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Aterros de Azambuja e de Ota vão receber 79 mil toneladas de resíduos do estrangeiroRegião assume passivo ambiental. Lei vai limitar a importação, mas os dois aterros ainda vão receber milhares de movimentos. Ambientalista da Zero preocupado com a escalada do lixo. Presidente da Câmara de Azambuja pede intervenção à tutela
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Os aterros de Azambuja, e de Ota, este no concelho de Alenquer, vão receber até finais de janeiro de 2021 cerca de 79 mil toneladas de resíduos importados de Itália e Malta. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, ao Valor Local, para o aterro de resíduos industriais não perigosos de Alenquer da Proresi, SA, há dois processes aprovados de resíduos não perigosos para aterro com origem em Itália, em estado de “movimentos” dos quais já ocorreram 754 dos 1786 movimentos autorizados e já foram recebidas 17 mil 471 toneladas das 50 mil previstas. Os dois movimentos que faltam têm cada um deles o seu prazo limite, até 27 de maio deste ano, e até 24 de setembro também deste ano.
Já quanto ao aterro de Azambuja – Centro de Tratamento de Resíduos de Azambuja da Triaza, SA, há cinco processos aprovados de resíduos não perigosos para aterro com origem em Itália e Malta. Neste aterro já foram enterradas 29 mil 633 toneladas das 76 mil previstas. Esta unidade vai receber três grandes movimentos até à data limite de 19 de abril deste ano. Possui ainda outro agendamento até três de maio, e o último deverá acontecer até janeiro de 2021. Rui Berkemeier, especialista em resíduos da associação ambientalista Zero-Sistema Terrestre Sustentável, numa avaliação à primeira vista considera que os dois aterros vão receber uma quantidade bastante elevada de lixo produzido naqueles dois países. O ministro do Ambiente Matos Fernandes anunciou que o país vai passar a fazer uso do princípio da objeção sistemática com vista à limitação de receção de resíduos importados. A decisão já se encontra consagrada no despacho 28/GSEAMB/2020. Para o ambientalista há alguns princípios consagrados neste documento que podem ser considerados essenciais e que não estão a ser levados em conta até à data. Daqui para a frente Portugal apenas receberá resíduos quando manifestamente o país de origem não conseguir aplicar tratamento por falta de condições físicas, nomeadamente, a nível de instalações próprias ou quando essa quantidade de resíduos for tão pequena que não se justifica tal investimento. O princípio vigora ainda quando ficar em causa a própria capacidade de Portugal na gestão dos seus próprios resíduos, por força da importação dos demais. Para a Zero, a medida já virá tarde, e Berkemeier consubstancia que “uma coisa é importar resíduos inertes, que não se encontram em processo de fermentação, não gerando lixiviados, nem maus cheiros, nem atração de insetos, outra é importar resíduos frescos, que uma vez em aterro ainda podem produzir biogás e reagir quimicamente, e causar todo o tipo de consequências ambientais”, no fundo. Portugal pratica das taxas mais baixas da União Europeia para o tratamento por tonelada de resíduos- cerca de 11 euros, quando esse valor se situa entre os 80 e os 100 euros na maioria dos países membros. A Taxa de Gestão De Resíduos tem sido uma das principais bandeiras dos ambientalistas, mas Portugal continua a facilitar a entrada de resíduos importados por via das baixas tarifas praticadas. “É um mau sinal, e não incentiva à reciclagem, até porque a maioria dos resíduos depositados em aterro são nossos. Os importados, embora em grande número, representarão um décimo do total”.
