As Marcas da Nossa Saudade
Os anos 50 do século passado foram em Portugal uma década de ouro no que a marcas diz respeito. Um pouco por todo o país floresceram muitas empresas que ainda hoje estão no ativo, ou pelo menos no nosso imaginário. O Ribatejo em particular não fugiu à regra e por isso o Valor Local foi em busca das “Marcas da Nossa Saudade” que estiveram presentes não só na vida adulta de muitos, como na infância de outros, atravessando assim várias gerações.
Miguel António Rodrigues/ Sílvia Agostinho
26-02-2018 às 18:59
Os anos 50 do século passado foram em Portugal uma década de ouro no que a marcas diz respeito. Um pouco por todo o país floresceram muitas empresas que ainda hoje estão no ativo, ou pelo menos no nosso imaginário. O Ribatejo em particular não fugiu à regra e por isso o Valor Local foi em busca das “Marcas da Nossa Saudade” que estiveram presentes não só na vida adulta de muitos, como na infância de outros, atravessando assim várias gerações.
Miguel António Rodrigues/ Sílvia Agostinho
26-02-2018 às 18:59

Foi nos anos 50 que apareceram as bicicletas “Milita” em Marinhais, concelho de Salvaterra, mas nessa época entraram em cena igualmente os “Azeites Ribeiro” em Alenquer, o “Café Bujá” e os “Licores Bispo” em Azambuja.
Esta última marca começou a laborar primeiro com o nome de RibaTagus. Conta Dionísio Bispo, filho do último proprietário, que tudo começou com João Nolasco e Santos Júnior que convidaram o seu pai a ingressar naquela que viria a ser uma aventura.
Todos se conheciam porque trabalhavam nos caminhos-de-ferro e daí até convidarem João Bispo, o seu pai, para a empresa foi um pulinho. João Bispo passa assim a fazer parte da sociedade com uma quota pouco significativa mas importante, já que não teve de despender qualquer valor financeiro, fazendo o pagamento com o seu trabalho em part-time, até porque todos tinham um emprego certo.
Dionísio Bispo lembra que os primeiros tempos foram “engraçados”, mas faltava estrutura à empresa que começou a laborar num edifício no páteo junto à atual discoteca Ponto e Vírgula em Azambuja.
A fábrica RibaTagus, nos anos 50, aparece depois de João Nolasco e Santos Júnior terem comprado, “um livro de receitas a uma senhora que era a Maria Bolacheira” e isso foi, nas suas palavras, o início de toda a história. Dionísio Bispo refere ainda que o livro de receitas terá partido das mãos do “engenheiro Wallace que esteve em Azambuja a construir a ponte sobre a Vala Real”.
Mas a falta de estrutura da empresa viria a ser nociva para os licores. Dionísio lembra que as obras para instalar a caldeira foram avultadas e que foi difícil cobrir o investimento. A juntar às obras os dois sócios mandaram fazer “ainda milhares de rótulos num papel com um acabamento muito bom, impressos na Litográfica do Sul em Vila Real de Santo António” mas acabaram por ser demasiados face aos anos que a empresa laborou. Bispo recorda, entretanto, que os licores tinham uma qualidade muito boa, mas que não chegavam às lojas. A falta de um vendedor terá sido um dos motivos que levou a empresa ao seu términus. A falta de uma estrutura de vendas, seria vital para que tudo corresse às mil maravilhas, fato esse que não aconteceu.
A empresa RibaTagus acabou pouco tempo depois ainda no final dos anos 50 do século passado. Como pagamento, os dois sócios deram os rótulos litografados a João Bispo e o caderno comprado a Emília Bolacheira com as fórmulas dos licores.
A empresa acabou, mas o caderno permaneceu na família, até que nos anos 70, Dionísio Bispo e a família, foram residir para o Largo de Palmela em Azambuja. Aos poucos no sótão da casa, o pai de Dionísio foi fazendo umas experiências. Vendia aos amigos da CP e a algumas pessoas que lhe pediam. Mas o produto foi criando cada vez mais adeptos e João Bispo decide dar o nome da família aos licores. Em pouco tempo mudou-se para umas instalações maiores do outro lado da estrada, onde os Licores Bispo viriam a ganhar corpo.
