Por Ana Bernardino
Descentralizar é quando um poder absoluto passa a ser repartido. Em plena democracia este conceito deveria ser aceite e aplicado, mas quando ainda há tantos vícios absolutistas, quem deveria dar o exemplo dessa descentralização raramente o faz, consciente ou inconscientemente.
O fascínio pela centralização leva a que o desenvolvimento das pequenas comunidades seja encarado como uma ameaça. Daí ao encerramento dos tímidos símbolos de progresso vai um pequeno passo. Demasiado pequeno. As aldeias, as freguesias tendem a esmorecer e definhar apesar da boa vontade de quem lá mora, que muitas vezes faz o papel de animador cultural e assistente social protagonizando, autênticos malabarismos que permitam que algo aconteça, que as terras vivam para além da humilhação que representa a desvalorização do local onde vivem.
As escolas, o comércio e os serviços vão encerrando portas perante o olhar impotente de quem os vê partir e a benevolência de quem os recebe ou quem respira de alivio porque ainda não lhe aconteceu. O argumento de que é para bem das populações esgota e enrouquece as vozes que alertam para o futuro das comunidades lesadas. A necessidade de, muitas vezes, centralizar os serviços nas sedes de concelho esvazia as aldeias em redor, para prejuízo de quem opta por ficar afastado dos centros urbanos. A capacidade de escolha é obrigatoriamente condicionada por desígnios misteriosos, justificações que não fazem sentido, interesses velados. Não esqueçamos que um aglomerado populacional de maior dimensão significa mais votos em tempos eleitorais. E é em torno das eleições que tudo vive, numa volta de 360 graus com uma duração de quatro anos. Mas também não esqueçamos que, quem olha para o lado enquanto as freguesias se transformam em terreno árido, provavelmente vai estar cá para ver o mesmo acontecer às pequenas cidades que tanto defendeu assistindo ao esmagamento em prol de um bem maior, uma cidade maior. Lá diz a sabedoria popular “recebemos em dobro que desejamos aos outros”. Só que o tempo urge. Cada freguesia deve ser encarada como um pólo de enriquecimento per si. Um local aprazível de se viver, não só pelas bonitas paisagens e vizinhança agradável, mas por proporcionar os serviços necessários, valorizando cada metro quadrado concelhia e não apenas de uma ou duas localidades. Valorizando o todo pelo todo. Só assim é que os concelhos têm futuro.
14-11-2014
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