Sílvia Agostinho
31-01-2017 às 11:22
“Um estrangeiro é sempre um estrangeiro mas tudo depende da forma como é integrado”, as palavras são de Bonifácio Gomes, de 42 anos, que vive na urbanização da Barrada no Carregado. Esta é uma zona do concelho de Alenquer onde as comunidades estrangeiras escolheram estabelecer-se. Veio para Portugal há oito anos, e neste momento procura obter mais um visto de residência para dois anos. Casos como o deste imigrante há muitos neste bairro habituado a reunir num espaço de poucos metros quadrados diversas nacionalidades. A Barrada já teve a segunda maior comunidade brasileira do país a viver nos seus apartamentos. Hoje há menos imigrantes, e a aproximação com os residentes nacionais tem vindo a evoluir. A noção de ghetto foi-se esbatendo, mas quem mora na Barrada sabe que traz consigo uma conotação que nem sempre foi positiva. O que é hoje este bairro depois da avalanche de imigração, e das polémicas que o envolveram aquando da sua construção, foi o que pretendemos saber.
A urbanização que começou a desenhar-se no final dos anos 70, e que recebeu a dada altura a alcunha de “Dallas” devido à série norte americana que passava na RTP 1 nos anos 80, conta hoje com várias dezenas de edifícios, onde se percebe claramente a avaliar pelas fachadas que nele moram desde pessoas da classe baixa até à média. Durante o dia, são visíveis jovens de várias etnias a ocuparem o espaço público, pequenas pracetas e escadarias, com as suas conversas e atividades. As ofertas a nível de equipamentos para se passar o tempo livre dizem-nos alguns moradores são escassas. Há um ringue de jogos que a Câmara se prepara para intervir, e um parque infantil que também espera por melhores dias.
31-01-2017 às 11:22
“Um estrangeiro é sempre um estrangeiro mas tudo depende da forma como é integrado”, as palavras são de Bonifácio Gomes, de 42 anos, que vive na urbanização da Barrada no Carregado. Esta é uma zona do concelho de Alenquer onde as comunidades estrangeiras escolheram estabelecer-se. Veio para Portugal há oito anos, e neste momento procura obter mais um visto de residência para dois anos. Casos como o deste imigrante há muitos neste bairro habituado a reunir num espaço de poucos metros quadrados diversas nacionalidades. A Barrada já teve a segunda maior comunidade brasileira do país a viver nos seus apartamentos. Hoje há menos imigrantes, e a aproximação com os residentes nacionais tem vindo a evoluir. A noção de ghetto foi-se esbatendo, mas quem mora na Barrada sabe que traz consigo uma conotação que nem sempre foi positiva. O que é hoje este bairro depois da avalanche de imigração, e das polémicas que o envolveram aquando da sua construção, foi o que pretendemos saber.
A urbanização que começou a desenhar-se no final dos anos 70, e que recebeu a dada altura a alcunha de “Dallas” devido à série norte americana que passava na RTP 1 nos anos 80, conta hoje com várias dezenas de edifícios, onde se percebe claramente a avaliar pelas fachadas que nele moram desde pessoas da classe baixa até à média. Durante o dia, são visíveis jovens de várias etnias a ocuparem o espaço público, pequenas pracetas e escadarias, com as suas conversas e atividades. As ofertas a nível de equipamentos para se passar o tempo livre dizem-nos alguns moradores são escassas. Há um ringue de jogos que a Câmara se prepara para intervir, e um parque infantil que também espera por melhores dias.
Elisabete Afonso veio para o bairro há 15 anos atrás, e na sua opinião “a Barrada acaba por ser um pouco esquecida pela junta de freguesia e pela Câmara”. “Viu-se isso durante o Natal tendo em conta que não puseram iluminação natalícia no bairro, por exemplo”. A necessidade de mais espaços onde as pessoas do bairro possam passar algum do seu tempo livre é outra das reivindicações.
Também José Miguel, morador na Barrada desde 1991, acredita que muito há a melhorar no bairro. Há o problema do parque de pesados, mas também “a higiene anda pelas ruas da amargura”. “Deviam limpar os canos mais vezes, pois de vez em quando lá temos de nos confrontar com baratas a entrarem dentro das nossas casas.” Nas ruas “abunda o lixo e a sujidade”. Na opinião deste munícipe “a Câmara e a junta pouco se interessam pela Barrada”. “Pedi à junta há mais de um ano para cortar uma árvore que já está a subir pela minha parede e até hoje nada...” Na sua opinião, “as pessoas sentem-se abandonadas pelas autarquias”, e deixa o desabafo - “Há tanto tempo que falam de um jardim para aqui e nunca mais”.