Aquele que começou por ser um hobbie de João Bispo, passou a ser um complemento de reforma quando se aposentou da CP, e em poucos anos viria a ser um nome reconhecido na região, com as aguardentes, licores, ginjas e até capilés e groselhas.
Os anos 70 foram de resto uma marca importante para esta casa, que estava em todos os cafés da região e era solicitada por muitos como acompanhamento.
Até final dos anos 80, os Licores Bispo deram cartas na região, mas a abertura aos mercados da União Europeia e as constantes exigências ao nível da competitividade levaram a atividade a abrandar. Hoje os Licores Bispo são apenas uma recordação, mas ainda existem - quase 30 anos depois do fecho das portas – muitas garrafas em algumas casas particulares e cafés em Azambuja, como é o caso da sede do PCP local que ostenta uma preciosa garrafa de licor de amêndoa.
Esta última marca começou a laborar primeiro com o nome de RibaTagus. Conta Dionísio Bispo, filho do último proprietário, que tudo começou com João Nolasco e Santos Júnior que convidaram o seu pai a ingressar naquela que viria a ser uma aventura.
Todos se conheciam porque trabalhavam nos caminhos-de-ferro e daí até convidarem João Bispo, o seu pai, para a empresa foi um pulinho. João Bispo passa assim a fazer parte da sociedade com uma quota pouco significativa mas importante, já que não teve de despender qualquer valor financeiro, fazendo o pagamento com o seu trabalho em part-time, até porque todos tinham um emprego certo.
Dionísio Bispo lembra que os primeiros tempos foram “engraçados”, mas faltava estrutura à empresa que começou a laborar num edifício no páteo junto à atual discoteca Ponto e Vírgula em Azambuja.
A fábrica RibaTagus, nos anos 50, aparece depois de João Nolasco e Santos Júnior terem comprado, “um livro de receitas a uma senhora que era a Maria Bolacheira” e isso foi, nas suas palavras, o início de toda a história. Dionísio Bispo refere ainda que o livro de receitas terá partido das mãos do “engenheiro Wallace que esteve em Azambuja a construir a ponte sobre a Vala Real”.
Mas a falta de estrutura da empresa viria a ser nociva para os licores. Dionísio lembra que as obras para instalar a caldeira foram avultadas e que foi difícil cobrir o investimento. A juntar às obras os dois sócios mandaram fazer “ainda milhares de rótulos num papel com um acabamento muito bom, impressos na Litográfica do Sul em Vila Real de Santo António” mas acabaram por ser demasiados face aos anos que a empresa laborou. Bispo recorda, entretanto, que os licores tinham uma qualidade muito boa, mas que não chegavam às lojas. A falta de um vendedor terá sido um dos motivos que levou a empresa ao seu términus. A falta de uma estrutura de vendas, seria vital para que tudo corresse às mil maravilhas, fato esse que não aconteceu.
A empresa RibaTagus acabou pouco tempo depois ainda no final dos anos 50 do século passado. Como pagamento, os dois sócios deram os rótulos litografados a João Bispo e o caderno comprado a Emília Bolacheira com as fórmulas dos licores.
A empresa acabou, mas o caderno permaneceu na família, até que nos anos 70, Dionísio Bispo e a família, foram residir para o Largo de Palmela em Azambuja. Aos poucos no sótão da casa, o pai de Dionísio foi fazendo umas experiências. Vendia aos amigos da CP e a algumas pessoas que lhe pediam. Mas o produto foi criando cada vez mais adeptos e João Bispo decide dar o nome da família aos licores. Em pouco tempo mudou-se para umas instalações maiores do outro lado da estrada, onde os Licores Bispo viriam a ganhar corpo.
