Agricultores da região desesperados com a Seca já pensam em desistir
Agricultores da região desesperados com a Seca já pensam em desistir
Sílvia Agostinho
02-03-2022 às 09:50
Portugal e Espanha pediram ajuda à União Europeia para minimizar os impactes da seca através do fundo de solidariedade. O país está a acusar gravemente a falta de água e os dias de tempo seco. Vários setores estão a ser afetados, com a agricultura à cabeça. Na nossa região, o clima que se faz sentir por estes dias também já acarreta os seus impactes e os agricultores começam a deitar as contas à vida. Produtores de arroz estão a pensar seriamente se vão cultivar o cereal este ano. Já quanto ao tomate convém que chova, entretanto, caso contrário esta cultura também pode sofrer os seus reveses. O Valor Local falou com vários agricultores da região que antecipam dificuldades, mais gastos, e produções perdidas. O tempo de seca extrema está também a trazer à tona a necessidade de mais uma barragem no Tejo cujo caudal se apresenta muito baixo. A chuva que caiu nas primeiras duas semanas do mês de fevereiro foi apenas de sete por cento para esta época do ano no país. Já janeiro correspondeu a apenas 12 por cento do valor normal. Foi assim o segundo janeiro mais seco desde 2000 e o sexto dos últimos 90 anos. A precipitação média em Portugal continental dos primeiros quatro meses do ano hidrológico 2021/22 foi de 213,9mm, o valor mais baixo dos últimos 20 anos, aquém do registado na seca de 2005, uma das piores de sempre com 223,1mm.
02-03-2022 às 09:50
Portugal e Espanha pediram ajuda à União Europeia para minimizar os impactes da seca através do fundo de solidariedade. O país está a acusar gravemente a falta de água e os dias de tempo seco. Vários setores estão a ser afetados, com a agricultura à cabeça. Na nossa região, o clima que se faz sentir por estes dias também já acarreta os seus impactes e os agricultores começam a deitar as contas à vida. Produtores de arroz estão a pensar seriamente se vão cultivar o cereal este ano. Já quanto ao tomate convém que chova, entretanto, caso contrário esta cultura também pode sofrer os seus reveses. O Valor Local falou com vários agricultores da região que antecipam dificuldades, mais gastos, e produções perdidas. O tempo de seca extrema está também a trazer à tona a necessidade de mais uma barragem no Tejo cujo caudal se apresenta muito baixo. A chuva que caiu nas primeiras duas semanas do mês de fevereiro foi apenas de sete por cento para esta época do ano no país. Já janeiro correspondeu a apenas 12 por cento do valor normal. Foi assim o segundo janeiro mais seco desde 2000 e o sexto dos últimos 90 anos. A precipitação média em Portugal continental dos primeiros quatro meses do ano hidrológico 2021/22 foi de 213,9mm, o valor mais baixo dos últimos 20 anos, aquém do registado na seca de 2005, uma das piores de sempre com 223,1mm.
Francisco Campino tem terrenos na zona do Reguengo, concelho do Cartaxo. Cultiva tomate que é encaminhado durante o tempo das campanhas, no verão, para as indústrias da região, mas também milho e trigo. Conta que já está apreensivo quanto às culturas de verão, “porque se o caudal do Tejo baixar muito podemos contar com a salinização da água que vai prejudicar, porque não podemos regar com água salgada”. “Estou bastante receoso. Apenas fico mais descansado porque no ano passado choveu, e num primeiro ano de seca como este as águas subterrâneas, os ditos furos, ainda não dão grandes problemas, ao contrário do que acontece a quem rega diretamente da água do Tejo”.
Para o cultivo do tomate correr bem “já devia ter começado a chover e bastante, porque se apenas ocorrer precipitação com frequência em abril, vamos ter que usar mais pesticidas”, dá conta.
Agricultor desde 1984, confessa que nunca tinha visto o Tejo como se apresenta por estes dias, com um caudal “tão baixo!”. Por enquanto diz estar atento a possíveis sinais de salinização que possam começar a chegar vindos do mar na zona do Tejo no concelho de Vila Franca de Xira. “Sei que têm estado a medir os níveis mais a sul”. O fenómeno das alterações climáticas tem permitido a este agricultor perceber que “quando vem um inverno de seca é mesmo a sério com dias e dias sem chuva, e quando chove temos quantidades inimagináveis de água, o que quer num caso quer noutro obriga a grandes custos”, e no fundo a uma constante reinvenção deste setor. “Nada como uma chuva certinha com a terra a absorver a chuva para os lençóis freáticos”.
