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Associação de Transplantados quer desmistificar preconceitos

A "Lifewinner" vai ao longo de 2018 dar-se a conhecer um pouco por todo o país, nomeadamente, também em Azambuja durante uma ação do Programa de Atividade Física para Todos em novembro​
Sílvia Agostinho
21-05-2018 às 11:42
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Fundada no início deste ano, a Associação Portuguesa de Transplantados – Lifewinner vai ao longo de 2018 dar-se a conhecer um pouco por todo o país, nomeadamente, também em Azambuja durante uma ação do Programa de Atividade Física para Todos em novembro.

Uma das dirigentes da associação é Mabilde Fonseca, moradora no concelho. Os membros desta associação composta para já por doadores, transplantados, e seus familiares tem como objetivo, desmistificar a questão da transplantação em Portugal ainda envolta em alguns mitos e preconceitos, apesar de reconhecerem que no nosso país a medicina está ao nível do melhor que se faz lá fora e a lei “também ela soube estar ao nível da medicina e dos doentes”, referem à nossa reportagem os dirigentes da associação. No nosso país, e em caso de morte de um indivíduo, a ciência tem carta branca para recolher os órgãos. Para que tal não aconteça teria de ser manifestado ainda em vida pelo próprio indivíduo. Como normalmente isso não acontece, “são muitas as possibilidades de salvar vidas através dos órgãos de outras pessoas que acabaram por falecer.”

Para o presidente da associação, Pedro Paulino, um dos objetivos passa por fornecer mais informação. Inês Lopes, também da associação, acrescenta que “ainda falta fazer muita coisa nesta área”, apesar de sermos dos países com mais transplantes efetuados e com níveis de sucesso. “O apoio psicológico tem de ser mais trabalhado e é nesse sentido que também surgimos”, refere. Um dos passos na área da transplantação e segundo o que está a ser efetuado tem a ver com a criação de novas normas que potenciem a doação de órgãos, numa “lógica altruísta” e desde que não implique riscos para a saúde por parte dos portugueses.

“Qualquer pessoa pode ser dadora, desde que seja saudável, e não corra riscos de sofrer de insuficiência hepática no futuro. Todos os testes são feitos nesse sentido”; assegura Inês Lopes. A associação assume-se como ambiciosa quanto à possibilidade de um indivíduo doar livremente um rim (único tipo de transplante em que é possível existir um dador vivo) a alguém desconhecido. “É uma barreira a ultrapassar”, reconhecem. “É algo de um grande altruísmo, sem dúvida, mas essa é uma campanha que está a surgir nos hospitais. Embora reconheça que possa levar anos”, diz Pedro Paulino.

Antes há que quebrar dúvidas e tabus, e neste aspeto Mabilde Fonseca que doou um rim ao irmão, lembra-se de ter ouvido todo o tipo de comentários como: “Olha que vais deixar a tua filha órfã”. Mabilde reunia todas as condições para ser dadora, e embora reconheça que o pós-operatório é feito de algumas dores, o que mais lhe custou foi a ignorância e o desconhecimento por parte de quem a tentou desmotivar da ideia de salvar a vida do irmão.

O tráfico de órgãos de que tanto se fala noutros países parece ser uma realidade inexiste em Portugal segundo os dirigentes da Lifewinner – “Podemos dizer que somos um paraíso nesse aspeto. A malha também é demasiado fina, porque no meu caso, a minha irmã para me doar o rim, teve de passar por uma comissão de ética, e declarar que não teria quaisquer proveitos com a doação, nomeadamente, a nível de futuras heranças, por exemplo”, refere Inês Lopes.
 