Rui Berkemeier refere que os maus cheiros provocados pelos resíduos no sistema da Triaza também se relacionam com o facto de a Valorsul ter parado a produção nos últimos tempos para operações de manutenção. Vários aterros da Grande Lisboa receberam resíduos nessas alturas. “São resíduos urbanos frescos passíveis de causarem maus odores”. Azambuja também tem recebido resíduos de outra unidade gerida pela Suma, o Citri em Setúbal. No caso de Azambuja, o ambientalista também não consegue descortinar o motivo pelo qual vai receber lixos de um país como Malta. No caso de Itália é sabido que há acordos para importação de resíduos com os demais países europeus, decorrentes da denúncia do desastre ecológico vivido naquele país, durante o domínio da máfia, em algumas regiões, e o facto de durante anos os resíduos não terem sido tratados. “Não convém nada que esse caso de Malta esteja relacionado com uma permissividade que não deve existir por parte do nosso país, que signifique abrir a porta só porque esses países acham que fica mais barato enviar lixos para Portugal, e com isso descartarem-se do tratamento”. Fará sentido, segundo o especialista, importar resíduos, “em situações pontuais de crise em nome do princípio de solidariedade europeu”, como aconteceu com os lixos italianos, com o desmantelamento do tráfico de lixo operado durante anos pela máfia italiana. Outro ponto, que sublinha, no que respeita à problemática da gestão de resíduos na Área Metropolitana de Lisboa, e por consequência com implicações nos dois aterros em questão, relaciona-se com o facto de a Valorsul não estar devidamente equipada com “maquinaria destinada à reciclagem de resíduos”. “Funciona com queima, e sem quase tratamento de resíduos orgânicos que é o que provoca maus cheiros nos aterros”. Foi “uma aposta estratégica errada” daquela empresa. “Cada vez que pára o incinerador la vem uma carrada de matéria orgânica para os aterros com todos os problemas associados, se houvesse mais reciclagem na origem, minimizava-se a componente orgânica a jusante”. PUB
O que o aterro da Triaza deveria ter para minimizar os impactes ao máximo Segundo o ambientalista, o aterro de Azambuja poderia reduzir o seu passivo ambiental com alguns investimentos. À partida e sendo gerido por uma grande empresa do setor que faz parangona quanto a respeitar o ambiente quer nos seus materiais promocionais, quer no seu site na internet, como é o caso da SUMA, poderia implantar no terreno “infraestruturas em condições para tratamento dos resíduos orgânicos”, desde logo uma estação de pré-tratamento à entrada do aterro e envio para central de compostagem. Os resíduos que chegassem menos separados, sofreriam um tratamento mecânico para separação das várias frações. “Transformavam o aterro e o que hoje é uma ‘chatice’ até para a imagem dessas empresas, e muito mais para quem vive atualmente nas imediações, numa espécie de eco-parque ou parque de reciclagem”. Seria algo “muito mais importante e gerador de postos de trabalho”, refere. Atualmente e com “a CCDR a cumprir as instruções da APA para não multar os aterros que misturem amianto com biodegradáveis” falta dar um grande passo. Secretária de Estado do Ambiente promete mais atuação ao presidente da Câmara de Azambuja Durante as últimas semanas do ano passado, a vila de Azambuja registou vários picos de maus cheiros provenientes do aterro situado a uma distância inferior ao que a lei obriga em relação aos locais de habitação. A autarquia sofreu ainda um novo revés com o tribunal a não ser muito claro quanto a dar luz verde à empresa participada do grupo SUMA- Triaza para proceder à abertura da segunda célula, depois de uma primeira decisão das instâncias judiciais em sentido contrário. Esta segunda-feira, dia três de fevereiro, o executivo camarário, a oposição e técnicos municipais vão reunir-se para responder em conformidade ao tribunal. Segundo Rui Corça, da oposição PSD, ao Valor Local, a autarquia ainda pode conseguir fazer com que o jogo vire a seu favor, e protelar durante mais algum tempo as atividades de abertura da segunda célula no aterro, pelo que se prevê que a reunião possa ter algum tipo de resultado positivo para a autarquia. Ao mesmo tempo, vai decorrer uma manifestação de populares à porta da Câmara com o intuito de contestar a atividade da SUMA-Triaza no concelho. Recorde-se que desde que a empresa se instalou em Azambuja, em 2017, se limita a poucos ou nenhuns esclarecimentos, os quais em resposta ao Valor Local não vão além de duas linhas, refutando o normal confronto jornalístico para o ónus ambiental que é desenvolvido nesta localidade por esta que é uma das líderes do setor no país. Para já, o Valor Local sabe que a empresa segundo o município, e após uma fiscalização ao