Longe vão os tempos que reportam ao início do bairro quando se contava a história da ocupação de alguns prédios por famílias ciganas, numa altura em que a sua construção estagnou, e “onde até burros à janela existiam”, recorda-se Álvaro Pedro, antigo presidente da Câmara de Alenquer. Depois da venda de terrenos, rapidamente se começou a construir. “Uma tal de crise dos empreiteiros levou a uma desaceleração a dada altura, e os ciganos começaram a meter-se dentro dos prédios. Diziam que as casas estavam todas ilegais mas não era verdade. Foi preciso a Caixa Geral de Depósitos chegar a acordo com o chefe dos ciganos e pagar-lhes para abandonarem o que não era deles e a construção recomeçar”. Este foi um episódio que também “levou para o terreno em frente aos prédios elementos das forças de intervenção com metralhadoras e tudo a fim de expulsar os ciganos”, recorda-se José Manuel Mendes, presidente da União de Freguesias do Carregado e Cadafais.
Quando o bairro começou a crescer, apareceram algumas ideias demasiado ambiciosas para a época, lembra o presidente da junta: “Cheguei a ver uma maquete, em exibição numa loja, em que constava uma piscina, mas na prática acabou por existir apenas um buraco a céu aberto que acumulava água que teve de ser tapado”.
Num périplo connosco pela Barrada, o presidente da junta enfatiza que o bairro passou por diversas fases. Integração tem sido palavra de ordem por parte dos agentes políticos de Alenquer até com a criação recente do Projeto de Empreendedorismo e de Inclusão Social e Laboral, no Edifício Comercial Palmeiras, por parte da Câmara, mas a junta também diz estar atenta aos fenómenos da imigração, e por isso “tem promovido algumas iniciativas com o objetivo de aproximar as diferentes vivências do bairro, os imigrantes e os carregadenses”. “Temos o exemplo de algumas sardinhadas em que aparecem pessoas de todo o tipo”. Destaca ainda “a associação de jovens do Carregado composta por pessoas de várias etnias que agora tem estado mais parada, mas que chegou a fazer diversas iniciativas para a comunidade do Carregado”.
José Manuel Mendes sabe que faltam mais serviços no bairro, e não só, como um auditório. O centro de saúde que passou para o bairro nos últimos anos, desde 2004, deu uma nova centralidade ao local. “É uma vantagem, principalmente se pensarmos que a maioria da população do Carregado reside na Barrada”. Cerca de sete a oito mil pessoas vivem aqui. “Apenas seriam necessários mais médicos, talvez com mais incentivos a nível da habitação e de outras regalias”, reflete o autarca
Na memória de José Manuel Mendes, e de Maria da Graça Silva, primeira secretária da junta de freguesia, ainda estão os tempos em que a Barrada era campo. “Onde a minha avó vinha à erva para os coelhos”, recorda-se Maria da Graça. “Tudo isto era campo. Havia ali em cima a quinta da condessa, e pouco mais, da família Pinto Barreiros”.
Do ponto de vista social, o bairro registou algumas alterações nos últimos anos, porque “os diferentes tipos de população começaram a partilhar e a participar nos mesmos eventos; a frequentar as mesmas escolas; a irem às mesmas manifestações culturais e de certa forma a compreenderem-se melhor”. O presidente da junta tem a noção de que “há maior entreajuda entre os imigrantes e os residentes”. Este foi “um processo lento”, em que “o passar do tempo também ajudou para as pessoas se perceberem melhor umas às outras”. Na noite da sardinhada, exemplifica, “transferimos esse evento apenas para a Barrada, quando chegou a ser também na parte velha do Carregado, com o intuito de as pessoas se aproximarem umas das outras”.
Por mais que os esforços de integração possam estar a surtir efeito, certo é que os focos de vandalismo ainda acontecem. Os edifícios grafittados continuam a ser o pior cartão-de-visita do bairro, e o facto de muitos estabelecimentos comerciais que funcionavam nos rés-do-chão desses prédios terem fechado também contribuiu para o estado de coisas. Chegou a funcionar num dos recantos do bairro “um supermercado de indianos” que após o fecho continua por ocupar à espera de quem possa ter interesse no local. Igualmente mítico era o clube de vídeo Dallas, onde em anos que já lá vão “funcionava muito bem”. Numa zona mais ou menos central do bairro, já existiu algo que aspirava a centro comercial. Hoje é tão só o Edifício Comercial Palmeiras onde funciona a valência do município de apoio ao imigrante e do lado oposto uma loja de produtos chineses, mas ali já existiu dois cabeleireiros, um ginásio, e até um supermercado. O primeiro andar do prédio permanece sem ocupação. “Nunca teve aquele propósito verdadeiro de centro comercial. Tinha espaço para muitas lojas mas ficou sem efeito”, constatam os dois autarcas.
Antes de chegarmos a esta zona, avistamos um pequeno parque infantil, que tem à volta um gradeamento à espera de sofrer uma intervenção por parte da Câmara – “Se vier aqui à ASAE multa na mesma, porque mesmo com o gradeamento continua acessível de qualquer das formas. Deveria ser desmantelado”, refere o presidente da junta. Na sua opinião, o que faz falta “é um verdadeiro parque urbano verde como tem Vila Franca de Xira por exemplo”, e aponta uma localização – “Bastava que o parque dos camiões fosse transferido para outro lado”. E quem sabe “uma piscina, ou um anfiteatro”. Sobre a problemática dos pesados que tem causado uma forte perturbação às pessoas que vivem nas imediações do terreno onde se encontra instalado e que confina com a Barrada, com queixas constantes acerca do ruído e do pó produzido, o presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, refere que “a solução que existe atualmente foi sempre temporária”. Sendo que “neste momento estamos a estudar uma forma de o transferir para outro local, (o ideal seria junto à plataforma logística, mas as negociações podem ser demoradas) e devolver o atual aos seus donos”. Está a ser estudada ainda uma outra localização junto ao hipermercado Continente, “apesar de ser um pouco mais afastada”.
