Associação Social Amigos de Samora reforça apoio à população em tempos de crise
Sílvia Agostinho
03-11-2022 às 12:42
Em tempos de crise, com o custo de vida a aumentar, a Associação Social Amigos de Samora Correia (ASASC) tem tido um papel importante junto da comunidade. Com porta aberta na rua da central de autocarros, não tem tido mãos a mexer no que toca a dar apoios seja através de géneros alimentícios, seja com roupas, mobílias, e outros bens. Um grupo de pessoas tem estado na linha da frente deste socorro à população. A associação está a apoiar cerca de 60 pessoas. “Temos sido um ponto de apoio junto das pessoas mais vulneráveis e estamos cá para ajudar”, constata Ana Paula Neves da associação.
A associação que trabalha apenas com ajudas particulares ou de empresas, apoia todos os que se desloquem à associação “sem discriminações”. Tendo em conta os vários pedidos a associação espera conseguir um novo espaço com a ajuda do município, porque aquele que existe já é pequeno para albergar todos os bens.
Esta vertente social da associação que já existia há alguns anos, foi introduzida há um ano e meio “e com muita procura” junto da população, refere Nelson Lopes, presidente da associação. A pandemia e depois a guerra assim o ditaram. Esta associação teve ainda um papel ativo na distribuição de refugiados ucranianos por Samora Correia e até noutras partes do país. A ASASC conseguiu enviar cinco camiões com bens rumo à fronteira da Polónia. Cerca de 100 pessoas vindas da Ucrânia vieram para Samora Correia, mas grande parte delas regressaram e estão a tentar reconstruir as suas vidas. “As que permanecem por cá estão a trabalhar, legalizadas, e a fazer as suas vidas normalmente”.
Voluntária na associação, Dina Salvador diz mesmo que “metemos a mão em tudo o que podemos ajudar”. A pobreza envergonhada é aquela que é mais difícil de combater, porque muitos têm receio de pedir apoio. “As pessoas de Samora não gostam de se manifestar e temos de ter cuidado quando as apoiamos”. Também voluntária, Cláudia Santos, é uma brasileira que veio para Portugal há quatro anos, e na altura recorreu à associação. Hoje tenta retribuir aquilo que recebeu. “Na época em que vim, mobilei o meu apartamento com as doações. Todo o dinheiro que trouxe não significou nada, porque o euro disparou em relação ao real. Tive de recorrer a ajudas até estabilizar a minha vida”. No seu caso, a imigrante quis vir para o nosso país por questões de segurança e por uma boa educação para os filhos.
Já José Oliveira declara que é um gosto ajudar e estar inserido na associação. “Faço uma horta e em parte é para dar às pessoas. O voluntariado é uma causa que abracei. Grande parte dos que aqui vêm sentem-se agradecidos, embora note que algumas pessoas têm medo de dizer que precisam”. “Inclusive já colocámos cabazes em frente à porta das pessoas. Depois os vizinhos dizem que recolheram, tendo em conta o estigma associado a este tipo de situações, em que alguns indivíduos não querem pedir ajuda”, relata Nelson Lopes que junta – “De um momento para o outro há quem tenha estado bem na vida, tenha comprado um bom carro, e é apontado o dedo se depois precisam de apoio, há quem venha aqui de Mercedes porque a dada altura o pôde comprar”. Contudo ressalva: “Logo de início tentamos perceber se as pessoas se enquadram na perspetiva de quem está a passar um mau bocado na vida, mas quer mudar a sua situação, ou se estamos na presença de quem faz da subsidiodependência uma forma de estar, e quando é assim cortamos logo”, enfatiza.
Isabel Brás é uma dessas pessoas que vem de Mercedes, mas se um dia a vida lhe sorriu, hoje não é o caso. Vem buscar alguma roupa, mas também traz. Hoje está desempregada, mas a aparência é importante para si, e não lhe passa pela cabeça descurar a higiene e a boa apresentação. “Não ganho nada em andar mal arranjada, ou a cheirar mal só para que as pessoas tenham pena de mim”. Longe vão os tempos quando trabalhou no Palácio Cadaval, e recebia boas gorjetas. Sobre a integração em Samora, só tem a dizer bem. “Quando se vem de uma vida em que podia ter um bom carro, é um grande impacto agora passar a ganhar 434 euros de subsídio de desemprego, mas não me vou desfazer da viatura porque o carro tem 21 anos, e não me dão grande coisa por ele, para além de que preciso de um meio de transporte”. De renda de casa paga mais de 200 euros, e agora vai ter de fazer contas mais apertadas. Espera que a situação seja passageira.
Hugo Alves, também brasileiro, está no país há sete meses. Mais recentemente veio a família e a integração a seu ver está a correr bem. O aumento do preço dos bens em Portugal não é agradável para quem agora começa a organizar a vida deste lado do Atlântico, mas no Brasil “estava bem pior”. Reformado, confessa que veio para “aproveitar mais a vida” e “poder passear”, até porque a insegurança é crescente no Brasil. “Aqui podemos sair à vontade, e de noite. As pessoas receberam-nos muito bem. A vantagem é enorme em termos de segurança.” O brasileiro só vê vantagens nesta opção por Portugal – “Mesmo com essa guerra da Ucrânia, o poder de compra é muito maior do que no Brasil, não tem comparação. Com 10 por cento do ordenado mínimo lá que são 120 reais não conseguimos comprar nada, aqui com 70 euros, 10 por cento do salário mínimo de Portugal, já dá para fazer umas boas compras de supermercado”. Hugo Alves junta agora à reforma um ordenado no setor das madeiras, e a esposa e a filha preparam-se para abrir um centro de estética.