Contudo nem tudo serão reveses neste fenómeno das alterações climáticas, pois como “a temperatura média subiu alguns graus as plantas desenvolvem-se mais rapidamente”. “Contudo quando temos temperaturas a chegarem aos 40 graus, a floração do tomate fica arrasada”, junta. Para fazer face a estas condições “temos apostado em espécies cada vez mais resistentes, em híbridos, embora não se consiga fazer muito mais quando se chega aos 44 ou 45º. Só podemos regar o mais possível para a cultura não entrar em stress”.
Para o cultivo do tomate correr bem “já devia ter começado a chover e bastante, porque se apenas ocorrer precipitação com frequência em abril, vamos ter que usar mais pesticidas”, dá conta.
Agricultor desde 1984, confessa que nunca tinha visto o Tejo como se apresenta por estes dias, com um caudal “tão baixo!”. Por enquanto diz estar atento a possíveis sinais de salinização que possam começar a chegar vindos do mar na zona do Tejo no concelho de Vila Franca de Xira. “Sei que têm estado a medir os níveis mais a sul”. O fenómeno das alterações climáticas tem permitido a este agricultor perceber que “quando vem um inverno de seca é mesmo a sério com dias e dias sem chuva, e quando chove temos quantidades inimagináveis de água, o que quer num caso quer noutro obriga a grandes custos”, e no fundo a uma constante reinvenção deste setor. “Nada como uma chuva certinha com a terra a absorver a chuva para os lençóis freáticos”.
Contudo nem tudo serão reveses neste fenómeno das alterações climáticas, pois como “a temperatura média subiu alguns graus as plantas desenvolvem-se mais rapidamente”. “Contudo quando temos temperaturas a chegarem aos 40 graus, a floração do tomate fica arrasada”, junta. Para fazer face a estas condições “temos apostado em espécies cada vez mais resistentes, em híbridos, embora não se consiga fazer muito mais quando se chega aos 44 ou 45º. Só podemos regar o mais possível para a cultura não entrar em stress”.
A poucos quilómetros, já no campo de Azambuja, fica a propriedade de José Gaga, com 600 hectares, igualmente produtor de tomate e de milho, mas que está a viver a experiência de não ter pasto para vender destinado à alimentação animal. A forragem está muito limitada porque a seca está ao rubro e confessa à nossa reportagem que tem estado a colher as plantas com poucos centímetros de altura tendo em conta a procura. Numa situação normal, refere, que podia estar a vender 20 fardos e agora só consegue aproveitar 10. “Comprei sementes para dar o dobro e apenas vou conseguir metade, claro que vou ter aqui um grande prejuízo. Estou a cortar as ervas com 30 centímetros quando devia cortar com 70, tudo para que haja alimento o mais depressa possível para as vacas, só para dar um exemplo”.
Começa a plantar tomate daqui a um mês, sendo que será imperativo que chova até abril, caso contrário os agricultores da região vão ter grandes dores de cabeça. O fantasma da salinização nos campos por via das marés também preocupa José Gaga. “Não temos uma barragem para segurar a água. Temos o Tejo todo assoreado, e ainda tem de se pagar para retirar a areia, quando a água é um bem necessário”. Na sua propriedade rega através da Vala Real, e vai recorrer a bombas para extrair água na maré baixa, “porque o sal vem é na maré alta”. Vai exigir um grande investimento nomeadamente em despesas de eletricidade por força das condições climáticas. Este método tem sido pouco utilizado na sua propriedade, mas este ano não terá outro remédio.
O facto de o Governo ter fechado as centrais a carvão e ter passado a recorrer à energia hidráulica para produção de eletricidade é mais um elemento a juntar ao caos, embora e desde o início de fevereiro tenha limitado a exploração das barragens para este fim, incluindo outros, em função da necessidade de reservar água para o consumo humano. Certo é que os agricultores continuam a sofrer na pele a falta de água, neste caso, no Tejo por via da barragem de Castelo do Bode – “Estive lá há dias e a cota da água estava uma miséria. Não sei como foi possível ter descido tanto quando no ano passado ia cheia”.
