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Depois de sete anos nas instalações da EPAC em Azambuja, a empresa MMCL Cervejeiros ligada à marca da Cerveja Bolina está de abalada da vila ribatejana para se instalar de armas e bagagens em Marvila. Segundo Miguel Menezes da empresa que ocupava instalações municipais a custo zero desde 2014, ao Valor Local, a estratégia ainda não está totalmente pensada por causa da Covid, contudo um artigo na revista da especialidade “Time Out”, datado de 18 de julho, e que não foi desmentido, é claro ao afirmar que o Ribatejo fica para trás e que o grande passo passa agora pela concentração da produção nas novas instalações na capital. O Valor Local sabe que ainda estão equipamentos na fábrica de Azambuja, e instado pelo nosso jornal quanto às aspirações para o futuro, o próprio Miguel Menezes afirma que a opção definitiva recai sobre Lisboa.
Em declarações ao Valor Local, Luís de Sousa, presidente da Câmara, mostra-se indignado com este comportamento da empresa, dado que ficou a saber das intenções da Bolina pela comunicação social. O autarca que nunca foi um entusiasta do negócio que se proporcionou no último mandato de Joaquim Ramos (2009-2013) mas que concordou “por questões de solidariedade partidária”, confidencia que já colocou os serviços camarários no encalço da empresa. Luís de Sousa diz-se agastado, e refere que o único ponto em que a Câmara não cumpriu no protocolo foi com visitas das escolas “dado que se tratava de um produto alcoólico”. Segundo a Time Out, os empresários da Bolina, Miguel e Duarte Menezes deixaram Azambuja para trás e Marvila passa a ser agora o epicentro da sua atividade. De acordo com a mesma publicação, a empreitada não terá sido de pequena monta pois implicou a recuperação de um edifício abandonado em Lisboa há 50 anos para ali a Bolina construir um novo capítulo da sua atividade, que segundo o mesmo meio, estará de vento em popa dada a adesão do consumidor, nos últimos anos, à cerveja artesanal. A imagem de prosperidade dada pelos empresários na Time Out contrasta com o que é dito ao Valor Local. Temendo repercussões locais, a empresa assume uma postura contida, e diz que está a passar dificuldades financeiras em contraponto com o que é publicado na publicação lisboeta, menos lida por terras do Ribatejo e pelos decisores políticos locais. Ao Valor Local, Miguel Menezes fala apenas da abertura de um bar em Marvila, mas para os leitores da Time Out, há planos mais à frente: Para além da instalação da fábrica, há ideias para uma zona de restauração, num edifício com 50 anos e recuperado entretanto pelos empresários, bem como o possível aproveitamento de um terraço no mesmo edifício. Para trás fica um protocolo com a Câmara de Azambuja previsto para 20 anos. Segundo apurámos junto de azambujenses ligados à atividade do Grupo Desportivo de Azambuja na outra ala do edifício da EPAC, paredes meias com as instalações da cervejeira, raramente se viu movimento na Bolina ao longo dos seis anos “que aqui estiveram”. Havia a promessa de um museu que nunca foi cumprida. Apenas uma lona foi afixada, a dada altura, com um convite à população para uma visita as instalações. Isto depois de uma reportagem do Valor Local junto da Câmara há cerca de quatro anos em que Luís de Sousa mostrava já, à época, razões de queixa da empresa. Na altura do protocolo com a Câmara, a empresa assumiu as obras de requalificação do espaço que foram executadas. Sendo que ali permaneceria por um período de 20 anos mas com a obrigação de dinamização de atividades. O protocolo previa ainda a criação de 10 empregos, mas terá ficado bastante aquém. Segundo a nossa fonte que não quis ser identificada, “era raro existir movimento lá para dentro”. Não se viam muitas viaturas cá fora, e “posso dizer que nem se dava pela existência de pessoas, ali, a fazerem a sua vida”.
Questionado sobre o não cumprimento dos itens que fazem parte do contrato, Miguel Menezes diz não estar a par e prefere não tecer considerações esclarecendo que tem sócios acima de si, e que na altura do nosso contacto se encontravam de férias. O abandono da Bolina destas instalações está a deixar preocupada a Câmara. De acordo com Luís de Sousa, já chegaram propostas para ocupação do espaço por outras empresas, mas garante que “podemos estudar todo o tipo de propostas nesse sentido, desde que impliquem o pagamento de uma renda, porque não podemos a voltar a subsidiar empresas”, refere muito ao estilo “gato escaldado de água fria tem medo.” A ocupação da EPAC por uma empresa sempre foi mal vista pela oposição e sobretudo quando a autarquia não tem um auditório ou uma casa de espetáculos para esse fim. O espaço da EPAC poderá ficar totalmente livre para algum tipo de aproveitamento municipal agora que a Bolina se encontra a desocupar o espaço por sua livre vontade, a avaliar pelo que é dito na Time Out, e assim que o GDA consiga transferir a totalidade da sua atividade desportiva para a sua sede que aguarda um apoio da autarquia para realizar obras. A EPAC tem 600 m2. Fazendo um pouco de história, à época, em 2012, Jorge Lopes, vereador da Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra, referia-se a este negócio, segundo uma ata da Câmara a que tivemos acesso da seguinte forma: “O edifício estava valorizado em 500/600 mil euros para venda e agora propõe-se que esse património seja entregue a uma empresa a custo zero que vai fazer ao longo dos anos 115 mil 530 euros de obras, e que vai gastar por mês 481 euros”. O edifício da EPAC foi comprado no final dos anos 90 pelo antigo presidente da Câmara, Carlos Alberto Oliveira, já falecido, por 200 mil euros com o intuito de transferir para o local as oficinas municipais, o que não aconteceu. Esta é a segunda vez que uma empresa a ocupar espaços municipais passa a perna à Câmara Em janeiro de 2008 foi o blog Estado Velho a dar a notícia de que a empresa que à época ocupava as instalações da antiga Escola Almeida Grandella em Tagarro tinha colocado aquelas instalações municipais à venda na internet. O anúncio constava de um site na internet. Foi o blog a dar a notícia em primeira mão ao então presidente da Câmara, Joaquim Ramos, que se mostrou totalmente atónito com a notícia. Na prática o protocolo firmado com o município funcionava nos mesmos moldes do da Bolina- a empresa efetuara as obras de remodelação e requalificação do edifício, ali desenvolvera a sua atividade, sem necessidade de pagar uma renda à Câmara, que à data só via vantagens em ter os edifícios conservados mas por terceiros, e a partir daí não adviria qualquer benefício financeiro para a autarquia. A Câmara viria a recuperar o edifício e a empresa foi praticamente expulsa do local. O edifício, nesta altura, não está a ser utilizado. |
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Por acaso alguém sabe quem são os "sócios acima" do Meninos Menezes? Com jeitinho ain teem uma desagradável surpresa.
José Matos
Azambuja
10/08/2020 23:56
José Matos
Azambuja
10/08/2020 23:56
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