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Alterações Climáticas deixam Saúde Pública em estado de alerta face aos mosquitos transmissores de doençasUnidade do Forte da Casa está atenta à evolução do mosquito transmissor de doenças na região
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Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
20-09-2019 às 16:50 |
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Cerca de duas vezes por mês, técnicas da Unidade de Saúde Pública do Centro de Saúde do Forte da Casa, recolhem amostras de vetores nas águas paradas em quintas e hortas com o intuito de serem analisadas pelo Instituto Nacional de Saúde do Dr. Ricardo Jorge. O objetivo é estudar a evolução e o comportamento daqueles organismos como sejam os mosquitos, as carraças, entre outros que, atualmente, estima-se que estejam na origem de uma percentagem considerável de doenças infeciosas em todo o mundo. Quando ouvimos falar em dengue, zika, ou febre do nilo parecem-nos doenças do mundo tropical muito longe do dia-a-dia dos europeus. Mas o encontro com uma picada e o espoletar de um desses quadros já esteve mais longe. O trabalho do Programa e Controle de Doenças Transmitidas por Vetores- Revive é o de ir ao terreno e elucidar para a necessidade de os agricultores manterem as águas destinadas a rega, normalmente, armazenadas em bidões devidamente tapadas para não se constituírem como um chamariz para os mosquitos. O Valor Local acompanhou uma dessas deslocações a duas hortas no concelho de Vila Franca de Xira.
Conceição Giraldes, Técnica de Saúde Ambiental, na Unidade de Saúde Publica alerta que as alterações climáticas estão a aumentar o nível de preocupação face a estes fenómenos, a que não terá sido alheio o registo de 900 casos de infeção por febre da carraça há meia dúzia de anos em toda a região da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. O mosquito transmissor do dengue, e zika já foi identificado, este ano, no Algarve, e dois anos antes no Norte. Trata-se do albopictus ou mosquito asiático, mas concluiu-se não ser portador de agentes infeciosos. Mas também na Madeira outra espécie da mesma família merece preocupação como é o caso do aedes “mosquito” egípcio. Contudo e face à entrada do vetor em território nacional, a rede Revive implantada em diversos centros de saúde do país encontra-se atenta. Os campos de arroz na região são locais onde as desinfestações têm lugar, todos os dias, face à necessidade de extermínio dos mosquitos, mas Conceição Giraldes salienta que o próprio meio aquático envolvente ajuda a controlar a espécie como os girinos, e peixes pequenos. Se as desinfestações por um lado atuam face aos vetores por outro terão necessariamente impacto no equilíbrio global dos ecossistemas. Nas duas hortas onde a nossa reportagem se deslocou, em Vialonga e Póvoa de Santa Iria, encontrámos larvas de mosquito prontas a eclodir em bidões e tanques. A Saúde Pública tem vindo a introduzir peixes nestes locais como forma de controlo daquela população que contrariamente ao senso comum tem preferência por águas limpas, e não pelas contaminadas, contudo “apresentam uma notável capacidade de adaptação a qualquer meio aquático, e se até há algum tempo atrás evitavam as piscinas por causa do cloro, nesta altura já ultrapassaram essa dificuldade e também aproveitam esses locais”, refere Conceição Giraldes. Sem querer entrar em alarmismos, a técnica refere que será uma questão de tempo até que possam surgir casos de dengue ou zika no nosso país, que dão sintomas semelhantes à febre ou gripe, que podem ser mais ou menos fáceis de debelar, mas também podem evoluir para quadros potencialmente mais perigosos, consoante os indivíduos.
A Unidade de Saúde Pública recomenda o uso de roupas leves e que cubram todo o corpo quando saímos à rua. Se possível, em casa deve optar-se pelo uso de redes mosquiteira, e esvaziar com frequência os recipientes acumuladores de água como vasos de plantas; baldes; bebedouros de animais, entre outros. O uso de repelente na pele exposta é outro dos conselhos. Principalmente, e na agricultura, aconselha-se vivamente a que se tapem os tanques ou bidões. É também importante que as autarquias não deixem as fontes ornamentais com as águas paradas, devendo-se optar ou pela circulação permanente, e quando possível introduzir predadores como peixes ou patos, ou então pelo despejo total das fontes. No concelho de Vila Franca, a Câmara já está a implementar a medida. |
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Parceria com as OGMA com a colocação de armadilhas sentinela
Proximamente, a Unidade de Saúde Pública numa parceria com as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), em Alverca, vai encetar um plano de controle de vetores, através da colocação de armadilhas sentinela, face ao trânsito aéreo que se verifica com a vinda de aparelhos do Brasil e de África que chegam à fábrica com o intuito de serem reparados. O aparecimento do mosquito asiático no território nacional fez soar estes alarmes, principalmente, e numa altura e que estes vetores estão-se adaptar cada vez melhor ao meio ambiente, embora “o objetivo não seja a sua erradicação, mas o seu controle” diz Conceição Giraldes. Os mosquitos desempenham uma função enquanto presas de outros predadores no ecossistema, e embora com menor preponderância acabam por ser também agentes polinizadores da natureza. Na era das alterações climáticas, estas espécies adaptam-se a vários tipos de clima e o próprio ciclo das estações que está a mudar tem facilitado nesse sentido da tempestade perfeita. Quando questionamos no sentido de se perceber por que razão há pessoas que se dizem mais vezes picadas do que outras. A técnica ambiental refere que os mosquitos preferem as pessoas que libertam mais C02, e como nem todos libertamos as mesmas quantidades de dióxido de carbono, os vetores agem em conformidade. Por isso uma das formas de capturar os mosquitos adultos para análise deste programa passa pela colocação de uma pastilha de CO2 de modo a atraí-los. |
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