Também José Miguel, morador na Barrada desde 1991, acredita que muito há a melhorar no bairro. Há o problema do parque de pesados, mas também “a higiene anda pelas ruas da amargura”. “Deviam limpar os canos mais vezes, pois de vez em quando lá temos de nos confrontar com baratas a entrarem dentro das nossas casas.” Nas ruas “abunda o lixo e a sujidade”. Na opinião deste munícipe “a Câmara e a junta pouco se interessam pela Barrada”. “Pedi à junta há mais de um ano para cortar uma árvore que já está a subir pela minha parede e até hoje nada...” Na sua opinião, “as pessoas sentem-se abandonadas pelas autarquias”, e deixa o desabafo - “Há tanto tempo que falam de um jardim para aqui e nunca mais”.
Longe vão os tempos que reportam ao início do bairro quando se contava a história da ocupação de alguns prédios por famílias ciganas, numa altura em que a sua construção estagnou, e “onde até burros à janela existiam”, recorda-se Álvaro Pedro, antigo presidente da Câmara de Alenquer. Depois da venda de terrenos, rapidamente se começou a construir. “Uma tal de crise dos empreiteiros levou a uma desaceleração a dada altura, e os ciganos começaram a meter-se dentro dos prédios. Diziam que as casas estavam todas ilegais mas não era verdade. Foi preciso a Caixa Geral de Depósitos chegar a acordo com o chefe dos ciganos e pagar-lhes para abandonarem o que não era deles e a construção recomeçar”. Este foi um episódio que também “levou para o terreno em frente aos prédios elementos das forças de intervenção com metralhadoras e tudo a fim de expulsar os ciganos”, recorda-se José Manuel Mendes, presidente da União de Freguesias do Carregado e Cadafais.
Quando o bairro começou a crescer, apareceram algumas ideias demasiado ambiciosas para a época, lembra o presidente da junta: “Cheguei a ver uma maquete, em exibição numa loja, em que constava uma piscina, mas na prática acabou por existir apenas um buraco a céu aberto que acumulava água que teve de ser tapado”.
Num périplo connosco pela Barrada, o presidente da junta enfatiza que o bairro passou por diversas fases. Integração tem sido palavra de ordem por parte dos agentes políticos de Alenquer até com a criação recente do Projeto de Empreendedorismo e de Inclusão Social e Laboral, no Edifício Comercial Palmeiras, por parte da Câmara, mas a junta também diz estar atenta aos fenómenos da imigração, e por isso “tem promovido algumas iniciativas com o objetivo de aproximar as diferentes vivências do bairro, os imigrantes e os carregadenses”. “Temos o exemplo de algumas sardinhadas em que aparecem pessoas de todo o tipo”. Destaca ainda “a associação de jovens do Carregado composta por pessoas de várias etnias que agora tem estado mais parada, mas que chegou a fazer diversas iniciativas para a comunidade do Carregado”.
José Manuel Mendes sabe que faltam mais serviços no bairro, e não só, como um auditório. O centro de saúde que passou para o bairro nos últimos anos, desde 2004, deu uma nova centralidade ao local. “É uma vantagem, principalmente se pensarmos que a maioria da população do Carregado reside na Barrada”. Cerca de sete a oito mil pessoas vivem aqui. “Apenas seriam necessários mais médicos, talvez com mais incentivos a nível da habitação e de outras regalias”, reflete o autarca
Na memória de José Manuel Mendes, e de Maria da Graça Silva, primeira secretária da junta de freguesia, ainda estão os tempos em que a Barrada era campo. “Onde a minha avó vinha à erva para os coelhos”, recorda-se Maria da Graça. “Tudo isto era campo. Havia ali em cima a quinta da condessa, e pouco mais, da família Pinto Barreiros”.
Do ponto de vista social, o bairro registou algumas alterações nos últimos anos, porque “os diferentes tipos de população começaram a partilhar e a participar nos mesmos eventos; a frequentar as mesmas escolas; a irem às mesmas manifestações culturais e de certa forma a compreenderem-se melhor”. O presidente da junta tem a noção de que “há maior entreajuda entre os imigrantes e os residentes”. Este foi “um processo lento”, em que “o passar do tempo também ajudou para as pessoas se perceberem melhor umas às outras”. Na noite da sardinhada, exemplifica, “transferimos esse evento apenas para a Barrada, quando chegou a ser também na parte velha do Carregado, com o intuito de as pessoas se aproximarem umas das outras”.
