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Antigo trabalhador lança livro sobre os dias quentes da Opel de Azambuja
“Conflitos Sociais” será lançado no dia 9 de abril no Restaurante Valverde
Sílvia Agostinho
30-03-2016 às 15:51
Imagens
Pela primeira vez, e pela mão do antigo trabalhador da fábrica da Opel de Azambuja, Armando Martins, são relatados em livro os acontecimentos que antecederam o fecho da empresa neste concelho, em 2006. As lutas sindicais, os problemas sociais, os braços de ferro que marcaram a existência dos últimos dias da Opel podem ser, agora, lidos em “Conflitos Sociais”. Ao Valor Local, Armando Martins antecipa algumas das histórias do livro, que vai ser lançado no dia 9 de abril, no Restaurante Valverde, em Azambuja. 

Armando Martins, antigo supervisor da secção de pintura, recorda que durante os primeiros tempos de instabilidade começou logo a tomar notas no emprego que viriam a servir para compilar a obra. Ainda pensou em fazer o lançamento logo após o encerramento, “mas devido às consequências que o abandono de Azambuja por parte da Opel causou a muitas famílias”, achou “que ainda era cedo”, tendo em conta que muitas feridas ainda permaneciam abertas.

O antigo chefe de secção da pintura lembra que trabalhavam na fábrica 1207 pessoas na Opel, mais cerca de 200 provenientes de empresas que prestavam serviços na fábrica. Só do concelho trabalhavam na Opel 400 pessoas. Com o fecho, muitos problemas sociais agudizaram-se. Houve casais que se divorciaram. “Sei de alguns casos de pessoas relativamente novas que faleceram depois do fecho da fábrica, cerca de quatro ou cinco, embora não possa associar diretamente, mas certo é que muita gente passou a viver mal” recorda, embora realce que no caso de Azambuja muitos conseguiram arranjar emprego em empresas de logística, e outras pessoas mais velhas tiveram acesso à reforma.

Quem começava na Opel ia logo auferir 1200 euros, nem que fosse como operário de linha, um ordenado ainda hoje considerado acima da média. Para além disso, os trabalhadores tinham outras regalias como alimentação, transporte, seguros, prémios.

Os motivos para o fecho da fábrica e a transferência da produção para Saragoça, Espanha já são por demais conhecidos. A General Motors alegou falta de produtividade, e que por cada unidade produzida em Portugal gastava mais 500 euros. Armando Martins é da opinião de que as intransigências que começaram a surgir de parte a parte (comissão de trabalhadores versus direção da empresa) é que ditaram o fim da Opel.

A comissão exigia aumentos de ordenado fazendo passar uma atitude de inflexibilidade, por outro lado a direção da GM movida também por uma dificuldade em lidar com as exigências da outra parte optou pela transferência da produção. “Não fazia sentido que isto tivesse acontecido quando anos antes, em 1999 – e quando tudo se conjugava para que fechasse – a Opel tinha aumentado a capacidade da fábrica de Azambuja. A mudança para Saragoça ia custar milhões de euros. Talvez a fábrica fechasse, mas não a meio do processo. Seria de esperar que o seu encerramento pudesse ocorrer por volta de 2009 ou 2010”, opina. Por tudo isto, não tem dúvidas – “Não houve bom senso por parte da comissão de trabalhadores que exigia aumentos para todos os setores no mínimo de 150 euros, quando no resto das fábricas da Europa esse aumento tinha ficado ao nível da inflação”.

As negociações com a Comissão de Trabalhadores para as indemnizações a pagar foram longas. Os primeiros rumores de que mais de 1200 pessoas iam ficar desempregadas surgiram nos primeiros meses de 2006. Deram-se muitos atos de insubordinação na fábrica como boicotes ao trabalho, situações de laxismo e absentismo. “Houve muitas situações em que se fez parar a linha e atrasar a produção”. E neste aspeto, Armando Martins decide falar de alguns colegas, no livro, que nem sempre se pautaram pela atitude mais correta como “Pedro Morais” – “absentista oficial”; ou “Ricardo Mota” que, a dada altura, “entra também de baixa médica para não ter de ajudar a equipa a suportar a ausência de Nuno”. “Possivelmente também estavam numa fase de andarem um pouco perdidos”, reflete.

Contudo refere que nunca temeu que os “automóveis fossem para o mercado com problemas de segurança” devido à falta de empenho “porque o filtro era muito rigoroso”.Uma vez encerrada a fábrica, Armando Martins considera que ninguém ficou prejudicado- “Foram dados dois meses por cada ano de trabalho, e neste aspeto os trabalhadores que auferiam menos de 1500 euros também tiveram mais algumas benesses para além disso”.

“Foram tempos difíceis os que vivemos ao sabermos que íamos perder o emprego. Primeiro com muitas lágrimas, depois deu-se a fase da raiva e da revolta, e por fim a da saturação. Quando percebemos que não haveria volta a dar só queríamos negociar da melhor forma possível”.

Já lá vão quase 10 anos que a Opel fechou, mas ainda hoje Armando Martins mantém contacto com antigos colegas, através de jantares, e da rede social facebook. No dia do lançamento do livro, espera contar com esses amigos que ficaram para a vida, e com os quais partilhou um tempo da sua vida, “quando trabalhávamos numa fábrica que oferecia condições ímpares, e da qual temos muitas saudades”.

 



Comentários

Fui trabalhador desta empresa, gostava de arranjar o livro do Srº Armando Martins com o título Conflitos Sociais. Obrigado
Rui Vilar
Almada
30-09-2017 14:41

Eu sai em 1999 por razões pessoais, para estar com o meu filho, mas quando soube que a fabrica GM em Azambuja ia fechar fiquei muito triste. Sabia que ali se trabalhava com gosto e realmente a comissão de trabalhadores e governantes deviam ter tido cuidado para não deixar ir embora uma empresa como a nossa.
Lamento muito! Devia haver mais cuidado, por vezes temos que pensar num todo e não só em cada um de nós.
A si Armando Martins desejo-lhe sucesso espero poder ir ao lançamento.
Um abraço
​
Regina Espanhol
Casal de Cambra
sáb 02/04/2016 02:11

Pelo que li aqui o Armando esta-se a esquecer um pouco da situaçao dos nossos governantes da altura mas espero que tenha escrito algo acerca disto. Espero tambem que tenhas teu sucesso neste livro que tentarei lê-lo.

José Pinto Branco
Saragoça
31/03/2016 às 7:25

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