Aquele que começou por ser um hobbie de João Bispo, passou a ser um complemento de reforma quando se aposentou da CP, e em poucos anos viria a ser um nome reconhecido na região, com as aguardentes, licores, ginjas e até capilés e groselhas.
Os anos 70 foram de resto uma marca importante para esta casa, que estava em todos os cafés da região e era solicitada por muitos como acompanhamento.
Até final dos anos 80, os Licores Bispo deram cartas na região, mas a abertura aos mercados da União Europeia e as constantes exigências ao nível da competitividade levaram a atividade a abrandar. Hoje os Licores Bispo são apenas uma recordação, mas ainda existem - quase 30 anos depois do fecho das portas – muitas garrafas em algumas casas particulares e cafés em Azambuja, como é o caso da sede do PCP local que ostenta uma preciosa garrafa de licor de amêndoa.
Café Bujá “era” o melhor que há
Durante os anos 80 acordar na vila de Azambuja era para muitos sinónimo de Café Bujá. O café que usou Azambuja para marca registada ainda está na memória de muitos. Bastava sair de casa e cheirar o café que estaria a ser torrado junto à Fonte de Santo António. Muitos ainda se recordam do cheiro do café que acompanhou gerações, e que ainda hoje está à venda, embora em Azambuja apenas se encontre no Intermaché local.
Agostinho Carvalho foi um dos proprietários do Café Bujá. Ao Valor Local o agora reformado empresário, conta que tudo começou por volta dos anos 50 com um senhor chamado Eduardo Lorfam: “Foi ele que fundou o café” e que mais tarde “o vendeu a um outro senhor: o Marafuz que a partir daí fez uma sociedade”.
Todavia a empresa viria mais tarde a ser vendida ao empregado “ Zeferino” que convidaria Agostinho Carvalho para a nova sociedade já em 1982.
Agostinho Carvalho estava estabelecido na Amadora, mas depressa se adaptou aos hábitos e aos clientes azambujenses.
O Café Bujá que tinha três qualidades era vendido um pouco por todo o Ribatejo. Agostinho Carvalho recorda com saudade que por exemplo Almeirim, os clientes gostavam preferencialmente do café vermelho que era o de melhor qualidade, mas eem Azambuja vendia-se mais o café azul.
Foram tempos de alguma prosperidade, mas ainda assim a equipa manteve-se restrita aos dois casais. Trabalhavam em Azambuja: Agostinho Carvalho e a esposa; bem como o seu sócio também com a esposa.
O Café Bujá era muito apreciado na região. Agostinho Carvalho recorda que era comprado a grandes armazéns em bruto e depois torrado e embalado em Azambuja. O antigo empresário salienta que tudo era feito à mão. A torrefação de café desenrolava-se em grandes cubas, e o embalamento como não podia deixar de ser era manual com recurso a sacos de plástico, selados numa máquina que só fechava um de cada vez.
Ao todo, Agostinho Carvalho refere não ter conta de quantos quilos vendeu, mas sabe precisar que por mês sairiam daquela moagem cerca de três a quatro toneladas de café para todo o lado.
Todavia a empresa que nasceu do Café Bujá tinha muitos outros produtos. Vendia-se ao retalho pastilhas, rebuçados, e bolachas - tudo avulso e de uma forma quase artesanal - mas que permitiu complementar o negócio durante quase 30 anos.
No entanto em 1997, Agostinho Carvalho adoece e isso veio a pesar no futuro da empresa. Com a sua doença vendeu a quota ao sócio. E três anos mais tarde a marca Café Bujá era vendida para Pombal, onde ainda é produzida. Ao fim de tantos anos, Agostinho Carvalho diz ter muitas saudades até porque o Café Bujá “já não tem o mesmo sabor”.
Conta que o negócio acabou por falta de interesse do sócio em investir na marca. O empresário agora aos 80 anos, considerava à época que seria necessário investir na empresa ao nível dos equipamentos para que o café entrasse nas grandes superfícies, algo que não aconteceu. “O meu sócio era contra o investimento. Na altura era preciso criar um código de barras, mas ele não quis”, refere Agostinho Carvalho que aponta essa como uma das primeiras questões que levou ao declínio da marca.