Por mais que os esforços de integração possam estar a surtir efeito, certo é que os focos de vandalismo ainda acontecem. Os edifícios grafittados continuam a ser o pior cartão-de-visita do bairro, e o facto de muitos estabelecimentos comerciais que funcionavam nos rés-do-chão desses prédios terem fechado também contribuiu para o estado de coisas. Chegou a funcionar num dos recantos do bairro “um supermercado de indianos” que após o fecho continua por ocupar à espera de quem possa ter interesse no local. Igualmente mítico era o clube de vídeo Dallas, onde em anos que já lá vão “funcionava muito bem”. Numa zona mais ou menos central do bairro, já existiu algo que aspirava a centro comercial. Hoje é tão só o Edifício Comercial Palmeiras onde funciona a valência do município de apoio ao imigrante e do lado oposto uma loja de produtos chineses, mas ali já existiu dois cabeleireiros, um ginásio, e até um supermercado. O primeiro andar do prédio permanece sem ocupação. “Nunca teve aquele propósito verdadeiro de centro comercial. Tinha espaço para muitas lojas mas ficou sem efeito”, constatam os dois autarcas.
Antes de chegarmos a esta zona, avistamos um pequeno parque infantil, que tem à volta um gradeamento à espera de sofrer uma intervenção por parte da Câmara – “Se vier aqui à ASAE multa na mesma, porque mesmo com o gradeamento continua acessível de qualquer das formas. Deveria ser desmantelado”, refere o presidente da junta. Na sua opinião, o que faz falta “é um verdadeiro parque urbano verde como tem Vila Franca de Xira por exemplo”, e aponta uma localização – “Bastava que o parque dos camiões fosse transferido para outro lado”. E quem sabe “uma piscina, ou um anfiteatro”. Sobre a problemática dos pesados que tem causado uma forte perturbação às pessoas que vivem nas imediações do terreno onde se encontra instalado e que confina com a Barrada, com queixas constantes acerca do ruído e do pó produzido, o presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, refere que “a solução que existe atualmente foi sempre temporária”. Sendo que “neste momento estamos a estudar uma forma de o transferir para outro local, (o ideal seria junto à plataforma logística, mas as negociações podem ser demoradas) e devolver o atual aos seus donos”. Está a ser estudada ainda uma outra localização junto ao hipermercado Continente, “apesar de ser um pouco mais afastada”.
Para o presidente da junta do Carregado, a Câmara deveria fazer mais pelo bairro. Recentemente foi apresentado o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano de Alenquer (PEDU) que prevê uma intervenção na Barrada tendo em conta uma componente no quadro estratégico dos fundos comunitários que contempla a possibilidade de transferência de verbas no âmbito das comunidades desfavorecidas como é o caso. Contudo José Manuel Mendes refere que a intervenção prevista “é curta”. “Podiam fazer muito mais, até fora dos apoios da União Europeia como passeios pedonais, requalificar as zonas existentes”.
Pedro Folgado refere que a Câmara no âmbito do PEDU arrancará com a requalificação do ringue existente na Barrada, “com o objetivo também de voltar a ser um espaço inclusivo”, até porque se “encontra muito deteriorado”. Será ainda requalificado o parque de skate, e o parque infantil. “Queremos criar mais espaços verdes, e requalificar os túneis que fazem as ligações às várias pracetas, que estão deteriorados e grafittados”. Para o autarca, seria bem-vinda no futuro uma Loja de Cidadão de modo a dar ainda mais centralidade ao bairro - “Já fiz essa abordagem ao Governo mas para isso tinha de fechar serviços em Alenquer, e como é óbvio isso não pode acontecer. Mas não desisti, vamos ver o que podermos fazer”. Para a oposição, a intervenção prevista pelo PEDU no Carregado, “é um brincadeira” diz Carlos Areal da CDU. “Tratou-se de uma forma de canalizar estes fundos para Alenquer que os vai receber em 90 por cento, e tiveram de incluir o Carregado, fazendo esta artimanha da cidade Alenquer- Carregado, que não existe, para garantirem fundos para a sede de concelho, que de outra forma não conseguiria pois não tem área urbana suficiente”. O Valor Local contactou ainda o vereador do PSD, Nuno Coelho, que não prestou declarações para este trabalho.
Outra das dores de cabeça no bairro prende-se com a higiene e limpeza. No contacto com a população, é solicitado “à junta para que se faça mais, apesar de ser em parte responsabilidade da Câmara, pois a junta tem a seu cargo os espaços verdes e relvados”, diz José Manuel Mendes. O maior problema neste âmbito prende-se com os donos de cães que não apanham os dejetos caninos, e não é incomum assistir à proliferação dos mesmos um pouco por todo o lado. “Infelizmente é difícil de controlar esta questão. Colocámos dispensadores de sacos que acabam por não ter o melhor uso. Há quem os retire e leve para casa para embrulhar carne à posteriori, como já me chegaram a relatar”, salienta. A junta pretende ainda reforçar, dentro das suas competências, no espaço público da Barrada, a colocação de pilaretes, gradeamentos, e de suportes para bicicletas.
