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ANTIGAS ESCOLAS PRIMÁRIAS GANHAM NOVA VIDA
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Reportagem: Sílvia Agostinho
18-03-2017 às 19h00
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De há uns anos para cá, sobretudo desde que o Governo impôs a necessidade dos centros escolares para os alunos do primeiro ciclo, que as crianças deixaram de aprender a ler, a escrever, a contar nas ditas escolas do Plano Centenário. Por ali já tinham passado os seus pais, e estes estabelecimentos acabam por encerrar uma mística muito particular pois mesmo depois de abandonados acabaram por converter-se em sedes de associações, extensões de atendimento de juntas de freguesia, centros de estudo, entre outras valências.
 
Em Arrifana, na União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa a antiga escola primária está hoje sob gestão da junta local, no âmbito de um processo que ainda não ficou completamente fechado com a Câmara de Azambuja. No local funciona hoje uma delegação da junta que todas as semanas está aberta aos fregueses que ali desejem tratar dos mais diversos assuntos. Isto no caso de uma das salas de aula. A outra está alugada para escritórios de uma empresa local de panificação por 200 euros por mês.

A antiga escola primária de Arrifana estaria fechada há mais de 20 anos. A pequena aldeia há muito que não conseguia ter crianças para sentar nos bancos da mesma. Nos últimos anos foi totalmente remodelada pela junta de freguesia no mandato entre 2009/2013. José Avelino, atual presidente da união de freguesias, conta que o local encontrava-se em mau estado com o chão bastante degradado – “Tivemos de substituir os forros dos alpendres, pintar, afagar e envernizar o chão bem como a reparação das janelas e dos estores”.

O autarca conta que a Câmara passou a gestão desta escola para a junta como forma de compensação pelas obra que a autarquia teve de fazer no cemitério local de Manique – “A Câmara não pagou essas obras e chegou-se a um acordo de cavalheiros com a passagem desta escola para a nossa alçada, embora ainda não esteja em nome da junta, porque a Câmara ainda não conseguiu finalizar os trâmites junto do ministério da Educação”.
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Para José Avelino acaba por ser uma mais valia tendo em conta que uma vez por semana os fregueses podem deslocar-se ao local para tratar dos mais diversos assuntos. O presidente diz ainda que “teve a preocupação de não mudar muita coisa no interior da escola, de forma a manter um pouco daquilo que era antigamente”. Assembleias de freguesia também funcionam neste espaço quando possível – “É um espaço que traz muitas memórias ainda às pessoas aqui da aldeia”.
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Presidente da junta abre as portas da escola uma vez por semana para atender fregueses
Noutro ponto da freguesia, a junta pensa em recuperar a antiga escola primárias de Casal de Além para que sirva de sede à associação de caçadores local, ou outras atividades como aulas de formação, reuniões. Estando em marcha um protocolo nesse sentido. Sem fim à vista para já está a questão relacionada com a antiga escola primária de Maçussa para onde esteve pensado um centro de dia. Com uma população envelhecida, não se conseguiu descortinar até à data outro tipo de finalidade. Contudo, a Casa do Povo de Manique seria a entidade a gerir o espaço mas não conseguiu chegar a bom porto neste domínio. A escola está fechada, “e não vejo grande viabilidade de abertura no futuro”.
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A população de Maçussa “gostaria de ver aquele edifício com vida mas é com pena que isso não aconteça”. A localidade terá cerca de 20 ou 30 pessoas em lar, pelo que “um centro de dia seria positivo para tirar os idosos um pouco da solidão dos seus lares”, refere.

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Henrique Mendes faz parte da equipa que costuma estar em Cachoeiras
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Centro de Estudos Arqueológicos na antiga escola de Cachoeiras

Guiados pelo arqueólogo da Câmara de Vila Franca de Xira, Henrique Mendes, ficámos a conhecer o Centro de Estudos Arqueológicos do concelho onde antes funcionou a escola primária de Cachoeiras. Se num primeiro impacto foi visto como um local distante para uma valência deste tipo no concelho de Vila Franca, surge agora como um epicentro da atividade académica ali desenvolvida com uma paisagem campestre e sugestiva que tem encantado os especialistas que ali se deslocam, e até a população se tem mostrado rendida à nova funcionalidade ali existente.