Para o empresário, não seria muito dispendioso criar o código de barras, pois com ele o produto podia entrar no início dos anos 2000 nos supermercados das grandes cadeias e competir, tanto quanto possível com os cafés estrangeiros. Isso não aconteceu no seu reinado. Ao fim de 18 anos da marca ser vendida, Agostinho olha para trás e lamenta não ter ficado com a sociedade, porém recorda que estava doente e isso o impediu de fazer planos para o futuro.
Pese embora a história da empresa não ter corrido pelo melhor, o Café Bujá ainda é uma realidade. O chamado “café de cafeteira” ainda faz as delícias de muitos serões em várias casas portuguesas.
Durante os anos 80 acordar na vila de Azambuja era para muitos sinónimo de Café Bujá. O café que usou Azambuja para marca registada ainda está na memória de muitos. Bastava sair de casa e cheirar o café que estaria a ser torrado junto à Fonte de Santo António. Muitos ainda se recordam do cheiro do café que acompanhou gerações, e que ainda hoje está à venda, embora em Azambuja apenas se encontre no Intermaché local.
Agostinho Carvalho foi um dos proprietários do Café Bujá. Ao Valor Local o agora reformado empresário, conta que tudo começou por volta dos anos 50 com um senhor chamado Eduardo Lorfam: “Foi ele que fundou o café” e que mais tarde “o vendeu a um outro senhor: o Marafuz que a partir daí fez uma sociedade”.
Todavia a empresa viria mais tarde a ser vendida ao empregado “ Zeferino” que convidaria Agostinho Carvalho para a nova sociedade já em 1982.
Agostinho Carvalho estava estabelecido na Amadora, mas depressa se adaptou aos hábitos e aos clientes azambujenses.
O Café Bujá que tinha três qualidades era vendido um pouco por todo o Ribatejo. Agostinho Carvalho recorda com saudade que por exemplo Almeirim, os clientes gostavam preferencialmente do café vermelho que era o de melhor qualidade, mas eem Azambuja vendia-se mais o café azul.
Foram tempos de alguma prosperidade, mas ainda assim a equipa manteve-se restrita aos dois casais. Trabalhavam em Azambuja: Agostinho Carvalho e a esposa; bem como o seu sócio também com a esposa.
O Café Bujá era muito apreciado na região. Agostinho Carvalho recorda que era comprado a grandes armazéns em bruto e depois torrado e embalado em Azambuja. O antigo empresário salienta que tudo era feito à mão. A torrefação de café desenrolava-se em grandes cubas, e o embalamento como não podia deixar de ser era manual com recurso a sacos de plástico, selados numa máquina que só fechava um de cada vez.
Ao todo, Agostinho Carvalho refere não ter conta de quantos quilos vendeu, mas sabe precisar que por mês sairiam daquela moagem cerca de três a quatro toneladas de café para todo o lado.
Todavia a empresa que nasceu do Café Bujá tinha muitos outros produtos. Vendia-se ao retalho pastilhas, rebuçados, e bolachas - tudo avulso e de uma forma quase artesanal - mas que permitiu complementar o negócio durante quase 30 anos.
No entanto em 1997, Agostinho Carvalho adoece e isso veio a pesar no futuro da empresa. Com a sua doença vendeu a quota ao sócio. E três anos mais tarde a marca Café Bujá era vendida para Pombal, onde ainda é produzida. Ao fim de tantos anos, Agostinho Carvalho diz ter muitas saudades até porque o Café Bujá “já não tem o mesmo sabor”.
Conta que o negócio acabou por falta de interesse do sócio em investir na marca. O empresário agora aos 80 anos, considerava à época que seria necessário investir na empresa ao nível dos equipamentos para que o café entrasse nas grandes superfícies, algo que não aconteceu. “O meu sócio era contra o investimento. Na altura era preciso criar um código de barras, mas ele não quis”, refere Agostinho Carvalho que aponta essa como uma das primeiras questões que levou ao declínio da marca.