José Gaga não tem dúvidas em considerar como “muito importante” o denominado Projeto Tejo para a agricultura da região que prevê a construção de quatro açudes de baixa altura no baixo Tejo, a espaços de 20 quilómetros, entre a Azambuja e a Golegã, com mais dois açudes de média altura entre Almourol e Abrantes, munidos de eclusas para barcos e escadas de peixes, com o objetivo de criar o uma "estrada” de água contínua de Lisboa a Abrantes. O investimento foi apresentado pela + TEJO – Associação para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável do Tejo com um custo de 4500 milhões de euros mas não saiu do papel até à data.
Em representação de uma das associações de produtores da região, falámos com Luís Hilário da Tomataza – Produtos Hortofrutícolas que consubstancia que o momento ainda não é muto grave para o setor do tomate, e que “se chover em quantidade ainda é possível recuperar. Temos de esperar que venham os meses de chuva que são tradicionalmente março e abril”, refere refletindo que as preocupações ainda não são muitas, à exceção das culturas relacionadas com o alimento para os animais.
Começa a plantar tomate daqui a um mês, sendo que será imperativo que chova até abril, caso contrário os agricultores da região vão ter grandes dores de cabeça. O fantasma da salinização nos campos por via das marés também preocupa José Gaga. “Não temos uma barragem para segurar a água. Temos o Tejo todo assoreado, e ainda tem de se pagar para retirar a areia, quando a água é um bem necessário”. Na sua propriedade rega através da Vala Real, e vai recorrer a bombas para extrair água na maré baixa, “porque o sal vem é na maré alta”. Vai exigir um grande investimento nomeadamente em despesas de eletricidade por força das condições climáticas. Este método tem sido pouco utilizado na sua propriedade, mas este ano não terá outro remédio.
O facto de o Governo ter fechado as centrais a carvão e ter passado a recorrer à energia hidráulica para produção de eletricidade é mais um elemento a juntar ao caos, embora e desde o início de fevereiro tenha limitado a exploração das barragens para este fim, incluindo outros, em função da necessidade de reservar água para o consumo humano. Certo é que os agricultores continuam a sofrer na pele a falta de água, neste caso, no Tejo por via da barragem de Castelo do Bode – “Estive lá há dias e a cota da água estava uma miséria. Não sei como foi possível ter descido tanto quando no ano passado ia cheia”.
José Gaga não tem dúvidas em considerar como “muito importante” o denominado Projeto Tejo para a agricultura da região que prevê a construção de quatro açudes de baixa altura no baixo Tejo, a espaços de 20 quilómetros, entre a Azambuja e a Golegã, com mais dois açudes de média altura entre Almourol e Abrantes, munidos de eclusas para barcos e escadas de peixes, com o objetivo de criar o uma "estrada” de água contínua de Lisboa a Abrantes. O investimento foi apresentado pela + TEJO – Associação para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável do Tejo com um custo de 4500 milhões de euros mas não saiu do papel até à data.
Em representação de uma das associações de produtores da região, falámos com Luís Hilário da Tomataza – Produtos Hortofrutícolas que consubstancia que o momento ainda não é muto grave para o setor do tomate, e que “se chover em quantidade ainda é possível recuperar. Temos de esperar que venham os meses de chuva que são tradicionalmente março e abril”, refere refletindo que as preocupações ainda não são muitas, à exceção das culturas relacionadas com o alimento para os animais.

Pedro Botelho, produtor da Herdade da Adema, em Samora Correia, esclarece por seu turno que as plantas forrageiras que tem, neste momento, destinadas aos animais “já estão muito comprometidas”. “Não cresceram e apresentam espigamento precoce”. Admite que se chovesse seria recuperável algum do investimento. “Ainda não estimei o prejuízo, porque até tenho receio de pensar nisso”. Contudo ainda vai tentar avançar com as culturas de verão. Recorre atualmente à água da lezíria de Vila Franca proveniente do Tejo. “Da forma como as coisas se apresentam tenho de pensar muito bem naquilo que vou fazer, porque o risco é enorme”. Pedro Botelho não se lembra de ter vivido um inverno tão seco desde que é agricultor. “Estamos a viver tempos de grande ansiedade, e acho que isto não pode ser apenas um problema da ruralidade, mas também dos urbanos, porque acho que nunca se viu a barragem de Castelo do Bode com tão pouca água”.