Pedro Folgado refere que a Câmara no âmbito do PEDU arrancará com a requalificação do ringue existente na Barrada, “com o objetivo também de voltar a ser um espaço inclusivo”, até porque se “encontra muito deteriorado”. Será ainda requalificado o parque de skate, e o parque infantil. “Queremos criar mais espaços verdes, e requalificar os túneis que fazem as ligações às várias pracetas, que estão deteriorados e grafittados”. Para o autarca, seria bem-vinda no futuro uma Loja de Cidadão de modo a dar ainda mais centralidade ao bairro - “Já fiz essa abordagem ao Governo mas para isso tinha de fechar serviços em Alenquer, e como é óbvio isso não pode acontecer. Mas não desisti, vamos ver o que podermos fazer”. Para a oposição, a intervenção prevista pelo PEDU no Carregado, “é um brincadeira” diz Carlos Areal da CDU. “Tratou-se de uma forma de canalizar estes fundos para Alenquer que os vai receber em 90 por cento, e tiveram de incluir o Carregado, fazendo esta artimanha da cidade Alenquer- Carregado, que não existe, para garantirem fundos para a sede de concelho, que de outra forma não conseguiria pois não tem área urbana suficiente”. O Valor Local contactou ainda o vereador do PSD, Nuno Coelho, que não prestou declarações para este trabalho.
Outra das dores de cabeça no bairro prende-se com a higiene e limpeza. No contacto com a população, é solicitado “à junta para que se faça mais, apesar de ser em parte responsabilidade da Câmara, pois a junta tem a seu cargo os espaços verdes e relvados”, diz José Manuel Mendes. O maior problema neste âmbito prende-se com os donos de cães que não apanham os dejetos caninos, e não é incomum assistir à proliferação dos mesmos um pouco por todo o lado. “Infelizmente é difícil de controlar esta questão. Colocámos dispensadores de sacos que acabam por não ter o melhor uso. Há quem os retire e leve para casa para embrulhar carne à posteriori, como já me chegaram a relatar”, salienta. A junta pretende ainda reforçar, dentro das suas competências, no espaço público da Barrada, a colocação de pilaretes, gradeamentos, e de suportes para bicicletas.
Pequenos negócios que vão tendo sucesso no bairro
Entre os estabelecimentos comerciais que vão conseguindo fixar clientes neste bairro, está uma frutaria, onde diariamente os habitantes do bairro e não só fazem as suas compras. Ilda Pereira tem a loja há seis anos e diz que está aberta das oito da manhã às oito da noite. Quando o bairro era maioritariamente composto por população brasileira choviam pedidos para quiabos, jió “e outras coisas com as quais eles cozinham”. Atualmente, são produtos menos solicitados. “Tínhamos uma comunidade brasileira no Carregado que chegou a ser de três mil pessoas. Só se ouvia o sotaque brasileiro pelas ruas. Como a situação no país deles melhorou, e cá piorou com a crise, muitos foram-se embora”, remata José Manuel Mendes.
Bruno Paredes gere um restaurante. Nascido e criado no Carregado como gosta de dizer, não tem dúvidas de que “o bairro está muito melhor” com menos “fricções e vandalismo entre as pessoas”. Quanto ao seu negócio também não tem razões de queixa “até porque sou amigo de toda a gente”. Também emblemática no bairro é uma loja de móveis e decoração implantada há cerca de 25 anos. “Ao longo dos anos, fiz muitos clientes e amigos, mas também tive casos de algumas pessoas que não me pagaram e me trataram mal infelizmente”, refere conformado o gerente da loja, José Morais. Sendo um bairro com um parque habitacional significativo “muitos foram os que vieram para cá morar e compraram móveis na minha loja”. Hoje em dia não pode dizer que o negócio esteja mau, pois apesar “dos ikeas, como trabalho com margens pequenas e a qualidade não se compara, as pessoas acabam por vir comprar aqui”.
Entre os estabelecimentos comerciais que vão conseguindo fixar clientes neste bairro, está uma frutaria, onde diariamente os habitantes do bairro e não só fazem as suas compras. Ilda Pereira tem a loja há seis anos e diz que está aberta das oito da manhã às oito da noite. Quando o bairro era maioritariamente composto por população brasileira choviam pedidos para quiabos, jió “e outras coisas com as quais eles cozinham”. Atualmente, são produtos menos solicitados. “Tínhamos uma comunidade brasileira no Carregado que chegou a ser de três mil pessoas. Só se ouvia o sotaque brasileiro pelas ruas. Como a situação no país deles melhorou, e cá piorou com a crise, muitos foram-se embora”, remata José Manuel Mendes.
Bruno Paredes gere um restaurante. Nascido e criado no Carregado como gosta de dizer, não tem dúvidas de que “o bairro está muito melhor” com menos “fricções e vandalismo entre as pessoas”. Quanto ao seu negócio também não tem razões de queixa “até porque sou amigo de toda a gente”. Também emblemática no bairro é uma loja de móveis e decoração implantada há cerca de 25 anos. “Ao longo dos anos, fiz muitos clientes e amigos, mas também tive casos de algumas pessoas que não me pagaram e me trataram mal infelizmente”, refere conformado o gerente da loja, José Morais. Sendo um bairro com um parque habitacional significativo “muitos foram os que vieram para cá morar e compraram móveis na minha loja”. Hoje em dia não pode dizer que o negócio esteja mau, pois apesar “dos ikeas, como trabalho com margens pequenas e a qualidade não se compara, as pessoas acabam por vir comprar aqui”.