Normalmente este centro de estudos está  aberto para as visitas das escolas. No inverno funciona mais por marcação mas durante o verão está de portas abertas quase sempre. O centro está a funcionar desde 2015, mas a escola estava encerrada há três anos. O equipamento já não se apresentava nas melhores condições alvo de algum vandalismo com vidros e portas partidos mas também situações de infiltrações, “embora o edifício não estivesse muito mau”, relata o arqueólogo.

No interior da pequena escola que contava apenas com uma sala de aula foi criado um espaço de exposição e de escritório dos arqueólogos. Já noutra sala onde funcionava a cantina está armazenado todo o espólio importante que os estudiosos trouxeram das escavações nos vários locais com interesse arqueológico no município.

Apesar de estarmos num território “muito modificado pela ação humana temos contudo vestígios muito importantes”. Muitos dos sítios arqueológicos já foram alvo de várias campanhas ao longo dos anos como a Pedreira Moita da Ladra ou o Povoado de Santa Sofia da idade do Bronze, na zona onde hoje se encontra o viaduto da A1 em Vila Franca. Tratou-se de um achado “muito importante à época pois não se conhecia algo tão remoto neste território de Vila Franca”. Foram descobertas três cabanas. “Um sítio insuspeito para um território como este”. A idade do Bronze remonta a três mil anos A.C. “Presume-se que já havia trocas comerciais na altura”.

Neste momento, “a grande aposta” da equipa de arqueólogos da Câmara é o Monte dos Castelinhos, datado de um século A.C. “com uma importância enorme quanto à conquista romana do Vale do Tejo, numa zona com casas, muros, à época, muito bem preservado”. Não se pensaria à partida na existência de um património tão rico como este “à entrada de Vila Franca”. “Que disparate!”, pensava-se. Este sítio é também a grande aposta do município tendo em conta a criação já desse campo arqueológico com a Faculdade de Letras e Universidade Nova de Lisboa. “Todos os anos fazemos uma campanha no local, sobranceiro à Vala do Carregado, na freguesia de Castanheira do Ribatejo, com mais de 10 hectares”. Durante muitos anos “passou ao lado do interesse dos arqueólogos nacionais mas quando aqui chegamos ficámos despertos para as suas potencialidades, com um projeto de intervenção anual que tem dado os seus frutos”. Segue-se agora a aquisição dos terrenos pertencentes a particulares “que têm facilitado as escavações no local”. Nem sempre é fácil os proprietários facilitarem o trabalho da ciência mas neste caso a autarquia teve alguma sorte, tendo em conta também que não é possível a construção no local.

O estudioso reforça mais uma vez a importância do local do ponto de vista geoestratégico sobre o Vale do Tejo com uma visão de 360º da área geográfica onde nos encontramos e que se encontra a meio caminho das antigas cidades de Lisboa (Olissipo) e Santarém (Scallabis), sendo que já na altura era local de passagem e de viagens. Com uma arquitetura itálica bem vincada “com uma grande casa quadrangular, pátio central, cobertura com telhas”, descreve já no que toca aos vestígios encontrados. Os materiais datados pelos arqueólogos nestas escavações integram-se muito bem no período histórico em questão, nomeadamente, um escudo romano “que já esteve exposto em vários museus em Espanha”. Material cerâmico com características do mundo itálico é outro dos aspetos.