Para o empresário, não seria muito dispendioso criar o código de barras, pois com ele o produto podia entrar no início dos anos 2000 nos supermercados das grandes cadeias e competir, tanto quanto possível com os cafés estrangeiros. Isso não aconteceu no seu reinado. Ao fim de 18 anos da marca ser vendida, Agostinho olha para trás e lamenta não ter ficado com a sociedade, porém recorda que estava doente e isso o impediu de fazer planos para o futuro.
Pese embora a história da empresa não ter corrido pelo melhor, o Café Bujá ainda é uma realidade. O chamado “café de cafeteira” ainda faz as delícias de muitos serões em várias casas portuguesas.

Azeites Ribeiro e Óleo Alão – Alenquer à sua mesa
Se recuarmos cerca de 30 anos ainda podemos visualizar as garrafas de Azeites Ribeiro e Óleo Alão nas mesas portuguesas. Com efeito estas duas marcas são ícones do concelho de Alenquer, e permanecem na memória de muitos. A fábrica hoje já não existe, e no seu lugar está um condomínio fechado, bem às portas do Museu João Mário, em plena vila baixa de Alenquer.
Edite Campos, hoje reformada, e neta do fundador, recorda os primeiros tempos da marca que começou muito antes dos anos 50. Os Azeites Ribeiro começaram a ser comercializados pelo avô de Edite Campos. Primeiro com uma carroça em venda ambulante, e muito mais tarde já estabelecido em Alenquer onde vendia a retalho aos comerciantes locais.
Edite Campos conta ao Valor Local que os azeites e óleos, já antes, através do seu avô eram comprados aos grandes armazéns no Alentejo. Nos primeiros tempos eram vendidos pelo avô a avulso aos clientes das localidades do concelho de Alenquer e mais tarde já engarrafado às lojas da região.
Num exercício de memória, Edite Campos lembra que a sua infância foi praticamente passada na fábrica. Por ali brincou e cresceu e aprendeu o ofício. A sua função era o escritório, e confessa que “gostava dos papéis” naquela altura. Porem “não fazia só de escriturária. Fazia o que fosse preciso”.
Mais tarde, a empresa teve de introduzir o computador. Foi um processo difícil, mas nos anos 90 tudo era mais complicado. Aos poucos a gestão de stocks passou a ser feita informaticamente, assim como as faturas, representando à época uma verdadeira “revolução industrial” para os Azeites Ribeiro.
Edite conta que tudo começou no Areal em Alenquer. Mais tarde quando passou a ser obrigatório vender azeite apenas embalado, passou para as últimas instalações que se conhece, perto do Museu João Mário. Foi o seu pai e o seu avô que edificaram o armazém corria o ano de 1968. Era obrigatório o engarrafamento e por isso a família Campos Ribeiro colocou mãos à obra e levou para diante o continuar de uma obra que perdurou até ao fim dos anos 90.
Ao mesmo tempo que o azeite era embalado, também o avô de Edite vendia de porta a porta. Mas o evoluir do negócio obrigou a mais alterações. Um técnico oficial de contas juntou-se à empresa e a contabilidade passou a ser mais “apurada”.
Para além do azeite, a firma vendia também outros produtos, nomeadamente, rações, bacalhau, e detergentes, sendo um complemente do negócio.
Aos 68 anos e reformada, Edite Campos vinca a qualidade do Azeite que era muito apreciado nas mesas da região. O Azeite Ribeiro Extra-virgem, Fino, e Extra-Fino fazia parte de muitas mesas portugueses. Para além das embalagens de litro, havia umas outras mais pequenas destinadas às mesas dos cafés.
Edite Ribeiro recorda esse tempo com saudade, mas refere que a doença esteve na origem do encerramento da empresa. Infelizmente, há pouquíssimas garrafas no mercado, mas os Azeites Ribeiro e Óleos Alão continuam a ser recordados no palato dos ribatejanos e oestinos. No dia em que demoliram a fábrica, o impacto emocional foi muito grande. Para trás ficava uma história de sucesso desta família empreendedora.
