Bombeiros de Benavente contam histórias de partos na ambulânciaVários elementos desta corporação passaram pela experiência de trazer alguns bebés a este mundo
Sílvia Agostinho
27-03-2017 às 16:10 Diz que pertence à mobília tantos são os anos que já leva de serviço no corpo de Bombeiros Voluntários de Benavente. Tinha 17 anos quando começou a frequentar a associação e a fazer os seus primeiros serviços. Hoje com 47 anos já soma quatro partos no currículo. Um desses implicou a sua própria irmã, igualmente pertencente a esta família dos bombeiros de Benavente. Foi há dois anos atrás e uma emoção ainda maior do que vezes anteriores, dados os laços familiares. A irmã só deveria ter a criança dali a duas semanas mas quis o destino que tivesse de dar à luz em plena ambulância mesmo à porta de casa.
Lina Cardoso ainda se lembra bem desse dia. Era um sábado e estava de serviço ao INEM com o seu marido, igualmente bombeiro na associação, pelo que o parto foi totalmente em família. “Lembro-me que começou a sentir umas dores, e que ela nem queria ir para o hospital de ambulância. Pensava que quando chegasse o dia podia ir tranquilamente de automóvel, mas entrou em trabalho de parto muito rapidamente e dirige-me para a casa dela em poucos minutos”. Mária Craveiro, hoje com 35 anos, ainda se lembra bem do dia em que deu à luz à segunda filha. Num parto totalmente diferente do primeiro, em que a sua primogénita, Margarida, nasceu no hospital e várias horas depois de ter começado a sentir as primeiras dores. No parto da Francisca, “rebentaram-me as águas e mesmo não querendo ir de ambulância, lá tive de ligar o 112”, lembra-se. Naqueles minutos de grande aflição era importante não fazer demasiada força. Nesses minutos não houve tempo para pensar em quase nada, até porque foi por pouco que “ela não nasceu no hall de entrada”. Assim que se sentou na maca teve imediatamente a noção de que ia dar à luz de imediato. O marido Nuno Feliciano, 36 anos, teve a perceção umas horas antes do parto de que a mulher estava prestes a ter a criança antes do dia previsto, quando de manhã começou a sentir contrações de oito em oito minutos. “Ligou-se para uma enfermeira nossa conhecida que disse logo para a minha mulher se despachar porque não passaria daquele dia”. Mária Craveiro diz que o inesperado da situação deu azo a que “todos na vila tivessem ficado a saber do ocorrido”. No momento de dar à luz, a família ainda apanhou um pequeno susto quando o bebé não chorou após os primeiros segundos de vida neste mundo. “Foram uns 30 segundos assustadores”. Mária Craveiro foi assistida no Hospital de Vila Franca de Xira, onde ainda permaneceu durante três dias. No local muitos eram os que comentavam as incidências do parto. Para Lina Cardoso, a conclusão, quando se lhe pergunta qual o balanço que faz desta experiência de ajudar no parto de uma familiar, é só uma: “Fiquei feliz por ter sido a minha sobrinha”. Este corpo de bombeiros recebe formação a contar com este tipo de eventualidades, mas de todas as quatro vezes que teve de intervir num parto “há sempre algo diferente e aprende-se qualquer coisa nova”. Um desses partos, recorda-se, teve lugar às 20h30 ao km 30 da A10. Nesse caso teve obrigatoriamente de parar a ambulância na autoestrada. Mas o mais inusitado deu-se com o nascimento inesperado de um bebé na sanita em que a mãe não conseguiu controlar de todo a situação. Miguel Fidalgo é outro dos soldados da paz que apesar de jovem já interveio em dois partos ao longo da sua carreira no corpo de bombeiros de Benavente. O último foi em 2014 em Foros de Salvaterra, fora do concelho de Benavente. “Íamos a caminho de Santarém quando ao chegarmos à zona de Muge tivemos de encostar e fazer o parto. Éramos dois homens a ajudar a senhora. Lembro-me que fui buscar o kit de partos e mal voltei costas já tinha acontecido”. Já a primeira vez que fez um parto foi quando tinha 17 anos e não tem dúvidas em considerar que foi a parturiente que o ajudou, “até porque já ia no oitavo filho”. Naturalmente que “me encontrava muito assustado”, até porque “a formação que tinha na altura era outra”. Apesar de “ter sido gratificante não é uma coisa bonita de se ver”, refere para ilustrar a situação. Com a segunda mãe que assistiu é com regularidade que é visitado pela mesma e pelo seu filho, o Martim – “Foi um momento marcante para ela”, enfatiza para dar a conhecer os laços de amizade que se mantêm até hoje. Para este bombeiro episódios como estes em que uma vida é trazida ao mundo pelas mãos destes homens torna-se algo muito compensador tendo em conta os outros episódios mais negros e dramáticos com que estes homens e mulheres se deparam no seu dia-a-dia nos casos em que a vida humana é destruída. Lina Cardoso refere que as suas quatro experiências “serão para sempre inesquecíveis, principalmente o nascimento da sobrinha”. Algumas dessas crianças continua a vê-las, com alguma regularidade, por Benavente, e mantem contato com os familiares. ComentáriosSeja o primeiro a comentar
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