Imigrantes têm ao dispor ponto de apoio e aconselhamento na Barrada
A Câmara de Alenquer tem desde há cerca de um ano um posto de atendimento às comunidades imigrantes na Barrada, no Edifício Comercial Palmeiras. Neste local é fornecida informação que pode ser útil a quem se queira integrar no mercado de trabalho português e por consequência obter a legalização. São promovidas algumas sessões de esclarecimento para o efeito, bem como estágios em empresas do concelho que mostraram abertura para fazer parte do processo de inclusão dos imigrante em particular, e dos desempregados a viverem no concelho no geral. A autarquia está ainda disponível para prestar apoio a projetos de empreendedorismo social de cidadãos imigrantes e/ou desempregados tanto portugueses como estrangeiros. O projeto tem também como parceiros a EBI do Carregado, a Cruz Vermelha local, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, sublinha a importância dos agentes que fazem parte deste projeto e a a articulação conseguida no processo de integração e apoio aos imigrantes. Por outro lado, a presença desta valência da Câmara na Barrada também tem como objetivo “proporcionar que mais pessoas da parte antiga do Carregado se desloquem até aqui para tratar dos seus assuntos e não aos paços do concelho, no fundo queremos descentralizar”.
Nas comunidades imigrantes da Barrada, existem alguns líderes ou mediadores se quisermos assim designar que servem de ponte entre este serviço prestado pela autarquia e os novos estrangeiros que aqui chegam ou mesmo quem já cá esteja há algum tempo e ainda não tenha conseguido a legalização. “Este serviço faz todo o sentido porque dá às pessoas uma oportunidade para se integrarem e legalizarem, percebem que há quem se preocupa com elas.” A intenção do espaço vai mais longe e pretende ainda fortalecer os laços entre as comunidades, “com uma cozinha onde as pessoas podem confecionar pratos típicos das suas regiões e com isso resultar num momento de partilha e de convívio”, como aconteceu no dia em que foi assinado um protocolo entre a Câmara e o SEF.
Alguns grupos têm funcionado com algum dinamismo na integração da comunidade local para além da Associação de Jovens do Carregado, como é o caso dos “Escoteiros”. “Esta associação tem cerca de 100 miúdos e para nós este é também um projeto importante, dado que agrega uma faixa etária delicada, e funciona no fundo como forma de dissuadir possíveis comportamentos desviantes”.
No âmbito do empreendedorismo social, o projeto da Câmara contempla áreas diversas desde a cozinha, à música, passando pelas artes gráficas, entre outras, “em que os nossos serviços acompanham quem esteja interessado, com ligação ainda ao Orçamento Participativo para a criação de uma dinâmica diferente”. Esta é uma valência aberta a todos os residentes. “Já apareceram projetos por parte de algumas pessoas, lembro-me de uns miúdos que queriam treinar cães ou de uma senhora que queria mais informação acerca da forma como se poderia tornar ama, e tomar conta de crianças”. Nestes casos de quem deseje lançar-se por conta própria num negócio, a Câmara dá algum acompanhamento e aconselhamento sobre o que é necessário a nível da burocracia. “Depois terão de fazer o seu próprio percurso na criação da sua empresa”, junta.
Também o presidente da Câmara vê avanços na forma como as pessoas se passaram a dar umas com as outras neste bairro ao longo dos anos. “Houve algumas situações complicadas em determinadas alturas porque aqui vive muita gente, mas penso que se não estarão sanadas, pelo menos estão minimizadas”. O número de queixas “diminui”. “A GNR ainda vem cá muitas vezes, mas menos”, conclui.
A Câmara de Alenquer tem desde há cerca de um ano um posto de atendimento às comunidades imigrantes na Barrada, no Edifício Comercial Palmeiras. Neste local é fornecida informação que pode ser útil a quem se queira integrar no mercado de trabalho português e por consequência obter a legalização. São promovidas algumas sessões de esclarecimento para o efeito, bem como estágios em empresas do concelho que mostraram abertura para fazer parte do processo de inclusão dos imigrante em particular, e dos desempregados a viverem no concelho no geral. A autarquia está ainda disponível para prestar apoio a projetos de empreendedorismo social de cidadãos imigrantes e/ou desempregados tanto portugueses como estrangeiros. O projeto tem também como parceiros a EBI do Carregado, a Cruz Vermelha local, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, sublinha a importância dos agentes que fazem parte deste projeto e a a articulação conseguida no processo de integração e apoio aos imigrantes. Por outro lado, a presença desta valência da Câmara na Barrada também tem como objetivo “proporcionar que mais pessoas da parte antiga do Carregado se desloquem até aqui para tratar dos seus assuntos e não aos paços do concelho, no fundo queremos descentralizar”.
