Centro de Saúde da Castanheira- O Caos continua
Sílvia Agostinho
16-08-2022 às 19:52
Na Unidade de Saúde Familiar da Castanheira do Ribatejo, o caos continua igual, isto de acordo com a comissão de utentes que tem sido das mais ativas da nossa região. É quase impossível marcar consultas, porque ninguém atende o telefone e segundo Pedro Gago, daquela comissão, há quem tenha os números de telemóvel privados das funcionárias que estão no atendimento, e sem meias medidas há quem marque diretamente com as mesmas, ao arrepio daquilo que deveria ser o funcionamento normal de marcação de consultas. “Nós sabemos que por dia cada funcionária (são cinco) leva de casa três ou quatro consultas para lá desses utentes que têm o telefone delas. Não há provas, mas já ouvimos pessoas a contarem que é isso que fazem”. Segundo Pedro Gago, à volta de 20 habitantes da união de freguesias usam este tipo de estratagema. Já quem não tem médico de família, tem de recorrer ao Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria para a consulta de recurso, o que se torna algo penoso para quem não possui transporte próprio.
“O centro de saúde da Póvoa fica na parte de cima da cidade, muito longe da estação da CP, por exemplo. Nem sabemos muito bem que autocarros é que há para lá. Fica quase na outra ponta do concelho. Não se admite que façam isto a pessoas idosas”, refere Pedro Gago que até sugere a alternativa de voltar a abrir o Catus de Vila Franca de Xira para os utentes da Castanheira. A situação é de tal modo grave que uma vez chegadas à Póvoa, “as pessoas mesmo assim não sabem se vão ter consulta, porque entram para dentro do centro de saúde e desconhecem quem é que já lá está para ser atendido pelo médico. Se for preciso esperam até às oito horas da noite, altura em que a consulta de recurso é iniciada, e sem que ninguém lhes diga se as vagas foram ou não preenchidas”. Naquele centro de saúde por dia há 20 consultas de recurso para todo o concelho de Vila Franca de Xira. “Agora o que está a dar é - Vai para a Póvoa e desenrasca-te!”. “Chega-se ao cúmulo de as pessoas irem para lá para pedirem baixa e medicamentos, quando se poderia fazer isso na Castanheira. Isto não tem pés nem cabeça”.
O diálogo continua impossível com os responsáveis do centro de saúde da Castanheira- “Recentemente entregámos à doutora Olena Kovalova um abaixo-assinado e ela acusou-nos de mentirmos aos utentes quando as queixas são mais do que muitas”.
Na sua opinião, a Câmara de Vila Franca de Xira e a junta da Castanheira deveriam ajudar mais. “Recentemente houve uma reunião com todos os presidentes de junta do concelho, e o senhor presidente da junta da Castanheira entrou mudo e saiu calado”. Contudo saúda o facto de a Câmara para já ter garantido uma sede para a comissão. Fernando Paulo Ferreira adiantou ainda que viria mais um médico para a Castanheira, transferido de uma outra unidade do concelho, sendo que Pedro Gago encontra-se na expectativa. Para já e através do concurso mais recente não houve interessados em vir exercer medicina para aquela unidade de saúde familiar.
Pedro Gago refere que todos estes assuntos já foram colocados junto da diretora do ACES Estuário do Tejo, Sofia Theriaga, que “os ignora”. O Valor Local também contactou a responsável para prestar declarações sobre o funcionamento dos postos de saúde da Castanheira e de Azambuja, mas sem sucesso. Esta comissão teve também um encontro recente com a tutela, onde expôs o que se anda a passar. “O secretário de Estado Lacerda Sales acho que nem queria acreditar. Olhou para nós com cara de parvo, passo a expressão”. O principal rosto do movimento conta ainda o caso caricato de alguém que foi propositadamente ao centro de saúde, que fez inclusive queixa à qual o Valor Local teve acesso, e que querendo marcar consulta foi-lhe dito que teria de ser pelo telefone – “A pessoa nisto saiu do centro de saúde, pegou no telefone, estando a poucos metros da entrada, e efetuou a marcação”.