Também importante neste espólio que podemos encontrar na antiga escola primária das Cachoeiras, encontram-se os vestígios da “Villa  Romana de Povos do século III e IV. Uma estrada romana foi também descoberta aquando da construção do Museu do Neo-Realismo. O monumento do Forte da Casa inscrito nas Linhas de Torres não podia deixar de figurar nesta exposição. Possui um centro interpretativo. “Fomos dos primeiros municípios a intervir nesta questão das Linhas de Torres com uma intervenção no Paiol o que nos permitiu desenterrar aquela área”. O projeto que envolve várias câmaras municipais em torno do legado das Linhas de Torres “continua”. “Sendo um projeto de grande dimensão mas com poucos passados dados nos últimos anos”, com a uniformização da a sinalética em torno destes monumentos que se situam em concelhos como Vila Franca, Sobral de Monte Agraço, Arruda dos Vinhos, Mafra.
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Neste centro de estudos arqueológicos tem sido possível fazer inventariação e estudo das coleções dando-lhes dignidade. O anterior vereador da Cultura Fernando Paulo Ferreira foi quem apresentou o espaço – “Não quisemos dizer que não, caso contrário podíamos não conseguir melhor”, revela Henrique Mendes. “Pensámos que era um bocadinho longe mas que ia dar para o que queríamos”.

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Salvaterra de Magos: De escola para quartel da GNR

O projeto já é antigo e é encarado como a derradeira solução face à falta de condições que durante muitos anos os militares da GNR tiveram de enfrentar no atual quartel de Salvaterra de Magos. Mais recentemente, a um de fevereiro, foi publicado em Diário da República a portaria que autoriza finalmente a possibilidade de o posto territorial se instalar definitivamente de armas e bagagens na antiga escola primária da Avenida. O presidente da Câmara, Hélder Esménio, ao Valor Local refere que nesta altura serão precisos mais dois anos para se esperar pela transferência em definitivo para o edifício em causa tendo em conta a necessidade de obras.

As obras serão assumidas pelo ministério da Administração Interna face à necessidade de obras de adaptação da escola para quartel. Encontram-se estimadas em 650 mil euros e têm uma calendarização para 2018/2019. Até lá os militares que já não pernoitam há alguns anos no antigo quartel, face à acentuada falta de salubridade e à inexistência do mínimo de conforto, continuarão a frequentar as instalações alugadas pela Câmara no antigo hospital da Santa Casa da Misericórdia para o efeito. A Câmara ainda chegou a sugerir a hipótese de um terreno que não foi para a frente. “Aguardamos agora com ansiedade pelo início das obras”.

Recorde-se que, em 27 de fevereiro de 2015, foi assinado um protocolo de cedência entre a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos e a GNR, homologado pelo ministério da Administração Interna, que visava então a cedência das instalações da antiga Escola Primária da Avenida em Salvaterra de Magos para o futuro posto daquela força policial na sede de concelho. O ministério da Administração Interna ainda sugeriu que fosse a Câmara a elaborar o projeto de adaptação da escola.

O presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio, refere assim que “é com satisfação que vejo que o Governo da República dá agora passos, três anos depois, no sentido de assumir na plenitude as suas responsabilidades em matéria de segurança, cuidando das instalações do nosso posto territorial e dos homens e mulheres que ali prestam serviço, pois nos últimos anos tem sido o Município de Salvaterra de Magos a assumir sozinho essa responsabilidade, uma vez que o atual posto é propriedade do Município e o espaço que os militares habitam (antigo Hospital da vila) é custeado pela Câmara Municipal”.

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Responsáveis da associação querem afirmar este conceito
​Associação “Caminhando” na antiga escola de Cardosas

Um novo conceito de aprendizagem está a ser implantado na antiga escola primária de Cardosas. Ainda a dar os primeiros passos, pretende dar uma nova perspetiva do ensino doméstico previsto pelo ministério da Educação, mas que há muito caíra em desuso. Nos últimos tempos e tendo em conta que são cada vez mais os pais a procurarem outras abordagens fora do ensino oficial, tal método tem vindo a ganhar espaço em algumas partes do país.

Rute Baptista, psicóloga, e Sandra Rodrigues, professora mas que neste contexto se afirma como tutora, dão a conhecer este espaço multidisciplinar que para além de se concretizar como um local de transmissão do mesmo tipo de conteúdos às crianças como se estivessem numa sala de aula tradicional, inclui ainda workshops voltados para os pais, e outras atividades, repartidas por várias salas da antiga escola num ambiente confortável e acolhedor. Assim nasceu a Associação Caminhando em março de 2017 que inclui não apenas o centro de aprendizagem mas também o projeto “Casa de Cultura” que inclui tertúlias e workshops com os pais, nomeadamente, relacionados com temáticas da criança e bebés, entre outros; e o projeto “Caminhando com a Natureza”.