Se recuarmos cerca de 30 anos ainda podemos visualizar as garrafas de Azeites Ribeiro e Óleo Alão nas mesas portuguesas. Com efeito estas duas marcas são ícones do concelho de Alenquer, e permanecem na memória de muitos. A fábrica hoje já não existe, e no seu lugar está um condomínio fechado, bem às portas do Museu João Mário, em plena vila baixa de Alenquer.
Edite Campos, hoje reformada, e neta do fundador, recorda os primeiros tempos da marca que começou muito antes dos anos 50. Os Azeites Ribeiro começaram a ser comercializados pelo avô de Edite Campos. Primeiro com uma carroça em venda ambulante, e muito mais tarde já estabelecido em Alenquer onde vendia a retalho aos comerciantes locais.
Edite Campos conta ao Valor Local que os azeites e óleos, já antes, através do seu avô eram comprados aos grandes armazéns no Alentejo. Nos primeiros tempos eram vendidos pelo avô a avulso aos clientes das localidades do concelho de Alenquer e mais tarde já engarrafado às lojas da região.
Num exercício de memória, Edite Campos lembra que a sua infância foi praticamente passada na fábrica. Por ali brincou e cresceu e aprendeu o ofício. A sua função era o escritório, e confessa que “gostava dos papéis” naquela altura. Porem “não fazia só de escriturária. Fazia o que fosse preciso”.
Mais tarde, a empresa teve de introduzir o computador. Foi um processo difícil, mas nos anos 90 tudo era mais complicado. Aos poucos a gestão de stocks passou a ser feita informaticamente, assim como as faturas, representando à época uma verdadeira “revolução industrial” para os Azeites Ribeiro.
Edite conta que tudo começou no Areal em Alenquer. Mais tarde quando passou a ser obrigatório vender azeite apenas embalado, passou para as últimas instalações que se conhece, perto do Museu João Mário. Foi o seu pai e o seu avô que edificaram o armazém corria o ano de 1968. Era obrigatório o engarrafamento e por isso a família Campos Ribeiro colocou mãos à obra e levou para diante o continuar de uma obra que perdurou até ao fim dos anos 90.
Ao mesmo tempo que o azeite era embalado, também o avô de Edite vendia de porta a porta. Mas o evoluir do negócio obrigou a mais alterações. Um técnico oficial de contas juntou-se à empresa e a contabilidade passou a ser mais “apurada”.
Para além do azeite, a firma vendia também outros produtos, nomeadamente, rações, bacalhau, e detergentes, sendo um complemente do negócio.
Aos 68 anos e reformada, Edite Campos vinca a qualidade do Azeite que era muito apreciado nas mesas da região. O Azeite Ribeiro Extra-virgem, Fino, e Extra-Fino fazia parte de muitas mesas portugueses. Para além das embalagens de litro, havia umas outras mais pequenas destinadas às mesas dos cafés.
Edite Ribeiro recorda esse tempo com saudade, mas refere que a doença esteve na origem do encerramento da empresa. Infelizmente, há pouquíssimas garrafas no mercado, mas os Azeites Ribeiro e Óleos Alão continuam a ser recordados no palato dos ribatejanos e oestinos. No dia em que demoliram a fábrica, o impacto emocional foi muito grande. Para trás ficava uma história de sucesso desta família empreendedora.
Negócio das bicicletas podia ter feito de Marinhais uma espécie de Águeda
A empresa Militão Leal nascida em 1952 em Marinhais já deu cartas no mundo das bicicletas com três marcas concebidas pelo seu fundador: a “Jamor”, a “Lezíria” e a “Milita”. José João Pancada, sobrinho de Manuel Militão Leal, não tem dúvidas de que Marinhais com forte tradição neste tipo de ramo podia ter sido uma espécie de Águeda. As três marcas sobreviveram até finais da década de 90, mas na região e até à Beira Baixa e depois até ao Alto e Baixo Alentejo, os modelos pasteleira da Militão causavam sensação. “Tínhamos os melhores quadros do país que eram feitos em Sangalhos”. Hoje a concorrência chinesa não deixa margem de manobra para as empresas portuguesas apesar da explosão de bicicletas nas estradas portuguesas nos últimos anos.
