As memórias de Marco Chagas

O antigo ciclista venceu quatro vezes a Volta a Portugal
VOLTAR
Valor Local
  • OUVIR RÁDIO
  • EDIÇÃO IMPRESSA
  • FICHA TECNICA
    • ESTATUTO
  • CONTATOS
    • ONDE ESTAMOS
  • PUBLICIDADE
  • VALOR LOCAL TV
Natural de um concelho com fortes tradições no ciclismo, quase se podia dizer em tom de brincadeira que Marco Chagas só podia ter enveredado por uma carreira na modalidade. O primeiro convidado da rubrica “Perfil Desportivo” do site Valor Desportivo, seguiu a roda do seu tio, Ramiro Martins que andou pelo mundo das bicicletas, mas também de Luís Domingos, e Fernando Baptista, igualmente do concelho cartaxeiro. “Desde os tempos do Nicolau e do Trindade que o Cartaxo tem grandes nomes no ciclismo”, relembra, enfatizando que o concelho conseguiu nove vitórias na Volta a Portugal.

Ao desfiar as suas memórias, Marco Chagas lembra-se de ter sido campeão nacional de fundo aos 17 anos. Representou várias equipas portuguesas e passou um ano no estrangeiro como ciclista, mas não guarda mágoas de, na altura, não ter seguido uma carreira internacional. “Tenho alguma pena de não ter estado mais tempo, mas na altura tive um apelo para regressar a Portugal com bons valores do Futebol Clube do Porto e como estava em início de vida e era pai, voltei”, recorda mas acrescenta – “Depois ganhei quatro voltas a Portugal, se não regressasse provavelmente não ganharia nenhuma”.

Os tempos do ciclismo português quando corria, entre finais da década de 70 e inícios de 80, não conseguiam trazer ao país os nomes estrangeiros com algum nível de reconhecimento, ao contrário de hoje. Marco Chagas concorda que à época o país não era suficientemente organizado, não havia alojamento, e as estradas não tinham condições. “Vinham cá sobretudo equipas de menos valia, ao contrário de hoje, excluindo a Volta a Portugal, onde de facto não temos cá esses corredores, mas na Volta ao Algarve conseguimos nomes importantes”.

Por outro lado, desvenda que até a mudança política trazida pela Revolução dos Cravos teve influência no ciclismo. “Acabou-se na altura com o profissionalismo, e com o regressar à estaca zero. Havia muito amadorismo. Chegámos a ir correr a França de armas e bagagens dentro de um carro, quando nos outros países já andavam de avião. Por vezes ir a Espanha já era uma aventura”.

Chegou a correr ao lado do malogrado Joaquim Agostinho, o que se constituiu “como um cenário de sonho que se viria a tornar um pesadelo”, (tendo em conta a morte do ciclista de Torres Vedras em 1984 ao sofrer uma queda fatal numa prova). Hoje o nome do ciclista Rui Costa, que conseguiu alcançar o título mundial, tem estado na berra, e há quem compare o palmarés deste corredor ao de Joaquim Agostinho, mas Marco Chaga acredita que é difícil estabelecer termos de comparação, até porque são de épocas distintas. “Joaquim Agostinho era uma força da natureza, com uma capacidade fora do comum, ma não teve escola nem técnica, enquanto o Rui Costa é um atleta mais trabalhado”.

Hoje quando se fala de ciclismo, é impossível contornar o tema do dopping, e recentemente foi avançado que em 50 ciclistas é inédito encontrar algum atleta cem por cento puro. “Hoje em dia, os suplementos vitamínicos estão incluídos na dieta do ciclista, na minha altura consumíamos fruta, cubos de marmelada, açúcar, fruta cristalizada e até canja, isto hoje parecerá a qualquer um completamente anedótico”. Quando se fala em Armstrong, desmistifica até certo ponto a sua culpabilidade na história do dopping – “Ganhou sete vezes a volta, mas acabou por se tornar uma espécie de bode expiatório da modalidade. Não foi pior nem melhor do que tantos outros.”

Marco Chagas terminou a carreira aos 33 anos em 1990, e ainda teve uma curta incursão como treinador de ciclismo, mas rapidamente percebeu que não tinha vocação para tal – “Cada um de nós nasce para o que nasce, sempre fui apaixonado pela modalidade. Mas nos cinco anos em que fui treinador, acabei por perceber que quando a exigência é maior (no caso da Sicasal-Acral onde estive) a pressão também aumenta, e quando dependemos dos resultados dos atletas, somos responsabilizados por isso. Quando vencemos é ótimo mas o segundo lugar significa ser o primeiro dos últimos”.

Hoje possui um clube de praticantes de ciclismo numa vertente de recreio e lazer, “composto por pessoas de várias idades, que pedala quando pode, que tem as suas vidas profissionais”, mas destaca, a título de exemplo, uma prova que teve um número de quatro aderentes da sua equipa como o “Madrid-Lisboa Non Stop”, ou o “Algarve Bike Challenge” no BTT. “Já estivemos no BTT de Caspiada em parceria com a filarmónica, na freguesia de Pontével”, destaca entre outras.

Para a Volta a Portugal de 2015, há três nomes bem colocados para vencer a prova principal do ciclismo no nosso país- Alexandre Marque, Gustavo Veloso e Ricardo Mestre. “São sérios candidatos. O Mestre porque regressa à sua equipa de origem, o Tavira. O Marque é um sério candidato, se a corrida for menos montanhosa”. Sobre o futuro da prova e alguma notoriedade que seria desejável que alcançasse a nível do panorama internacional, Marco Chagas não entrevê que tal possa mudar, mesmo com uma mudança do calendário da prova para não ficar ofuscada pela Volta a Espanha ou pelo Tour de França. “Em agosto não se consegue ter cá os melhores corredores. Não temos um grande peso internacional, e as equipas que vêm, são as que não conseguem entrar nas grandes provas, e mesmo aí há quem procure a Volta à Polónia”.

Sobre a opção do ciclismo para uma carreira, Marco Chagas não consegue deixar uma mensagem o mais aliciante possível. Mas não tem dúvidas que enquanto praticada como atividade de lazer é das mais interessantes pois permite um contacto com “as gentes, os locais, nas mais diversas regiões”. “É uma modalidade que não cria lesões, e ajuda mesmo a curar as mazelas de outras, o desgaste do equipamento é relativamente pequeno. Não é preciso comprar-se uma bicicleta muito cara”. Se encararmos o ciclismo como uma opção de carreira, “os jovens terão de perceber que vão ter de abdicar de muita coisa em prol da modalidade”. “Contudo considero que é uma modalidade sã, com um grande espírito de competitividade, mas também de entreajuda incrível entre os que a praticam”.

Nuno Filipe
Sílvia Agostinho

Comentários

Ainda não há novidades ...

    A sua opinião conta:

Submeter

Jornal Valor Local @ 2013


Telefone:

263048895

Email

valorlocal@valorlocal.pt
  • OUVIR RÁDIO
  • EDIÇÃO IMPRESSA
  • FICHA TECNICA
    • ESTATUTO
  • CONTATOS
    • ONDE ESTAMOS
  • PUBLICIDADE
  • VALOR LOCAL TV