Nas comunidades imigrantes da Barrada, existem alguns líderes ou mediadores se quisermos assim designar que servem de ponte entre este serviço prestado pela autarquia e os novos estrangeiros que aqui chegam ou mesmo quem já cá esteja há algum tempo e ainda não tenha conseguido a legalização. “Este serviço faz todo o sentido porque dá às pessoas uma oportunidade para se integrarem e legalizarem, percebem que há quem se preocupa com elas.” A intenção do espaço vai mais longe e pretende ainda fortalecer os laços entre as comunidades, “com uma cozinha onde as pessoas podem confecionar pratos típicos das suas regiões e com isso resultar num momento de partilha e de convívio”, como aconteceu no dia em que foi assinado um protocolo entre a Câmara e o SEF.
Alguns grupos têm funcionado com algum dinamismo na integração da comunidade local para além da Associação de Jovens do Carregado, como é o caso dos “Escoteiros”. “Esta associação tem cerca de 100 miúdos e para nós este é também um projeto importante, dado que agrega uma faixa etária delicada, e funciona no fundo como forma de dissuadir possíveis comportamentos desviantes”.
No âmbito do empreendedorismo social, o projeto da Câmara contempla áreas diversas desde a cozinha, à música, passando pelas artes gráficas, entre outras, “em que os nossos serviços acompanham quem esteja interessado, com ligação ainda ao Orçamento Participativo para a criação de uma dinâmica diferente”. Esta é uma valência aberta a todos os residentes. “Já apareceram projetos por parte de algumas pessoas, lembro-me de uns miúdos que queriam treinar cães ou de uma senhora que queria mais informação acerca da forma como se poderia tornar ama, e tomar conta de crianças”. Nestes casos de quem deseje lançar-se por conta própria num negócio, a Câmara dá algum acompanhamento e aconselhamento sobre o que é necessário a nível da burocracia. “Depois terão de fazer o seu próprio percurso na criação da sua empresa”, junta.
Também o presidente da Câmara vê avanços na forma como as pessoas se passaram a dar umas com as outras neste bairro ao longo dos anos. “Houve algumas situações complicadas em determinadas alturas porque aqui vive muita gente, mas penso que se não estarão sanadas, pelo menos estão minimizadas”. O número de queixas “diminui”. “A GNR ainda vem cá muitas vezes, mas menos”, conclui.
Comunidades veem com otimismo novo ponto de apoio no Carregado
O casal Isaquías Rodrigues e Serli Cruz, brasileiros de Mina Gerais, estão na Barrada desde há um ano, e decidiram vir para Portugal não por motivos económicos mas a pensar na educação das duas filhas de cinco e dez anos de idade. “Com esta crise política que o nosso país está a atravessar, perderam-se as referências da moralidade. As pessoas já não sabem o que está certo ou o que está errado”, diz Isaquías para realçar a vinda para o nosso país, adiantando que muitos dos compatriotas que chegaram a morar em Portugal e mais tarde regressaram ao Brasil estão a pensar em regressar novamente “tendo em conta a situação política e o facto de Portugal já se encontrar melhor economicamente”.
No espaço da Câmara que apoia a legalização dos imigrantes encontraram “um excelente ponto de apoio”, que tem sido “fundamental” para o processo deste casal em Portugal. “O acompanhamento tem sido fantástico”, realçam. O casal está a pensar em rumar ao norte do país, “porque é lá que a cultura portuguesa é mais forte e é isso que pretendo para as minhas filhas”. O bisavô de Isaquías era alemão e o de Serli português - “Não temos dúvidas de que o que queremos é assimilar a cultura europeia. No outro dia um cidadão no hospital esqueceu-se do dinheiro em cima do balcão e quem estava ao lado correu atrás para entregar, no Brasil isso não acontece, as pessoas não têm princípios”, diz taxativamente Isaquías. A inclusão na comunidade para este casal não tem sido difícil mas o facto de frequentarem uma igreja evangélica no bairro “também tem ajudado no sentido de conhecermos mais pessoas”.
“As pessoas da Barrada no início olhavam com muita desconfiança para os imigrantes africanos, penso que hoje em dia já se ultrapassou em parte o preconceito, apesar de ainda atribuírem os comportamentos marginais às pessoas da nossa etnia, mas não podemos levar a peito. Um estrangeiro é sempre um estrangeiro”, deduz, por seu turno, Bonifácio Gomes, que considerou “muito positiva” a iniciativa dada a conhecer aquando da assinatura do protocolo entre a Câmara e o SEF em dezembro passado de forma a facilitar os processos de integração e legalização dos imigrantes. Bonifácio Gomes diz que a integração não foi fácil, mas o facto de falar Português ajudou principalmente a conseguir, num espaço de tempo curto, um emprego. Foi trabalhar na Eurocer, fábrica de louça sanitária. Apesar de hoje estar desempregado, tem esperança em encontrar novo posto de trabalho apesar das dificuldades.