local, começou a efetuar trabalhos de remoção de terras tendo em vista a abertura desta célula sem antes ter obtido a autorização expressa para tal por parte do município que teria 10 dias para emitir esse licenciamento. Luís de Sousa, diz que vai agora atuar em conformidade. O autarca esteve reunido com Inês Santos Costa, secretária de Estado do Ambiente, que garantiu “o seu máximo empenho” na problemática dos aterros em Portugal “com a preparação de nova legislação e de novos regulamentos para estas lixeiras”. No mês de dezembro, o aterro foi visitado por entidades como a CCDR e a APA, que não encontraram problemas na instalação. Contudo os maus cheiros e a proliferação de aves no local deixa antever que o tratamento de resíduos continua a ser deficiente. “Enviámos fotografias para a APA, IGAMAOT e CCDR na esperança de que atuem”, informa Luís de Sousa, presidente da Câmara. A empresa não tem efetuado, muitas das vezes, o necessário coberto vegetal “desculpando-se com a Câmara de que não os deixamos abrir a segunda célula, mas têm muita terra para retirar do local, não precisam de se limitar a essa localização específica”. Quanto às investigações da Polícia Judiciária ao processo de licenciamento, diz que não tem novidades em relação a este caso. “Não sei se fomos bem enganados ou não com a vinda deste aterro. Fui a uma unidade deles (SUMA) em Leiria que tinha todas as condições até com vegetação a crescer no local. Andavam sempre a dizer que era para receber resíduos da construção. Nunca pensei que tomasse estas proporções”. Recorde-se ainda que Rui Pedro Santos, um dos diretores da Triaza, em reunião de Câmara anterior à entrada em funcionamento do aterro em Azambuja falava ainda num tráfego diário de cinco camiões para a unidade em causa. Atualmente, o aterro recebe dezenas de camiões carregados de resíduos diariamente. Todas as notícias sobre o aterro da Quinta da Queijeira aqui: Dossier Aterro da Queijeira |
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sem comentários, o povo português aceita tudo que vem de fora e cala o bico
Rosália Cíngano
Lisboa
18/02/2020 às 01:32
Que justificações mais esfarrapadas. Qual solidariedade. É negócio a encher os bolsos das empresas privadas e o lixo fica cá junto as nossas populações. Privatizaram o lixo tal e qual e quem comanda é a MAFIA
Edgar Pereira
Pinhal Novo
11/02/2020 11:23
Questiono, para meu espanto, porque razão foi retirado a publicação partilhada no facebook, tornando-a indisponível, quando existe botão de partilha na vossa notícia... Não que relevante, mas porque não entendo. Obrigado...
Manuel Francisco
Fernão Ferro
10/02/2020 16:23
O MInistro Matos Fernandes é um idiota. Anda a chatear a cabeça aos contribuintes com contos da carochinha sobre efeitos politicos de aquecimentos globais que só servem para aumentar impostos, mas os problemas concretos do ambiente, como a poluição do Tejo, o uso das barragens do alentejo pelas multinacionais dos olivais intensivos que esgotam a agua e este escandalo do lixo importado, nada diz. A que propósito os contribuintes pagam aterros para depois uns gajos montarem estes negócios para sujarem o nosso querido país ?
Hélder Carneiro
Lisboa
09/02/2020 20:15
Depois aumentam os casos de Cancro e outras doenças. Chamo a isto matar por negligência ou interesses escondidos. E esta gente não é responsabilizada.
José Santos
Lagos
05/02/2020 14:33
Rosália Cíngano
Lisboa
18/02/2020 às 01:32
Que justificações mais esfarrapadas. Qual solidariedade. É negócio a encher os bolsos das empresas privadas e o lixo fica cá junto as nossas populações. Privatizaram o lixo tal e qual e quem comanda é a MAFIA
Edgar Pereira
Pinhal Novo
11/02/2020 11:23
Questiono, para meu espanto, porque razão foi retirado a publicação partilhada no facebook, tornando-a indisponível, quando existe botão de partilha na vossa notícia... Não que relevante, mas porque não entendo. Obrigado...
Manuel Francisco
Fernão Ferro
10/02/2020 16:23
O MInistro Matos Fernandes é um idiota. Anda a chatear a cabeça aos contribuintes com contos da carochinha sobre efeitos politicos de aquecimentos globais que só servem para aumentar impostos, mas os problemas concretos do ambiente, como a poluição do Tejo, o uso das barragens do alentejo pelas multinacionais dos olivais intensivos que esgotam a agua e este escandalo do lixo importado, nada diz. A que propósito os contribuintes pagam aterros para depois uns gajos montarem estes negócios para sujarem o nosso querido país ?
Hélder Carneiro
Lisboa
09/02/2020 20:15
Depois aumentam os casos de Cancro e outras doenças. Chamo a isto matar por negligência ou interesses escondidos. E esta gente não é responsabilizada.
José Santos
Lagos
05/02/2020 14:33
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