No caso de Mabilde Fonseca, o irmão chegou a receber um rim por parte de um dador cadáver. É esta a designação sempre que são aproveitados órgãos por parte de pessoas que faleceram. Contudo ao fim de dez anos, e de alguns excessos e poucos cuidados com a saúde, acabou por voltar a sofrer de insuficiência renal. Mabilde quis ser dadora, embora o irmão recusasse de início. Tudo se passou na Suíça, há dois anos, e onde o irmão está emigrado. Se tivesse sido em Portugal, onde teve lugar o primeiro transplante, dificilmente teria tido a sorte de receber um segundo, tendo em conta os excessos cometidos. Na Suíça, a preparação para a doação implicou cerca de 20 a 30 exames ao longo de 15 dias. O mais difícil reforça, foi mesmo, ter ouvido comentários como “vais ficar deficiente”, ou “vais morrer ou ficar doente” por parte de conhecidos, e colegas. “Mas fiz, tinha de o fazer”. “O acompanhamento na Suíça foi extraordinário”, acrescenta ainda, mas não deixa de reforçar que “a mentalidade portuguesa é muito fechada”. “Se fosse uma operação de alto risco e com uma taxa de insucesso grande não se faria à escala que hoje em dia se faz”, suscita Inês Lopes. “Há décadas que se fazem estas cirurgias”. No caso desta recetora, após a cirurgia, ainda enfrentou várias crises renais no pós-operatório ao longo de um ano. A operação foi realizada no ano passado, mas neste momento, encontra-se em franca recuperação.

Inês Lopes não chegou a estar em lista de espera. O transplante esteve desde sempre no horizonte. Quando chegou ao nível de insuficiência renal terminal apresentou a irmã e um tio como dadores vivos. “O meu tio apresentava maior compatibilidade, mas como os exames comprovaram que podia, um dia mais tarde, sofrer de algum tipo de problemas nos rins, embora naquele momento fosse saudável, optou-se pela minha irmã”, conta. Hoje a irmã de Inês Lopes encontra-se bem, e o irmão de Mabilde Fonseca também. Acabou por aprender a lição no segundo transplante e tem mantido, segundo a mesma, uma vida mais regrada. Alimentação adequada e exercício físico são essenciais na recuperação de um transplantado. Já Pedro Paulino, espera que a mulher possa ser recetora de um rim. Faz hemodiálise, neste momento, três vezes por semana. Encontra-se inscrita em dois centros de transplantação – “Já lhe foi dada a hipótese de recorrer a um familiar, mas por opção dela não quer envolver familiares. Há que ter esperança de que um dia será contemplada. A média de tempo de espera são de cinco a sete anos. Ela já espera há seis. Esperamos que seja em breve”.

Estar entre a vida e a morte é condição de quem espera por um transplante em muitos casos. O aspeto inerente ao facto de que para isso é preciso que outro ser humano tenha de morrer primeiro é “penoso”, diz Inês Lopes. “Mas vamos pensar assim, se a pessoa que morreu não cedesse os órgãos, estaria morta na mesma. A infelicidade mantém-se. Os entes queridos sentem sempre pena e dor. Mas se isso se puder transformar em ajuda ao próximo, porque os órgãos que estão dentro de um corpo morto ainda estão bons, penso que é positivo. Se alguém que me é próximo morreu, esses órgãos podem ficar no corpo de outra pessoa. Posso sentir uma dor infinita, mas se calhar posso ajudar os familiares dessa pessoa a não terem de passar por aquilo que eu estou a passar”, exemplifica. “Custa sim que alguém tenha de morrer para que eu possa viver, mas temos de naturalizar a situação, porque uma pessoa pode ser dadora de vários órgãos e salvar várias vidas”. Pedro Paulino acrescenta – “Lamentavelmente há uns tempos atrás faleceu um pugilista. Os seus órgãos contudo deram para salvar a vida de sete pessoas, quando já nada mais havia a fazer para salvar aquela vida”.
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A associação tem na sua página em lifewinner.pt um inquérito confidencial onde se podem inscrever todos os transplantados para se apurarem estatísticas “que podem ser importantes para o trabalho da nossa associação no sentido de poder providenciar apoio psicológico ou jurídico, porque muitos destes doentes não têm noção dos seus direitos”, refere o presidente da mesma. No próximo ano, a associação pretende dar a conhecer números relativamente a este levantamento. Este será o primeiro questionário abrangente quanto aos vários órgãos doados. Para quem tenha dúvidas sobre transplantação, a associação tem também um corpo clínico associado para todo o tipo de esclarecimentos.

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