Sílvia Agostinho
03-11-2022 às 12:42
Em tempos de crise, com o custo de vida a aumentar, a Associação Social Amigos de Samora Correia (ASASC) tem tido um papel importante junto da comunidade. Com porta aberta na rua da central de autocarros, não tem tido mãos a mexer no que toca a dar apoios seja através de géneros alimentícios, seja com roupas, mobílias, e outros bens. Um grupo de pessoas tem estado na linha da frente deste socorro à população. A associação está a apoiar cerca de 60 pessoas. “Temos sido um ponto de apoio junto das pessoas mais vulneráveis e estamos cá para ajudar”, constata Ana Paula Neves da associação.
A associação que trabalha apenas com ajudas particulares ou de empresas, apoia todos os que se desloquem à associação “sem discriminações”. Tendo em conta os vários pedidos a associação espera conseguir um novo espaço com a ajuda do município, porque aquele que existe já é pequeno para albergar todos os bens.
Esta vertente social da associação que já existia há alguns anos, foi introduzida há um ano e meio “e com muita procura” junto da população, refere Nelson Lopes, presidente da associação. A pandemia e depois a guerra assim o ditaram. Esta associação teve ainda um papel ativo na distribuição de refugiados ucranianos por Samora Correia e até noutras partes do país. A ASASC conseguiu enviar cinco camiões com bens rumo à fronteira da Polónia. Cerca de 100 pessoas vindas da Ucrânia vieram para Samora Correia, mas grande parte delas regressaram e estão a tentar reconstruir as suas vidas. “As que permanecem por cá estão a trabalhar, legalizadas, e a fazer as suas vidas normalmente”.
Voluntária na associação, Dina Salvador diz mesmo que “metemos a mão em tudo o que podemos ajudar”. A pobreza envergonhada é aquela que é mais difícil de combater, porque muitos têm receio de pedir apoio. “As pessoas de Samora não gostam de se manifestar e temos de ter cuidado quando as apoiamos”. Também voluntária, Cláudia Santos, é uma brasileira que veio para Portugal há quatro anos, e na altura recorreu à associação. Hoje tenta retribuir aquilo que recebeu. “Na época em que vim, mobilei o meu apartamento com as doações. Todo o dinheiro que trouxe não significou nada, porque o euro disparou em relação ao real. Tive de recorrer a ajudas até estabilizar a minha vida”. No seu caso, a imigrante quis vir para o nosso país por questões de segurança e por uma boa educação para os filhos.
Já José Oliveira declara que é um gosto ajudar e estar inserido na associação. “Faço uma horta e em parte é para dar às pessoas. O voluntariado é uma causa que abracei. Grande parte dos que aqui vêm sentem-se agradecidos, embora note que algumas pessoas têm medo de dizer que precisam”. “Inclusive já colocámos cabazes em frente à porta das pessoas. Depois os vizinhos dizem que recolheram, tendo em conta o estigma associado a este tipo de situações, em que alguns indivíduos não querem pedir ajuda”, relata Nelson Lopes que junta – “De um momento para o outro há quem tenha estado bem na vida, tenha comprado um bom carro, e é apontado o dedo se depois precisam de apoio, há quem venha aqui de Mercedes porque a dada altura o pôde comprar”. Contudo ressalva: “Logo de início tentamos perceber se as pessoas se enquadram na perspetiva de quem está a passar um mau bocado na vida, mas quer mudar a sua situação, ou se estamos na presença de quem faz da subsidiodependência uma forma de estar, e quando é assim cortamos logo”, enfatiza.
Isabel Brás é uma dessas pessoas que vem de Mercedes, mas se um dia a vida lhe sorriu, hoje não é o caso. Vem buscar alguma roupa, mas também traz. Hoje está desempregada, mas a aparência é importante para si, e não lhe passa pela cabeça descurar a higiene e a boa apresentação. “Não ganho nada em andar mal arranjada, ou a cheirar mal só para que as pessoas tenham pena de mim”. Longe vão os tempos quando trabalhou no Palácio Cadaval, e recebia boas gorjetas. Sobre a integração em Samora, só tem a dizer bem. “Quando se vem de uma vida em que podia ter um bom carro, é um grande impacto agora passar a ganhar 434 euros de subsídio de desemprego, mas não me vou desfazer da viatura porque o carro tem 21 anos, e não me dão grande coisa por ele, para além de que preciso de um meio de transporte”. De renda de casa paga mais de 200 euros, e agora vai ter de fazer contas mais apertadas. Espera que a situação seja passageira.
Hugo Alves, também brasileiro, está no país há sete meses. Mais recentemente veio a família e a integração a seu ver está a correr bem. O aumento do preço dos bens em Portugal não é agradável para quem agora começa a organizar a vida deste lado do Atlântico, mas no Brasil “estava bem pior”. Reformado, confessa que veio para “aproveitar mais a vida” e “poder passear”, até porque a insegurança é crescente no Brasil. “Aqui podemos sair à vontade, e de noite. As pessoas receberam-nos muito bem. A vantagem é enorme em termos de segurança.” O brasileiro só vê vantagens nesta opção por Portugal – “Mesmo com essa guerra da Ucrânia, o poder de compra é muito maior do que no Brasil, não tem comparação. Com 10 por cento do ordenado mínimo lá que são 120 reais não conseguimos comprar nada, aqui com 70 euros, 10 por cento do salário mínimo de Portugal, já dá para fazer umas boas compras de supermercado”. Hugo Alves junta agora à reforma um ordenado no setor das madeiras, e a esposa e a filha preparam-se para abrir um centro de estética.