Sugal muito preocupada com a próxima campanha do tomate
A Sugal é um dos gigantes no mundo no processamento de tomate e a situação de seca está a causar também alguns embaraços a esta empresa com unidades fabris em Azambuja e Benavente que para além de produzir o seu próprio tomate também o recebe de agricultores da região, durante as campanhas de verão, como são os casos de José Gaga e Francisco Campino. Jorge Ortigão, diretor da empresa, ouvido pelo Valor Local reconhece que ainda é cedo para se tirarem “grandes conclusões”, sendo certo que se “não houver água suficiente nas barragens vamos ter problemas”.
O maior risco prende-se essencialmente com o aumento da cunha salina do Tejo “que pode chegar aos campos de Azambuja”. O empresário reforça que a seca que estamos a viver “apesar de não ser inédita também não é comum”. Sobretudo arrisca que o facto de as “barragens estarem tão vazias nesta altura do ano é que de facto é inédito porque andaram a turbinar água acima do normal para eletricidade após o fecho das centrais a carvão”. Com a seca é provável que no verão não haja água suficiente nas barragens que chegue para a agricultura.
Sugal muito preocupada com a próxima campanha do tomate
A Sugal é um dos gigantes no mundo no processamento de tomate e a situação de seca está a causar também alguns embaraços a esta empresa com unidades fabris em Azambuja e Benavente que para além de produzir o seu próprio tomate também o recebe de agricultores da região, durante as campanhas de verão, como são os casos de José Gaga e Francisco Campino. Jorge Ortigão, diretor da empresa, ouvido pelo Valor Local reconhece que ainda é cedo para se tirarem “grandes conclusões”, sendo certo que se “não houver água suficiente nas barragens vamos ter problemas”.
O maior risco prende-se essencialmente com o aumento da cunha salina do Tejo “que pode chegar aos campos de Azambuja”. O empresário reforça que a seca que estamos a viver “apesar de não ser inédita também não é comum”. Sobretudo arrisca que o facto de as “barragens estarem tão vazias nesta altura do ano é que de facto é inédito porque andaram a turbinar água acima do normal para eletricidade após o fecho das centrais a carvão”. Com a seca é provável que no verão não haja água suficiente nas barragens que chegue para a agricultura.
Produtores de arroz já começaram a desistir de plantar este ano
Da parte dos orizicultores, as preocupações com a seca também já se fazem sentir. A Orivárzea é uma empresa sedeada em Salvaterra de Magos que se assume como o maior produtor de arroz de Portugal com uma forte aposta na exportação. João Alegria, engenheiro agrícola na empresa, dá a conhecer que entre todos os associados estão 4000 hectares de produção, sendo que 50 por cento está nas mãos da Associação de Regantes do Vale do Sorraia e os restantes 50 por cento são da Associação de Regantes da Lezíria Grande de Vila Franca. Ora quanto à primeira associação como beneficia das barragens de Montargil e do Maranhão “não está com problemas de fornecimento de água aos campos”, já em Vila Franca “a situação não é assim e as dificuldades são muitas bem como as preocupações”, mais uma vez por não existir nenhum sistema de retenção das águas estando dependente do que o Tejo proporcionar. “Para conseguirmos ter um bom volume deveríamos ter chuva nos próximos meses, desde que não seja uma grande precipitação com o perigo de arrastar estruturas. O ideal seria durante março, meados de abril para não semearmos o arroz muito tarde, porque o ciclo do cereal é de 140 a 150 dias. Com atrasos e face à seca podemos entrar em fase de colheita no outono, o que nos pode afetar porque não sabemos se nessa altura não vai estar a chover e com isso prejudicar a produção”.
