria a dar outro desfecho ao equipamento. Foram os funcionários da junta que juntaram ao trabalho muito carinho e que recuperaram o equipamento. Artur Jorge, funcionário da Junta de Freguesia, diz que se apaixonou pelo projeto mal o executivo lhe mostrou a ideia inicial. O responsável reafirma que o equipamento estava muito danificado, mas após três semanas de trabalho, o resultado é aquilo que se pode ver no Largo Carlos Pato em Vila Franca de Xira. A cabine tem agora uma nova vida, um restauro que teve um sabor especial “não fosse este um projeto solidário” refere Artur Jorge. |
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