Administrativa da extensão de saúde de Abrigada substitui-se a médico, vê exames e manda utente para casa
Delfim Simões anda há um mês para ter consulta e numa das deslocações ao local foi surpreendido com a forma de atuar da funcionária que estava no atendimento ao público
|18 Mar 2021 20:56
Sílvia Agostinho Há cerca de um mês, Delfim Simões, residente na localidade do Bairro, em Abrigada, deslocou-se à extensão de saúde naquela freguesia com o intuito de conseguir uma consulta para mostrar o resultado de uns exames ao médico, análises e uma colonoscopia. Qual não foi o seu espanto quando a administrativa de serviço lhe pediu para observar os documentos e no fim sentenciou que o utente não tinha nenhum problema de saúde na próstata nem nos intestinos, e que o melhor era passar pela unidade noutro dia, pois “talvez tivesse mais sorte em conseguir consulta”.
Ao Valor Local, Delfim Simões que continua com queixas quanto a possíveis problemas de saúde ainda não conseguiu consulta praticamente um mês depois da conversa com a funcionária, que naquele dia lhe comunicou que não havia vagas. “Possivelmente quis ajudar-me ao ver os exames. Fiquei sem reação com a abordagem. Isto é mesmo de levar as mãos à cabeça”. Quando a administrativa pegou nos papéis “pensava que era para guardar para encaminhar para o médico, mas começou a abrir os envelopes e fez essa conversa”. Delfim Simões diz compreender em parte o ato “descabido” da funcionária. “A culpa no fundo não é dela, mas do sistema e deste centro de saúde que é uma autêntica desgraça”. Delfim Simões diz que depois do episódio já foi várias vezes de manhã cedo para a porta do centro de saúde para conseguir consulta, mas sem efeito, “isto porque há quem chegue de carro e consiga ir ainda mais cedo”. “No meu caso estou sujeito aos transportes públicos. Moro no Bairro que fica a três quilómetros de Abrigada, e quando lá chego já há uma fila. Como as consultas são escassas temos andado nisto, e agora com a Covid ainda pior, porque as instalações são pequenas e está uma série de gente cá fora”. Marcar consulta por telefone está fora de questão, porque “ninguém atende”. Delfim Simões tem, agora, esperança numa consulta de diabetes que vai ter no dia 30 de março, e quem sabe nesse dia beneficiar de alguma solidariedade por parte da médica. “Talvez ela não se importe de ver estes exames que foram pedidos por outro médico, porque continuo com problemas nos intestinos, e ando nisto há um mês, e não consigo sair deste impasse”. Quanto à funcionária volta a reforçar – “Espero que não lhe aconteça nada, porque ela coitada teve pena de mim”. O caso de Delfim Simões foi relatado pela deputada da CDU, Amélia Caetano, em sessão da assembleia municipal de Alenquer. Ao Valor Local, a eleita fala num centro de saúde sem condições até a nível físico em que “por exemplo na sala de vacinação das crianças e onde se faz atendimento às grávidas nem um lavatório existe”. Os consultórios “são exíguos bem como a sala de espera” o que piora o estado de coisas em tempo de pandemia. Já foram propostas localizações para uma nova unidade, nomeadamente, em lojas desocupadas de um centro comercial que existe em Abrigada “mas as obras de adaptação tinham de ficar a cargo do proprietário que não quis assumir esse encargo”. A esperança reside agora num terreno junto ao bairro social, mas o pontapé de saída está longe de ser uma possibilidade a curto/médio prazo naquilo que prevê a deputada – “Talvez a Câmara queira um dia pagar adiantado essas obras como fez na GNR para depois ser ressarcida”. Hoje em dia, e face ao atual estado da unidade de saúde “nem os médicos querem ir para lá”, refere a deputada. A unidade de Abrigada serve cinco mil utentes e o edifício está literalmente a rebentar pelas costuras. Por outro lado, ressalta a falta de organização – “Um familiar meu para renovar uma baixa teve de ir apanhar uma consulta e assim roubar sem necessidade a consulta a outra pessoa, e quando anteriormente a médica disse que bastava passar por lá para esse propósito de conseguir mais uma baixa, mas depois vem a administrativa e diz o que quer à vontade dela, e a jurar a pés juntos que tinha de ser através de uma consulta”. Este é um quadro habitual “mesmo antes da pandemia”. O Valor Local pediu esclarecimentos sobre o episódio vivido por Delfim Simões ao Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo. Sofia Theriaga, diretora do ACES, diz ao Valor Local que formalmente não teve conhecimento de nenhuma queixa, e sem que seja possível precisar o dia e a funcionária em causa não é possível abrir para já um inquérito interno e apresentar outras conclusões, nesta altura, à nossa reportagem. A responsável estranha “o hipotético comportamento” em causa dado que vai ao arrepio de todas as normas de conduta seguidas pela entidade e diz esperar por mais esclarecimentos para tomar nova posição. Comentários
Local que não facilita quem tem dificuldades de locomoção. Ainda com escadas. Marcação de consultas apenas em um dia do mês. Precisamos de melhorias urgentes em Abrigada. Joelma Maldonado 01-04-2021 05:23 Abrigada anda esquecida há 30 anos está é mais uma situação de abandono camarário... E de junta de freguesia que não se sabe bem para que serve... Fernando Pinheiro 22-03-2021 09:33 De lamentar só termos direito ao dia 1 de cada mês para marcar uma consulta, se tivermos exames concluídos ao dia dois, teremos de esperar mais um mês para conseguir ou não marcação, seja urgente a doença ou não!! Estamos entregues aos bichos, se o serviço já deixava muito a desejar, então agora nem dá hipóteses a ninguém. Maria Mascarenhas 21-03-2021 05:14 Bom dia, em relação a esta reportagem, quero desde já deixar aqui bem claro que a Sra. Deputada Amélia Caetano da CDU, deveria de se informar melhor quando refere que "as obras de adaptação tinham de ficar a cargo do proprietário, que não quis assumir esse encargo", isto não é verdade. E mais não digo. Quer saber mais, pergunte aos responsáveis da CMA, intervenientes neste assunto. Nuno Ferreira 19-03-2021 15:18 |
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