Os orizicultores “estão a preparar a campanha de forma mais ou menos natural, mas com algumas cautelas, procurando evitar riscos. Sabemos que alguns não vão cultivar arroz e estão a querer optar por outras culturas, mas ainda não tenho muitos dados concretos para já. Mas temos criadores da raça lusitana que vendem animais por preços bastante elevados e que se calhar é mais rentável assegurar-lhes culturas para se alimentarem do que propriamente plantarem arroz”.
O engenheiro diz-se surpreendido com os efeitos da seca que chegam ao norte do país com implicações na produção leiteira “que necessita de muito alimento para os seus animais, e no caso de existirem agricultores na nossa região a não quererem produzir arroz este ano, uma das alternativas passa por massa verde para o gado”. Até porque nas zonas de arroz “não se pode facilmente introduzir outras culturas, devido às condições do solo facilmente inundável”.
João Alegria alerta que é importante que chova não só em Portugal mas também em Espanha, pelo menos até Madrid, devido às barragens “para que se consiga ter o caudal necessário no Tejo, e o país vizinho ir cumprindo com os caudais ibéricos de forma contínua”. “Se chover muito apenas cá conseguimos ter água para esta campanha, mas ficamos com a próxima em risco”. O projeto Tejo na sua opinião permitiria “equilibrar os caudais quer nos anos de seca quer nos anos de cheia”, porque o que temos hoje “é estruturas que não são mantidas, não são limpas e que prejudicam nos dois cenários, precisamos de fazer chegar água ou retirá-la quando está em excesso e esses canais estão obstruídos”.
Da parte dos orizicultores, as preocupações com a seca também já se fazem sentir. A Orivárzea é uma empresa sedeada em Salvaterra de Magos que se assume como o maior produtor de arroz de Portugal com uma forte aposta na exportação. João Alegria, engenheiro agrícola na empresa, dá a conhecer que entre todos os associados estão 4000 hectares de produção, sendo que 50 por cento está nas mãos da Associação de Regantes do Vale do Sorraia e os restantes 50 por cento são da Associação de Regantes da Lezíria Grande de Vila Franca. Ora quanto à primeira associação como beneficia das barragens de Montargil e do Maranhão “não está com problemas de fornecimento de água aos campos”, já em Vila Franca “a situação não é assim e as dificuldades são muitas bem como as preocupações”, mais uma vez por não existir nenhum sistema de retenção das águas estando dependente do que o Tejo proporcionar. “Para conseguirmos ter um bom volume deveríamos ter chuva nos próximos meses, desde que não seja uma grande precipitação com o perigo de arrastar estruturas. O ideal seria durante março, meados de abril para não semearmos o arroz muito tarde, porque o ciclo do cereal é de 140 a 150 dias. Com atrasos e face à seca podemos entrar em fase de colheita no outono, o que nos pode afetar porque não sabemos se nessa altura não vai estar a chover e com isso prejudicar a produção”.
Os orizicultores “estão a preparar a campanha de forma mais ou menos natural, mas com algumas cautelas, procurando evitar riscos. Sabemos que alguns não vão cultivar arroz e estão a querer optar por outras culturas, mas ainda não tenho muitos dados concretos para já. Mas temos criadores da raça lusitana que vendem animais por preços bastante elevados e que se calhar é mais rentável assegurar-lhes culturas para se alimentarem do que propriamente plantarem arroz”.
O engenheiro diz-se surpreendido com os efeitos da seca que chegam ao norte do país com implicações na produção leiteira “que necessita de muito alimento para os seus animais, e no caso de existirem agricultores na nossa região a não quererem produzir arroz este ano, uma das alternativas passa por massa verde para o gado”. Até porque nas zonas de arroz “não se pode facilmente introduzir outras culturas, devido às condições do solo facilmente inundável”.
João Alegria alerta que é importante que chova não só em Portugal mas também em Espanha, pelo menos até Madrid, devido às barragens “para que se consiga ter o caudal necessário no Tejo, e o país vizinho ir cumprindo com os caudais ibéricos de forma contínua”. “Se chover muito apenas cá conseguimos ter água para esta campanha, mas ficamos com a próxima em risco”. O projeto Tejo na sua opinião permitiria “equilibrar os caudais quer nos anos de seca quer nos anos de cheia”, porque o que temos hoje “é estruturas que não são mantidas, não são limpas e que prejudicam nos dois cenários, precisamos de fazer chegar água ou retirá-la quando está em excesso e esses canais estão obstruídos”.

