Câmara de Arruda entrega medicamentos na casa de idosos
Maria Helena Silva e Ramiro Frita vivem no Carrasqueiro e são acompanhados por este serviço. Contam-nos como têm vivido a pandemia
|14 Mar 2021 17:31
Sílvia Agostinho A Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos e as farmácias do concelho assinaram um protocolo no âmbito do programa “Vamos Lá Nós” que pretende minimizar os riscos de exposição e contágio à doença do coronavírus e de combate ao isolamento social, sobretudo para a população mais vulnerável. O Valor Local acompanhou uma dessas deslocações da autarquia a casa de um casal de idosos da localidade de Carrasqueiro, Maria Helena Silva e Ramiro Frita, com 88 e 89 anos respetivamente.
Mário Ferreira, funcionário do município, estava incumbido de entregar, no dia da nossa reportagem, mais um pacote com medicamentos. Ramiro Frita quis dar uma gorjeta, mas o trabalhador recusou. “Não podemos aceitar”, adverte. O idoso teve pena até porque “não tinha importância nenhuma”. Ele e a esposa já não veem a família desde o Natal, exceto um dos filhos que vai levar as compras. Vivem mesmo à beira da estrada que vai para Vila Franca de Xira. Com os vizinhos pouco ou nada convivem, até porque a Covid-19 não dá margem para muito. Vão aparecendo à porta ao longo do dia, “aos bocados”, pois como a casa fica num local de passagem dá para irem vendo quem passa, “mas sempre de máscara”. À falta de melhor “vemos passar o trânsito e os vizinhos”, diz Maria Helena. Quaisquer conversas “só ao longe!”. OUÇA O ÁUDIO
O processo de vacinação dos grupos prioritários (pessoas com mais de 50 anos com insuficiência cardíaca, insuficiência renal grave, doença coronária e doença pulmonar obstrutiva crónica ou doença respiratória crónica e pessoas com mais de 80 anos) nos quais se inscrevem estes dois cidadãos já arrancou no concelho de Arruda, mas Maria Helena e Ramiro Frita ainda não foram convocados. Mas também não sabem se podem ser vacinados. “Não quero ir sem falar com o médico porque já tirei um peito e tenho outros problemas de saúde”, refere a idosa que acrescenta – “Seria bom saber como é que se vai passar”.
Já o marido também é cauteloso – “Eu vou lá mas primeiro tenho de dizer tudo o que tenho, porque já tive problemas de coração e de rins. Não sei se a vacina não vai desafinar cá a história”. De certa forma “já estamos habituados a isto da Covid-19 e não sei se com a vacina não vamos ficar piores”, diz Maria Helena que não esconde os seus receios. Contudo ressalva que nada lhes falta “porque mal precisamos de alguma coisa o meu filho (o único membro da família que ainda vê) deixa as coisas à porta”. Mesmo assim as saudades são muitas - “Só temos o filho, a filha, a nora e uma neta. No Natal tivemos aqui a filha e a neta, porque o meu filho e a mulher foram para a sogra, e desde essa altura que nunca mais tomámos contacto com o resto da família. Falamos ao telefone”. Com a pandemia, referem-nos, “acabou-se tudo”. Até “a missa aos domingos”, refere Maria Helena. A meio de janeiro, os números da pandemia cavalgaram as piores estatísticas, mas o casal não teve medo – “Estamos à conta de Deus! Já outras pessoas, coitadas não podem abrir as suas lojas e andar para a frente, infelizmente”. No Carrasqueiro, ninguém ficou infetado com Covid-19, “que se saiba”. “Isto é um pequeno lugarzinho”, enfatiza Ramiro Frita. O casal diz que toma os cuidados necessários com a desinfeção das mãos. “Mas também praticamente não saímos daqui”. Os dois idosos não sabem o dia de amanhã e se a pandemia vai acabar – “Tenho medo de morrer e que isto continue mau para quem cá ficar”, diz Maria Helena. Lembram-se de quando eram jovens, e os pais falarem da gripe pneumónica (1918). “O avô do meu marido morreu nessa altura vítima dessa doença”, acrescenta. O pai de Maria Helena nasceu em 1897 e lembra-se de ouvir falar do que tinha sido a gripe, “mas na altura não havia televisão”. Quanto ao serviço prestado pela Câmara de Arruda é uma mais-valia. “O meu filho é que nos inscreveu e acho que é um bom serviço. Deixámos de andar a correr para a farmácia”. Mário Ferreira é o funcionário da Câmara encarregue de prestar este serviço. Desloca-se a casa de quem o solicita, recolhe a quantia necessária e desloca-se à farmácia para depois entregar na casa dos idosos os medicamentos pedidos. O protocolo entre a Câmara e as farmácias de Arruda e Arranhó foi assinado em outubro passado e permite desenvolver medidas que visem assegurar o fornecimento de medicamentos e outros produtos de saúde. O objetivo é evitar que os cidadãos se desloquem às farmácias, criando um circuito de atendimento rápido com a entrega preferencialmente no domicílio dos utentes que vierem a ser selecionados. Esta entrega ao domicílio é feita através da Unidade Móvel de Saúde, e dos serviços de ação social. |
|
Leia também
Militares da GNR fazem de psicólogos de idosos isolados do concelho de AlenquerEm tempo de pandemia, têm sido estes homens e mulheres, por vezes, um dos poucos pontos de contacto das pessoas que vivem sozinhas
|
História de uma tempestade perfeita onde tudo "correu mal". Passados dois meses do surto que afetou 129 trabalhadores, ouvimos a história na primeira pessoa
|
As vozes e os programas da Rádio que se Ouve em todo o Lado. Associada ao Jornal Valor Local pretende preencher uma lacuna após o desaparecimento, nos últimos anos, de várias estações em FM na nossa região
|
Vertical Divider
|
Notícias Mais Populares
Jorge Lopes: “Por este andar vamos ficar conhecidos como o concelho que acabou todo tapado por painéis fotovoltaicos Mulher do presidente da Junta do Carregado está livre de perigo Faleceu Joaquim Ramos, antigo presidente da Câmara de Azambuja Câmara de Alenquer não conseguiu reaver vários computadores emprestados na primeira fase da pandemia Silvino Lúcio recupera e regressa ao trabalho ainda esta semana |