José João Pancada abre-nos a máquina do tempo, e hoje quase com 60 anos lembra que começou a colaborar no negócio do tio, e a ir com o mesmo ao norte do país para comprar peças, apenas com 12 anos. Ainda se vai mantendo no negócio familiar mas quer retirar-se mais dia, menos dia. A empresa M. Militão Leal chegou a ter sucursais em Santarém, Torres Vedras, Vila Franca de Xira e Faro.
“O meu tio era muito inteligente porque gostava de criar as suas próprias marcas. O artigo podia ser semelhante mas ele gostava de colocar o nome dele”. Como aconteceu, por exemplo, quando criou um rasto de pneu “muito giro” para a marca Jamor. “Um dia foi ao Vale do Jamor e achou que era um bom nome também para colocar numa bicicleta”.
Numa terra como Marinhais com várias lojas “ninguém queria vender uma marca igual à do vizinho, então o meu tio criou e registou esses três nomes”.
O mesmo aconteceu para as primeiras motorizadas. O motor era Zundap mas o tio queria também neste produto criar a sua marca, então ficou FPM. Manuel Militão Leal foi também ciclista no Belenenses.
Se ainda fabricasse bicicletas nos dias de hoje, acredita que possivelmente ainda se vendessem as pasteleiras. Os componentes trazia-os da Sangal, em Sangalhos, e da Confersil, nomeadamente, os quadros. A montagem das bicicletas era feita já em Marinhais. Tinha ainda fornecedores em S. Mamede Infesta, Porto, entre outros locais.
Esta casa fabricava as pasteleiras mas também bicicletas de corrida. Os materiais utilizados eram alguns dos melhores para a época. Usava-se correntes e rodas livres inglesas – “Cada bicicleta podia custar 1 conto e 800 e as pessoas tinham de pagar, por vezes, em três prestações, mas não eram mais caras do que noutros lados”. Muito solicitado por clientes da Golegã, por exemplo, era o modelo de uma bicicleta com rodas fininhas que permitia deslocações rápidas e com mudanças de corrida.
Trabalhava em Marinhais nesta empresa o “Alicate” que conseguia montar seis bicicletas no mesmo dia. “Agarrava nas esferas para as caixas de direção. A bicicleta levava 52 esferas e conseguia agarrar de maneira a conseguir colocá-las de forma rápida. Não sei que jeito é que ele fazia para isso”, recorda o sobrinho do fundador.
Hoje em dia, a maioria das bicicletas não possuem a mesma robustez das antigas. Embora leves “desfazem-se todas”. “Os guarda-lamas têm umas patilhazinhas que se arrancam facilmente”. Hoje vai vendendo algumas bicicletas indianas “mas aquilo é muito fraquinho e só vendo mesmo por encomenda”.
Em 1996, a Militão Leal fechou portas para dar lugar à Militão Leal Lda, mas já sem se fabricarem bicicletas muito por culpa do fecho do fornecedor de Sangalhos. Terminava assim mais uma página do mundo das bicicletas em Marinhais, depois de extinta a Industrial Ciclista do Sul que lhe antecedeu tendo surgido nos anos 40 e funcionado como fábrica de velocípedes até meados da década seguinte.
A empresa Militão Leal nascida em 1952 em Marinhais já deu cartas no mundo das bicicletas com três marcas concebidas pelo seu fundador: a “Jamor”, a “Lezíria” e a “Milita”. José João Pancada, sobrinho de Manuel Militão Leal, não tem dúvidas de que Marinhais com forte tradição neste tipo de ramo podia ter sido uma espécie de Águeda. As três marcas sobreviveram até finais da década de 90, mas na região e até à Beira Baixa e depois até ao Alto e Baixo Alentejo, os modelos pasteleira da Militão causavam sensação. “Tínhamos os melhores quadros do país que eram feitos em Sangalhos”. Hoje a concorrência chinesa não deixa margem de manobra para as empresas portuguesas apesar da explosão de bicicletas nas estradas portuguesas nos últimos anos.