Luís Mira da CAP
Autoestrada da Água “é urgente”
Junto da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, secretário-geral, dá conta de situações de desespero dos agricultores, “em que as pessoas necessitam de alimento para os animais, que não existe porque está tudo seco. O pouco que nasceu foi queimado pelas geadas. Não há água e o campo está com um aspeto como se fosse setembro”. Por outro lado, “os prejuízos para quem fez culturas no outono e inverno estão aí bem patentes. Se não chover vão ficar sem nada”. Acresce ainda o problema na silvicultura “com árvores que não sabem o que é chuva há 10 meses”.
O responsável é arrojado na forma como encara a falta de água na agricultura – “Podíamos fazer como os espanhóis e criar uma autoestrada da água, puxando-a do Douro para o Tejo e daqui para o Guadiana com barragens, o que custaria metade do dinheiro que o Governo português colocou na TAP”. “Não vale a pena dizer que a culpa é dos espanhóis que não enviam caudais. Nós é que temos de ter coragem política para mudar a situação”.
Por outro lado, aponta o dedo ao Governo na gestão que está a efetuar com a captação da água das barragens para a produção hidroelétrica. “A gestão da água precisa de uma nova visão face ao que estamos a viver e às alterações climáticas. Alqueva foi bem feito, mas necessitamos de uma obra que beneficie todo o país”, Luís Mira considera que a floresta também necessita de um olhar mais atento. Em conclusão ressalva “que não é possível regar-se tudo convenientemente e já não falamos em aumento das áreas de produção com aquilo que temos atualmente. As alterações climáticas e o aumento da temperatura têm de nos levar a uma mudança de paradigma”.
Tendo em conta o atual quadro e a curto prazo e se não chover “aquilo que há a fazer prende-se com transportar água para onde há mais necessidade”. Por outro lado, “não é possível fazerem-se seguros contra a seca e corremos o risco de muitos agricultores desaparecerem se isto assim continuar, o que leva a terrenos abandonados e a mais incêndios no verão. Está cientificamente provado que onde há agricultura não há fogos”.
Autoestrada da Água “é urgente”
Junto da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, secretário-geral, dá conta de situações de desespero dos agricultores, “em que as pessoas necessitam de alimento para os animais, que não existe porque está tudo seco. O pouco que nasceu foi queimado pelas geadas. Não há água e o campo está com um aspeto como se fosse setembro”. Por outro lado, “os prejuízos para quem fez culturas no outono e inverno estão aí bem patentes. Se não chover vão ficar sem nada”. Acresce ainda o problema na silvicultura “com árvores que não sabem o que é chuva há 10 meses”.
O responsável é arrojado na forma como encara a falta de água na agricultura – “Podíamos fazer como os espanhóis e criar uma autoestrada da água, puxando-a do Douro para o Tejo e daqui para o Guadiana com barragens, o que custaria metade do dinheiro que o Governo português colocou na TAP”. “Não vale a pena dizer que a culpa é dos espanhóis que não enviam caudais. Nós é que temos de ter coragem política para mudar a situação”.
Por outro lado, aponta o dedo ao Governo na gestão que está a efetuar com a captação da água das barragens para a produção hidroelétrica. “A gestão da água precisa de uma nova visão face ao que estamos a viver e às alterações climáticas. Alqueva foi bem feito, mas necessitamos de uma obra que beneficie todo o país”, Luís Mira considera que a floresta também necessita de um olhar mais atento. Em conclusão ressalva “que não é possível regar-se tudo convenientemente e já não falamos em aumento das áreas de produção com aquilo que temos atualmente. As alterações climáticas e o aumento da temperatura têm de nos levar a uma mudança de paradigma”.
Tendo em conta o atual quadro e a curto prazo e se não chover “aquilo que há a fazer prende-se com transportar água para onde há mais necessidade”. Por outro lado, “não é possível fazerem-se seguros contra a seca e corremos o risco de muitos agricultores desaparecerem se isto assim continuar, o que leva a terrenos abandonados e a mais incêndios no verão. Está cientificamente provado que onde há agricultura não há fogos”.