Pedro Gago conta que recentemente foi visitar a Unidade de Saúde Familiar de Vialonga, “onde a organização é impecável e não tem nada a ver com o que se passa na Castanheira”. Na Unidade de Saúde Familiar da Castanheira do Ribatejo para uma população de 8750 pessoas, 5250 não têm médico de família. São necessários para cumprir os rácios cinco médicos, mas neste momento há apenas três, sendo que um está doente.
O Calvário de uma utente do centro de saúde da Castanheira
Odete Maria tem passado um calvário nas instituições de saúde do concelho de Vila Franca de Xira. Com vários problemas de saúde, conta à nossa reportagem esta mulher com 46 anos de idade que sempre que precisa de uma consulta, tratamento, ou um simples ato de rotina como colocar um implante contracetivo tem de passar um sem número de contratempos. Sem médico de família, a moradora na Castanheira do Ribatejo tem um enfisema pulmonar, sofre de fibromialgia, depressão, e tem uma asma em último grau. Deixou de ter acesso às consultas de Pneumologia no Hospital de Vila Franca de Xira, “porque o médico disse que tinha de ser transferida para o centro de saúde”, mas como não tem médico de família, a sua vida virou uma autêntica roda-viva em que suplica dia após dia para ser atendida, examinada ou consultada.
Até para lhe passarem as receitas médicas no centro de Saúde da Castanheira viu a sua vida andar para trás – “Desde que apareci num vídeo que agora demoram semanas a darem-me as receitas quando antes não tinha esse problema”. Ir para a Póvoa para obter consulta está fora de questão porque não tem condições de saúde para se sujeitar a tal. Numa das últimas ocasiões, pediu o livro de reclamações, porque “não queriam passar uma baixa, dizendo que não havia médico, o que é mentira, e chamaram a GNR alegando que estava a fazer desacatos”.
Sílvia Agostinho
16-08-2022 às 19:52
Na Unidade de Saúde Familiar da Castanheira do Ribatejo, o caos continua igual, isto de acordo com a comissão de utentes que tem sido das mais ativas da nossa região. É quase impossível marcar consultas, porque ninguém atende o telefone e segundo Pedro Gago, daquela comissão, há quem tenha os números de telemóvel privados das funcionárias que estão no atendimento, e sem meias medidas há quem marque diretamente com as mesmas, ao arrepio daquilo que deveria ser o funcionamento normal de marcação de consultas. “Nós sabemos que por dia cada funcionária (são cinco) leva de casa três ou quatro consultas para lá desses utentes que têm o telefone delas. Não há provas, mas já ouvimos pessoas a contarem que é isso que fazem”. Segundo Pedro Gago, à volta de 20 habitantes da união de freguesias usam este tipo de estratagema. Já quem não tem médico de família, tem de recorrer ao Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria para a consulta de recurso, o que se torna algo penoso para quem não possui transporte próprio.
“O centro de saúde da Póvoa fica na parte de cima da cidade, muito longe da estação da CP, por exemplo. Nem sabemos muito bem que autocarros é que há para lá. Fica quase na outra ponta do concelho. Não se admite que façam isto a pessoas idosas”, refere Pedro Gago que até sugere a alternativa de voltar a abrir o Catus de Vila Franca de Xira para os utentes da Castanheira. A situação é de tal modo grave que uma vez chegadas à Póvoa, “as pessoas mesmo assim não sabem se vão ter consulta, porque entram para dentro do centro de saúde e desconhecem quem é que já lá está para ser atendido pelo médico. Se for preciso esperam até às oito horas da noite, altura em que a consulta de recurso é iniciada, e sem que ninguém lhes diga se as vagas foram ou não preenchidas”. Naquele centro de saúde por dia há 20 consultas de recurso para todo o concelho de Vila Franca de Xira. “Agora o que está a dar é - Vai para a Póvoa e desenrasca-te!”. “Chega-se ao cúmulo de as pessoas irem para lá para pedirem baixa e medicamentos, quando se poderia fazer isso na Castanheira. Isto não tem pés nem cabeça”.