José João Pancada abre-nos a máquina do tempo, e hoje quase com 60 anos lembra que começou a colaborar no negócio do tio, e a ir com o mesmo ao norte do país para comprar peças, apenas com 12 anos. Ainda se vai mantendo no negócio familiar mas quer retirar-se mais dia, menos dia. A empresa M. Militão Leal chegou a ter sucursais em Santarém, Torres Vedras, Vila Franca de Xira e Faro.
“O meu tio era muito inteligente porque gostava de criar as suas próprias marcas. O artigo podia ser semelhante mas ele gostava de colocar o nome dele”. Como aconteceu, por exemplo, quando criou um rasto de pneu “muito giro” para a marca Jamor. “Um dia foi ao Vale do Jamor e achou que era um bom nome também para colocar numa bicicleta”.
Numa terra como Marinhais com várias lojas “ninguém queria vender uma marca igual à do vizinho, então o meu tio criou e registou esses três nomes”.
O mesmo aconteceu para as primeiras motorizadas. O motor era Zundap mas o tio queria também neste produto criar a sua marca, então ficou FPM. Manuel Militão Leal foi também ciclista no Belenenses.
Se ainda fabricasse bicicletas nos dias de hoje, acredita que possivelmente ainda se vendessem as pasteleiras. Os componentes trazia-os da Sangal, em Sangalhos, e da Confersil, nomeadamente, os quadros. A montagem das bicicletas era feita já em Marinhais. Tinha ainda fornecedores em S. Mamede Infesta, Porto, entre outros locais.
Esta casa fabricava as pasteleiras mas também bicicletas de corrida. Os materiais utilizados eram alguns dos melhores para a época. Usava-se correntes e rodas livres inglesas – “Cada bicicleta podia custar 1 conto e 800 e as pessoas tinham de pagar, por vezes, em três prestações, mas não eram mais caras do que noutros lados”. Muito solicitado por clientes da Golegã, por exemplo, era o modelo de uma bicicleta com rodas fininhas que permitia deslocações rápidas e com mudanças de corrida.
Trabalhava em Marinhais nesta empresa o “Alicate” que conseguia montar seis bicicletas no mesmo dia. “Agarrava nas esferas para as caixas de direção. A bicicleta levava 52 esferas e conseguia agarrar de maneira a conseguir colocá-las de forma rápida. Não sei que jeito é que ele fazia para isso”, recorda o sobrinho do fundador.
Hoje em dia, a maioria das bicicletas não possuem a mesma robustez das antigas. Embora leves “desfazem-se todas”. “Os guarda-lamas têm umas patilhazinhas que se arrancam facilmente”. Hoje vai vendendo algumas bicicletas indianas “mas aquilo é muito fraquinho e só vendo mesmo por encomenda”.
Em 1996, a Militão Leal fechou portas para dar lugar à Militão Leal Lda, mas já sem se fabricarem bicicletas muito por culpa do fecho do fornecedor de Sangalhos. Terminava assim mais uma página do mundo das bicicletas em Marinhais, depois de extinta a Industrial Ciclista do Sul que lhe antecedeu tendo surgido nos anos 40 e funcionado como fábrica de velocípedes até meados da década seguinte.
Comentários
Uma recordação que memoriza para sempre a história do Café Bujá e com ela a eterna saudade do meu irmão Agostinho recentemente falecido. Que descanse em PAZ.
João Carvalho Escapa
Alcanhões
19/12/2020, 14:07
Uma recordação que memoriza para sempre a história do Café Bujá e com ela a eterna saudade do meu irmão Agostinho recentemente falecido. Que descanse em PAZ.
João Carvalho Escapa
Alcanhões
19/12/2020, 14:07
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