Gebiana Araújo, 53 anos, veio para Portugal há 24. Os mesmos que já leva como funcionária da empresa Eurocer também no Carregado. Para esta cidadã guineense, a iniciativa da Câmara e do SEF deixou-a “muito grata” e dá a conhecer que na Barrada “há pessoas das comunidades com muito talento”. “Temos engenheiros, médicos, que infelizmente não conseguem uma oportunidade, por não terem os documentos”. E dá o exemplo do irmão, engenheiro eletrotécnico, que “se refugiou no álcool e não sai de casa”. Gebiana Araújo conta que o mesmo “tentou de tudo para se legalizar e conseguir trabalho mas sem sucesso”. Antes, “bastava o passaporte para obter um emprego agora é mais difícil”.
Uma das mais recentes moradoras da Barrada, é Sílvia Semedo, 19 anos, que veio há dois meses da Guiné Bissau. Está disponível para trabalhar “no que aparecer”. Expressa-se com alguma dificuldade em Português, pois apesar de ter nascido nos PALOP cresceu no Senegal. Apesar da crise que o nosso país atravessa, é da opinião de que “devemos olhar para o que Portugal tem de positivo”. “Penso que há boas oportunidades apesar da crise”; reflete. Esta estudante de música, gostava de prosseguir os estudos nesta área e ao mesmo tempo trabalhar. Mas primeiro há que obter o almejado documento que lhe dará o passaporte para a legalização.
O casal Isaquías Rodrigues e Serli Cruz, brasileiros de Mina Gerais, estão na Barrada desde há um ano, e decidiram vir para Portugal não por motivos económicos mas a pensar na educação das duas filhas de cinco e dez anos de idade. “Com esta crise política que o nosso país está a atravessar, perderam-se as referências da moralidade. As pessoas já não sabem o que está certo ou o que está errado”, diz Isaquías para realçar a vinda para o nosso país, adiantando que muitos dos compatriotas que chegaram a morar em Portugal e mais tarde regressaram ao Brasil estão a pensar em regressar novamente “tendo em conta a situação política e o facto de Portugal já se encontrar melhor economicamente”.
No espaço da Câmara que apoia a legalização dos imigrantes encontraram “um excelente ponto de apoio”, que tem sido “fundamental” para o processo deste casal em Portugal. “O acompanhamento tem sido fantástico”, realçam. O casal está a pensar em rumar ao norte do país, “porque é lá que a cultura portuguesa é mais forte e é isso que pretendo para as minhas filhas”. O bisavô de Isaquías era alemão e o de Serli português - “Não temos dúvidas de que o que queremos é assimilar a cultura europeia. No outro dia um cidadão no hospital esqueceu-se do dinheiro em cima do balcão e quem estava ao lado correu atrás para entregar, no Brasil isso não acontece, as pessoas não têm princípios”, diz taxativamente Isaquías. A inclusão na comunidade para este casal não tem sido difícil mas o facto de frequentarem uma igreja evangélica no bairro “também tem ajudado no sentido de conhecermos mais pessoas”.
“As pessoas da Barrada no início olhavam com muita desconfiança para os imigrantes africanos, penso que hoje em dia já se ultrapassou em parte o preconceito, apesar de ainda atribuírem os comportamentos marginais às pessoas da nossa etnia, mas não podemos levar a peito. Um estrangeiro é sempre um estrangeiro”, deduz, por seu turno, Bonifácio Gomes, que considerou “muito positiva” a iniciativa dada a conhecer aquando da assinatura do protocolo entre a Câmara e o SEF em dezembro passado de forma a facilitar os processos de integração e legalização dos imigrantes. Bonifácio Gomes diz que a integração não foi fácil, mas o facto de falar Português ajudou principalmente a conseguir, num espaço de tempo curto, um emprego. Foi trabalhar na Eurocer, fábrica de louça sanitária. Apesar de hoje estar desempregado, tem esperança em encontrar novo posto de trabalho apesar das dificuldades.
Gebiana Araújo, 53 anos, veio para Portugal há 24. Os mesmos que já leva como funcionária da empresa Eurocer também no Carregado. Para esta cidadã guineense, a iniciativa da Câmara e do SEF deixou-a “muito grata” e dá a conhecer que na Barrada “há pessoas das comunidades com muito talento”. “Temos engenheiros, médicos, que infelizmente não conseguem uma oportunidade, por não terem os documentos”. E dá o exemplo do irmão, engenheiro eletrotécnico, que “se refugiou no álcool e não sai de casa”. Gebiana Araújo conta que o mesmo “tentou de tudo para se legalizar e conseguir trabalho mas sem sucesso”. Antes, “bastava o passaporte para obter um emprego agora é mais difícil”.
Uma das mais recentes moradoras da Barrada, é Sílvia Semedo, 19 anos, que veio há dois meses da Guiné Bissau. Está disponível para trabalhar “no que aparecer”. Expressa-se com alguma dificuldade em Português, pois apesar de ter nascido nos PALOP cresceu no Senegal. Apesar da crise que o nosso país atravessa, é da opinião de que “devemos olhar para o que Portugal tem de positivo”. “Penso que há boas oportunidades apesar da crise”; reflete. Esta estudante de música, gostava de prosseguir os estudos nesta área e ao mesmo tempo trabalhar. Mas primeiro há que obter o almejado documento que lhe dará o passaporte para a legalização.
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