À primeira vista poderíamos pensar que a antiga escola funcionaria hoje como um simples espaço de Atividades de Tempos Livres (ATL) mas não é esse o âmbito. “O nosso objetivo passa por trabalhar com crianças cujas famílias apostem no ensino doméstico, mas não tem nada a ver nem com um ATL nem com um jardim-de-infância”, desmistifica Sandra Rodrigues.

A associação acolhe crianças dos três aos cinco anos que frequentam as atividades de “oficinas e de playgroups (brincar em grupo)”. Neste âmbito, a Caminhando também consegue ter horários flexíveis para os pais, “que nos procuram porque querem dar uma outra resposta de educação aos seus filhos”, acrescenta Rute Baptista. Dos seis aos 10 anos, a criança tem uma aprendizagem dos conteúdos semelhante em parte ao que teria numa escola do ensino oficial, embora e segundo as duas responsáveis através de abordagens com outro nível de estímulo que podem passar por atividades ao ar livre e de descoberta que em última análise pretendem ser, a título de exemplo, mais eficazes no ensino da Matemática ou do Português.

As aulas acontecem neste espaço, mas os exames são realizados nas escolas do ensino oficial para estes alunos, (que continuam matriculados nas mesmas), de forma a ficarem em pé de igualdade em relação aos que não optem por esta via. Nesta altura, e tendo em conta que a associação começou a funcionar com o ensino doméstico em janeiro de 2018, estão a frequentar as aulas três alunos no que equivaleria ao primeiro ciclo do ensino básico; e dois na sala da pré-primária, grosso modo. O objetivo passaria no futuro por quinze em cada sala, num total de 30 no máximo. Face à necessidade de um ensino mais acompanhado ou individualizado, Sandra Rodrigues refere que tal não chocaria com os objetivos deste tipo de aprendizagem “porque se o grupo for mais diversificado, em que cada criança tem a sua experiência pessoal, tende a existir uma maior entreajuda”, refere Sandra Rodrigues que concretiza – “Neste tipo de aprendizagem nem todas as crianças têm de estar a fazer o mesmo tipo de trabalho, funciona antes de acordo com o ritmo, e necessidade da criança, e dentro daquilo que a família estipulou”. Como há mais do que uma responsável da associação na sala “dá para perceber se determinada criança se está a sentir bem ou não com o que está a fazer”.

Estes centros de aprendizagem não são propriamente muito comuns no país, e em Cardosas tem suscitado curiosidade por parte da população. Na Caminhando, a compra de manuais não é obrigatória. Segundo as responsáveis há vários à disposição naquele espaço. “Cada um escolhe o manual que prefere acompanhar”. Sendo certo que “há sempre o compromisso com os pais de que este ensino é rigoroso”. Neste espaço, o valor que cada encarregado de educação paga é de 250 euros “que pode baixar no caso de ser o próprio pai/mãe a querer vir dar algumas aulas, até porque alguns deles são formados e têm conhecimentos”.
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Quando o aluno sai do ensino doméstico, e tem de passar para o ensino oficial, as dúvidas surgem natualmente. Neste aspeto Rute Baptista refere que um dos valores da Caminhando prende-se com a autonomia, em que “a criança aprende a estudar”, o que por si só “já é um passo significativo” tendo em conta essa transição. Apesar de em Cardosas, o ensino doméstico estar previsto apenas até ao quarto ano, o mesmo pode prolongar-se por todo o ensino obrigatório como acontece, por exemplo, na Escola da Ponte em Santo Tirso, onde as responsáveis foram beber este modelo, alvo de estudo nacional e internacionalmente. Rute Baptista e Sandra Rodrigues não escondem que ainda há receios quanto ao ensino doméstico quanto “ao seu rigor, certificação e a adaptação à posteriori ao ensino oficial no 5º ano como é o nosso caso, mas aos poucos temos vindo a tentar eliminar esses mesmos receios”.

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