O diálogo continua impossível com os responsáveis do centro de saúde da Castanheira- “Recentemente entregámos à doutora Olena Kovalova um abaixo-assinado e ela acusou-nos de mentirmos aos utentes quando as queixas são mais do que muitas”.
Na sua opinião, a Câmara de Vila Franca de Xira e a junta da Castanheira deveriam ajudar mais. “Recentemente houve uma reunião com todos os presidentes de junta do concelho, e o senhor presidente da junta da Castanheira entrou mudo e saiu calado”. Contudo saúda o facto de a Câmara para já ter garantido uma sede para a comissão. Fernando Paulo Ferreira adiantou ainda que viria mais um médico para a Castanheira, transferido de uma outra unidade do concelho, sendo que Pedro Gago encontra-se na expectativa. Para já e através do concurso mais recente não houve interessados em vir exercer medicina para aquela unidade de saúde familiar.
Pedro Gago refere que todos estes assuntos já foram colocados junto da diretora do ACES Estuário do Tejo, Sofia Theriaga, que “os ignora”. O Valor Local também contactou a responsável para prestar declarações sobre o funcionamento dos postos de saúde da Castanheira e de Azambuja, mas sem sucesso. Esta comissão teve também um encontro recente com a tutela, onde expôs o que se anda a passar. “O secretário de Estado Lacerda Sales acho que nem queria acreditar. Olhou para nós com cara de parvo, passo a expressão”. O principal rosto do movimento conta ainda o caso caricato de alguém que foi propositadamente ao centro de saúde, que fez inclusive queixa à qual o Valor Local teve acesso, e que querendo marcar consulta foi-lhe dito que teria de ser pelo telefone – “A pessoa nisto saiu do centro de saúde, pegou no telefone, estando a poucos metros da entrada, e efetuou a marcação”.
Pedro Gago conta que recentemente foi visitar a Unidade de Saúde Familiar de Vialonga, “onde a organização é impecável e não tem nada a ver com o que se passa na Castanheira”. Na Unidade de Saúde Familiar da Castanheira do Ribatejo para uma população de 8750 pessoas, 5250 não têm médico de família. São necessários para cumprir os rácios cinco médicos, mas neste momento há apenas três, sendo que um está doente.
O Calvário de uma utente do centro de saúde da Castanheira
Odete Maria tem passado um calvário nas instituições de saúde do concelho de Vila Franca de Xira. Com vários problemas de saúde, conta à nossa reportagem esta mulher com 46 anos de idade que sempre que precisa de uma consulta, tratamento, ou um simples ato de rotina como colocar um implante contracetivo tem de passar um sem número de contratempos. Sem médico de família, a moradora na Castanheira do Ribatejo tem um enfisema pulmonar, sofre de fibromialgia, depressão, e tem uma asma em último grau. Deixou de ter acesso às consultas de Pneumologia no Hospital de Vila Franca de Xira, “porque o médico disse que tinha de ser transferida para o centro de saúde”, mas como não tem médico de família, a sua vida virou uma autêntica roda-viva em que suplica dia após dia para ser atendida, examinada ou consultada.
Até para lhe passarem as receitas médicas no centro de Saúde da Castanheira viu a sua vida andar para trás – “Desde que apareci num vídeo que agora demoram semanas a darem-me as receitas quando antes não tinha esse problema”. Ir para a Póvoa para obter consulta está fora de questão porque não tem condições de saúde para se sujeitar a tal. Numa das últimas ocasiões, pediu o livro de reclamações, porque “não queriam passar uma baixa, dizendo que não havia médico, o que é mentira, e chamaram a GNR alegando que estava a fazer desacatos”.